O ÚLTIMO DETETIVE (1996)
Filmes Legais

O ÚLTIMO DETETIVE (1996)



Durante a febre do VHS, entre a metade dos anos 80 e o final da década de 90, várias pequenas produtoras dedicavam-se a forrar as videolocadoras com obras feitas a toque de caixa, direto para o mercado de vídeo (sem lançamento nos cinemas). Uma delas era a PM Entertainment Group, dos sócios Richard Pepin e Joseph Merhi.

Se você era fã de filmes de ação baratos nos anos 90, certamente viu alguma das produções de Pepin-Merhi, como "Perigo na Torre" (uma versão de "Duro de Matar" com a peitudona Anna Nicole Smith no lugar de Bruce Willis!) e "Ringue de Fogo" (com Don "The Dragon" Wilson).

Entre os vários filme divertidíssimos que a dupla produziu, também está O ÚLTIMO DETETIVE, uma produção barata que, um dia, eu espero mostrar para o meu filho e dizer: "Olha, guri, era assim que se fazia filme de ação antes do Michael Bay e do Paul Greengrass foderem com o gênero!".


O título em português é uma imbecilidade: no original, chama-se "Last Man Standing", ou, literalmente, "O último homem a permanecer de pé" (no final de um tiroteio). O que acontece é que o filme chegou às locadoras em 1996, o mesmo ano de um outro "Last Man Standing" mais ilustre, estrelado por Bruce Willis e dirigido por Walter Hill. Este, no Brasil, foi batizado "O Último Matador". Logo, quem lançou o "Last Man Standing" do Merhi e do Pepin deve ter pensado: "Ah, copia o título nacional do outro, só coloca Detetive em vez de Matador!".

Também dirigido e escrito pelo produtor Merhi, O ÚLTIMO DETETIVE é um daqueles flmes baratos da ação casca-grossa e descerebrada, do tipo que você vê hoje e amanhã já esquece, mas aproveita cada minuto do filme como o passatempo que é - ao invés de ficar revoltado e louco para que o negócio termine logo.


O herói - e co-produtor - é Jeff Wincott, uma espécie de Van Damme ou Steven Seagal dos pobres, que estrelou uma série de produções baratas nos anos 90, inclusive duas continuações não-oficiais de "Soldado Universal" (produzidas, adivinhe só, direto para o mercado de vídeo). Uma curiosidade: um dos primeiros papéis de Wincott no cinema foi no slasher oitentista "A Morte Convida Para Dançar"!

Ele interpreta Kurt Belmore, aquele típico policial honesto que é bom de tiro, bom de briga e péssimo em se vestir (passa o filme todo usando botas de couro de cobra, e chega a combinar terno amarelo com gravata verde numa cena!).


Seu parceiro é, acredite ou não, Jonathan Banks, que normalmente faz papéis de vilão (como em "Um Tira da Pesada"). Ironicamente, Banks aqui interpreta um policial veterano com mãe superprotetora (!!!), que todo dia lhe prepara um lanchinho para levar à delegacia!

Pois num dia de rotina, averiguando uma ocorrência de bagunça excessiva num hotel cinco estrelas, Kurt e seu parceiro esbarram numa violenta quadrilha de ladrões de banco, liderada por Snake Underwood (Jonathan Fuller, a criatura de "O Castelo Maldito"). Após um tiroteio infernal, o herói consegue prender o bandidão. Não do jeito fácil, é claro: ambos chegam a despencar do topo do prédio direto para dentro de uma piscina!


Só tem um probleminha: Underwood e sua gangue estão ligados a um grupo de policiais corruptos. Entre eles, dois superiores de Kurt, Seagrove e Demayo (respectivamente Steve Eastin e Michael Greene, veteranos de filmes B).

Os chefões limpam a barra do vilão e o libertam da cadeia, mas o herói começa a pentelhar querendo levar o caso à Corregedoria. Assim, os tiras sujos matam o parceiro de Kurt e começam a persegui-lo, numa caçada humana que envolve também Underwood e sua turma.

(Ah, quase esqueci: um dos bandidos "secundários" é interpretado pelo Robert LaSardo, uma espécie de "Danny Trejo dos pobres", e tão feio e tatuado quanto o original!)


Esqueça a história, já que O ÚLTIMO DETETIVE é uma mera desculpa para explosivas cenas de ação de tempos em tempos. Sim, trata-se de uma produção barata, sem nomes muito conhecidos e sem grandes efeitos, mas ainda assim as cenas de ação são empolgantes e bem-dirigidas - principalmente quando comparadas com essas merdas que fazem hoje.

Na época em que o filme foi feito (1996), Hollywood vivia a "Era John Woo". Assim, os tiroteios aqui estão repletos de pulinhos de um lado para o outro em câmera lenta. Mas, ao contrário do que Bay, Greengrass e outros "visionários" fariam depois, o diretor Merhi parece ter um tripé à disposição para filmar estas cenas.


Já me imagino falando com meu filho: "Guri, está vendo esse tiroteio? Percebe como eles filmavam nos velhos e bons tempos? Sim, a câmera está fixa! Eles usavam um troço chamado tripé, que foi abolido dos anos 2000 em diante. Olha só como dá para entender tudinho que acontece, quem está atirando em quem, quem está levando tiro, quem está morrendo... Legal, né?".

