Filmes Legais
PRINCESA ORGASMA E A CAMA MÁGICA (1993)
(Esta resenha é dedicada à fiel leitora Daniela Monteiro, uma bela garota que aprecia filmes pornográficos e, ao contrário da maioria das mulheres, não tem vergonha de admitir!)Tendo trabalhado como jornalista por 16 anos, uma das coisas que mais me deixa puto é o jornalismo cultural desinformado que se pratica hoje. Porque foi só uma produtora chinesa começar a gravar um filme pornográfico utilizando a mesma técnica com que James Cameron fez "Avatar" que a nossa imprensa saiu alardeando as maravilhas do
"primeiro filme pornô 3-D de todos os tempos"!!!
Não foram só um ou dois, quase todos caíram na conversa: jornais como O Globo e Folha de São Paulo, e até o Portal Terra. Quando eu comecei a trabalhar em jornal, em 1992, não havia internet. Se você precisava pesquisar algo, tinha que recorrer à memória dos mais velhos, aos livros ou às gigantescas enciclopédias Barsa. Hoje, com um click e alguns minutos no Google, você tem um universo inteiro à sua disposição. E mesmo assim os coiós que escrevem para os jornais e portais de hoje não perdem seu tempo pesquisando para saber que não, o tal filme chinês NÃO É o
"primeiro filme pornô 3-D de todos os tempos"...
Pois bastaria uma simples pesquisa no Google para chegar a
PRINCESA ORGASMA E A CAMA MÁGICA, uma produção X-Rated filmada em vídeo em 1993 pelo veterano da pornografia Anthony Spinelli (falecido em 2000). No negócio desde 1971, e com mais de cem filmes pornô no currículo, foi Spinelli quem fez o primeiro filme X-Rated 3-D do cinema, quase 20 anos atrás - quando estava com, acredite ou não, 66 anos de idade!
(Mas aí, graças à desinformação da nossa imprensa, quem passa por mentiroso é você! Lembro que um professor da faculdade comentava a informação que lera nos jornais sobre o "primeiro pornô 3-D", e, quando eu retruquei dizendo que já havia um feito em 1993, o cara me olhou com tal expressão de incredulidade que era como se eu tivesse dito que a Terra era quadrada!)
(Aliás, só para comprovar que o negócio é mais antigo do que pensam esses jornalistas desinformados de hoje, 20 anos ANTES do filme do Spinelli, em 1973, o alemão Walter Boos dirigiu "Liebe in Drei Dimensionen" - "Love in 3-D", no restante do mundo -, uma comédia erótica originalmente sem sexo explícito mas que já trazia sacanagem em três dimensões, inclusive os peitões da musa sueca Christina Lindberg!!!)
(E justiça seja feita: um dos poucos a não embarcar na onda de desinformação foi o blog Mondo Cane, do meu amigo Gio Mendes, que também desenterrou esse pornô esquecido dos anos 90, como você pode ver clicando no link acima.)
Mas voltemos à
PRINCESA ORGASMA E A CAMA MÁGICA: qual a sensação de ver um pornô em 3-D afinal? Você realmente vê "os troços" saindo da tela em sua direção? Calma lá... Como escrever resenha de filme de putaria é algo que não rende, permitam-me antes contar minhas memórias relacionadas ao tal filme.
Foi entre 1998 e 1999 que o DVD começou a chegar com força no Brasil. Deslumbradas, as videolocadoras viam ali o futuro, principalmente na forma de estocar os filmes (você podia colocar 3 DVDs no espaço ocupado por um único estojo de VHS), e passaram a se desfazer de seus acervos de fitas. Muita coisa foi direto para o lixo, acabando com fitas raras do nosso mercado de VHS.
Quando a fúria homicida de jogar fitas fora chegou às locadoras da minha cidadezinha, eu tentei comprar (por um ou dois reais, geralmente) a maioria dos títulos raros e/ou desconhecidos, que sabia que jamais seriam lançados em DVD, ou pelo menos não tão cedo.
PRINCESA ORGASMA... veio junto com um pacote de 200 fitas que comprei da locadora de um amigo (hoje falida). Quando descobri que aquilo era um "pornô 3-D", imediatamente esqueci das outras 199.
Claro que o óculos de lente azul e vermelha que originalmente acompanhava a fita já tinha ido para o beleléu, então eu tentei assistir com um que tinha em casa. Lembro que, enquanto o filme começava, eu tinha as mesmas perguntas que vocês: será que peitos e pintos vão sair da tela em minha direção? Será que devo me abaixar na hora do gozo tridimensional?
