Quatro dias com Lamberto Bava
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Quatro dias com Lamberto Bava



Como toda uma geração de fãs de horror brasileiros, minha "alfabetização" no gênero se deu em meio à década de 80, atráves da grande variedade de fitas lançadas no país por uma infinidade de pequenas distribuidoras. E, como todo fã de horror do período, um dos clássicos da minha infância/adolescência foi "Demons - Filhos das Trevas", pequena pérola lançada em VHS no Brasil pela F.J. Lucas.

Assim, foi como um sonho realizado poder participar da primeira visita do diretor de "Demons", o italiano Lamberto Bava, ao Brasil, trazendo-o para participar de uma retrospectiva da sua obra no Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, realizado no início de julho.

Para tornar a passagem de Lamberto ainda mais especial, foi realizada não só uma retrospectiva da sua obra, mas também do seu pai, o mestre Mario Bava (1914-1980), realizador de clássicos que influenciaram gerações inteiras de cineastas, como "A Máscara de Satã" e "Banho de Sangue".

O que se segue é um relato desses dias passados ao lado de Bava em Porto Alegre, já que, como curador das mostras realizadas no Fantaspoa, tive o prazer de acompanhá-lo durante sua passagem pelo RS, antes de seguir viagem, como turista, para o Rio de Janeiro...


Dia 1 - Terça-feira
Originalmente, Lamberto e sua esposa cubana Ileana chegariam na noite de segunda-feira, mas um problema com o voo adiou a chegada para a manhã de terça-feira. Lá vou eu buscar o casal no Aeroporto Salgado Filho.

Reconheci Bava sem maiores problemas - um italiano atarracado como ele não passa desapercebido -, e então percebi que ele e a mulher vestiam roupas leves para um clima tropical, e o inverno gaúcho estava de rachar! Para piorar a situação, a bagagem deles havia ficado retida no Rio de Janeiro, numa daquelas clássicas palhaçadas de nossas empresas aéreas, então o convidado teve que passar frio até a noite, quando suas malas finalmente chegaram a Porto Alegre.

No táxi a caminho do hotel, usei meu inglês improvisado para conversar sobre filmes e a carreira de Lamberto, que respondia num inglês macarrônico tão improvisado quanto o meu (porque apesar de entender razoavelmente bem o italiano, não conheço o suficiente para manter uma conversação no idioma).


Ainda no táxi, uma revelação. Perguntei a Bava se era sua primeira viagem ao Brasil, e ele disse que sim. Então pedi se não havia conhecido a parte brasileira da Amazônia durante as filmagens do clássico "Cannibal Holocaust" (1980), de Ruggero Deodato, em que é creditado como assistente de diretor.

Lamberto então confessou que nunca pisou na Amazônia nem participou das filmagens de "Cannibal Holocaust", e que Deodato colocou seu nome nos créditos apenas porque tinha uma equipe muito pequena e queria fazer com que parecesse maior!!! Ah, a velha picaretagem italiana...

Entretanto, me contou Lamberto, ele foi assistente de diretor de Deodato em outro filme sobre canibalismo, o anterior "O Último Mundo dos Canibais" (1977), filmado na Malásia e nas Filipinas.

Ao lembrar do filme, ele mostrou pequenas cicatrizes na mão direita e relatou: "Isso é uma lembrança daquela filmagem. Tinha uma cena em que uma cobra enorme era mostrada rastejando pelo chão. Para filmar isso, nós soltávamos uma cobra que tínhamos numa gaiola, a cobra fugia rastejando, Deodato filmava e então precisávamos apanhar a cobra para fazer um novo take. O correto é pegar a cobra logo abaixo da cabeça, pois aí ela não pode morder. Mas depois de vários takes eu estava cansado e fui pegá-la mais embaixo, e então ela teve espaço para virar a cabeça e me encher de mordidas na mão!". Nem a esposa Ileana sabia dessa história, pela maneira assustada como olhou para as cicatrizes na mão do velhinho...

Falei a Lamberto que naquele primeiro dia exibiríamos quatro clássicos do seu pai, inclusive "The Whip and the Body", e ele se espantou ao saber que esse filme foi lançado nos cinemas brasileiros como "Drácula, O Vampiro" apenas por ter Christopher Lee no elenco (sendo que não há nenhum vampiro no filme, muito menos Drácula!). A sessão comentada pelo diretor naquela noite seria a do grande clássico de seu pai, "A Máscara de Satã".

