Filmes de mentirinha que eu queria ver - Parte 2
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Filmes de mentirinha que eu queria ver - Parte 2



MANT!
Se alguém duvida que Joe Dante é um dos cineastas mais criativos da geração de pupilos de Roger Corman, "Matinee - Uma Sessão Muito Louca" (1993) é um belo argumento para mudar de ideia. Neste filme, que se passa em 1962, Dante resgata o clima nostálgico das sessões de cinema dos anos 50-60, e principalmente das exibições de produções baratas de horror e ficção científica. Ele também reverencia um especialista do gênero - o produtor-diretor William Castle - na figura do fictício Lawrence Woosley (interpretado por John Goodman, que imita Castle nos mínimos detalhes. Na trama, Woosley está numa pequena cidade lançando seu novo trabalho, "Mant!", a assustadora história de uma criatura metade homem, metade formiga. Na vida real, William Castle costumava utilizar truques ("gimmicks") para tornar as sessões de seus filmes mais divertidas; em "Matinee", Woosley coloca um rapaz vestido de homem-formiga para invadir a sessão de "Mant!" e assustar os adolescentes na plateia. Visionário, Joe Dante não se contentou em filmar apenas trechos do filme falso dentro do filme: anos antes de existirem os extras de DVD, o cineasta gravou um trailer completo (e hilário) para "Mant!", e também um curta-metragem inteiro, com começo, meio e fim, do que seria a produção de Lawrence Woosley. Abaixo você pode ver os três vídeos (e repare que, numa cena, o monstro-formiga invade um cinema e os espectadores olham diretamente para a câmera, numa brincadeira de metalinguagem que remete a "Força Diabólica", de William Castle). Repare, também, que o filme dentro do filme é estrelado por vários atores veteranos dos clássicos sci-fi dos anos 50-60, como Kevin McCarthy, Robert Cornthwaite e William Schallert. A propósito, é bom lembrar que, nas legendas do VHS nacional de "Matinee", "Mant!" foi traduzido como... err... "Hormiga!".

Trailer de MANT!



MANT! - Parte 1



MANT! - Parte 2





HABEAS CORPUS
"O Jogador" (1992, dir: Robert Altman) é uma brilhante e cínica visão dos bastidores da indústria de cinema de Hollywood e da influência de produtores e donos de estúdio na destruição de projetos, digamos, autorais. No começo do filme, o roteirista Tom Oakley (Richard E. Grant) procura o estúdio com uma ideia para um drama intimista, "sem astros e em preto-e-branco", sobre um promotor que condena uma jovem à morte na câmara de gás, mas se apaixona pela moça e resolve investigar para tentar provar sua inocência. No final do roteiro original de Oakley, o protagonista descobre que a garota era inocente, mas não consegue 6salvá-la da execução - "Ele matou a mulher que amava", repete várias vezes o roteirista. Bem, no final de "O Jogador", são exibidas cenas de "Habeas Corpus", o filme feito a partir do roteiro "intimista", e é então que percebemos que o estúdio destruiu a ideia original em busca do final feliz: a moça condenada é interpretada por Julia Roberts e o promotor por Bruce Willis, que invade a câmara de execução dando tiros para salvar a amada da morte certa. Enquanto sai com a garota no colo, tem até espaço para uma última piadinha: "Por que demorou tanto?", pergunta Julia; "O trânsito estava horrível", responde Bruce. Quando uma das funcionárias do estúdio questiona o roteirista sobre as drásticas mudanças na proposta original, ele responde: "Ninguém gostou nas exibições de teste. Refizemos tudo e agora todos adoram!". E assim, por algum motivo inexplicável (curiosidade mórbida?), confesso que gostaria de ver uma bobagem como "Habeas Corpus" sabendo que ela foi concebida como um filme sério e sem final feliz. Afinal, assim é Hollywood! (A propósito, o filme dentro do filme também tem Susan Sarandon, Peter Falk e Ray Waltson, e isso que o roteirista de "Habeas Corpus" não queria astros nem atores conhecidos!!!)





