POLIZIOTTI VIOLENTI (1976)
Filmes Legais

POLIZIOTTI VIOLENTI (1976)



Os filmes policiais italianos da década de 70 deram origem a um subgênero específico, conhecido como "Poliziotteschi" (ou "Poliziottesco") e também como "Eurocrime". De modo geral, todos são marcados por uma postura séria de crítica social ou "filme-denúncia", e seus personagens principais são quase sempre anti-heróis, policiais durões e implacáveis (imortalizados com os rostos de Luc Merenda, Franco Nero e Fabio Testi, entre outros), daquele tipo que prefere encher os bandidos de tiros do que levá-los a julgamento. Cineastas como Fernando Di Leo, Enzo G. Castellari, Umberto Lenzi e Stelvio Massi deram preciosas contribuições a este ciclo, que inclui alguns filmes tão violentos e amorais que fariam o norte-americano Dirty Harry parecer um coroinha.

E o que Michele Massimo Tarantini tem a ver com a história? Michele (pronuncia-se "Miquele", que na Itália é nome masculino) é um débil mental (ou "foi", já que boatos não-confirmados dão conta de que teria morrido há alguns anos) que, desde o começo da sua carreira, sempre atirou para todos os lados: fez filmes policiais, comédias eróticas, cópias de "Conan - O Bárbaro" ("A Espada de Fogo", de 1982) e até uma série de co-produções Itália-Brasil rodadas aqui em nosso país, incluindo os divertidíssimos e absurdamente toscos "Perdidos no Vale dos Dinossauros", "Fêmeas em Fuga" e "Atração Selvagem" (thriller erótico que conseguiu a façanha de reunir o pseudo-galã tupiniquim Raul Gazolla e o astro pornô Rocco Sifredi!)


Na década de 70, Tarantini investiu no "poliziotteschi" e, entre os filmes que dirigiu, está POLIZIOTTI VIOLENTI ("Policiais Violentos", inédito no Brasil), uma aventura exagerada, politicamente incorreta, violenta, tosca até a medula e, por isso mesmo, muito divertida, na mesma linha dos "clássicos" do diretor como "Perdidos no Vale dos Dinossauros". Nesta pérola, Tarantini ainda conseguiu a façanha de colocar, como "heróis", dois atores cujas carrancas ficaram marcadas no papel de vilões: o norte-americano Henry Silva e o italiano Antonio Sabato. Por aí o espectador já sabe o que esperar.

Longe do estilo narrativo videoclipeiro atual, POLIZIOTTI VIOLENTI se desenrola como se fosse um filme sério, sem cortes rápidos ou grandes efeitos. Mas, quando a coisa ferve, é tiro pra todo lado e carros e motos acelerando pelas ruas de Roma. E sempre com uma alta contagem de cadáveres para os dois lados (bandidos e civis). Como muito bem ilustrou meu amigo Osvaldo Neto, do blog Vá e Veja, "o bom senso é zero".


O filme enfoca a relação de amizade e ódio entre dois heróis distintos: o major Paolo Altieri (Silva), um experiente e veterano oficial do exército italiano, e o inspetor Tosi (Sabato), policial durão que trabalha disfarçado, tentando se infiltrar numa poderosa quadrilha de traficantes de armas pesadas.

Altieri foi "promovido" a um trabalho burocrático no Ministério depois de xeretar em um delicado assunto militar que poderia provocar polêmica (a morte de soldados devido a defeitos nos seus pára-quedas). Mas ele não desiste de continuar investigando o caso por contra própria, ao mesmo tempo em que se envolve com uma jovem professora chamada Anna (a gracinha Silvia Dionisio).

O problema é que o major parece atrair violência. E, após frustrar o seqüestro de uma criança numa arriscada perseguição automobilística (onde ele faz o carro dos seqüestradores capotar e pegar fogo, aparentemente pouco ligando para a saúde do próprio refém!!!), Altieri se transforma no alvo número 1 da mesma perigosa quadrilha que Tosi está perseguindo.


Pego numa emboscada, o militar é violentamente espancado por um grupo de homens liderados por um marginal de bigodinho e viciado em chocolate (Thomas Rudy, de "Django, O Bastardo"). Apavorado, Altieri percebe que os homens portam novíssimas metralhadoras MK-118, uma poderosa arma experimental e secreta que seu pelotão estava testando, e que de maneira alguma poderia estar nas ruas.

