Os filmes que eu vi DEPOIS do Fantaspoa
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Os filmes que eu vi DEPOIS do Fantaspoa


No final de semana que passou, estive mais uma vez em Porto Alegre para conferir algumas das atrações da mostra retrospectiva "O Melhor do Fantaspoa", que exibiu os filmes premiados e as maiores bilheterias do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre.

Como sempre, tudo foi muito corrido e não consegui ver todos os que eu queria (faltou tempo e disponibilidade para pegar as sessões de "Vampire Girl Vs. Frankenstein Girl" e "Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza", que acabei não conseguindo conferir na telona).

Em todo caso, fica aqui um registro das quatro últimas obras que vi no Fantaspoa 2010, e também um agradecimento público aos nobres realizadores do evento - o hiperativo João Pedro Fleck, sua querida esposa Mari e o sábio oriental Nicolas Tonsho - por terem me tratado a pão-de-ló nestes dias do Festival, deixando-me cada vez mais mal-acostumado. E que venha o do ano que vem!



O LEGADO VALDEMAR (La Herencia Valdemar, 2010, Espanha. Dir: José Luis Alemán)
Eu tinha lido algumas resenhas bem entusiasmadas sobre esta caprichada produção espanhola e estava muito animado para vê-la. Ainda que não seja tãooooo maravilhoso quanto falam, "O Legado Valdemar" é uma história de terror muito bem construída e repleta de detalhes, lembrando até as obras de H.P. Lovecraft. Bastante ambiciosa, a trama começa no presente e depois volta para o começo do século 20, misturando personagens fictícios com figuras reais como o satanista Aleister Crowley, o escritor Bram Stoker e a famosa assassina Lizzie Borden. O filme começa lembrando "A Casa do Cemitério", de Lucio Fulci, com uma corretora de imóveis encontrando cadáveres putrefatos num velho casarão ao inventoriar os bens da propriedade. Ela então some de cena, e a imobiliária contrata um detetive para investigar seu desaparecimento. É quando começa o longo flashback contando a história da Mansão Valdemar, que, veja só, se estende até o final! Isso mesmo: a história não termina aqui, mas sim numa futura segunda parte, "La Sombra Prohibida", já filmada e com lançamento previsto para 2011 (um teaser da seqüência é exibido durante os créditos finais). O fato de a história não ter conclusão é de certa forma frustrante, principalmente porque o filme termina aberto demais e sem concluir nenhuma das muitas situações iniciadas - sugiro que quem ainda não viu, espere para ver num programa duplo quando sair a segunda parte. Talvez os realizadores pudessem ter enxugado o imenso flashback para fazer um filme só, ou pelo menos intercalar algumas das subtramas (como a da corretora desaparecida) em meio ao flashback, para não deixar tudo a resolver na segunda parte. De todo modo, "O Legado Valdemar" é um belo filme, surpreendentemente inteligente e rico em detalhes nestes tempos de remakes e produções descartáveis. A lamentar apenas o papel apagado de uma lenda do cinema fantástico espanhol, o falecido Paul Naschy, numa participação indigna do seu talento como o mordomo da mansão Valdemar.


VIDA E MORTE DE UMA GANGUE PORNÔ (Zivot i Smrt Porno Bande, 2009, Sérvia. Dir: Mladen Djordjevic)
Esta bizarra produção vinda da Sérvia foi a mais idolatrada do festival porto-alegrense, colecionando elogios generalizados. Ou eu não entendi o filme, ou não comprei a idéia: só sei que não vi nada de tão espetacular assim. Na verdade, "Vida e Morte..." começa muito bem e muito divertido: o impagável primeiro ato acompanha a frustração de um estudante de cinema que não consegue dinheiro para produzir suas películas, e acaba envolvendo-se com cinema pornô e com uma trupe itinerante que promove shows de sexo ao vivo pelo interior do país. A partir da metade, entretanto, a coisa descamba ao entrar no território (cada vez mais batido) dos snuff movies. Aí parece que o objetivo do diretor-roteirista Mladen Djordjevic é o de chocar a qualquer custo: se não for com a extrema violência, é com as cenas de sexo explícito, inclusive entre homossexuais, e chegando ao auge do mau gosto no momento em que um travesti chupa o pau de um cavalo (explicitamente)! É como se Rob Zombie e o catarinense Petter Baiestorf estivessem refilmando o clássico "Emanuelle in America", do Joe D'Amato, sob efeito de LSD: vale tudo para chocar e/ou incomodar o espectador. Mas confesso que não consegui embarcar na brincadeira, não me importei com o destino dos personagens e comecei a achar tudo muito cansativo e repetitivo da metade para o final. Sem contar que o filme nunca se decide entre ser avacalhação pura e simples ou fazer crítica social e política séria sobre certos aspectos do país (como na cena do velho fazendeiro que aceita ser "ator" de um snuff para que sua família finalmente saia da miséria com o dinheiro do "cachê"). Enfim, um filminho curioso pela proposta e pelo país de origem, mas do tipo que se assiste uma vez e logo se esquece. Claro, o errado aqui pode ser eu, já que todo mundo a-do-rou "Vida e Morte de uma Gangue Pornô", e ele inclusive ganhou o prêmio de Melhor Filme no Fantaspoa! Veja e tire suas próprias conclusões.


