O dia em que QUASE conheci John Landis
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O dia em que QUASE conheci John Landis



Essa viagem que fiz para a Europa em janeiro foi uma viagem de "quases". Eu quase peguei o Fantasporto, famoso Festival de Cinema Fantástico na cidade portuguesa de Porto (passei por lá exatamente um mês antes do início do evento!). Eu quase dei de cara com o Jaume Balagueró e o Paco Plaza filmando as últimas cenas de "REC 2" em Barcelona (descobri tarde demais onde ficava o prédio usado para as filmagens, mas esta história eu conto numa próxima postagem). E eu quase, mas quase mesmo, conheci pessoalmente um dos meus ídolos, John Landis.

Para explicar a importância que este senhor barbudo e bonachão de 59 anos teve na minha vida, comecemos do princípio: meu interesse pelo cinema fantástico e de horror se deve a um dos seus clássicos, "Um Lobisomem Americano em Londres" (1981). Até ver esta perfeita mistura de horror, comédia, efeitos especiais e sangue na telinha do SBT, eu, então lá pelos meus 10 anos de idade, odiava (leia-se "morria de medo") filmes de terror. Com "Um Lobisomem Americano em Londres", Landis despertou o monstro que havia em mim - mais ou menos como o lobisomem que "saía de dentro" do David Naughton no filme.

E mesmo que esteja meio sumido há alguns anos (este ano teremos seu retorno com a comédia de humor negro "Burke and Hare", atualmente em pré-produção), Landis já imortalizou seu nome entre os grandes do mundo do cinema com clássicos do calibre de "Os Irmãos Cara-de-Pau" e "O Clube dos Cafajestes", e até pérolas da cultura pop como o imortal videoclip "Thriller", do Michael Jackson (sim, aquele em que o cantor dança com zumbis).

Mas vamos aos fatos: eu estava em Paris com meu irmão Goti e consegui, por acaso, um folder com a programação da Cinemateca Francesa (La Cinèmathèque Française, para os parisienses). Primeiro, fiquei louco ao descobrir que lá estava sendo realizada uma exposição sobre a vida e carreira do cineasta francês Georges Meliès (um dos pioneiros dos efeitos especiais, ainda nos tempos do cinema mudo). A exposição tinha cenários, figurinos, desenhos, câmeras, filmes... enfim, mais de 700 itens relacionados ao trabalho de Meliès, além de promover palestras e seminários sobre sua obra.

Depois, descobri que a Cinemateca tem um famoso museu sobre a história do cinema mundial, onde é possível ver peças famosas de grandes clássicos, como as engrenagens que sugam Charles Chaplin em "Tempos Modernos", a sedutora robô de "Metrópolis", de Fritz Land, e pôsteres de filmes da época.

E então veio o golpe de misericórdia: analisando a programação de filmes da Cinemateca, descobri que, entre retrospectivas dos trabalhos de Dennis Hopper, Freddie Francis e Michael Mann, e de uma exibição de "Luca, O Contrabandista", de Lucio Fulci (!!!), estava para começar um ciclo com todos os trabalhos de John Landis. E estava lá, em destaque, na programação, no dia 28 de janeiro: "Overture de la rétrospective John Landis: 'Inocent Blood', en présence du réalisateur".

Acho que nem preciso dizer que esta última frase significa "com a presença do realizador", não é mesmo?

Surtei. A exibição seria na noite do dia 28, uma quarta-feira. Então era segunda-feira, dia 26, e eu sabia que meu irmão já tinha comprado a passagem de trem para a Suíça, nosso próximo destino. Porra, para quando é que aquele desgraçado teria comprado a passagem, dia 28 ou 29?

Seguiu-se um diálogo mais ou menos assim:

- Goti, quando a gente vai pra Suíça?
- Deixa eu ver aqui... (Mentalmente, Felipe fica repetindo: "Dia 29, dia 29, dia 29!!!") Vamos no dia 28. De manhã.
- Dia 28? (Furioso) Por que não vamos dia 29?
- Mas já vimos tudo aqui em Paris, quer ficar aqui fazendo o quê?
- Tá, mas não dá para ir dia 29?
- Não dá, já comprei as passagens e a reserva do hotel aqui em Paris é só até dia 28. Por quê?
- Goti, tem certeza que não podemos ir dia 29?
- Não. Mas tu quer o quê afinal?
- (Resignado) Nada, nada...


E assim, por umas meras 12 horas de desencontro, eu não consegui conhecer pessoalmente o John Landis. Mesmo que fosse para vê-lo bem de longe, ou de relance - ainda assim eu estaria dividindo o mesmo ambiente com ele (para vocês terem uma idéia, este imenso prédio aí embaixo...).


Talvez eu devesse ter estrangulado meu irmão, rasgado as passagens já compradas para a Suíça e dito: "Nós vamos ficar aqui de qualquer jeito porque eu quero conhecer o John Landis! Essa é uma oportunidade única e não vai ser a tua mania de programar tudo com antecedência que vai me deter!".

Por outro lado, tive que reconhecer a paciência e a organização de meu pobre irmão caçula, que realmente programou tudo com perfeição e ia atrás destes detalhes burocráticos da viagem, como datas e horários de trens e aviões, enquanto eu ficava enchendo a cara e procurando DVDs baratos. Sim, eu devia isso a ele. Não podia esbofeteá-lo nem estrangulá-lo. Além disso, a culpa não era dele, mas sim da Cinemateca Francesa. Não podiam ter marcado o início da retrospectiva antes, tipo para a segunda-feira?

Já conformado em ter perdido o encontro com Landis, aumentei minha dor quando conferi o restante da programação: a retrospectiva do trabalho do cineasta se estenderia durante todo o mês de fevereiro, até 1º de março, com exibições de praticamente todas as obras do cineasta, das mais famosas às mais obscuras, como "The Kentucky Fried Movie" (que na França, estranhamente, foi rebatizado "Cheeseburger Film Sandwich"!!!) e até "Schlock", seu primeiro filme. De todo jeito, o homem em carne, osso e barba só estaria presente no dia 28.

E lembro que fiquei imaginando quando, aqui no Brasil, teríamos uma programação desse nível: uma retrospectiva da obra de um famoso cineasta, internacional ou brasileiro mesmo, com a exibição de todos os seus filmes e a presença do próprio fulano comentando seus trabalhos de antes e de agora.

No ano passado, participei da sessão de pré-estréia de "Encarnação do Demônio" em Porto Alegre, com a presença do Zé do Caixão em pessoa, mas não era a mesma coisa (alguém já promoveu uma retrospectiva completa e comentada da obra de Mojica, incluindo seus pornôs e filmes mais obscuros?). Assim, morri de inveja dos parisienses, das suas retrospectivas maravilhosamente completas e de sua maldita Cinemateca Francesa!

Para terminar este triste relato, na terça-feira, 27 de janeiro, antes da partida para a Suíça, fui tentar afogar minhas mágoas com uma visita à Cinemateca, onde pretendia pelo menos ver a exposição do Meliès e o museu com as relíquias de uma época de ouro do cinema.

E foi quando percebi que estou mesmo precisando me benzer: justamente naquele dia, o meu último dia livre em Paris, toda a estrutura da Cinemateca estaria fechada para preparar o início da Retrospectiva John Landis!!!




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