Lost in translation - Final
Filmes Legais

Lost in translation - Final



Depois das minhas experiências um tanto frustradas nos cinemas de Portugal e Espanha, as próximas paradas da Eurotrip foram breves: Amsterdam, Bélgica e Luxemburgo. E em lugares onde maconha e sacanagem são orgulho nacional (Amsterdam), e há mais de quatrocentas marcas de cerveja para degustar (Bélgica e Luxemburgo), não tive muito tempo (nem vontade) para ir ao cinema.

Chegando à França, foi complicado encontrar um cinema que exibisse filmes "V.O.". Sabe aquela história que eles não gostam de falar inglês e nem fazem questão de se comunicar neste idioma? É pura verdade! Sendo assim, você tem que ir ao cinema e agüentar o Leonardo DiCaprio dublado em francês (assim vi o trailer do "Revolutionary Road"). Ou tentar descolar alguma sala com filmes no idioma original e legendas em francês, o que por lá é beeeeeem raro. Malditos orgulhosos e arrogantes!!!!

Ah, quer um exemplo bizarro da arrogância francesa, para não achar que estou exagerando? Então, vi uns pedaços do "De Volta para o Futuro" dublado em francês na TV no hotel de Paris. Lembra que quando o Michael J. Fox volta para os anos 50, o pessoal acha que o nome dele é Calvin Klein, porque este era o nome escrito na sua cueca? (Piada inspiradíssima, por falar nela). Pois é, acredite ou não, mas na França o "nome de cueca" do personagem na dublagem não é Calvin Klein, mas sim PIERRE CARDIN, que é um estilista francês!!!! É dose, mas é verdade...

Voltando ao cinema francês: eu já estava desanimado para ver um filme local em Paris, já que não entendo bulhufas do idioma, e o único filme originalmente francês que me interessava em cartaz era "LOL", uma comédia dramática de Lisa Azuelos estrelada por Sophie Marceau. (O trailer é bem interessante, como vocês podem conferir abaixo).

Trailer de LOL


Mas como eu não queria gastar meus preciosos euros vendo um filme para entender 15% do que acontecia, estava para desistir quando, durante uma caminhada inocente, recebo um sinal dos céus: um enorme luminoso de cinema anunciando "Slumdog Milionaire" em versão "V.O.". Não pensei duas vezes, e também não me arrependi: adorei o filme do Danny Boyle, só para ir na contramão da crítica nacional. Também falarei mais sobre ele em futura postagem. E acho mesmo que vai faturar o Oscar de Melhor Filme.

Na Suíça, fiquei uns dias em Genebra bastante interessado em ir ao cinema. Mas lá não havia produções próprias: minha vontade era ver as duas partes de "Che", do Steven Soderbergh, que estavam passando simultaneamente por lá. Mas a idéia de ficar 4h30min no cinema, vendo um filme falado em inglês/espanhol com legendas em francês (veja que surpresa, na Suíça a população fala mais francês que alemão!), não me seduziu ao ponto de deixar o conforto do hotel para encarar tal maratona cinematográfica.

E assim chegamos ao fim da viagem, a Itália. E lá eu estava desesperado para ver qualquer coisa de produção nacional, esquecendo que o cinema italiano hoje é uma instituição praticamente falida (atualmente, quase todos os cineastas trabalham na TV).

Para piorar, aquele negócio de dublagem de filmes estrangeiros era ainda mais forte na Itália: passei por uns seis cinemas e só encontrei um exibindo filmes "V.O.". Como meu irmão ia no jogo do Milan, tirei aquela noite para ver "Milk", do Gus Van Sant. Foi o típico filme "tapa-buraco" que eu só vi por não ter nada melhor para fazer mesmo, e provavelmente não veria aqui no Brasil. Até achei bem interessante, mas não é tudo isso - e estou louco para ouvir comentários elogiosos para que eu possa retrucar (os críticos portugueses taxavam de "obra-prima").

Ah, sabe aquela história de que os cinemas italianos fazem um intervalo no meio da projeção? Quem diria, é verdade! Estou lá sentado todo confortável e, na metade do filme, as luzes se acendem e aparece a mensagem "Fin do Primo Tempo", ou algo assim, seguida de um intervalo de uns 10 minutos para o pessoal ir no banheiro ou comprar pipoca!

Me arrependi mesmo por não ter ido conferir o único filme italiano que estava em cartaz, uma comédia chamada "Italians", dirigida por Giovanni Veronese. É que os cinemas estavam exibindo o filme num horário ingrato, no começo da tarde, e nestas horas eu estava fazendo coisas de turista - visitando o Coliseu, o Vaticano, tomando cerveja italiana...

Trailer de ITALIANS


Outro filme 100% italiano ainda não havia estreado (pra variar, isso iria acontecer apenas quando eu não estivesse mais por lá...), mas vi tantas propagandas na TV italiana que foi quase como uma lavagem cerebral: trata-se de um romance adolescente mela-cueca (pelo que parece) chamado "Questo Piccolo Grande Amore", dirigido por Riccardo Donna. Tem tantas cenas lacrimejantes e açucaradas no trailer que já visualizo salas de cinema lotadas de meninas em prantos por toda Roma... Mas, sabem, fiquei curioso para conhecer também este! Vejam o trailer abaixo e chorem vocês também! hahahaha.

Trailer de QUESTO PICCOLO GRANDE AMORE


E assim terminou minha curta aventura nos cinemas europeus!

Agora, olhando para trás, realmente me lamento por não ter conseguido ver o 007 português "Contrato" em Portugal... Bom seria se tivesse encontrado, talvez, alguma retrospectiva de cinema de horror espanhol em Barcelona, ou quem sabe uma mostra dos filmes de Dario Argento na Itália...

Dei azar também de passar por Porto, em Portugal, praticamente um mês antes do início do Fantasporto, o famoso Festival de Cinema Fantástico lusitano, que estava marcado para fevereiro (e que, na programação, tinha uma retrospectiva do cinema de Mario Bava!!!).

Mas são coisas da vida, e o que vale mesmo é a experiência de ter podido compartilhar sessões de cinema em luxuosas salas de rua, fora de shopping centers, ao lado de pessoas educadas.

Sabem, eu nunca vi um filme no Brasil em que a sala de cinema lotada (caso das sessões de "Slumdog Milionaire" em Paris e de "Milk" em Roma; a do "The Spirit" estava praticamente vazia porque era sessão das onze da noite!) ficasse no mais completo silêncio. E percebi que realmente estava em outro mundo quando, no final das duas sessões supracitadas, no momento em que os créditos finais surgiram, o público todo aplaudiu o filme que acabava de acabar. Isso mesmo, o povo de lá aplaude o filme!

Realmente, povo culto é outra história...



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