OS AVENTUREIROS DO FOGO (1986)
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OS AVENTUREIROS DO FOGO (1986)



Depois de 1981, e de "Os Caçadores da Arca Perdida", todo mundo queria ser/fazer Indiana Jones. Assim, não demoraram a aparecer vários "Indiana Clones" vindos de todas as partes do mundo. Os italianos, hábeis realizadores de "ripoffs", não perderam tempo - Antonio Margheritti fez dois "Indiana Jones macarrônicos", "Os Caçadores da Serpente Dourada" (1982) e "Ark of the Sun God" (1983), ambos com David Warbeck, e até Jackie Chan tentou ser Harrison Ford em "Operação Condor" (1991).

Já a Cannon Films, dos célebres produtores picaretas Menahen Golan e Yoram Globus, produziu duas aventuras baratas sobre Allan Quateirman, aventureiro literário que foi uma das inspirações para a criação de Indiana Jones. Ambas - "As Minas do Rei Salomão" (1985) e "Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido" (1986) - hoje são verdadeiros clássicos trash, e trazem Sharon Stone pagando mico em começo de carreira.


E foi a mesma Cannon que teve a idéia de jerico de transformar Chuck Norris (o homem, o mito...) em "Indiana Clone". Surgia, assim, "Firewalker" (Caminhante do Fogo), que no Brasil virou OS AVENTUREIROS DO FOGO.

Dirigido pelo veterano J. Lee Thompson em 1986, o filme foi, durante muito tempo, figurinha carimbada da Sessão da Tarde. Eu mesmo devo tê-lo visto umas 10 vezes da infância até alguns dias atrás, quando ele passou pela sua inevitável revisão.


O que me surpreendeu, ao revê-lo, foi o fato de que eu não lembrava de absolutamente nada do filme além da cena inicial. Agora mesmo, enquanto escrevo essas linhas, MINUTOS DEPOIS de ter revisto OS AVENTUREIROS DO FOGO, quase tudo já sumiu novamente da memória, MENOS a cena inicial!

Não sei de quem foi a brilhante idéia de colocar Chuck Norris como herói cômico, mas ele combina tanto com o papel quanto Quentin Tarantino dirigindo "High School Musical". Pior: não satisfeitos, os realizadores escalaram Louis Gossett Jr., outro que não tem graça nenhuma, para o papel de "parceiro engraçadinho e alívio cômico".


Isso explica porque o filme tenta ser divertido, mas nunca consegue. Na verdade, não tem graça nenhuma: engraçado mesmo é perceber que todo mundo parece estar se divertindo, MENOS o espectador!

Norris vinha de uma série de filmes de ação casca-grossa em que mal sorria ("Comando Delta", "Invasão USA", "Código do Silêncio"...).

Ele pode ter sido um dos primeiros astros carrancudos de ação a tentar reinventar a própria imagem fazendo comédias, algo que Schwarzenegger, Stallone (e mais recentemente Vin Diesel e The Rock) fariam depois. Não colou, é claro, e o velho Chuck logo voltaria para a ação casca-grossa.


Não sem motivo: o astro está tão sem-graça nesse filme que um stand-up de Chuck Norris seria um verdadeiro convite ao suicídio!

O roteiro de Robert Gosnell (esse é o seu crédito mais expressivo) tenta fielmente reproduzir a "fórmula Spielberg de cinema de aventura", baseando-se um pouco também em "Tudo por uma Esmeralda", de Robert Zemeckis. Falta-lhe, porém, a magia, as surpresas e principalmente o RITMO destas suas fontes de inspiração.

Pois OS AVENTUREIROS DO FOGO é um filme de aventura sem aventura, com raros momentos de ação e muitos de sonolência, ritmo arrastado e um bla-bla-bla infernal.


A famosa cena inicial apresenta os amigos Max (Norris) e Leo (Gossett Jr.), dois mercenários/caçadores de tesouros que fogem pelo deserto, de inimigos armados, em jipes. Após pegar o caminho errado, o jipe dos heróis cai num oásis, e ambos são aprisionados por um arquiinimigo careca e com uma cicatriz enorme no rosto, que parece vilão de filme do James Bond.

O anônimo malvadão amarra a dupla no chão, com mãos e pés presos a estacas de madeira, e deixa uma garrafa de água na mão de Max - uma ironia pelo triste destino que terão. Quando os inimigos se mandam, porém, Max arrebenta a garrafa com a mão e usa os cacos de vidro para soltar-se. Assim termina a melhor cena do filme.

(E eu sempre achei essa cena legal, desde criança, mas hoje percebo a completa estupidez dos personagens, pois bastaria puxar as cordas POR CIMA das estacas de madeira para soltar-se, já que não havia nada prendendo as cordas, como você pode ver nas fotos! Assim, eles ainda teriam a garrafa de água intacta para enfrentar a travessia do deserto.)


De volta à civilização, os amigos comemoram a própria salvação quando entra no recinto a loirinha Patricia Goodwin (a delícia Melody Anderson, de "Flash Gordon"). Rica e meio maluca, ela tem um mapa do tesouro e procura dois sujeitos "corajosos, confiáveis e não muito espertos". Adivinhe com quem ela termina se associando?

Patricia contrata Max e Leo como guias para sair em busca de um lendário tesouro asteca. Mas a busca não será tão fácil, pois o trio enfrentará índios, truculentos soldados latino-americanos, outros mercenários e principalmente um tal "Ciclope Vermelho", que não passa de um grandalhão com tapa-olho (devido ao milagres da continuidade ruim, o tapa-olho cobre um OLHO DIFERENTE a cada cena!).