Aproveitei para ir direto ao assunto: Lamberto dirigiu, em 1989, um remake da obra-prima do pai, e um filme tão ruim que nunca chegou a ser oficialmente lançado em lugar algum (no Japão, saiu em VHS como "Demons 5"!).

Originalmente, como curador, eu pretendia exibi-lo no Fantaspoa, até para que o público pudesse comparar o abismo de qualidade entre as duas versões, mas não encontramos uma versão com imagem boa o suficiente para exibir na tela grande. Expliquei isso a Lamberto e pedi se era verdade que ele não gostava da sua refilmagem, algo que tinha lido em algum lugar séculos atrás.

Para minha surpresa, ele não apenas disse gostar do estapafúrdio remake (que é mesmo muito ruim) como defendeu supostas qualidades da obra que eu não lembro de ter visto. Em todo caso, o "Mask of Satan" de Lamberto certamente entrou para a história como um daqueles raros casos em que o filho resolveu refazer um clássico do pai - e é uma pena que não conseguimos exibi-lo no Fantaspoa! (Numa dessas noites, num boteco, César "Coffin" Souza quase teve um treco quando citei este remake e pôs-se a xingá-lo das maneiras mais escabrosas!)

Após um rápido almoço com apresentações formais aos organizadores do festival, João Pedro Fleck e Nicolas Tonsho, Lamberto entregou-me o DVD de sua produção mais recente, um filme produzido para a TV italiana chamado "Presagi" (no Fantaspoa, "Presságio"). Como ele seria exibido na noite de quinta-feira, eu tinha menos de dois dias para fazer as legendas em português da obra.

As primeiras cenas de "Presságio" são promissoras: mostram uma menina vestida com capa-de-chuva vermelha ("Inverno de Sangue em Veneza"?) sendo perseguida por um homem de capa e chapéu pretos, figura típica dos filmes giallo. Infelizmente, o restante do filme cai na burocracia dos telefilmes - e a falta de violência ou cenas mais fortes é compensada com uma quantidade absurda de diálogos que o pobre coitado aqui teve que legendar.


À noite, fui buscar Lamberto e Ileana no hotel para a sessão comentada de "A Máscara de Satã". Aproveitei para perguntar se a menina de vermelho em "Presságio" era citação ao clássico de Nicolas Roeg, mas Bava desconversou: "Não, não, é uma referência a Chapeuzinho Vermelho". Tá bom...

Bava não quis ver pela milésima vez o filme do seu pai, então ficamos num restaurante ao lado do Cine Bancários, onde vários participantes do festival se encontravam para jantar antes das sessões da noite. Grandes fãs de Lamberto ficavam distantes, meio tímidos, e tive que chamá-los para apresentar formalmente ao "maestro".

Um deles foi Rodrigo Aragão, que estava lançando "A Noite do Chupacabras" no Fantaspoa e confessou seu amor por "Demons". Na foto abaixo, Aragão, eu, Bava e o zumbi do "Mangue Negro", grande filme do diretor brasileiro:


Na hora da sessão comentada, o organizador do Fantaspoa João Pedro me chamou para sentar ao lado de Lamberto e da tradutora de italiano, algo que se repetiu nas noites seguintes, para o meu desespero - ficar sentado calado diante de uma sala de cinema lotada não é minha praia.

Para tentar ser útil, resolvi fazer perguntas a Bava quando o público, por timidez, ficava mudo. Fui eu que pedi que ele falasse sobre seu remake de "A Máscara de Satã", por exemplo - mas tenho certeza que algum dos presentes na sessão, como Carlos Primati ou Carlos Thomaz Albornoz, acabaria fazendo a mesma questão.

Novamente, Lamberto falou com carinho do seu remake. Mas, se você ainda tem alguma dúvida sobre qual é o melhor, compare as imagens do original e da refilmagem abaixo:


Foi uma noite tranquila e de poucas perguntas, já que todo mundo queria mesmo era pegar autógrafo e foto ao lado de Lamberto, o que aconteceu depois da sessão. Percebi o enorme cansaço do convidado, que não havia dormido quase nada desde sua chegada ao Brasil, mas mesmo assim ele foi simpático, prestativo e não arredou o pé do cinema até dar seu último autógrafo, quando finalmente pediu que eu o acompanhasse de volta ao hotel porque não aguentava mais. Terminava o dia 1.


Dia 2 - Quarta-feira
Envolvido com a legendagem de "Presságio", só encontrei Lamberto no final da tarde.