Foi com muita frustração, portanto, que percebi que
PRINCESA ORGASMA... era um engodo: o 3-D do filme não funcionava, pelo menos não com os óculos tradicionais. Será que tinha um outro tipo de óculos específico para os efeitos usados pela produção? Duvido. Parece mais picaretagem mesmo.
Além disso, não é o filme todo que é em 3-D, apenas algumas poucas cenas esparsas em meio aos 70 minutos. Por exemplo: o casal está em meio ao seu rala-e-rola normal em "2-D", de repente pipocam umas cenas bizarras em que os corpos se multiplicam em três ou seis, como você vê na foto abaixo. Parece mais algum tipo de videoarte, ou o resultado de uma gravação pirata que deu errado. Não consegui ver nada de tridimensional nessas cenas borradas, mas, novamente, talvez a culpa seja do óculos...
E quando não são as trepadas borradas, a única amostra de 3-D são maçãs e vibradores produzidos por computação gráfica que ficam voando sobre a cena, algo que mais irrita do que diverte. Baseado nisso, e na ineficácia do sistema (pelo menos com os óculos tradicionais, volto a ressaltar), o que me lembro lá do longínquo 1998 ou 1999 é que minha primeira experiência com pornô em três dimensões foi bem frustrante!
Seja como for, aproveitando a comoção do falso primeiro pornô 3-D chinês, resolvi rever
PRINCESA ORGASMA... há alguns dias por pura nostalgia, dessa vez numa versão ripada em DVD da minha velha fita, que ainda guardo com todo amor e carinho (principalmente porque é a prova da imbecilidade dos jornalistas citados no começo dessa resenha).
Dessa vez eu vi sem óculos algum, e ainda tentei encontrar qualidades que redimissem a película. Mas não as encontrei. Além de um pornô 3-D ruim,
PRINCESA ORGASMA... também é fraquinho em duas dimensões!
O filme começa com um letreiro que corre ao estilo "Star Wars" (inclusive com um cenário espacial no fundo), explicando a "história" da Princesa Orgasma e sua Cama Mágica (dã!), que teria o poder de aumentar o apetite sexual das pessoas que se deitassem nela. Mas a princesa perdeu sua cama há muitos anos, e desde então tenta reencontrá-la. Misteriosamente, o título do filme grafa errado o nome da personagem principal (como "Princesa ORGASMIA"), mas no pôster e no IMDB o que aparece é "Princesa ORGASMA").
Corta para a veterana do pornô Nina Hartley, então com 34 anos e carinha (e corpinho) de 24, entrando no que parece ser um antiquário, acompanhada pela amiga Holly Ryder (atriz pornô mais novinha, da geração anos 90). A dupla passa por uma cama antiga (adivinhe...) e analisa algumas peças, quando então Nina solta a pérola:
"Quem diria que havia vida antes dos Beatles...".
Ela explica que está procurando por uma cama com visual retrô para decorar sua nova casa, e Holly aponta para a gigantesca cama pela qual elas haviam acabado de passar absurdamente sem perceber. As moças se deitam nela para "testar" e, repentinamente, maçãs e bananas com formato fálico começam a voar pela tela, nos primeiros "efeitos 3-D" do filme.
Aí começa a putaria, e, como irá acontecer em cada cena de sexo explícito a partir de então, a tal cama mágica fica girando, atrapalhando a visão do espectador do fuc-fuc - principalmente porque em vários momentos a ação fica obstruída por vasos e outros objetos de cena! Não sei se deu tontura nos atores transar sobre uma cama que gira, mas no espectador certamente dá!
Depois de um 69 que parece durar uma eternidade, Nina saca um strap-on para comer Holly de quatro. E por mais que isso seja um maldito filme pornô e ninguém deva reparar na lógica, juro que fiquei me perguntando de onde diabos saiu aquele strap-on! Será que ela leva o negócio sempre consigo na bolsa, para o caso de algum ataque extremo de lesbianismo enquanto está fora de casa?
Quando a colação de velcro termina, finalmente aparece a tal Princesa Orgasma, na (bela) forma da atriz holandesa Deidre Holland, brincando com um daqueles globos de raio laser. Ela fala um monte de abobrinha sobre como transou com vikings e príncipes na sua adorada cama, nuns diálogos desconexos que deveriam ter sido cortados da edição - até porque qualquer tentativa de "contar uma história" se esvai logo em seguida.
