Nada de novo no cinema brasileiro, exceto... nudismo, macumba e malandragem
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Nada de novo no cinema brasileiro, exceto... nudismo, macumba e malandragem


Acima, fotograma final de MEU DESTINO É PECAR.

Transcrição de trechos do texto Nada de novo no cinema brasileiro, exceto... nudismo, macumba e malandragem, de Salviano Cavalcanti de Paiva, publicado na revista A Scena Muda em 31 de janeiro de 1952, p. 10 a 13.

Confesso que até hoje tenho esperança de que ele estivesse brincando quando escreveu isso, sobretudo porque, uma década depois, o crítico acabaria se tornando um dos maiores defensores do Mojica na imprensa brasileira.

Mas, enfim, o texto abaixo comenta vários filmes brasileiros dos anos 1950 que hoje estão esquecidos, o que sempre interessa aos "caça-fantasmas" do cinema nacional...

"Nada de novo no cinema brasileiro. Nada de novo, exceto sexo, misticismo e policialismo, que se traduzem melhor por MACUMBA, NUDISMO E MALANDRAGEM. Nada de novo na forma, nem no conteúdo, nem tampouco no sentido. Estrutura capenga; o progresso foi apenas de técnica. O conteúdo é cada vez mais cosmopolita, cada vez menos brasileiro, nacionalista, típico. O colorido verde-amerelo desaparece, diluído, continentalhado, universalhado. Pior para os adeptos do cinema nacional. Sentido, exatamente zero à esquerda. (...)

Os americanos têm a mania de esportizar. higienizar, açurarar, empalhar o sexo em seus filmes. Os franceses abusam do direito de focalizar o quarto de dormir. Os mexicanos vendem remelexos em celulóide. Pegam os brasileiros, vão, e transformam o sexo em indústria de cinema.

O sexo é problema? De certo. Não queremos personagens assexuados em histórias igualmente neutras... Mas uma coisa é colocar na devida consideração o sexo e o que ele influi na vida, nas inter-relações sociais etc, e outra é abusar do direito de achincalhar com ele! (...)

Principalmente quando ao sexualismo ajuntam as baixas crendices populares e imitação servil dos modelos de gangsters americanos, de gigolôs franceses, dos piratas argentinos... Mas é o que vem acontecendo. O que pode parecer lá fora se não que somos uma raça de malandros, de cabras da peste, que vivemos de capoeiras e rabos de arraia, que nossa religião é o baixo espiritismo e os mitos afro americanos apenas, e que vicemos aluados com a visão fica de sexo, sexo e sexo?

De qualquer maneira um banho de moça nua tem que ser encaixado na fita! (...) Marisa Prado caiu num rio nua, nua, e atrás dela o mocinho Mário Sérgio em TERRA É SEMPRE TERRA. Aliás, quase sempre o banho é inventado para que o vilão espreite a heroína... Tara, mania, exploração? Mas a lista continua. (...)

O mesmo ocorreu com O PREÇO DE UM DESEJO, com Anglea Fernandes. Curioso que este último filme, embora tentasse e insistisse no tema com objetivos mórbidos – a estrela passava o tempo todo se despindo de lá pra cá. (...)

PRESENÇA DE ANITA pedia, exigia nudismo (...) Mas já em MEU DESTINO É PECAR, um filme completamente tarado, baseado nos caracteres tarados da taradissma novela se Susana Flag (Nelson Rodrigues), Antonieta Morineau repetiu o que suas colegas já haviam feito antes: toma banho completamente nua em um lago. E novamente o banho vem sem mais aquela, só para o mocinho espreitar a garota e cair na água com ela.

E a macumba tem sido lugar comum desde os alôs carnavalescos, mas com maior insistência a partir de CAIÇARA, com prolongamentos em MEU DESTINO É PECAR, TERRA VIOLENTA etc etc. E malandragem é privilegio e copyright de todos os estúdios e produtores".



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