Na recente safra de longas de horror brasileiros feitos em tecnologia digital, um filme paranaense desponta como um dos mais interessantes. Trata-se de MORGUE STORY - SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS (2008), uma comédia de humor negro escrita e dirigida por Paulo Biscaya Filho, baseada em espetáculo teatral homônimo que ele mesmo dirigiu, com muito sucesso, em 2004. Os atores principais - Mariana Zanette, Anderson Faganello e Leandro Daniel Colombo - são os mesmos da peça, assim como a maior parte do texto.
A trama, que se passa num necrotério, envolve três personagens cujas histórias se cruzam de maneira insólita: Ana Argento, bem-sucedida desenhista de histórias em quadrinhos; Tom, vendedor de seguros cataléptico; Doutor Daniel Torres, médico legista.
O Doutor Torres é um maníaco sexual que tem como perversão envenenar mulheres atraentes com uma poção secreta, baseada numa mistura de narcóticos com toxina do peixe baiacu, desenvolvida por sacerdotes vodus haitianos. O veneno induz as vítimas a um estado de catalepsia (que simula a morte) e, depois que elas vão para o necrotério, o médico legista aproveita para violentar e matar cada uma delas fugindo de qualquer suspeita. Os planos do psicopata começam a dar errado quando numa de suas incursões ele se depara com o um cataléptico profissional, Tom, que está no gavetão da morgue acordando da morte pela oitava vez.
Como obra de estréia, o filme realizado pela mesma equipe da peça não está totalmente livre de um certo ranço amadorístico, mas isso é compensado pela ótima história, por um ritmo alucinante e sem enrolações, mas sobretudo por diálogos muito engraçados. Além disso, a inspiração em quadrinhos e num tipo de comédia de erros que tem sido bastante comum no cinema internacional contemporâneo dá ao filme um ar de novidade que, como em MANGUE NEGRO, de Rodrigo Aragão, mostra que o que há de mais pulsante em nosso cinema de horror não está acontecendo nas produções em película, e sim nessas pequenas aventuras cinematográficas.
O filme já foi exibido em várias mostras nacionais e festivais internacionais, incluindo a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Infelizmente, porém, tem sido solenemente ignorado pela maior parte de nossa imprensa ávida por filmes hypados.
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