O pior livro de todos os tempos da última semana
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O pior livro de todos os tempos da última semana



"Um pai. Um filho. Três filmes por semana."

É essa a frase na capa de O CLUBE DO LIVRO, obra do crítico de cinema canadense David Gilmour (não confundir com o músico homônimo) que parece estar fazendo sucesso também no Brasil. Ando lendo demais ultimamente, e não resisti quando encontrei esse livro na FNAC com 20% de desconto.

O que me atraiu foi a frase da capa e especialmente o resumo na contracapa. Segue:

"David Gilmour, crítico de cinema desempregado e com o dinheiro contado, vivia uma fase complicada. Além disso, o filho de 15 anos colecionava reprovações em todas as disciplinas. Diante da falta de rumo daquele estudante perdido e despreparado, uma proposta paterna radical: o garoto poderia sair da escola - e ficar sem trabalhar e sem pagar aluguel - desde que assistisse toda semana a três filmes escolhidos pelo pai, e com o pai. Assim surgiu o Clube do Filme..."

Bem, pelo resumo, eu esperava uma história realmente interessante onde filmes seriam utilizados como uma forma de educar um jovem para as diversas etapas e dificuldades da vida - como de fato eles podem ser utilizados, pois, se pensarmos, há cenas de filmes que se encaixam em cada situação que encontramos no dia-a-dia. Enfim, esperava algo que fosse para o mundo do cinema o mesmo que o excelente "Alta Fidelidade" havia sido para o mundo da música.

Quebrei a cara. Não se julga um livro pela capa, realmente...

O CLUBE DO FILME na verdade não passa de um diário piegas e mal-escrito, onde o tal Gilmour fica relatando as desventuras amorosas de seu filho, um adolescente mimado, antipático e boçal chamado Jesse, que tem um talento tão natural para se meter em encrenca que, se eu fosse o autor do livro, sentaria porrada no rapaz o dia todo, ao invés de convidá-lo para ver filmes. O cinema não fica em segundo, mas em décimo-quinto plano na narrativa simplória do autor.

Pior que as narrações melosas de Gilmour, que morre de orgulho do filho mesmo quando ele abandona a escola sem pensar duas vezes para trabalhar como lavador de pratos (belo futuro, hein?), somente a forma como os filmes são citados e utilizados ao longo da narrativa.

Para quem espera algo no estilo "Alta Fidelidade", os comentários cinéfilos do autor parecem coisa de redação escolar de alguém que viu meia dúzia de filmes na vida. Raramente cenas e diálogos são usados para ilustrar episódios da vida, como eu esperava pela descrição da história na contracapa do livro. Surgem mais como citações gratuitas mesmo, ou para motivar comparações óbvias e sem qualquer talento.

Quer alguns exemplos? Então acompanhe:

"Ele levantou os olhos, mas não com a expressão de quem olha para um pai, mas da forma como Al Pacino olha para um idiota em 'O Pagamento Final' (1993), de Brian DePlama. Tínhamos ultrapassado algum limite, em algum momento."

"Eu sou como aquele cara em 'O Último Tango em Paris', imaginando se a mulher dele fez com o cara de roupão lá embaixo as mesmas coisas que fez com ele."

"Começamos com 'Rocky 3' (1982). Chamei a atenção de Jesse para o apelo barato, mas irresistível, do personagem Mr. T, suado, fazendo flexões e supinos em seu cubículo. Nada de pratos com guarnições de leito de cogumelos, nada de cappuccinos afrescalhados para ele."

"Achei que fosse ter um ataque do coração, ou que minha cabeça fosse explodir, como a daquele cara no filme do Cronenberg... 'Scanners'."

"No fim de semana passado, fui a um bar na rua Queen. Parecia aquela cena de 'Caminhos Perigosos', do Scorsese."

"Bem, ele já tem 19 anos, é assim que funciona. Pelo menos ele sabe que Michael Curtiz filmou dois finais diferentes para 'Casablanca', para o caso de o final triste não funcionar. Isso provavelmente vai ajudá-lo, no mundo lá fora. Ninguém vai poder dizer que deixei meu filho partir indefeso."

"Sabe o que ela disse uma vez? Disse que a versão de 'Lolita' de Stanley Kubrick, de 1962, é melhor que a de Adrian Lyne, de 1997. Aquilo tem de estar errado. A 'Lolita' de Adrian Lyne é uma obra-prima!"


E por aí vai... As citações não vão muito além desse uso raso e bobo. Se a proposta de Gilmour era educar o seu filho para a vida, substituindo a escola pelo uso de filmes, e as únicas relações que ele consegue criar entre filmes e vida real são essas frases banais, então só posso imaginar que o pobre Jesse continua lavando pratos até hoje!!!

Logo, fujam desse livro, que provavelmente ainda vai ganhar algum "Prêmio Paulo Coelho de Qualidade Literária".

PS: Voltei para o Sul do Brasil para um mês de férias. O blog provavelmente ficará abandonado nesse período, pois, entre outros compromissos inadiáveis, vou participar do Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, e filmar meu novo longa-metragem. Abraços a todos.



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