EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS (2007)
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EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS (2007)



Todo fã de horror e de filmes de zumbis que se preze já acendeu pelo menos uma vela em honra ao cineasta galego Amando de Ossorio (1918-2001), o responsável por uma das mais belas sagas sobre mortos-vivos da história do cinema, a quadrilogia dos “Templários Zumbis Sem Olhos” – formada por “La Noche del Terror Ciego” (1971), “El Ataque de los Muertos Sin Ojos” (1973), “El Buque Maldito” (1974) e “La Noche de las Gaviotas” (1975).

Sangue e desmembramentos à parte, estes quatro filmes são festejados principalmente pelo clima de horror que Ossorio conseguiu criar. E quem já viu algum deles dificilmente vai esquecer de imagens como os Cavaleiros Templários ressuscitados, em forma esquelética, cavalgando à noite sobre igualmente decrépitos cavalos-zumbis!


Mais do que acender velas em agradecimento ao mestre, um jovem cineasta espanhol chamado Vick Campbell (nome de batismo: Victor Gomez) resolveu render-lhe uma homenagem fílmica. Juntou os amigos, alguns trocados, pegou uma câmera de vídeo e pôs-se a filmar uma produção independente de baixíssimo orçamento chamada EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS. A capinha já revela a inspiração nos clássicos filmes dos “Mortos Cegos”, além de um algo mais: uma loirona completamente pelada entre os zumbis decrépitos!

Infelizmente, a homenagem de Campbell é tão ruim que o pobre Ossorio deve ter se revirado no túmulo por desgosto – e a sorte dos envolvidos é que ele não tinha um cavalo-zumbi e uma espada à disposição para voltar ao mundo dos vivos e castigar todos os envolvidos em EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS pela heresia cometida em nome da sua obra!


Antes de mais nada, é bom esclarecer que este filme é uma produção praticamente amadora, o que torna a proposta do diretor Campbell ainda mais ambiciosa. Afinal, quando você pega uma câmera de vídeo e chama os amigos para fazer um filminho caseiro sem nenhum dinheiro, a fórmula a seguir geralmente é a do trash assumido, tipo Troma.

Não é o caso aqui: apesar de Campbell e sua trupe usaram a câmera mais vagabunda à disposição (provavelmente uma câmera de vídeo digital mini-DV, já que a imagem nem é de alta resolução), e da produção ser visivelmente de fundo de quintal, todo mundo está levando a coisa estritamente a sério, quando avacalhar e partir para a comédia seria a única saída viável diante da pobreza mais do que evidente.


EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS começa em Buitrago, na zona rural de Madri, em pleno século 14 (no ano de 1311, para ser mais exato). Digamos que os realizadores foram muito corajosos em tentar fazer uma cena "de época" sem nenhum dinheiro. Ou malucos. O resultado: figurinos completamente deslocados, que já provocam as primeiras risadas involuntárias do longa (lembre-se: o filme se leva a sério!).

No momento em que o espectador bate o olho nos “Cavaleiros Templários” de Campbell, por exemplo, é impossível não cair na gargalhada: são apenas quatro sujeitos usando manta branca com capuz (e o capuz foi cortado de qualquer jeito). A coisa não ajuda quando entram em cena o que deveriam ser os típicos habitantes de uma aldeia espanhola do século 14, e eles usam figurinos, cortes de cabelo e até chapéus e bolsas de couro (!!!) tipo esses das imagens abaixo:


Nesse prólogo, os Templários ficam zanzando para lá e para cá numa sequência de takes que dura muito mais do que deveria. Um mesmo take do quarteto passando por uma ponte foi repetido nada menos de TRÊS vezes. Malandrinho, o editor até tentou inverter um dos takes para enganar, obviamente sem conseguir (veja as imagens abaixo).

O roteiro não se preocupa em explicar muita coisa, mas todo fã dos “Mortos Cegos” de Ossorio sabe que os Cavaleiros Templários são assassinos malvados e cruéis, então o diretor não perde muito tempo e já os apresenta agindo dessa mesma forma: eles passam os primeiros 15 ou 20 minutos invadindo vilas, sequestrando belas garotas que acusam de bruxaria e então matando-as para beber seu sangue e conquistar a “vida eterna”, ou coisa que o valha.


