Curuçu - O terror do Amazonas
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Curuçu - O terror do Amazonas



Na década de 1950, o cinema fantástico B procurava vencer a competição com a TV e, ao mesmo tempo, diminuir seus custos de produção para manter os lucros. Para tanto, inventava algumas estratégias de atração, sobretudo para trazer o público adolescente, que cada vez mais influenciava a sociedade de consumo, enriquecida após a Segunda Guerra.

Uma dessas estratégias foi aumentar a dose de “adrenalina” dos filmes, propondo narrativas mais simples e repletas de surpresas e sustos. A outra foi desenvolver tecnologias inovadoras e interativas. Nesse contexto, um dos maiores sucessos do cinema de B nos anos 50 foi O Monstro da Lagoa Negra (CREATURE OF THE BLACK LAGOON, 1954), de Jack Arnold, feito em tecnologia 3D. Seu impacto foi tanto que o filme teve duas continuações de sucesso (REVENGE OF THE CREATURE e THE CREATURE WALKS AMONG US) e deu origem a dezenas de imitadores.

Entre os muitos “imitadores” d’O MONSTRO DA LAGOA NEGRA, estava CURUÇU – O TERROR DO AMAZONAS (CURUCU – THE BEAST OF THE AMAZON , 1957), uma co-produção independente norte-americana com a então moribunda empresa brasileira Vera Cruz – que cedeu, entre outros, o cenógrafo Pierino Massenzi, o fotógrafo Rudolph Icsey e os atores Luz Del Fuego, Rosa Maria e Wilson Viana. O filme foi escrito e dirigido pelo alemão Curt Siodmak (1902-2000), cineasta e escritor famoso pelos roteiros e publicações de horror e de ficção-científica.

Siodmak e o produtor Richard Kay chegaram às terras brasileiras em 1954 com um projeto ambicioso: filmar por aqui, em locações reais e em cores, um sucessor à altura de O MONSTRO DA LAGOA NEGRA. E o plano fazia todo o sentido: consta que a idéia para o filme de Jack Arnold partira do seu produtor, William Allen, ainda na década de 1940, quando ouvira, num jantar com o cineasta mexicano Gabriel Figueroa, a lenda brasileira sobre um homem-peixe que saía das águas para relacionar-se com mulheres e engravidá-las (lenda que também originou o filme Ele, o Boto, de Walter Lima Jr, realizado em 1987).

Por causa dessa pretensa origem brasileira, a história de O MONSTRO DA LAGOA NEGRA passava-se no Brasil, mais precisamente no Rio Amazonas – mas tudo fôra filmado nos Estados Unidos.

Assim, nada melhor do que aproveitar o sucesso desse exotismo e mostrar a floresta tropical em imagens autênticas – e a cores, ao contrário do que fizera Jack Arnold. Infelizmente, porém, algo saiu errado. Chegando na Amazônia, a equipe foi atacada pelos mosquitos, espantada pelo calor e prejudicada pela pouca infra-estrutura. Isso os obrigou a descer para o Sul e, literalmente, pedir socorro à falida Vera Cruz, que alugou estúdios, técnicos e atores .

CURUÇU acabou sendo filmado quase inteiramente em São Paulo, trazendo os atores John Broomfield e Bervely Garland nos papéis de um cientista e de uma médica levados à Amazônia para investigar misteriosos ataques mortais sofridos por uma colônia de agricultores. Desconfiados de que a causa das mortes poderia ser um lendário monstro gigante, o Curuçu, acabam descobrindo tratar-se de algo bem mais prosaico: um curandeiro (que curiosamente usava bombachas gaúchas) estaria encarnando o monstro para assustar os moradores e manter seu domínio sobre eles.

Muito mais do que uma história de horror, trava-se de uma aventura na selva – e repleta dos clichês mais comuns relativos ao Brasil: índios ameaçadores, piranhas, cobras e crocodilos assassinos, rituais africanos demoníacos, guerras sangrentas entre tribos indígenas, aranhas e insetos gigantes etc. O filme faz até mesmo uma infame piada final, sugerindo que um índio que havia sido curado pela médica era, de fato, um canibal dado a rituais dos mais bizarros.

Somando-se a isso o roteiro bastante confuso, as interpretações canastronas, e os impagáveis momentos trash (como o próprio monstro, além das imagens “de arquivo”, em preto e branco, para representar ataques de piranhas), CURUÇU se tornaria um grande fracasso do cinema B.

Mas, ainda assim, os produtores conseguiram vender o material à Universal Studios, que distribuiu na fita no mundo todo e mandou a mesma equipe para o Brasil, em 1957, para filmar Escravos do amor das Amazonas (LOVE SLAVES OF THE AMAZON, 1958), outra co-produção São Paulo – Hollywood igualmente infame, sobre um grupo de pesquisadores estrangeiros “capturados” por uma tribo de mulheres em busca de reprodutores – e cujo plot parece ser inspirado no romance fantástico brasileiro Amazônia Misteriosa (1926), de Gastão Cruls - que também inspiraria o longa mais recente de Ivan Cardoso, Um lobisomem na Amazônia.

Veja também:
CURUÇU em imagens
Entrevista com o saudoso Pierino Massenzi, diretor de arte
Ficha técnica completa da Cinemateca Brasileira



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