A busca pelo tesouro é praticamente um sonífero, pois nada de muito emocionante e/ou atraente acontece aos heróis, embora eles passem o restante do filme enfrentando meio-mundo. O vilão caolho é ridículo, pouquíssimo explorado e não oferece qualquer perigo - limita-se a ficar longe dos heróis o filme inteiro, tentando fazer magias fuleiras contra eles e lendo gibis da "Psi Force" enquanto mata seus capangas e colaboradores por falharem em suas missões.

Os perigos e armadilhas pelo caminho só provocam bocejos, e o roteirista precisa inventar umas dispensáveis brigas de bar para que Norris possa pelo menos mostrar seus dotes de karateka (e valer o investimento feito no cachê do ator). Já Gossett Jr. está mais perdido que surdo em bingo, e passa o filme inteiro reclamando das ações do companheiro - algo que não é engraçado na primeira vez, imagine então na vigésima.


Já a mocinha Melody Anderson (delícia!) apresenta poderes sobrenaturais nunca satisfatoriamente desenvolvidos (ou mesmo explicados) pelo roteiro. Assim, acaba tão-somente como "mocinha em perigo", para ser resgatada pelos heróis a todo momento, e inevitável interesse romântico do personagem de Norris.

Menos mal que desfila boa parte do filme com generoso decotão e um shortinho minúsculo, demonstrando todo o seu... hã... talento dramático!

O pior é que OS AVENTUREIROS DO FOGO realmente tenta ser um filme engraçadinho. Até tem umas cenas que provocam pelo menos um leve sorriso no espectador, como os heróis disfarçados de padres sendo obrigados a dar a bênção a um soldado inimigo, ou Max nadando estilo cachorrinho após o "naufrágio" do seu carro na travessia de um rio.


Mas a mão-pesada (ou falta de vontade?) do diretor Thompson estraga qualquer possibilidade de essas piadas funcionarem como deveriam.

Para piorar, há uma cena completamente dispensável e sem utilidade em que os heróis reencontram um velho amigo dos tempos do Vietnã, agora um ditador chamado Corky.

A única explicação para a existência de tal encontro, além de encher lingüiça, é poder colocar em cena o ator John Rhys-Davies, vindo diretamente das aventuras de Indiana Jones - e que já havia sido utilizado pela Cannon em "As Minas do Rei Salomão". Como se o ator criasse um elo entre essas aventuras bagaceiras e os filmes do Spielberg, do tipo: "Ei, já que não temos grana para contratar o Harrison Ford, vamos usar o Rhys-Davies!".


Assim, OS AVENTUREIROS DO FOGO é um filme que só funciona pelos motivos errados: você assiste para constatar como Chuck Norris é péssimo comediante e não convence quando não está lutando, como Louis Gossett Jr. é um terrível "parceiro engraçadinho", como Melody Anderson não é nada além de uma boneca inflável ambulante, como o vilão é ruim, como as cenas de ação são frouxas, como o ritmo é titubeante, como os templos antigos visitados pelos herói são mal-feitos, como os erros de continuidade são grosseiros, etc etc etc.

E embora a conclusão deixe no ar a possibilidade de novas aventuras com Max, Leo e Patricia, é óbvio que todos os envolvidos nessa porcaria se conscientizaram da péssima idéia que seria errar uma segunda vez.

Como geralmente acontece com esses filmes em que nada funciona, OS AVENTUREIROS DO FOGO até tem seu charme justamente pela total ineficácia, já que a obra falha em praticamente todos os aspectos.


Torna-se, assim, mais um autêntico FILME PARA DOIDOS. O mais incrível é que o trailer (veja abaixo) É ENGRAÇADO E DIVERTIDO, mas o filme não!!!

No fim, OS AVENTUREIROS DO FOGO parece um acidente de caminhão: você sabe que é uma coisa horrível, mas não resiste a dar uma olhadinha. Felizmente, ao menos nesse caso do filme do Thompson, você esquece rapidinho tudo que viu - menos aquela divertida cena inicial, talvez a única coisa que funciona no filme inteiro.

PS 1: Repare que, na cena em que a mocinha procura aventureiros no bar, há um sujeito bem parecido com Indiana Jones sentado no balcão, no canto esquerdo da imagem. Será só uma macabra coincidência ou isso é o máximo de humor auto-referencial que os roteiristas conseguem fazer?


PS 2: O título original, "Firewalker", se justifica por uma ceninha de cinco segundos em que um velho índio conta uma lenda da região sobre um tal "Caminhante do Fogo". Por mais estúpida que pareça a tradução, o título brasileiro ainda tem mais lógica.

PS 3: Chuck Norris não aprendeu a lição e voltou a fazer comédia de risos amarelos em "Top Dog - Uma Dupla Animal" (1995), dessa vez contracenando com um cachorro que, pelo menos, é mais engraçado que o Louis Gossett Jr. Mas a coisa mais engraçada que Norris fez no cinema, indiscutivelmente, é a hilária participação especial em "Com a Bola Toda"! Ele devia fazer mais dessas...

Trailer de OS AVENTUREIROS DO FOGO



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Os Aventureiros do Fogo (Firewalker, 1986, EUA)
Direção: J. Lee Thompson
Elenco: Chuck Norris, Louis Gossett Jr. Melody
Anderson, Will Sampson, Sonny Landham, John
Rhys-Davies e Ian Abercrombie.



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