As últimas críticas rápidas para pessoas nervosas de 2009
Filmes Legais

As últimas críticas rápidas para pessoas nervosas de 2009



GUERRA AO TERROR (The Hurt Locker, 2008, EUA. Dir: Kathryn Bigelow)
James Cameron, que é ex-marido da diretora Kathryn, teria dito que "Guerra ao Terror" seria o "Platoon" da Guerra do Iraque. O comentário não poderia ser mais injusto, considerando que este filmaço é muito superior àquela fábula bélica do Oliver Stone. E por isso mesmo é um verdadeiro mistério a recepção ridícula que a obra teve no Brasil, saindo direto em DVD com uma capinha medíocre e sem qualquer alarde (mas com um futuro relançamento nos cinemas agendado para 2010, graças às boas críticas que o filme vem recebendo). Tendo o conflito no Iraque como pano de fundo (fazendo com que o título brasileiro soe ridículo), a história se concentra num grupo de operações especiais cuja missão é desarmar as bombas deixadas pelos rebeldes iraquianos por toda parte: em pleno centro da cidade, em carros estacionados ou nos coletes usados por homens-bomba. Quando o maior especialista em exposivos é morto durante uma ação que dá errado, é substituído por um jovem e arrogante sargento viciado em adrenalina (em ótima interpretação de Jeremy Renner), que passa o restante do filme colocando sua unidade à beira da morte. Repleto de cenas tensas e com um suspense crescente (principalmente aquelas envolvendo os explosivos), e filmado com estilo e visual de documentário, "Guerra ao Terror" ainda se dá ao luxo de trazer atores famosos (Guy Pearce, David Morse, Ralph Fiennes) em papéis minúsculos, deixando jovens quase desconhecidos para comandar o espetáculo. O resultado fica vários pontos acima da média, num dos filmes obrigatórios em qualquer lista dos melhores de 2009 - e que não pode ficar de fora do Oscar do próximo ano.




VERTIGEM (Vertige, 2009, França. Dir: Abel Ferry)
Slasher francês que milagrosamente saiu em DVD no Brasil (enquanto obras muito melhores, como "Martyrs", seguem inéditas no país). A capinha é melhor que o filme inteiro, mas é possível encontrar algumas boas qualidades na obra, que conta a história de um grupo de amigos alpinistas enfrentando um misterioso assassino no topo de uma montanha de difícil acesso. O diretor Ferry consegue criar um clima de tensão e claustrofobia, já que os personagens têm poucas chances de fugir do local onde estão, e parece fazer uma versão francesa de "Wolf Creek". Só que o filme logo fica repetitivo, principalmente quando nossos heróis chegam à cabana habitada pelo assassino. E eu confesso que gostei mais do início (com cenas de suspense e perigo muito bem realizadas durante a escalada da montanha) do que do restante - talvez até o filme ficasse melhor SEM um assassino na história! Mas quem cansou dos slashers fuleiros produzidos nos EUA nos últimos tempos, como o medonho "Pacto Secreto", pode conferir sem medo. Até porque a obra de Ferry traz alguns bons "contra-clichês" que a gente não vê nas produções norte-americanas, como o personagem irritante que se redime com heroísmo, ou aquele que parecia o valente protagonista matando covardemente um desafeto. Diverte, mas podia ser bem melhor.




JCVD (idem, 2008, Bélgica/Luxemburgo/França. Dir: Mabrouk El Mechri)
Surpreendente trabalho "alternativo" e "sério" do belga Van Damme, que depois de virar astro em Hollywood teve problemas com drogas e vinha numa trajetória decadente, estrelando produções classe B direto para o mercado de vídeo. É uma obra difícil de definir, que traz Van Damme interpretando ele mesmo - um astro decadente -, mas mergulhado numa trama realista e muito parecida com a do clássico "Um Dia de Cão" (com citações diretas a este filme). Nem é bom falar muito sobre a história para não estragar as diversas surpresas que aguardam o espectador. Mas o melhor da coisa é a interpretação de Van Damme. Você não leu errado: o baixinho realmente está interpretando, e em alguns momentos consegue até emocionar, como num monólogo de seis minutos, sem cortes, em que ele olha direto para a câmera (e para o espectador), e passa sua carreira a limpo, falando inclusive sobre seu problema com as drogas. É Van Damme se reinventando, enquanto outros atores da sua geração (Steven Seagal, Dolph Lundgren...) vão ficando cada vez piores. Méritos ainda para os vários momentos que ironizam a carreira do ator, como a cena inicial (um longo plano-seqüência durante as filmagens de uma aventura fictícia do astro), ou o fato de Van Damme perder um papel para Steven Seagal porque ele prometeu cortar o rabo-de-cavalo! Genial, ainda, a discussão sobre John Woo, diretor que Van Damme ajudou a levar para Hollywood (com "O Alvo"). Interessantíssimo e diferente de tudo que o ator já fez na vida, "JCVD" parece indicar um novo caminho para o belga.