Conversamos muito sobre cinema de horror italiano, histórias em quadrinhos (que lá eles chamam de "fumetti") e sobre a série de filmes de fantasia infanto-juvenil que ele dirigiu nos anos 90, "Fantaghirò", que foi um clássico do Cinema em Casa do SBT durante praticamente uma década.

Nesse ponto, talvez surpreso pela quantidade de cultura inútil sobre cinema que eu demonstrava (conhecendo alguns dos seus filmes melhor do que ele próprio!), Bava perguntou como eu sabia tanto sobre ele e seu pai Mario. Respondi que era fã e pesquisador de cinema desde a adolescência, ao que Lamberto respondeu: "Bravo, bravo".

Ainda na conversa sobre quadrinhos, falávamos sobre "Perigo: Diabolik", dirigido por Mario, quando Lamberto surgiu com uma curiosidade sobre a qual jamais tinha ouvido falar. Disse-me que, por conta de sua primeira esposa, acabou tornando-se parente do diretor argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco (de "Carandiru" e "Pixote - A Lei do Mais Fraco").


Não me lembro direito qual era o grau de parentesco da sua ex-mulher com Babenco, mas o lance é que o jovem Hector, alguns anos antes de iniciar sua carreira como diretor, foi à Itália a convite de Lamberto para assistir as filmagens de "Perigo: Diabolik", quando teria feito uma ponta como um dos policiais que admiram a "estátua de ouro de Diabolik" na cena final!

Portanto, na próxima vez que vocês forem rever "Perigo: Diabolik", não esqueçam de prestar atenção num argentino com jeito atrapalhado na cena final: segundo Lamberto, ele é o próprio Hector Babenco!

Nesta noite, a sessão comentada foi sobre "Cani Arrabbiati" (1974), um dos grandes filmes de Mario Bava, e provavelmente o mais amaldiçoado. E lá estava eu outra vez, sentado ao lado de Lamberto e tentando fazer cara de inteligente (foto abaixo).


Após anos dirigindo filmes de horror gótico, este policial violento representaria um grande ponto de virada na careira de Mario, mas o produtor faliu e os negativos ficaram retidos pela justiça italiana como parte do seu espólio até os anos 90. Mario, portanto, nunca viu o filme pronto e exibido na tela grande, já que ele só ficou pronto uma década depois da sua morte.

Finalmente, em 1992, foi lançada uma primeira versão com o título em inglês "Rabid Dogs", mas Lamberto nunca a aprovou, conforme confirmou na sessão comentada - disse que era mais um copião das cenas filmadas pelo pai do que uma edição digna do que ele queria fazer.

Assim, junto com o produtor Alfredo Leone, o próprio Lamberto apropriou-se do material, reeditando-o, filmando novas cenas e relançando-o em 1996 com o título "Kidnapped". Esta foi a versão exibida no Fantaspoa.

Mais uma vez, o convidado não quis ver o filme inteiro, limitando-se a dar uma espiada pela porta para ver a cena final. "Que imagem maravilhosa", elogiou, surpreso com a qualidade da versão exibida.

Depois, na sessão comentada, o filho de Mario contou que foi complicado encontrar veículos dos anos 70 para poderem refilmar algumas cenas que foram adicionadas à edição. "Sua" versão também tem um final novo, razoavelmente diferente da conclusão original. Música e créditos iniciais também são diferentes, e a edição é mais rápida e dinâmica.

Apesar disso, eu ainda prefiro o final da primeira versão lançada, que era muito mais macabro e filho da puta...


Dia 3 - Quinta-feira
Perto do meio-dia, eu estava concluindo as legendas de "Presságio" quando recebi a missão de fazer um passeio de ônibus pelo subúrbio de Porto Alegre com Bava e sua esposa. Esse passeio é uma verdadeira armadilha para turistas (já tinha feito com Luigi Cozzi no Fantaspoa do ano passado), 1h30min dentro de um ônibus que nunca pára e passa por raros locais interessantes. Meio contra a vontade, aceitei minha missão, mais pela oportunidade de passar o tempo papeando com Lamberto.

Dito e feito: após uns 10 minutos, o próprio Bava percebeu que havia pouco de interessante para ver naquele passeio, e, embora eu tenha tentado traduzir para o italiano algumas das informações sobre o Rio Guaíba e os prédios históricos porto-alegrenses, a conversa logo enveredou para anedotas da passagem de Cozzi pelo Brasil em 2010, características italianas da minha cidade-natal (fundada por imigrantes italianos) e, claro, cinema.

