A BATALHA FINAL (1990)
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A BATALHA FINAL (1990)



Oficialmente, a temível Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética terminou em 3 de dezembro de 1989, quando os líderes das duas superpotências finalmente fumaram o cachimbo da paz, depois de quatro décadas de ameaças mútuas de uma possível Terceira Guerra Mundial - no caso, uma guerra nuclear, com grandes possibilidades de destruir o mundo inteiro além dos dois impérios brigões!

O tratado de paz acabou com algo que era comum no cinema de ação da década de 80: vilões russos, fossem eles terroristas, como os que invadem os Estados Unidos e enfrentam Chuck Norris em "Invasão USA", fossem eles meros boxeadores, como o Ivan Drago, que quase matou o Stallone de pancada em "Rocky 4".

E embora os vilões comunas tenham saído rapidinho da moda, um certo cineasta norte-americano achou que ainda era cedo para terminar a Guerra Fria. E, em 1990, lançou sua própria versão do final do conflito: A BATALHA FINAL.


É claro que estamos falando de David A. Prior, possivelmente um dos piores cineastas da história. Quem vem acompanhando fielmente o FILMES PARA DOIDOS deve ter percebido que eu ando fazendo um retrospecto da "carreira" do homem, já que minha infância/adolescência provavelmente não teria sido tão divertida casos os filmes de Prior não fossem exibidos no Cinema em Casa (não deixe de ler minhas resenhas de "Deadly Prey" e "Operation Warzone", outros inacreditáveis "clássicos" do diretor).

Já sobre A BATALHA FINAL, só tenho uma coisa a dizer: é, de longe, um dos piores filmes de Prior - e quando estamos falando de um sujeito que praticamente só fez filme muito ruim, isso não significa pouca coisa!

O SBT costumava reprisar o filme religiosamente nas suas tardes de Cinema em Casa, e duvido que exista algum fã de filmes bagaceiros que nunca tenha visto ao menos uns minutinhos desta "maravilha" (sim, as aspas significam ironia). E é só saber como surgiu a idéia de A BATALHA FINAL para entender a "qualidade" (idem ao parêntese anterior) da película: David e seu irmão e galã habitual, Ted Prior, compraram num leilão de quinquilharias alguns metros de negativos contendo cenas de testes do Exército, mostrando explosões nucleares, mísseis sendo disparados de silos e coisas do gênero. Isso pela bagatela de 75 dólares! A dupla dinâmica então encarnou o espírito de Ed Wood e pôs-se a imaginar um roteiro que pudesse aproveitar todas estas cenas (como essa aí embaixo), e que custasse o mínimo possível. É mole?


Assim, o roteiro assinado por David inicia no calor da então terminada Guerra Fria, com Estados Unidos e União Soviética trocando mísseis nucleares. Mera desculpa para usar aquele montão de cenas de arquivo com disparos de mísseis e explosões que ele tinha à disposição, todas muito granuladas/estragadas, destoando completamente do restante do filme. Através de noticiários, descobrimos que houve pesadas perdas civis para as duas superpotências, e que a ONU irá reunir os principais líderes mundiais em Genebra, na Suíça, para tentar chegar a uma solução pacífica para o conflito, antes da destruição total da Terra.

Corta para um monte de manés sentados ao redor de uma mesa de jantar comum (imagine isso como sendo a sala de reuniões da ONU), votando na tal "solução pacífica" para a Guerra Fria. E adivinhe qual é a idéia dos "principais líderes mundiais"? Acredite ou não, eles decidem que o destino da humanidade será traçado não mais através de uma guerra atômica, mas sim no simples duelo corpo a corpo entre dois homens, representando "o melhor" das duas nações!!! É, alguém viu "Rocky 4" muitas vezes...

E enquanto a União Soviética escolhe como representante o sargento Sergei Schvackov (o queixudo Robert Z'Dar, da série "Maniac Cop"), um gigante condicionado física e psicologicamente para matar, os norte-americanos surpreendentemente optam por um velho herói de guerra, o sargento Thomas Batanic (Ted Prior, quem mais?), que foi condenado pela corte marcial por crimes de guerra que supostamente não cometeu.



Batanic é o pior representante possível para uma nação inteira: cínico, preguiçoso, trapaceiro e magrela, parece mais uma espécie de Snake Plissken dos pobres. Em outras palavras, você não consegue acreditar, nem por um minuto, que ele realmente teria alguma chance contra o monstruoso Z´Dar, ainda mais numa luta corpo a corpo! Mas como os ianques posteriormente elegeriam George W. Bush como presidente, a escolha nem parece tão absurda assim...

O local escolhido para a "batalha final" é uma extensa selva na Virginia (que, veja só que incongruência, fica em território norte-americano!!!). Ali, os dois soldados são monitorados e rastreados por suas devidas superpotências, enquanto basicamente caminham de um lado para o outro, entre árvores e casebres, trocando tiros, bombas e socos durante o restante do filme.

E é só isso: um filme inteiro sobre dois sujeitos que supostamente são os melhores de cada lado, mas que passam uns bons 40 minutos tentando se matar sem jamais conseguir, mesmo contando com um verdadeiro arsenal à disposição!!! Quem conseguir ficar acordado, ainda terá pela frente uma das conclusões mais absurdas já filmadas.