OS CISNES FEIOS (Gadkie lebedi, 2006, Rússia. Dir: Konstantin Lopushansky)
Outro filme celebrado do Fantaspoa (ganhou o prêmio de Melhor Roteiro) que eu não achei grande coisa. Se "Vida e Morte de uma Gangue Pornô" parecia "Emanuelle in America" refilmado por Rob Zombie e Baiestorf, "Os Cisnes Feios" pode ser descrito como uma versão de "A Aldeia dos Amaldiçoados" dirigida por Andrei Tarkovsky: a fotografia é belíssima, as imagens são fantásticas (principalmente os créditos iniciais, com o trem que viaja ao lado de um grande incêndio florestal) e a idéia até é interessante, mas a narrativa segue em câmera leeeeeeeenta, com gigantescos diálogos às vezes interessantes, mas na maior parte do tempo redundantes, quase prolixos. Basicamente, o filme conta a história de um escritor russo em busca da filha, que integra um grupo de crianças superdotadas enclausurado na escola de uma cidade-fantasma. Os "professores" do local são misteriosos mutantes de rosto deformado e poderes desconhecidos, que vêem na garotada a possibilidade de um novo rumo para o futuro da humanidade - o que, claro, vai de encontro aos interesses dos governantes. A trama se desenrola em cenários sempre escuros e durante uma chuva incessante, elementos que criam um clima dramático e opressivo. Mas o ritmo lento e os diálogos pseudo-filosóficos intermináveis são um convite ao sono (sem contar que às vezes os personagens trocam mais informação por segundo do que o espectador é capaz de assimilar). Novamente, é possível que o errado seja eu, pois todo mundo que eu conheço saiu maravilhado da sessão; mas continuo achando que havia filmes muito mais interessantes e intrigantes (e menos chatos) no Festival do que este, como o francês "8th Wonderland". Mais um caso de "assista e veja por si mesmo".


EU VENDO OS MORTOS (I Sell the Dead, 2008, EUA. Dir: Glenn McQuaid)
Uma bela surpresa esse filme que já está na roda de download há um bom tempo, mas que eu nunca tive curiosidade de conferir antes do Fantaspoa. É uma trama de horror e humor negro que ficaria maravilhosa se dirigida por Sam Raimi, Peter Jackson ou Don Coscarelli lá nos anos 80, mas que ganha um tratamento no mínimo divertido nas mãos do desconhecido diretor-roteirista Glenn McQuaid. A trama começa com a execução de um notório ladrão de cadáveres na guilhotina, e logo em seguida um padre (Ron Pearlman!) vai ouvir a confissão do comparsa do falecido, que está preso e em breve também será executado. O anti-herói é interpretado por Dominic Monaghan (de "O Senhor dos Anéis"), que põe-se a relatar sua vida pouco comum como ladrão de cadáveres, desde a época em que surrupiava defuntos dos velórios para vender a um cientista louco (Angus Scrimm, o Tall Man da série "Phantasm", que aparentemente esqueceu de morrer!) até o momento em que ele e seu parceiro descobriram a existência de perigosos mortos-vivos. Estas criaturas, lógico, valiam muito mais dinheiro por causa das suas propriedades mágicas. Com um climão de história em quadrinhos e alguma violência gráfica (quase sempre bem-humorada), "Eu Vendo os Mortos" diverte pela história inusitada, mas a mão pesada do diretor-roteirista principiante aparece nitidamente perto do fim, quando o filme se enrola mais que o necessário. Para piorar, o roteiro desperdiça alguns dos personagens mais interessantes - no caso, a sinistra quadrilha dos Murphy, rival da dupla de protagonistas no negócio de roubo e venda de cadáveres. Defeitos facilmente perdoáveis pelo elenco simpático, pelas piadas inspiradas e pelo ótimo desfecho, que cita descaradamente o já clássico "Reanimator".



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