BLACK COBRA (1987)
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BLACK COBRA (1987)



Se você é um produtor italiano em busca de dinheiro fácil e gostou de "Stallone Cobra" quando estreou nos cinemas de Roma, por que não fazer um rip-off do filme norte-americano, "adaptando" o mesmo roteiro, mas com 10% do orçamento do original?

Pois foi exatamente o que fez Luciano Appignani, um produtor com poucos créditos e pouco dinheiro (um de seus trabalhos anteriores foi "O Executor Final", já resenhado por aqui), e assim surgiu "Cobra Nero", ou BLACK COBRA, uma versão tosca, indigente e blaxploitation da cômica aventura do Stallone, aqui substituído por uma versão, digamos, mais moreninha: o astro cult Fred Williamson, que na época já estava na casa dos 50 anos, mas mantinha a cara e o jeito de durão.

BLACK COBRA foi lançado em 1987, apenas um ano depois de sua fonte de inspiração "Stallone Cobra", e não esconde o fato de ser uma cópia xerox do filme em questão. A direção ficou a cargo de Stelvio Massi, um sujeito que assinou diversos policiais macarrônicos na década de 70 (os chamados polizieschi) e até um giallo ("5 Donne per L'assassino", de 1974), mas que nos anos 80 só conseguia emprego em porcarias barateiras como esta.


O ponto positivo é que o roteiro regurgitado pela italianada (no caso por Danilo Massi, no primeiro de seus dois créditos como roteirista) MELHORA algumas coisas que eram duras de engolir no argumento original de Sylvester Stallone para o "White Cobra" norte-americano, como veremos mais adiante.

Já os pontos negativos passam pela baixíssima contagem de cadáveres em relação ao original ("apenas" 24 pobres-coitados perdem a vida aqui, sendo que "só" 13 deles são mortos pelo herói), pela pobreza mais do que evidente da produção (algo que salta aos olhos quando constatamos que o pobre Fred Williamson aparece sempre com a mesma roupa) e pela falta de tato dos realizadores para fazer cenas de ação minimamente interessantes.

No fim, como boa parte dos rip-offs made in Italy, BLACK COBRA acaba valendo mais pela ruindade - o que gera certo humor involuntário - do que pelos seus méritos (aqui, inexistentes).


O filme começa do mesmo jeito que "Stallone Cobra", com a versão macarrônica e negra do policial Marion Cobretti, aqui rebatizada Robert Malone, sendo chamada para resolver um complicado caso envolvendo três ladrões de banco que fizeram reféns em um clube com piscina (?!?).

A ironia da história é que Malone é chamado para "negociar" com os bandidos. Mas o que o Cobra Negro faz? Simplesmente entra no clube e escuta paciente e silenciosamente as numerosas exigências dos criminosos - algo do tipo milhões de dólares em notas não-marcadas, limusine até o aeroporto e coisas do gênero.

O marginal conclui sua lista de pedidos com um "entendeu?", e Malone responde com um simples: "No way, pal!", somente para puxar uma escopeta de baixo do seu casaco de couro preto e passar chumbo nos bandidos!


Óbvio, o chefe do Cobra Negro entra no recinto, vê todos aqueles cadáveres espalhados e sai dando esporro no herói (mas o que esperar quando você manda o policial mais violento do departamento para "negociar" com bandidos levando uma escopeta embaixo do casaco?).

À moda Marion Cobretti, Malone simplesmente responde: "Eles eram escória. Lixo humano!". Nada de "Você é a doença, eu sou a cura". O Cobra Negro é mais econônimo nas frases de efeito. Mas como faz falta algo do tipo "Você é um... cocô!".

Apresentado o herói, chega a hora de apresentar os vilões, uma versão italiana dos psicopatas do "Mundo Novo" mostrados em "Stallone Cobra". Aqui, eles são uns motoqueiros com roupas de couro que aprontam o diabo pela cidade, matando pessoas inocentes sem motivo aparente (serão uma filial carcamana do "Mundo Novo" de Brian Thompson e sua turma?).


Inclusive o chefão anônimo do grupo, interpretado por Bruno Bilotta (com o pseudônimo "Karl Landgren", talvez para parecer parente próximo do Dolph Lundgren), é a cara do Brian Thompson!

Numa cena hilária que existe apenas para apresentar a maldade dos vilões, os motoqueiros atacam um casal na praia. Enquanto seus comparsas estupram a garota, o chefão rouba o carro do casal, entra no mar (!!!) e atropela o rapaz, que praticava windsurf! Você não leu errado: o pobre coitado é atropelado DENTRO DO MAR!!! É como se a sede de sangue do vilão fosse tão incontrolável que ele nem pode esperar o sujeito sair até a praia para poder matá-lo. Incrível... NOT!


Corta para a Brigitte Nielsen italiana, Eva Grimaldi (que todos devem lembrar de "clássicos" como "O Rato Humano"). Se em "Stallone Cobra" Brigitte interpretava uma modelo, nada mais certo do que Elys Trumbo, a personagem de Eva em BLACK COBRA, ser uma fotógrafa de moda, só para mudar um pouco as coisas e evitar acusações de plágio, certo?

Seguindo os passos do filme do Stallone, Elys volta para casa tarde após um trabalho e testemunha mais um "servicinho" dos motoqueiros psicopatas.

Entretanto, numa das mudanças para melhor do roteiro dos italianos, a mocinha tira uma foto do líder da gangue e foge com a máquina fotográfica - enquanto em "Stallone Cobra" a pobre Brigitte Nielsen nem tinha muitas condições de identificar o vilão de Brian Thompson, lembram?