DOGHOUSE (idem, 2009, Inglaterra. Dir: Jake West)
Enquanto a maioria prefere pagar pau para "Arraste-me Para o Inferno" e "Zombieland" como os dois grandes "terrir" de 2009, eu fico com "Doghouse", que achei muito mais divertido e original. Este é o novo filme do Jake West, diretor do igualmente engraçado e escatológico "Evil Aliens", e que para mim é um novo Peter Jackson - com o mesmo senso de humor doentio que o neozelandês tinha antes de ir para Hollywood. Conta a história de um grupo de amigos machistas (entre eles os engraçados Danny Dyer, de "Severance/Mutilados", e Stephen Graham, de "Snatch") que, para ajudar um deles a superar seu recente divórcio, resolve fazer uma excursão até uma pequena cidade onde a quantidade de mulheres é muito superior à de homens. O problema é que eles chegam ao local justamente no auge da contaminação por um vírus que transforma mulheres (e apenas elas) em zumbis devoradoras de carne humana! Mero pretexto para um festival de piadas sexistas que farão as meninas bufarem de raiva, e um festival de sangue com todas as mutilações e nojeiras que faltaram em "Arraste-me..." e "Zombieland". A caracterização das sensuais "zumbias" é muito boa (destaque para a noivinha, que desperta instintos necrófilos em qualquer um), e o único porém é a conclusão repentina e jogada na cara do espectador, como se o diretor não soubesse acabar o filme.




O MISSIONÁRIO (Missionary Man, 2007, EUA. Dir: Dolph Lundgren)
Enquanto alguns velhos astros do cinema de ação tentam dar novos rumos às suas carreiras (como Stallone e Van Damme), outros fingem que não envelheceram e continuam empesteando as locadoras com "mais do mesmo". É o caso de Dolph Lundgren e esse seu "O Missionário". Eu até estava curioso pelo fato de o filme ser escrito, dirigido e estrelado pelo ator sueco, e vendido como um western contemporâneo. O resultado, entretanto, fica abaixo de qualquer expectativa: é uma aventura classe C que segue a cartilha de clichês do gênero da primeira à última página. Lundgren interpreta um personagem misterioso que chega de moto a uma cidadezinha dominada por bandidos. Logo compra encrenca com os malvadões, ao mesmo tempo em que lê a bíblia e fica entoando salmos e parábolas (!!!). Não há absolutamente nada de novo, e mesmo as cenas de ação são mal-filmadas e burocráticas. Mas o prego na tampa do caixão é o fato de o personagem de Lundgren logo demonstrar um lado meio sobrenatural, estilo Clint Eastwood em "O Estranho Sem Nome". Enfim, uma bobagem que não vale o preço da locação e nem a energia elétrica gasta num download, e que nem mesmo os fanáticos por estas aventuras de quinta categoria deverão curtir. Lundgren precisa urgentemente repensar sua "carreira", ainda mais agora, que faz parte do estelar elenco de "Os Mercenários", dirigido e estrelado por Stallone, o que pode representar uma nova chance para ele.