Quando ele começa a seguir a trilha das metralhadoras, sua investigação solitária cruza-se com a do inspetor Tosi, que está de olho na mesma quadrilha. E embora não se biquem, Altieri e Tosi unem seus esforços para desbaratar (leia-se balear pelas costas, explodir em pedacinhos e metralhar) a quadrilha de traficantes de armas.


O que mais me chamou a atenção em POLIZIOTTI VIOLENTI é a total amoralidade do roteiro escrito a oito mãos por Tarantini, Adriano Belli, Franco Ferrini e Saulo Scavolini: os vilões são tão cruéis que em cada uma de suas ações sempre sobra para inocentes transeuntes ou velhinhas que estão atravessando a rua; os pobres coitados, que não têm nada a ver com a história, são impiedosamente metralhados pelas costas, atropelados por bandidos em fuga, explodidos em atentados contra a vida dos heróis, e por aí vai.

Pior: a dupla de heróis parece nem se importar com a quantidade de baixas civis e continua caçando implacavelmente os bandidos, só demonstrando algum sinal de sentimentos quando as vítimas são pessoas próximas a eles, como a pobre Anna, que, claro, é estuprada pelos vilões - como manda a cartilha do cinema policial italiano da época.


POLIZIOTTI VIOLENTI também está repleto daquela tentativa de crítica social do período, já que por trás de todos os crimes está um poderoso político, o senador Vieri (Ettore Manni), que é intocável para os heróis - a não ser, claro, quando eles "jogam fora o distintivo" e partem para a guerrilha pessoal. Só a cena em que Altieri entrega dois marginais para serem linchados por uma multidão furiosa, e assiste ao espancamento com um cínico sorriso de satisfação, já vale o filme. "Direitos humanos" é o caralho!

Destaque ainda para a conclusão nada "feliz" e que leva às últimas conseqüências o choque entre o idealismo de Tosi e a postura de "foda-se todo mundo" de Altieri.


Lendo assim, pode até parecer um daqueles filmes policiais sérios na linha "Operação França". Mas não é: lembre-se que POLIZIOTTI VIOLENTI tem um débil mental na direção. E Tarantini não faz por menos: suas cenas de ação são tão absurdas que acabam engraçadas, como aquela em que Tosi e Altieri perseguem dois criminosos em motos por uns 5 minutos apenas para explodir ambos em pedacinhos no final da caçada.

A investigação do filme provavelmente seria muito mais rápida e fácil se os dois heróis tivessem um pouquinho mais de paciência e INTERROGASSEM os bandidos, mas eles preferem crivar os sujeitos de balas (várias, nunca apenas uma) ao invés de fazer perguntas! Assim, eles chegam aos cabeças da quadrilha praticamente por acaso, e alguns bandidões (como o tal viciado em chocolate que espanca Altieri) ainda escapam ilesos no final!


Mesclando a ação desenfreada e os tiroteios sangrentos com essas bobagens e o humor involuntário (graças à exagerada postura "macho man" dos dois heróis, sempre carrancudos e dispostos a dar tiros e socos), POLIZZIOTTI VIOLENTI é um belo filme para quem cansou das bobagens do cinema policial contemporâneo e procura algo com a cara "mais séria" dos anos 70.

Já quem não é do ramo vai estranhar - e muito - o pandemônio provocado pela dupla de heróis, que parece disputar com os bandidos quem mata mais, sempre ao som de uma esquisita trilha funk-jazz composta pelos irmãos Guido e Maurizio De Angelis.

PS: Tentei ver a versão original, dublada em italiano, mas não tem como entender direito. Por isso, deixo aqui um agradecimento público ao D.Evil e ao Zebu, da comunidade Boizeblog no orkut, que encararam o desafio de fazer uma legenda em português para esta preciosidade.

Trailer de POLIZIOTTI VIOLENTI



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Poliziotti Violenti/Crimebusters (1976, Itália)
Direção: Michele Massimo Tarantini
Elenco: Henry Silva, Antonio Sabato, Silvia Dionisio,
Ettore Manni, Rosario Borelli, Thomas Rudy, Claudio
Nicastro e Daniele Dublino.



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