Para o azar de Elys e da polícia, a foto ficou ruim (flash estourado), e não permite que se veja decentemente a fuça do vilão. Mas os bandidos não sabem disso, e vão passar o resto do filme tentando matar a fotógrafa. Que, óbvio, receberá a valiosa proteção de Malone.

O restante de BLACK COBRA mimetiza (de maneira pobre, obviamente) o filme norte-americano: há o ataque dos vilões ao hospital onde Elys está internada (e que convenientemente está quase deserto) e um tiroteio infernal na conclusão, quando Malone conta com a ajuda de um parceiro anônimo (Vassili Karis, que fez vários filmes com o mestre Bruno Mattei) para despachar os bandidos.

Aliás, o tal "parceiro" cai de pára-quedas na trama: antes do tiroteio final, nem se sabia que o sujeito existia!


A cena do hospital, vale destacar, traz outra das boas adaptações da versão italiana de "Stallone Cobra": se no roteiro de Stallone o vilão de Brian Thompson entrava no local de maneira absurda, e sem levantar suspeitas, aqui os vilões simulam ferimentos no rosto de um deles (com sangue de uma vítima inocente, é claro) para passar despercebidos pela recepção. Se bem que o lugar está tão deserto que bastaria ir entrando, simplesmente...

(Ah, e a exemplo da versão original norte-americana, os vilões matam quase todo mundo dentro do hospital, MENOS o seu alvo prioritário, que é a fotógrafa e testemunha!)


Analisando pelo fator trash, BLACK COBRA tem lá seus méritos: ridículos tiroteios, uma forçadíssima cena de nudez gratuita - masculina e feminina, sendo que a moça é mais feia que dedo destroncado e só mostra uma teta, talvez porque os produtores não tinham grana para pagar pelas duas! -, e diálogos tão toscos que fazem o roteiro do Stallone parecer trabalho do Luis Vaz de Camões.

Ao contrário do Marion Cobretti de Stallone, o Robert Malone de Fred Williamson ao menos parece um ser humano normal. Tudo bem, ele é um tira durão do tipo que mata ao invés de prender, e sem muito jeito com as mulheres (depois de explodir a cabeça de um bandido a centímetros da pobre Elys, por exemplo, Malone fica estressado com os gritos da garota e retruca: "Ô garota, dá um tempo com essa choradeira!").


Entretanto, Malone não aparece somente limpando sua arma e comendo pizza com tesoura, como sua contraparte desbotada: ele também é mostrado alimentando seu gatinho de estimação (!!!), olhando fotos de família e até convidando sua testemunha para um jantar romântico, demonstrando ser bem mais simpático e "humano" do que o durão Cobretti.

O filme, porém, é bem menos divertido que "Stallone Cobra". BLACK COBRA vale, hoje, como curiosidade, e principalmente como prova irrefutável da falta de vergonha na cara dos produtores italianos, que lançavam cópias quase literais de blockbusters norte-americanos sem o menor pudor (a exemplo do que muito bem faziam os turcos nos anos 70/80).


Não contente em copiar "Cobra", o roteiro de Danilo Massi também põe na boca de Malone um diálogo idêntico ao de Dirty Harry em "Perseguidor Implacável" (aquele envolvendo a frase "Do you feel lucky, punk?").

Podia ter uma contagem de cadáveres mais alta e cenas mais violentas, mas sempre é legal ver o mestre Williamson disparando tiros e sopapos, e acendendo seus indefectíveis charutos após crivar marginais de balas. A loirinha Sabrina Siani, figurinha carimbada de produções italianas do período, aparece rapidamente como garota em perigo e não faz muita diferença - nem aparece pelada, como costumava fazer na maioria dos seus outros filmes.


Porém o mais curioso é o fato de BLACK COBRA ter feito sucesso lá na Itália, virando uma franquia (!!!), com mais três filmes (!!!), coisa que infelizmente não aconteceu com "Stallone Cobra".

As histórias das "sequências" não têm relação, e elas foram filmadas a toque de caixa, sempre copiando o blockbuster de sucesso do momento. São elas: "Black Cobra 2 - A Vingança" (1988), "Black Cobra 3 - O Implacável" (1990, o melhor da série) e "Detetive Malone - Code Name: Insciallah" (1990), todas lançadas em VHS no Brasil, assim como o original.


Vale destacar que o quarto filme, dirigido por Umberto Lenzi (!!!), foi montado exclusivamente com as cenas já feitas por Fred Williamson para as partes 1 e 2. Ou seja, o ator nem ao menos precisou pisar no set para gravar material novo, já que suas cenas antigas foram redubladas e editadas para que ele pudesse "interagir" com os novos personagens! O cartaz do filme bem que podia aparecer no dicionário na definição da palavra "picaretagem".

Considerando que Stallone parece disposto a reviver o clima dos anos 80 em seus novos filmes ("Rocky Balboa", "Rambo 4", "Os Mercenários"), bem que ele poderia investir num "Stallone Cobra 2" e chamar Fred Williamson para fazer uma versão envelhecida do seu justiceiro macarrônico. Já pensou como seria Cobretti e Malone agindo lado a lado?


Por sinal, um mistério: ao contrário do herói de "Stallone Cobra", cujo apelido vem do sobrenome Cobretti e do desenho da serpente na coronha da sua pistola, não existe nenhuma razão específica ou justificativa para o apelido "Black Cobra", e Malone jamais é chamado assim durante o filme inteiro.

Mas o nome do filme do Stallone era "Cobra", então...

Cena inicial de BLACK COBRA



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Black Cobra (Cobra Nero, 1987, Itália)

Direção: Stelvio Massi
Elenco: Fred Williamson, Eva Grimaldi, Karl
Landgren (Bruno Bilotta), Sabrina Siani,
Vassili Karis e Maurice Poli.



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