Fantasias sexuais
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Fantasias sexuais



FANTASIAS SEXUAIS (1982), do filipino naturalizado brasileiro Juán Bajón, estava na minha "wish list" de longas brasileiros desde 2007.

A curiosidade era devida ao segundo curta-metragem dos três que compõem o filme: OS CARONISTAS, no qual um homem dá carona a três jovens até a praia, e acaba perseguindo-os e torturando-os até a morte. Essa sinopse era tudo o que eu tinha, e parece natural que eu quisesse muito ver o filme, pois parecia tratar-se de uma história de horror.

Pois bem, este ano, o SESC Santana (SP) exibiu, nas terças-feiras do mês de março, o projeto As Musas da Boca, no qual FANTASIAS SEXUAIS estava previsto para ser exibido no dia 30. Fui lá, assisti ao filme e tive duas surpresas: a primeira é que OS CARONISTAS é um curta de horror bem legal. A segunda é que o último segmento, chamado A MULHER ABELHA, é outro (bom) curta do gênero.

Ao filme FANTASIAS SEXUAIS, então.

Trata-se de um longa-metragem dividido em três episódios, todos realizados numa chave bastante depressiva (do roteiro à trilha-sonora), sugerindo, cada um deles, uma espécie de "loop" de violência, loucura e desesperança.

O primeiro episódio, que não consegui assistir inteiro, chama-se O CÁFTEN. Segundo a sinpose disponível no Dicionário de Filmes Brasileiros - Longa Metragem, de Antonio Leão, trata-se da história de uma prostituta que vive uma relação sado-masoquista com seu cafetão. Algumas feministas tentam salvá-la, mas ela protege seu algoz e acaba sendo vitimada pela violência dele novamente. A única cena que vi é a final, quando o homem vai embora de carro e a deixa abandonada no meio da rua, jogada no chão, chorando e pedindo clemência - mas sem revelar o que fez com o dinheiro que ele acredita que ela recebeu.

O segundo episódio, OS CARONISTAS, é estrelado pelo ótimo Arthur Roveder, um ator completamente esquecido hoje. Ele faz o papel de um "cowboy" que dá carona a três jovens (um rapaz e duas moças que formam um triângulo amoroso) até uma praia deserta. Chegando lá, ele começa a ameaçá-los - primeiro, a uma das moças, a quem ele tenta violentar. Depois, aos três. O mais interessante do filme é a maneira como o psicopata os mata: perseguindo-os e atropelando-os de carro na praia, numa cena muito parecida com a d'OS CAFAJESTES (1962), do Ruy Guerra, em que Daniel Filho e Jece Valadão perseguem a Norma Bengell. Esse recurso da "citação" consegue dar à cena um curioso tom de ironia em relação às representações da juventude no cinema brasileiro: afinal, vinte anos depois do filme de Ruy Guerra, temos três jovens (desta vez, duas moças e um rapaz) sexualmente liberados curtindo a vida na praia, mas eles são vítimas de um outro tipo de violência, talvez mais próxima dos slasher movies. O final do curta, também na linha dos slashers, sugere um loop quando o assassino dá carona a um outro homem na estrada. Mas, na verdade, os dois têm um diálogo tão ambíguo que não me deixou entender se o caroneiro era uma nova vítima ou um comparsa.

A grande surpresa, porém, ficou para o final: o segmento A MULHER ABELHA, estrelado por Rossana Ghessa e por José Lucas. Nele, uma mulher histérica liga para o CVV dizendo que quer se matar. O atendente, preocupado e manipulado pela conversa, vai até a casa dela. Quando ele chega, encontra-a caracterizada como Madame Butterfly, cantando a ária de Puccini e simulando um suicício. Ao tentar impedi-la, ele acaba - claro - sendo enganado e seduzido pela mulher. Os dois vivem um idílio amoroso de dois dias que parece, desde o início, fadado a dar errado. Afinal, ele é um tímido funcionário de uma funerária que trabalha no CVV como voluntário durante o Natal; ela é uma mulher rica, exuberante e completamente maluca, além de ninfomaníaca. O resultado? Nosso amigo acaba morrendo de tanto transar, desesperado, entupido de gemada com leite e coberto de mel e de penas de travesseiro. Ela, imediatamente, ainda sob o efeito da morte dele, liga para o CVV e inicia uma conversa idêntica à anterior com o jovem que a atende.

Fim

O filme foi bastante prejudicado pela cópia em DVD feita de algum VHS com a fotografia lavada e com o som ainda pior que o original. Com isso, fica difícil avaliar a qualidade técnica que ele provavelmente tinha. De qualquer forma, é (mais) um dos bons filmes paulistas abandonados que merece urgente restauro e revisão crítica.

Ficha técnica completa da Cinemateca Brasileira (reparem o dado involuntariamente cômico: como quase todas as pornochanchadas, o filme está classificado como comédia...)



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