Poderia sair algo de interessante disso, mas o diretor estica as cenas no limite do suportável. Não bastasse os takes repetidos dos Templários caminhando, nesses 15 ou 20 minutos o pobre espectador é submetido a três sessões de chicoteamento (intermináveis), algumas mutilações porcamente realizadas (tipo a espadada que decepa o braço de um sujeito, mas sequer corta a sua camisa!) e uns peitinhos de fora aqui e ali que dão um mínimo de ânimo para seguir em frente.

Finalmente, os homens da aldeia se enfurecem com a matança de suas mulheres e resolvem dar o troco, invadindo a abadia (ou coisa que o valha) dos Templários e matando os quatro sujeitos, com relativa facilidade até. Considerando que são apenas quatro brocoiós, e apenas um deles tem uma espada, só consigo ficar imaginando porque a galera não teve essa reação muito antes... De qualquer jeito, aquele que parece ser o chefão dos sinistros cavaleiros anuncia que eles voltarão para se vingar - óbvio!


Nesse momento, a narrativa dá um salto no tempo e pula para a mesma Buitrago no ano de 1974 (embora nada, mas NADA MESMO, justifique a escolha da época, considerando que os realizadores sequer se deram ao trabalho de utilizar roupas ou objetos de cena desse período!). Somos apresentados a Jorge (Albert Gammond), um rapaz que procura sua irmã, Miranda (Eloise McNought), que inexplicavelmente está perdida na floresta.

Através de flashbacks que vão se prolongando ao longo do filme, descobrimos que Miranda era abusada sexualmente pelo pai e fugiu de casa para vagar sem rumo por aquela região. Onde, por coincidência, ficam as ruínas da tal abadia dos Templários executados séculos antes. Não demora para os cadáveres putrefatos dos cavaleiros se levantarem das tumbas para o anunciado massacre – mas sem cavalos-zumbis dos filmes de Amando de Ossorio, porque o orçamento aqui não permitia!


Justiça seja feita: as cenas com os cadavéricos Templários ressuscitando e vagando pela floresta à noite são até bem produzidas e filmadas, e é principalmente nesses momentos que se percebe um carinho muito grande de todos os realizadores pelos velhos filmes de Ossorio. Dos figurinos às máscaras imóveis no rosto dos zumbis (imitando caveiras sem olhos e sem expressão), os “Mortos Cegos” de Campbell parecem ter saído diretamente de algum capítulo da saga lá dos anos 1970.

Infelizmente, não passa muito disso: o diretor não é capaz de criar uma única cena de horror, suspense ou tensão pelo resto do filme. Depois de ressuscitados, seus Mortos Cegos não fazem nada além de vagar aleatoriamente e matar quem encontram pela frente, incluindo uma série de personagens descartáveis e mal-delineados, o que aproxima EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS mais de um slasher movie tipo “Sexta-feira 13” do que de um filme de zumbis.


A fórmula é repetida à exaustão: os zumbis entram no quadro, matam alguém e saem do quadro rumo à próxima morte. E nenhum personagem é suficientemente trabalhado para que o espectador sequer se importe com o que acontece a eles.

No caso, além dos irmãos Jorge e Miranda, caem de pára-quedas na trama uns abobados que estão promovendo um bailinho ao ar livre na mesma floresta (!!!), mera desculpa para incontáveis takes dos sujeitos dançando e flertando - um deles é interpretado por Dani Moreno, nome popular do underground espanhol, responsável por, entre outras atrocidades, o curta "El Ataque del Pene Mutante del Espacio"!!!


Todos acabarão encontrando a morte mais cedo ou mais tarde nas mãos ossudas dos Templários ou na lâmina da espada de um deles, com direito a membros e cabeças decepadas, tripas arrancadas e até um sujeito partido ao meio. Os “efeitos especiais” são todos naquele nível caseiro e improvisado, o que torna as cenas de morte mais divertidas do que nauseantes ou assustadoras.

