“Fuk Fuk à Brasileira”, de 1986, é um dos filmes mais nonsenses da fase pornô do cinema da Boca do Lixo. Dirigido por Jean Garrett (um dos vários gênios do cinema brasileiro que caíram na pornografia pra poder pagar as contas no final do mês, já que nos anos 80 os exibidores de filmes só exigiam obras com cenas de sexo explítico), “Fuk Fuk” é uma obra-prima do mau gosto.
O protagonista do filme é o anão Chumbinho, que narra suas peripécias ao longo da película (sim, essa obra passou nos cinemas do País). “Oi, eu sou Siri. Sou mudo, mas mesmo assim fui escolhido para lhes contar minha história”, diz o personagem de Chumbinho, sem mexer os lábios. A voz em off explica que conseguimos ouvir Siri porque ele é um telepata. Ele continua: “Desde que me lembro, sou anão. Fugi de casa pequeno e fui trabalhar na casa do doutor Júlio e de dona Lia”.
Siri sempre está perto de Júlio e Lia, mesmo quando o casal está transando. Ele é uma espécie de mordomo, que deve estar presente, por exemplo, para preparar o banho de dona Lia assim que ela termina de fazer sexo com o marido. Toda sexta-feira, doutor Júlio traz presentes para a esposa e para o empregado Siri. Lia sempre ganha joias e perfumes. Já Siri, toda vez recebe um vibrador. A coleção de consolos fica num armário do quarto de empregado.
Certa noite, Júlio e Lia recebem a visita da amiga Claudinha. Os três vão para a cama, enquanto Siri fica sobre uma cadeira esperando por alguma ordem. Dessa vez, o anãozinho está nu, usando apenas uma gravata. Não demora muito, e Júlio faz um pedido para ele:
- Siri, vai na cozinha pegar manteiga.
O serviçal obedece. Ao retornar para o quarto, recebe nova ordem:
- Passa no cuzinho da Claudinha. Ela não é nenhuma Maria Schneider, mas eu vou lhe comer o rabo.
Claudinha não gosta do comentário e deixa o quarto, mas antes dispara:
- Olha aqui, você também não é nenhum Marlon Brando, viu?
Antes de se contentar em fazer sexo anal com a esposa, Júlio dispensa Siri do quarto, dizendo que ele pode descansar. O anão vai até a sala, se joga no sofá de bruços e tira um cochilo.
Júlio começa a passar o produto gorduroso no ânus da esposa, quando ela diz:
- Amor, pela viscosidade parece margarina.
- Mas é margarina mesmo. Não estamos em Paris e sim no Brasil.
Lia desiste e também deixa o quarto. Ao descer as escadas, Júlio dá de cara com Siri com o bundão (no caso dele, bundinha) virado para cima e pensa:
- Se não tem cu, vai tu mesmo.
Ao sentir as mãos de Júlio apalpando seu traseiro, Siri acorda assustado e corre pro banheiro. Ainda tarado, Júlio faz de tudo pra arrombar a porta e algo mais. Desesperado, Siri entra na privada e dá descarga. O anão vai parar num bueiro. Depois ele volta pra casa escondido, na calada da noite, só pra pegar sua coleção de consolos, que guarda numa caixa de isopor. Depois o anão vai buscar refúgio na pensão de um casal de portugueses. Siri dá uma de seu Madruga e fica enrolando para pagar o aluguel. Ele justifica para o telespectador, sempre falando mentalmente:
- A poupança que eu tinha era um pouco menor do que eu e já tinha acabado há muito tempo. E emprego, sabe como é... o que pode fazer num país de terceiro mundo um cara que é anão, preto, semianalfabeto, mudo e sem vontade de trampar?
Achou bizarro? Tudo isso que foi descrito até agora acontece somente nos primeiros minutos do filme. Ao longo da fita, Siri ainda tem o ânus improvisado como cinzeiro de charuto, dialoga com um cavalo falante e ainda corre o risco de ser castrado numa praia por um zeloso pai de família, entre outras presepadas.
Direção: J.A. Nunes (pseudônimo de Jean Garrett baseado em seu nome verdadeiro, que era José Antônio Nunes Gomes da Silva). Elenco: Chumbinho, Bianchina Della Costa, Iragildo Mariano, Lia Soul, Walter Gabarron, Flávia Sanches, Abel Constâncio, Oásis Minitti, Pedro Terra, Solange Dumont, Oswaldo Cirilo, Fátima Funny, Lilian Villar, Francisco Rezende, Andrea Pucci e Mauro Pinto. Duração: 1h10.
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