PRESOS NO GELO 1 e 2 (Fritt Vilt 1 e 2, 2006/2008, Noruega. Dir: Roar Uthaug e Mats Stenberg)
Se os americanos realmente pretendem continuar refilmando seus slashers clássicos (ou nem tão clássicos assim), bem que podiam parar de entregar a direção dos remakes a cabeças-de-bagre e contratar gente que entende do riscado, como os noruegueses por trás da série "Fritt Vilt", que no Brasil foi batizada "Presos no Gelo" (o primeiro filme, pois o segundo ainda não saiu por aqui). Sem exagerar no sangue e nas situações absurdas, muito menos nos "sustos TCHAM!" tradicionais nos slashers americanos contemporâneos, os filmes noruegueses preferem investir no clima de tensão e suspense, aproximando-se dos clássicos dos anos 70, como "Black Christmas" e "Halloween". O primeiro, dirigido por Roar Uthaug, mostra um grupo de jovens praticando snowboard nas montanhas. Quando um deles se machuca gravemente, o grupo busca abrigo num hotel abandonado há anos, onde vive um misterioso assassino. Neste, o diretor investe no clima, sem abusar do sangue, e o resultado é acima da média. Já o segundo filme, que traz Mats Stenberg na cadeira de diretor, é melhor que o original, e tem mais sangue e violência: desta vez o assassino ataca num hospital, para onde foi levada a sobrevivente do anterior. É praticamente um "Halloween 2" (o de 1981, claro) norueguês. Aliás, é interessante constatar como os dois "Presos no Gelo" estão mais para a série "Halloween" do que aqueles pavorosos remakes oficiais dirigidos pelo Rob Zombie. E um "Fritt Vilt 3" já é anunciado para 2010, desta vez com Mikkel Brænne Sandemose na direção. Tem tudo para virar uma franquia de respeito, ao contrário das medonhas "contribuições" recentes dos Estados Unidos ao subgênero slasher.




ZOMBIELAND (idem, 2009, EUA. Dir: Ruben Fleischer)
Esta divertida aventura engraçadinha com zumbis é mais um caso de como uma produção pode ser prejudicada pelo "hype": falaram e escreveram tantas maravilhas sobre o filme que, quando eu vi, fiquei pensando: "Mas é só isso?". Foi a mesma sensação que tive ao final de "Arraste-me Para o Inferno": não que os filmes sejam ruins, mas o excesso de deslumbramento e de comentários maravilhados realmente deixa qualquer um esperando muito mais de ambos. "Zombieland", por exemplo, começa melhor do que termina, com um rapaz (Jesse Eisenberg) conversando com o espectador sobre seus hábitos e "regras de sobrevivência" num mundo dominado por zumbis. Ele logo se alia a um fanático matador de mortos-vivos (Woody Harrelson, muito divertido) e a duas meninas que passam o resto do filme enganando/roubando/trapaceando os dois amigos. Logo os zumbis se tornam coadjuvantes mal-aproveitados numa comédia juvenil, que perde feio para outras histórias engraçadinhas com zumbis, como "Shaun of the Dead", "Fido" ou mesmo os recentes "Dead Snow", "The Revenant" e "Doghouse". Mesmo a tão comentada participação especial de Bill Murray, interpretando ele mesmo, é bem sem graça - e com um desfecho tão previsível que dá até raiva. Sobra uma comédia divertida e talvez superestimada, que some da memória em poucas horas, e mesmo assim já tem uma continuação anunciada para 2011.




HARRY BROWN (idem, 2009, Inglaterra. Dir: Daniel Barber)
Se o roteiro de "Desejo de Matar 3" (aquele com Charles Bronson enfrentando gangues num bairro pobre) fosse refilmado por alguém que o levasse a sério, o resultado ficaria bem perto desta pérola inglesa - que também tem muito de "Gran Torino", de Clint Eastwood. Harry Brown é um pacato aposentado inglês, interpretado por Michael Caine, que numa mesma semana perde a esposa e o melhor amigo - este último, brutalmente assassinado por uma gangue de delinqüentes que está aterrorizando o bairro. Sozinho no mundo e amargurado, e sem poder contar com a polícia, o bom velhinho encarna o espírito justiceiro de Paul Kersey (o vigilante da série "Desejo de Matar"), consegue uma arma e sai distribuindo pipocos na bandidagem. Como também acontecia no "Desejo de Matar" original, acaba atraindo a atenção da polícia, que parece mais interessada em punir quem faz justiça com as próprias mãos do que os criminosos. Bem filmado e bastante violento, "Harry Brown" também tem um excelente roteiro, que não tenta exagerar as "façanhas" do seu herói da terceira idade, tornando-o mais realista do que Bronson nos três últimos "Desejo de Matar". E Michael Caine é "o" cara, um excelente ator que ultimamente estava relegado ao papel de coadjuvante invisível (como na série "Batman"). Seria até engraçado imaginar um encontro entre Harry Brown, Paul Kersey e Walt Kowalski, personagem de Eastwood em "Gran Torino": provavelmente não iria sobrar bandido vivo neste mundo! Até porque os velhotes durões andam fazendo o trabalho sujo bem melhor que alguns novatos que a gente vê em certos filmes por aí...