Quando a conversa chegou em Quentin Tarantino e sua paixão pelo cinema italiano, Bava contou que, numa das muitas visitas de Tarantino a Roma, os dois se encontraram e o diretor de "Bastardos Inglórios" disse que seu filme preferido de Lamberto, para a surpresa do próprio, era "Blastfighter" (1984), uma aventura estrelada por Michael Sopkiw.

O bate-papo sobre cinema italiano oitentista foi tão animado que Lamberto decidiu que queria ver um dos seus filmes à tarde, "O Assassino da Meia-noite" ("Morirai a Mezzanotte", 1986, nunca lançado no Brasil). A sessão tinha um público reduzido, mas fiquei honrado com a oportunidade de ver um filme sentado ao lado do seu diretor.

Como se estivesse gravando a faixa de comentário de um DVD, Bava ficava falando o tempo todo sobre sua obra - mas os comentários eram sobre como ele não lembrava quase nada do filme! Quando rolavam os créditos iniciais, por exemplo, ele perguntou: "Mas quem fez essa música?". Surge o crédito: Claudio Simonetti. "Ah, Simonetti, claro, só podia ser!".

A versão exibida era falada em italiano, o que deixou o diretor mais animado. Depois de meia hora de filme, entretanto, ele me cutucou e pediu para sair da sessão. Na rua, quando eu o escoltava até o hotel, Lamberto disse, envergonhado, que não lembrava do filme. "É como se outra pessoa tivesse dirigido!", afirmou.

O mais engraçado, porém, foi quando Bava me perguntou quem era o assassino do filme!!! Contei-lhe a revelação do final e ele fez uma expressão de surpresa, como se nunca tivesse visto "Morirai a Mezzanotte" antes. "Ah é? Faz sentido...", comentou, e então emendou uma declaração simplesmente genial: "Até que é uma revelação inteligente".

Após um breve descanso, nos encontramos para a estréia de "Presságio" na sessão comentada das nove da noite. Bava estava surpreendentemente nervoso pela primeira vez, e justificou dizendo que o filme foi feito para a televisão e essa seria a primeira vez que ele o assistiria num cinema, com o público, portanto não sabia que reação teriam os espectadores.

"Presságio" é mesmo bem fraquinho (embora seja válido destacar a ótima interpretação do norte-americano Craig Bierko). Mas o público educadamente compreendeu que estava diante de um produto televisivo e poupou Lamberto de maiores críticas. Preferiram fazer perguntas sobre outros filmes exibidos no dia, como "A Blade in the Dark", infinitamente mais interessante.


O diretor depois distribuiu mais alguns autógrafos. Quando Leandro Caraça, do Viver e Morrer no Cinema, pôs diante dele a capinha do VHS de "O Quebra-cabeça" ("Body Puzzle", 1992), Bava ficou encucado: "Mas que filme é esse?". Não reconheceu a foto genérica da capa, com uma cena sangrenta que, pelo que me lembro, nem está no filme. Quando eu disse que era "Boddy Puzzle", Lamberto ficou emocionado: "Não vejo esse filme há 20 anos! Vai passar aqui? Eu gostaria de rever". Para nossa sorte, a sessão de "Body Puzzle" seria no dia seguinte, antes de "Demons"...

Na saída, Bava pediu para conhecer um pouco da noite porto-alegrense. Queria ver samba, o que me deixou numa encruzilhada: como mostrar samba em pleno inverno gaúcho? A solução foi tentar entretê-lo com um show de bossa nova no Odeon, um pequeno barzinho próximo ao cinema, onde, após vários chopps, Lamberto entrou no clima de avacalhação, inclusive tirando fotos fazendo caretas.

Interessante é que Luigi Cozzi foi levado ao mesmo bar em 2010 e pacientemente deu papo para um bêbado chato que ficou lhe torrando a paciência. Bava escapou disso, mas teve que aguentar outro bêbado chato: seu curador e cicerone Felipe (abaixo)!



Dia 4 - Sexta-feira
Sexta era o "Dia D" da Retrospectiva Bava no Fantaspoa. Dia D literalmente: à noite, numa sessão concorridíssima, seria exibido "Demons", o grande clássico do diretor.