Como legítima produção de David A. Prior, A BATALHA FINAL está repleto daqueles absurdos e defeitos que costumam tornar seus filmes bastante engraçados e divertidos. O maior absurdo, que surpreendentemente é levado a sério o tempo inteiro, é a idéia de decidir o destino do mundo numa luta banal entre dois soldados, que pode ser definida muito mais na sorte do que na habilidade. Isso é tão ou mais ridículo do que decidir uma eleição presidencial no par ou ímpar!

E se (ênfase MUITO GRANDE no "e se...") as duas superpotências realmente optassem por um mano a mano estilo gladiadores da Roma Antiga, certamente uma disputa desta grandiosidade não aconteceria na Virginia (dando ligeira vantagem a um dos lados do conflito), mas sim em algum país neutro. Para piorar, não só o local da "batalha final" fica nos EUA, como ainda garante acesso livre para qualquer mané: lá pelo final do filme, um desafeto de Batanic consegue infiltrar-se pessoalmente naquela área para tentar matar o herói, sem que ninguém descubra ou apareça para impedir.

Também não dá para engolir o fato de que um evento desta magnitude, por mais absurdo que pareça, seria monitorado por apenas duas pessoas representando cada superpotência. Caso (ênfase MUITO GRANDE no "caso...") uma coisa dessas realmente acontecesse, é claro que cada lado da batalha teria à sua disposição uma daquelas salas cheias de técnicos e computadores tipo as da Nasa, para poder monitorar cada passo dos dois soldados e descobrir em milésimos de segundo o que está acontecendo.


Pois em A BATALHA FINAL, muito provavelmente por limitações orçamentárias, temos apenas uma dupla de "monitores" para cada lado, diante de uma tela de computador que mostra duas bolinhas representando os soldados - e o herói norte-americano quase é morto porque a moça (Renée Cline) que deveria estar de olho no monitor preferiu ficar paquerando o sujeito!!! Detalhe: nem EUA nem URSS têm uma mísera camerazinha na área do confronto para poder visualizar o que realmente está acontecendo, tornando muito fácil a possibilidade de trapaças para qualquer um dos lados.

Agora, descontando essas palhaçadas do roteiro, o que sobra são 40 minutos apresentando a situação e "desenvolvendo" os personagens, e mais uns 45 minutos com a "batalha final" propriamente dita. Como seria pedir demais um tiro certeiro disparado por um dos lados (pois assim a luta terminaria muito rápido), resta ao espectador desafiar os limites da sua paciência enquanto assiste Ted Prior e Robert Z'Dar trocando tiros sem jamais se acertar, mesmo quando um deles está escondido atrás de uma árvore tão fininha que até uma cuspida bem dada atravessaria o seu tronco!

E se os dois "melhores soldados do mundo" não conseguem se acertar nem ao menos de raspão, como engolir o fato de que Batanic constrói uma única armadilha (daquele tipo "pise no barbante para explodir tudo") num território com dezenas de quilômetros de extensão, mas mesmo assim consegue adivinhar que Sergei pisará exatamente naquele local?


Novamente, a tal "batalha final" poderia terminar em cinco minutos, mas o adversário russo é um verdadeiro Jason, que escapa vivo não somente desta armadilha, mas também da explosão de uma cabana inteira. E, apesar de estar no interior da tal cabana e sem qualquer chance de fuga, Sergei não apenas sobrevive, como acaba apenas com metade do rosto levemente desfigurado!!!

Resta, então, um confronto frouxo, que rende algumas boas risadas (pela total inexperiência dos "melhores soldados", e também pelo fato de Sergei aparecer e desaparecer misteriosamente em questão de segundos, mesmo quando está em campo aberto e sem nenhum lugar para se esconder). O tal confronto é mais chato do que propriamente divertido ou empolgante.

Para piorar, o diretor e roteirista Prior tenta uma solução diplomática para o impasse, e ainda fica gastando tempo com subtramas ridículas envolvendo corrupção no Exército e a investigação de um senador.


E embora A BATALHA FINAL seja puro David A. Prior (incluindo a tradicional cena dos soldados se arrumando para o confronto, com closes em armas, granadas e facas sendo colocadas no uniforme), o resultado final não é ruim e divertido, como um "Deadly Prey", mas apenas ruim - e, neste caso, BEM RUIM. Percebe-se claramente a pobreza da produção, principalmente dos cenários.

Mas cá entre nós: como é que um filme criado a partir de um monte de cenas velhas poderia ser diferente?

E mais uma coisa: já pensou se a moda pega e esse sistema de decidir questões importantes no mano a mano fosse adotado a sério? Aí quem sabe a próxima Copa do Mundo seria decidida somente na cobrança de pênaltis entre os melhores artilheiros de cada país. Agora imagine o craque representante do Brasil chutando a bola para fora ou na trave adversária durante 1h30min, e o outro lado (Argentina? Itália? Alemanha?) fazendo a mesma coisa. Pois A BATALHA FINAL é exatamente assim. Talvez até menos empolgante, se é que isso é possível...

Trailer de A BATALHA FINAL



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The Final Sanction (1990, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Ted Prior, Robert Z'Dar, Renée
Cline, William Smith, David Fawcett,
Barry Silverman e Graham Timbes.



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