O que não faltam são motivos para odiar EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS: além da razão mais óbvia (ser uma homenagem RUIM a uma série de ótimos filmes), tudo é tão pobre e mal-feito, e tão estupidamente levado a sério, que somente espectadores muito pacientes passarão da metade. Cenários e figurinos são de quinta categoria, as interpretações são péssimas, e a narrativa vai do nada ao lugar nenhum, acabando de repente, como se tivessem esquecido de gravar uma conclusão.


O filme nunca explica, por exemplo, o que exatamente despertou os Templários depois de seis séculos. Eu até achei que iam usar o clichê mais do que batido do "666 anos depois", mas alguém errou na matemática, já que de 1311 para 1974 passaram "apenas" 663 anos!

A sinopse oficial até tenta explicar que Miranda, a garota abusada pelo pai nos anos 1970, é uma espécie de reencarnação de uma das pobres moças que foram sacrificadas pelos cavaleiros lá no século 14 (a atriz que as interpreta é a mesma). Só que tal fato é simplesmente imperceptível, e nunca mencionado em momento algum do filme. Sem contar que toda a trama secundária do pai estuprador não serve para absolutamente nada além de encher linguiça.


Vejam bem, eu não tenho nada contra produções baratas, amadoras e/ou de fundo de quintal. Inclusive sou um grande incentivador desse tipo de cinema independente (além de realizador). O trabalho de Campbell e sua turma lembra muito o que faziam os diretores alemães Olaf Ittenbach e Andreas Schnaas faziam na década de 90, aqueles filmes baratos gravados em vídeo e encharcados de sangue tipo "Lua Sangrenta" e "Violent Shit".

Ou, para fazer uma comparação "nacional", lembra muito os primeiros filmes do catarinense Petter Baiestorf, como “O Monstro Legume do Espaço” e “Eles Comem Sua Carne”, quando ele ainda tinha pouquíssimos recursos e filmava com câmeras VHS. O problema é que todos esses filmes (do Ittenbach, do Schnaas, do Baiestorf) são dos anos 1990, enquanto EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS foi feito em pleno século 21, quando já existem inúmeros recursos tecnológicos baratos para se fazer um filme melhorzinho!


Não sei qual foi a câmera usada aqui, mas a resolução de vídeo é tão baixa que as cenas noturnas ou mais escuras ficaram bastante comprometidas, ainda mais pela falta de uma iluminação decente. Já vi vídeos gravados com celular que são menos ruins. Além disso, em várias cenas deixaram vazar o irritante barulho do vento batendo no microfone da câmera - e como estas cenas não têm diálogos, não consigo entender porque não substituíram a barulheira por música!

Como fã, incentivador e realizador de filmes independentes, eu relevaria facilmente esses probleminhas técnicos. O problema é que o desleixo é exceção, e não regra. Quando uma das meninas chicoteadas na cena inicial "morre", por exemplo, o ferimento em látex que ela tinha no pescoço desgruda e quase cai (fica "solto", conforme você pode ver na 1ª imagem abaixo). Como é que ninguém viu essa bagaça e pediu um segundo take? Mais adiante, enquanto os Templários estripam uma moça, o braço "humano" do ator que interpreta um dos zumbis (o da esquerda na 2ª imagem abaixo) escapa de debaixo da manga do figurino, mas a cena continua mesmo assim. Será que o operador de câmera é cego?


Para completar, a montagem é uma aberração. Campbell tinha material para uns trinta minutos de filme, no máximo, mas esticou as cenas até não poder mais, conseguindo fechar a insuportável duração de 71 minutos.

O problema é que o saco do espectador dificilmente resistirá aos incontáveis takes de andanças dos personagens de um lado para o outro, às intermináveis sessões de chicotadas, e a momentos como o do sujeito que é arrastado pelos Templários por praticamente um quilômetro, sem cortes, até uma parte da floresta onde ele é finalmente colocado no chão e esquartejado (e nem tente entender porque os zumbis não o mataram no próprio local em que ele foi agarrado, ao invés de arrastá-lo para longe!). Enfim, só consegui aguentar até o final usando o Fast Foward, e mesmo assim senti como se tivesse perdido um tempo considerável da minha vida.