TRIO
Imagine um filme de ação reunindo três dos astros mais badalados dos anos 90, mesmo que um não tenha nada a ver com o outro: Sylvester Stallone, Whoopi Goldberg e Jackie Chan! Pois esta é a ideia de "Trio", o filme dentro do filme na comédia "Hollywood - Muito Além das Câmeras" (1997, dir: Arthur Hiller). Na trama dessa comédia - que, como "O Jogador", satiriza os bastidores de Hollywood -, um cineasta inglês chamado Alan Smithee (Eric Idle) é contratado para dirigir o tal blockbuster estrelado por Stallone, Whoopi e Chan, mas, furioso com as interferências do estúdio e dos atores, foge com o filme pronto e ameaça destruí-lo. A única coisa que vemos é um trailer de "Trio" que mostra as três estrelas virando para a câmera, disparando um tiro e dizendo: "Don't fuck with us!", entre cenas de explosões e perseguições de carro retiradas de "Duro de Matar - A Vingança". Embora a ideia de "Trio" fosse satirizar o exagero das produções de ação dos anos 90 e o uso completamente deslocado de celebridades (quem engoliria Whoopi Goldberg como parceira de Stallone?), até que não seria nada mau ver uma produção desmiolada com um trio tão diferente quanto este - parecendo até uma visionária versão satírica do posterior "Os Mercenários", escrito, dirigido e estrelado pelo próprio Stallone mais de uma década depois de "Trio" (e que não tem Jackie Chan, mas tem Jet Li no elenco)!





SCHWARZENEGGER'S HAMLET
"Ei Claudius... Você matou meu pai. GRANDE ERRO!", diz o príncipe Hamlet interpretado por Arnold Schwarzenegger enquanto acende um charuto e prepare-se para matar incontáveis inimigos com espadadas e... TIROS DE METRALHADORA!!! Esta insana versão de "Hamlet", de William Shakespeare, sai da imaginação do garoto Danny (Austin O'Brien) em "O Último Grande Herói" (1993, dir: John McTiernan), um filme muito divertido que foi incompreendido na época do seu lançamento. Sim, eu admito que a proposta é completamente sem pé nem cabeça, mas eu realmente adoraria ver uma versão deturpada de um clássico da literatura, como esta, com o Hamlet de Schwarzenegger disparando tiros e frases de efeito que fariam Shakespeare se revirar no túmulo - como "Ser ou não ser? Não ser!", antes de explodir o castelo do inimigo!!! De certa forma, esta brincadeira com Hamlet foi feita anos antes de outras experiências semelhantes e parecidas, como o filme "Romeu & Julieta" de Baz Luhrmann (que colocou os personagens nos tempos atuais, lutando com armas automáticas ao invés de espadas) ou o livro "Orgulho e Preconceito e Zumbis", em que Seth Grahame-Smith incluiu mortos-vivos no clássico romance escrito por Jane Austen no século 19. E vamos admitir que seria hilário se alguma produtora picareta, como a The Asylum, fizesse versões estúpidas e absurdas de livros clássicos como este "Schwarzenegger's Hamlet"... Epa, peraí: eles já estão fazendo bobagens como "2010: Moby Dick" e "The War of the Worlds" com C. Thomas Howell! Tá bom, então só falta eles começarem a fazer versões estúpidas, absurdas mas também DIVERTIDAS de livros clássicos.

Trailer de SCHWARZENEGGER'S HAMLET





THRILLER
Sim, todo mundo lembra do clássico videoclipe "Thriller", que John Landis dirigiu para o popstar Michael Jackson em 1983. Todo mundo lembra dos zumbis saindo das sepulturas, de Michael virando ele próprio um morto-vivo e dos cadáveres decrépitos dançando a música-tema no meio da rua. O que pouca gente lembra é que, antes da dança dos mortos iniciar, o rei do pop e sua namorada (Ola Ray) estão no cinema vendo um filme de lobisomem estrelado pelo próprio Michael Jackson. Conforme nos informa o anúncio na fachada do cinema quando o casal está saindo, este filme de lobisomem se chama "Thriller", e é estrelado por... Vincent Price!!! Assim, embora todo mundo lembre dos zumbis e da música, eu gostaria mesmo era de ver "Thriller", o filme de lobisomem, com Michael Jackson virando homem-lobo e sendo perseguido, talvez, por Vincent Price (que não chega a aparecer nas cenas do filme dentro do filme, ou filme dentro do videoclipe, mas é o narrador da obra). Por sinal, a transformação de Michael em lobo é melhor que tudo que é feito hoje em matéria de lobisomens, e mostrada através de efeitos práticos do mestre Rick Baker - que, dois anos antes, havia feito o clássico "Um Lobisomem Americano em Londres". Tudo bem, Jackson e Price já morreram e jamais veremos "Thriller", o filme de lobisomem. E é melhor não ficar falando muito no caso para que ninguém tenha a idéia de fazer algo do gênero com Justin Bieber...




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