A guerra dos sexos é um tema bastante freqüente no cinema, especialmente nas açucaradas e normalmente intragáveis comédias românticas norte-americanas. Já pensaram como esses filmes ficariam bem mais interessantes se Sandra Bullock, Julia Roberts, Cameron Diaz e outras figurinhas carimbadas resolvessem suas diferenças com os homens dando tiros de metralhadora nos sujeitos? Pelo menos assim, quem sabe, os finais das comédias românticas seriam DIFERENTES!
Exageros à parte, filmes com mulheres sensuais e armadas até os dentes enfrentando homens não são exatamente uma idéia de jerico do autor desse blog. Existe um subgênero, "hot bimbos with guns", que compreende várias fitas de ação baratas produzidas principalmente a partir dos anos 70, e que sempre trazem loiras oxigenadas e peitudas empunhando metralhadoras contra exércitos masculinos - verdadeiras Rambetes, se quiserem chamar assim.
A bem da verdade, garotas com armas são um bizarro fetiche bastante popular nos Estados Unidos, onde há sites e revistas no estilo "guns & girls", trazendo fotos de peitudas de biquíni em poses sensuais com metralhadoras e revólveres de cano longo (qualquer sentido fálico NÃO é mera coincidência).
Chega a dar asco de imaginar aqueles rednecks gringos se masturbando com publicações do gênero - será que a "dedicatória" é para a modelo ou para a arma?
(Para quem não lembra, Quentin Tarantino ironizou essa maluca paixão nacional colocando um vídeo de garotas de biquíni com metralhadoras em "Jackie Brown"...)
No cinema, figuraças como Andy Sidaris e Fred Olen Ray trataram de manter vivo esse subgênero, produzindo baratíssimas aventuras picaretas com mulheres-machas. Mas poucos filmes são tão absurdos na sua representação da "guerra literal dos sexos" quanto AS DOZE CONDENADAS, uma engraçadíssima aventura pobretona dirigida por... tcham, tcham, tcham, tcham... O homem, o mito, a lenda David A. Prior, um sujeito que merecia um blog caprichado sobre a sua obra no estilo do Radioactive Dreams, que os amigos Ronald Perrone e Osvaldo Neto fizeram para o Albert Pyun (algum voluntário?).
Prior produziu AS DOZE CONDENADAS em 1987, mesmo ano do seu grande clássico, "Deadly Prey - Extermínio de Mercenários" (aliás, algumas cenas dos dois filmes são idênticas, embora com atores diferentes).
O título em português entrega a principal inspiração do diretor-roteirista (o clássico "Os Doze Condenados", de Robert Aldrich), mas estraga o nada sutil título original, "Matadoras de Homens". Querem guerra dos sexos? Pois tomem guerra dos sexos!
Basicamente, para não me alongar demais, AS DOZE CONDENADAS conta a história de uma ex-agente da CIA chamada Rachael McKenna (Lynda Aldon), uma loira peituda e estilo modelete que em nada lembra uma agente da CIA, quem dirá ex-agente... Mas tudo bem!
Em sua última missão, Rachael quase foi morta por seu ex-parceiro, um agente renegado chamado John Mickland (William Zipp, que está em quase todos os filmes do David Prior). Nos tempos atuais, Mickland é um traficante de drogas e de escravas brancas (!!!) que tem uma base militar na Colômbia, e está sempre de gelzinho no cabelo e fazendo cara de malvado.
Eis que os chefões da CIA resolvem chamar Rachael de volta para liderar a missão de exterminar Mickland, aproveitando-se do ódio da garota por ele. A moça aceita, mas com uma condição: recrutar 12 condenadas (hahaha) da penitenciária local e treiná-las em técnicas de combate para acompanhá-la na missão colombiana.
E por que garotas? "Porque Mickland não estará esperando por mulheres", justifica Rachael. Ah, tá...
Caso a missão seja bem-sucedida, as 12 prisioneiras receberão o perdão pelos seus crimes. Bem, pelo menos aquelas que sobreviverem, é claro...
Segue-se um resumão de "Os Doze Condenados", com a moça recrutando suas 12 presidiárias, todas condenadas à morte ou prisão perpétua por assassinato, tráfico de drogas ou assaltos (e que, apesar de estarem mofando na cadeia, aparecem sempre penteadas e maquiadas como se tivesse recém saído do salão de beleza!).
O filme não faz muita distinção entre as garotas e nem tenta criar personagens decentes - a maioria só está ali para morrer mesmo. Mas tem uma ruiva, uma negra, uma oriental e umas oito loiras estilo Barbie, todas iguais.