Corta para outro veterano do pornô, Joey "Bigodinho" Silvera, com a bela ruiva Alyssa Jarreau num quarto, diante da mesma cama antiga da cena anterior. Pelos diálogos do casal, eles estão ajudando a "personagem" de Nina a arrumar os móveis recém-comprados em sua nova casa. Mas é claro que logo deitam na cama mágica e recomeça a putaria.
É nessa primeira cena de sexo hetero que você percebe que o "potencial" do 3-D não é usado da maneira como deveria. Os efeitos tridimensionais (que "borram" os atores, como expliquei antes) aparecem apenas em planos gerais da foda, e se isso realmente proporcionava alguma sensação de profundidade, por outro lado não devia ter graça nenhuma.
Afinal, o que eu queria ver eram planos de detalhe dos peitos sacudindo pertinho da minha cara em 3-D! Ou ficar aterrorizado com a possibilidade da gozada tridimensional sair da TV e me atingir. Mas nenhum dos closes foi filmado em 3-D. E aquela maldita cama nunca pára de girar, atrapalhando até a experiência de "acompanhar" a trepada!
A Princesa Orgasma volta para mais um pouco de besteirol e então o filme se rende ao sexo pelo sexo, esquecendo qualquer pretensão de contar historinha. Rolam mais duas cenas sem relação com os personagens anteriores ou mesmo com a cama (!!!), entre Buck Adams, Debi Diamond, Jon Dough e Deidre, e o bom dessas cenas é que pelo menos não tem a "cama mágica" girando e dá para VER o que está acontecendo.
Na cena final, há até uma tentativa de "fechar" a historinha, quando a personagem de Nina sonha que está fazendo sexo com Holly e um outro cara. Ela então acorda e descobre que foi tudo um sonho! Ou não. The end.
Tá, e aí? A cama mágica não era a cama mágica mesmo? Ou a Princesa Orgasma cansou de assistir as trepadas em sua amada cama e cancelou seus poderes afrodisíacos? Ou os caras não conseguiram pensar num final minimamente interessante e saíram com a primeira bobagem que passou por suas cabeças? Escolha sua resposta...
PRINCESA ORGASMA E A CAMA MÁGICA é frustrante como experiência 3-D, e na maior parte do tempo também como pornô "normal" (aquela maldita cama giratória...).
O que salva são as duas trepadas "comuns" no meio, filmadas à moda antiga, sem mil-e-um picotes na edição e sem câmera sacudindo toda hora. Sexo sem frescura, sem posições acrobáticas, razoavelmente excitante porque são coisas que o cara pode fazer com a patroa em casa.
Além disso, os atores e atrizes são pessoas "comuns", gente como a gente, sem aqueles estereótipos de "pitboy tatuado" ou "loira siliconada" que infestam o pornô moderno. Essas duas cenas salvam o filme, mas sempre que a "cama mágica" entra em cena e começa a girar, a coisa vai pro beleléu!
O filme fica, assim, como curiosidade de uma época em que as produções pornográficas tentavam ousar e chamar a atenção através de gimmicks como o 3-D (mesmo que, nesse caso, a ferramenta seja utilizada de forma bem picareta).
PRINCESA ORGASMA... também vale como registro das façanhas de vários veteranos do X-Rated norte-americano, gente que passou décadas dando ou comendo. Acompanhe: Joey Silvera, que tem 60 anos, "atuou" em inacreditáveis 946 pornôs (!!!); John Dough, falecido aos 44 anos em 2006, fez 871 filmes (incluindo "The World's Luckiest Man", em 1997, quando transou com 101 mulheres!!!); Nina Hartley, hoje com 52 anos, fez 549 filmes; Buck Adams, que morreu em 2008 com 53 anos, apareceu em 406 filmes; e Debi Diamond, atualmente com 46 anos, fez 380 pornôs.
E sabe o que é mais curioso? Mesmo quarentões, cinquentões ou sessentões, Joey, Nina e Debi continuam "atuando". Provavelmente Jon e Buck também estariam na ativa se não tivessem morrido (certamente satisfeitíssimos com a vida que levaram)...
Fica, então, a sugestão: bem que podiam reunir o que restou do elenco original num remake de
PRINCESA ORGASMA E A CAMA MÁGICA. Dessa vez REALMENTE em 3-D, com peitos e pintos saindo da tela, como deve ser!
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Princesa Orgasma e a Cama Mágica (Princess
Orgasma and the Magic Bed, 1993, EUA)
Direção: Anthony Spinelli
Elenco: Nina Hartley, Deidre Holland, Jon Dough,
Joey Silvera, Buck Adams, Holly Ryder, Alyssa
Jarreau e Debi Diamond.
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