Descobri que Campbell e sua trupe começaram a fazer EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS em 2007, depois de uma série de curtas de baixo orçamento naquele esquema caseiro. Inicialmente, o projeto se chamava "El Monte de las Ánimas / Tombs of the Blind Dead V" ("A Montanha dos Espíritos"), e foi filmado em vários blocos.

Mais para o final do ano, os realizadores concluíram uma montagem de 57 minutos, rebatizada "Graveyard of the Blind Dead" ("O Cemitério dos Mortos Cegos"), para exibição no Festival de Sitges. A participação da equipe incluiu figurantes vestidos como Templários circulando pelo renomado festival de cinema. Foi somente depois de Sitges que os realizadores resolveram transformar o trabalho num longa, filmando mais 15 minutos e transformando-o em EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS, que foi finalmente concluído e lançado em DVD em 2009. Isso talvez explique o ritmo titubeante e enrolado da obra.


Quer dizer, explica mas não justifica! Por causa disso tudo, o resultado é uma tragédia de proporções épicas, o tipo de filme que faz a humanidade acreditar que cineastas como Uwe Boll e Ed Wood nem são tão ruins assim. E a desculpa da produção independente e sem dinheiro não cola, já que aqui mesmo, no Brasil, temos exemplos bem mais eficientes de cineastas que fazem muito com pouco ou nada, como Rodrigo Aragão e seus zumbis de “Mangue Negro” e “Mar Negro” – produções baratas e independentes que, comparadas a essa de Vick Campbell, parecem até blockbusters de Steven Spielberg!

No fim, EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS pode (e ênfase muito grande no “pode”) valer como curiosidade mórbida. Fãs dos “Mortos Cegos” de Amando de Ossorio têm aqui uma rara oportunidade de ver os cadavéricos Templários atacando o mundo dos vivos pela quinta vez. Já realizadores independentes podem tirar valiosas lições para melhorar os seus filmes, principalmente em questões como ritmo narrativo.


Confesso que estava muito curioso para ver EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS pelo fato de ser uma homenagem declarada e escancarada aos mortos-vivos de Amando de Ossorio, e me decepcionei. Mas a maior decepção MESMO foi com essa capinha pornográfica enganosa, que leva o espectador a acreditar que verá um sexploitation como o Diabo gosta. Na verdade, a quantidade de nudez no filme fica bem abaixo do esperado, e isso mesmo com a câmera pegando alguns ângulos mais “desinibidos” das atrizes.

Vale destacar que a loira peladona da capinha do DVD nem mesmo aparece no filme! A Fulana estrela uma vinheta que vem como extra no disco, e que aparentemente foi gravada apenas para fins de divulgação, ou quem sabe para angariar recursos na pré-produção. Vale ressaltar que o videozinho nem parece ter sido feito pela mesma equipe, já que a qualidade da imagem (e todo o resto também) é muito melhor.


Por isso, não deixa de ser irônico que a melhor coisa da bagaça toda seja essa vinhetinha de 1min40s com a loirona desinibida e um Cavaleiro Templário com uma motosserra (!!!), E ESSA CENA NEM ESTÁ NO FILME! Se Victor Gomez/Vick Campbell tivesse mantido esse mesmo (baixo) nível na produção toda, com mais sangue e mulher pelada aqui e acolá, talvez sua homenagem aos Mortos Cegos ficasse pelo menos ficado divertida. E assistível.

Porque do jeito que está agora, só mesmo os Zumbis Sem Olhos de Amando de Ossorio para conseguir encarar. Afinal, eles não têm como enxergar a quantidade de erros e nem o amadorismo geral da produção!

PS: Há uma tal de "Anarka de Ossorio" no elenco e na equipe técnica, e por um instante fiquei com medo de que fosse uma parente do pobre Amando sujando o nome da família. Felizmente, não é o caso: trata-se apenas do pseudônimo "espirituoso" usado pela atriz e produtora Anarka Bidaut. Ufa!


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El Retorno de los Templarios (2007, Espanha)
Direção: Vick Campbell (aka Victor Gomez)
Elenco: Eloise McNought, Albert Gammond,

Dani Moreno, Anarka de Ossorio e
um monte de desconhecidos.



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