Após a tradicional montagem com música pop mostrando o árduo treinamento das garotas, elas partem para a base de Mickland com a missão de destruir o vilão e seus asseclas. E começa a guerra literal dos sexos, com belas garotas de shortinho atolado na bunda e camisetas curtinhas metralhando, esfaqueando, explodindo e estrangulando os vilões - todos homens, claro!
Guerra dos sexos mostrada sem qualquer sutileza pelo diretor Prior. Numa cena antológica, Mickland dá um esporro num capanga que fugiu das garotas armadas até os dentes: "Eu não acredito que você correu de um bando de mulheres!".
Sexista até o talo, AS DOZE CONDENADAS também faz questão de mostrar todos os homens como tarados incorrigíveis, e todas as mulheres como predadoras sexuais, já que elas seduzem os inimigos mostrando os peitos e enchem os coitados de tiros ou facadas (inclusive nas partes baixas!) quando eles baixam a guarda! É simplesmente hilário...
E como se trata de um filme de David A. Prior, você já sabe desde o começo o que esperar: pobreza, indigência técnica e uma quantidade absurda de abobrinhas por segundo. O quartel general de Mickland, por exemplo, é formado por meia dúzia de casamatas cujas paredes são meras folhas de zinco - mas os tiros disparados por heróis e vilões milagrosamente nunca atravessam as paredes!
Como em todo filme de Prior, também, as cenas de combate são hilárias, com os dois lados do confronto atirando um no outro sem qualquer cobertura, e eventualmente atingindo o rival por pura sorte – mas só depois de disparar uns 200 tiros a esmo.
Mas nada é mais impagável do que o duelo final entre Rachael e Mickland, quando a mocinha dá um tiro no coração do vilão, mas ele não morre; depois dá um tiro na perna, mas ele continua de pé; depois dá dois tiros no peito, mas ele novamente teima em levantar; finalmente, dá um tiro na barriga, Mickland cai, mas novamente consegue ficar de pé (!!!) e até entrar num carro (!!!) para tentar atropelar a heroína - o sujeito é praticamente um cruzamento entre Tony Montana, Agente Smith e Jason Voorhees.
Rachael só consegue matá-lo com um tiro de bazuca, embora o orçamento seja tão pequeno que não permita aos produtores explodir realmente o carro (só o que vemos é o capô voando e algumas faíscas e fumaça, quando no mundo real um tiro de bazuca provavelmente reduziria o veículo inteiro a cinzas!).
A citação a Tony Montana no parágrafo anterior não foi gratuita: em mais uma cena antológica, Mickland tortura ao estilo "Scarface" um agente da CIA infiltrado no seu acampamento - ou seja, desmembrando-o com uma serra elétrica.
Pobre e tosco em seus mais mínimos detalhes, AS DOZE CONDENADAS é um filme que só pode ser visto com bom humor, ou então sob a influência de tóxicos - algo que costuma ajudar MUITO ao se ver as obras de David A. Prior.
Mas é impossível não rir com as ridículas explosões de granadas (que mais parecem estalinhos de São João), com os figurantes que morrem três ou quatro vezes e, principalmente, com as roupinhas sensuais das garotas, completamente deslocadas para agentes especiais em missão militar.
Pena que, apesar do tom de sacanagem geral do filme, nem um único peitinho apareça em cena - apesar de decotes generosos como o da moça aí embaixo, que, acredite ou não, está indo para uma missão suicida, e não para um bar de striptease!
Num mundo perfeito, a sua namorada adoraria ver filmes como esse com você, e não as comédias românticas açucaradas da Sandra Bullock e da Julia Roberts! Puxa vida, e como não gostar de um filme classe Z com mulheres de shortinho fuzilando traficantes de escravas brancas?!?
PS: Em meio a um festival de "bimbos" que nunca fizeram outro filme além desse e atores de fundo de quintal, AS DOZE CONDENADAS traz três esquecidos atores outrora famosos em pequeno papel - uma prática habitual de diretores picaretas tentando valorizar seu filme furreca. Aqui, aparecem os literalmente veteranos Edd Byrnes (um astro juvenil dos anos 50 e 60, que também fez spaghetti westerns, como "Vou, Mato e Volto", do Castellari), Gail Fisher (que nos bons tempos chegou a ganhar dois Globos de Ouro pelo seriado de TV "Mannix") e Edy Williams (uma ex-sex symbol da década de 60). Os três nomes aparecem por primeiro nos créditos iniciais, apesar de suas participações no filme, somadas, não durarem nem 5 minutos. Como se vê, é triste envelhecer em Hollywood...
Uma ceninha de AS DOZE CONDENADAS
******************************************************* As Doze Condenadas (Mankillers, 1987, EUA) Direção: David A. Prior Elenco: Lynda Aldon, William Zipp, Christine Lunde, Suzanne Tegmann, Marilyn Stafford, Edd Byrnes, Gail Fisher e Edy Williams.
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