Ao meio-dia, nos encontramos todos numa churrascaria para a tradicional overdose de carnes do italiano. É interessante destacar que, na sua chegada ao Brasil, Lamberto disse que queria conhecer a culinária brasileira e ao mesmo tempo manter distância da comida italiana. Nas palavras do próprio, "No pasta!" (Nada de massas).

Corajoso, ele não arregou diante de feijoada, mocotó e cortes de carnes diferentes; provou guaraná, caipirinha, cachaças e até a graspa brasileira. Na churrascaria, Bava fez a festa junto com outros convidados, como o simpático casal Kyle Rankin e Emily Janice Card (ele dirigiu o divertido "Nuclear Family") e os argentinos Hernán Moyano e Marina Glezer (roteirista e atriz de "Suor Frio").

À tarde, os hermanos quiseram ir até uma videolocadora em busca de DVDs de filmes brasileiros. Lamberto foi junto, mas não encontramos filmes de José Mojica Marins para vender, que era justamente o que todos procuravam (Hernán só conseguiu o recente "Encarnação do Demônio"). Quando lembro que esses filmes do Zé do Caixão eram vendidos a R$ 9,90 nos balaios das Americanas em São Paulo, me dá vontade de comprar uns 50 e vender a peso de ouro para os gringos no Fantaspoa 2012...

Após uma rápida visita à Usina do Gasômetro e à exposição da obra de Kenneth Anger, Lamberto foi para a sessão de "O Quebra-cabeça" - depois inclusive ganhou o DVD importado, inédito na Europa, de presente do organizador do Fantaspoa, João Pedro.

Bava tem melhores lembranças de "Body Puzzle" do que de "Morirai a Mezzanotte", mas se espanta com algumas cenas (segundo ele, hoje faria tudo diferente). Diz que a atriz Joanna Pacula era muito frígida e não conseguiu arrancar dela a atuação desejada.

Ele não pareceu incomodado com as risadas do público diante de cenas verdadeiramente imbecis do filme, como quando o assassino mata uma de suas vítimas numa piscina - e, apesar da água ser transparente, a tal vítima não enxerga um sujeito mergulhado que nada em sua direção com uma faca! Como aconteceu no dia anterior, Lamberto não aguenta o próprio filme até o fim, saindo da sala quando faltam 15 minutos para terminar.

O público começa a chegar para a sessão de "Demons", tomando o hall de entrada do Cine Bancários. Enquanto o filme não começa, aproveito para gravar depoimentos em vídeo de Lamberto sobre "Demons", "Roleta Macabra" (outro de seus filmes exibido no Fantaspoa, e que para mim é um guilty pleasure) e seu remake de "A Máscara de Satã".

Bebemos caipirinha, chopp e champanhe depois, num rápido coquetel realizado como parte da homenagem à carreira do diretor, que recebeu uma placa comemorativa dos organizadores do Fantaspoa.


Finalmente, "Demons" começa com sala lotada e gente sentada nas escadas (foto acima). "Tem que deixar espaço para a moto passar", brinca alguém, lembrando a cena mais antológica do filme.

Assistir um clássico da nossa juventude no cinema pela primeira vez é uma experiência única - ainda mais considerando que os horrores da trama se passam também dentro de um cinema!

E foi o único filme além de "Presságio" que Lamberto viu inteiro, sentado entre fãs que riam e vibravam durante a sessão inteira, contagiando o diretor (cada frase do cafetão interpretado por Bobby Rhodes gerava um festival de sonoras gargalhadas, inclusive do próprio Lamberto!).

Seguiu-se a sessão comentada, quando Bava explicou que "A Catedral", de Michele Soavi, surgiu de um roteiro não-filmado para "Demons 3".

Na saída do cinema, mais um festival de autógrafos e fotos que Lamberto encarou com alegria e entusiasmo, aparentando felicidade por ver que seu grande filme, lançado no hoje longínquo 1985, ainda funciona, inclusive para as novas gerações.

Bava ainda ficaria em Porto Alegre no sábado, mas é a hora da despedida - eu tinha outros compromissos no dia seguinte. Ele me agradeceu por tudo e confessou ter ficado surpreso por participar de um festival em que todas as suas despesas, inclusive com alimentação e bebedeiras, eram pagas pelos organizadores (o que não acontece em eventos maiores lá fora).

Ainda autografou-me um pôster de "Demons" com a frase: "Ao Felipe com carinho, tchau e obrigado por tudo". Finalmente, nos despedimos com uma demonstração de carinho de Lamberto Bava pelo seu curador, cicerone e fã, como demonstra a foto abaixo:




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