HELLRAISER - O RETORNO DOS MORTOS (Hellraiser: Deader,
2005, EUA/Romênia. Dir: Rick Bota)

É um verdadeiro exercício de sadomasoquismo agüentar esse sétimo filme da série "Hellraiser" até o final. Sem pé nem cabeça, com um excesso de cenas de alucinação que logo se tornam repetitivas e redundantes (o espectador nunca sabe quando a protagonista está "acordada" ou "viajando"), "Hellraiser - O Retorno dos Mortos" só não é o fundo do poço da franquia (que já vinha do fraco "Caçador do Inferno") porque depois o mesmo diretor Rick Bota conseguiu se superar (negativamente) com o ainda pior "Hellworld". A trama envolve uma jornalista que vai à Romênia para investigar uma misteriosa seita, cujos integrantes chamam-se "deaders" (ou "zumbis", na péssima tradução brasileira), e aparentemente são trazidos de volta da morte pelo seu fanático líder. A forma como o roteiro tenta conectar essa história com a caixinha da Configuração dos Lamentos e os cenobitas da série "Hellraiser" é porca e confusa. E nem podia ser diferente, já que os produtores simplesmente pegaram um roteiro qualquer para um filme independente e o transformaram em um "Hellraiser". O resultado é uma história sem pé nem cabeça, que começa interessante, mas logo fica entrecortada e absurda, e ainda termina de maneira totalmente inexplicável. Nem as poucas cenas de violência, nem a delícia chamada Kari Wuhrer (a protagonista), salvam o filme do desastre.




HELLWORLD - O MUNDO DO INFERNO (Hellraiser: Hellworld,
2005, EUA/Romênia. Dir: Rick Bota)

O oitavo (e por enquanto último) filme da franquia "Hellraiser" é tão ruim que devia ser considerado crime. Aliás, a história tem tão pouco a ver com a série que, no Brasil, a distribuidora preferiu traduzir apenas o subtítulo, sem fazer ligação alguma com "Hellraiser", o que se revelou uma atitude bastante sensata. Como já havia acontecido com o filme anterior ("O Retorno dos Mortos"), este também pega um roteiro qualquer, sem conexão com Pinhead e os cenobitas, e o transforma em episódio de "Hellraiser", com resultados lamentáveis. E o pior é que a história até começa bem, com toques de metalinguagem, apresentando um grupo de jovens, fãs apaixonados da série "Hellraiser" (!!!), que se divertem com um jogo virtual chamado Hellworld, estrelado pelos cenobitas criados por Clive Barker. Um ano depois da morte de um deles, os amigos são convidados para uma festa dos jogadores de Hellworld, numa mansão afastada, onde as mortes se sucedem em meio a um festival de alucinações e cenas de nudez. Ponto mais baixo da série, "Hellworld" esquece todo o charme do universo dos cenobitas e se transforma num slasher banal. Pior: no risível final, revela-se que tudo não passou de um absurdo plano de vingança de um vilão perfeitamente "humano" (à lá série "Pânico"). Dá até pena de ver um ator como Lance Henriksen perdido numa produção tão medíocre, mas considerando que o sujeito já fez até novela da Record... Enfim, uma bobagem indefensável, que nem os fãs mais fervorosos da série "Hellraiser" (se é que eles ainda existem) devem ter curtido.



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