Wincott, como todo astro de segundo ou terceiro escalão, era especialista em artes marciais (faixa-preta em karatê e taekwondo), assim podia fazer sua própria coreografia e dispensar dublê. Ver o sujeito lutando em O ÚLTIMO DETETIVE é um alívio: não que as cenas sejam tãoooo inspiradas assim, mas é que elas são filmadas com câmera fixa e longe da fuça dos atores, enquadrando os dois "lutadores" em corpo inteiro, diferente do que se faz hoje.

Novamente, fantasio: "Olha só essa luta, meu filho. Tá vendo como o diretor filma de longe, para que a gente possa ver quem está batendo em quem? A edição não é picotada e repleta de closes dos caras dando ou levando porrada, como fazem hoje. Ou seja, eles eram obrigados a coreografar bem a cena, ao invés de salvar tudo na edição com cortes rápidos, tipo a luta do Jet Li com o Dolph Lundgren em 'Os Mercenários'!".


Porém a melhor coisa de O ÚLTIMO DETETIVE, e o que coloca o filme acima da média de outras produções bagaceiras da época, são as perseguições automobilísticas. Parece até que baixou o Joseph Merhi acordou naquele dia pensando que era o William Friedkin ou o John Frankenheimer.

"Guri, conta comigo... Um, dois, três, quatro, cinco... Viu só? Cada take tem cinco segundos antes de cortar para o próximo, diferente das perseguições com takes de meio segundo e câmera tremida dos filmes do Michael Bay, em que você não sabe quem está pilotando qual carro e batendo no quê! E outra: esses carros e essas maluquices que eles estão fazendo, é tudo de verdade! São carros reais pilotados por dublês reais, e não computação gráfica, como eles gostam de fazer hoje. Legal, né, filho? Você nasceu na época errada, hein?".


A grande cena do filme, que não faz feio perante nenhuma grande produção hollywoodiana da mesma época (tipo "Duro de Matar - A Vingança" ou "Máquina Mortífera 4"), mostra Wincott perseguindo o carro-forte onde estão os bandidos, pilotando uma moto veloz.

Primeiro, o herói faz a motocicleta bater de propósito na traseira do carro-forte para que possa ser impulsionado para dentro do veículo pela colisão (!!!), e assim trocar porradas com o vilão que está na traseira; depois, ele cai para fora do carro-forte e é arrastado, por quilômetros, em alta velocidade, segurando-se em uma corrente - e não é computação gráfica, é um pobre dublê lixando a bunda no asfalto!!! Parte da cena pode ser vista no vídeo abaixo:

Moto versus carro-forte



E se tudo isso já parece muito bom, calma que tem mais: duas delícias que atendem pelos nomes de Jillian McWirther e Ava Fabian embelezam o filme. Esta segunda é uma das vilãs e infelizmente não tira a roupa; mas a gracinha Jillian, estrelinha de produções baratas como "O Dentista 2", compensa aparecendo não só nua, mas em caliente cena de sexo com Wincott (ela interpreta sua esposa no filme).


Afinal, "produção barata direct-to-video dos anos 90" é praticamente um sinônimo de sacanagem. E, como não podia deixar de ser, essa também tem uma cena completamente dispensável dentro de um clube de striptease, onde duas strippers absurdamente peitudas ganham seus "cinco minutos de fama", sacudindo os melões antes que os tiros comecem.


Finalmente, O ÚLTIMO DETETIVE também traz todo aquele humor involuntário geralmente agregado a estas aventuras casca-grossa, mostrando absurdos como os bandidos, que tentam ser discretos e não chamar a atenção, matando um sujeito com rajadas de Uzi dentro de um quarto de hotel (!!!), ou a polícia usando o cadáver de um dos vilões para fazer uma emboscada numa estação de metrô - como se colocar pessoas mortas em lugares públicos fosse a coisa mais normal do mundo.


E além de todas essas qualidades, O ÚLTIMO DETETIVE ainda dura o tempo certo para a bexiga agüentar (menos de 90 minutos). "Está vendo, filho? Isso foi antes do Michael Bay e sua turma inventarem essa bobagem de que filme de ação precisa ter mais de 2h30min!".

Se você ainda não viu, eu recomendo (com umas duas ou três cervejas na cabeça, para ficar ainda melhor). É burocrático, simplório, bobinho, mas não dá aquela sensação de tempo perdido no final.

E aposto que você também vai ficar com vontade de mostrar para os seus filhos depois, além da maior saudade desses tempos em que os filmes de ação eram descomplicados, despretensiosos, bem filmados e, principalmente, DIVERTIDOS!

Trailer de O ÚLTIMO DETETIVE



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O Último Detetive (Last Man Standing, 1996, EUA)
Direção: Joseph Merhi
Elenco: Jeff Wincott, Jillian McWhirter, Jonathan
Fuller, Steve Eastin, Robert LaSardo, Jonathan Banks,
Michael Greene e Ava Fabian.



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