OPERAÇÃO FRONTEIRA (2008)
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OPERAÇÃO FRONTEIRA (2008)



Quando terminei de assistir OPERAÇÃO FRONTEIRA, fui conferir o ano de produção do filme. Estranhamente, a capinha do DVD e o IMDB diziam que tinha sido produzido em 2008. Pois se não fossem alguns raros produtos da modernidade (como telefones celulares) e a citação contemporânea à ocupação norte-americana no Iraque, eu juraria que essa era uma produção feita 20 anos antes, em 1988.

Nessa onda de revival dos anos 80 que anda invadindo as artes em geral, OPERAÇÃO FRONTEIRA surge como uma boa pedida para quem está com saudade daquelas aventuras de Chuck Norris, Michael Dudikoff e Charles Bronson lançados em VHS pela América Vídeo. Confesso que não ficaria surpreso se o logo da saudosa Cannon Films aparecesse no início, e se o filme fosse encontrado nas locadoras com a seguinte capinha:


Enfim, todos os clichês possíveis e imagináveis destas obras classe B dos anos 80 e da Cannon Films aparecem aqui: o policial durão que prefere trabalhar sozinho, mas é obrigado a aturar um parceiro certinho (e negro, obviamente); o superior que fica pegando no pé do herói (aqui representado por uma mulher valentona, porque os tempos são outros); as inevitáveis brigas no bar e na prisão, e uma quadrilha de traficantes de drogas como vilões.

Dois nomes se destacam na ficha técnica: o astro belga Jean-Claude Van Damme, que dispensa maiores apresentações, e o cineasta israelense Isaac Florentine, que nos últimos anos construiu uma sólida reputação como diretor de filmes de ação baratos e eficientes, e hoje é um dos nomes mais idolatrados pelos fãs do gênero.


Tinha tudo para ser um encontro de titãs, mas na prática foi bem diferente: insatisfeito com a forma como Florentine conduzia o negócio, Van Damme acabou assumindo o controle sobre as decisões criativas durante as filmagens. O resultado é... bem... divertido e ainda eficiente, mas anos-luz aquém do potencial da dobradinha Van Damme/Florentine.

O roteiro de Joe Gayton e Cade Courtley traz Van Damme como Jack Robideaux, um policial de Nova Orleans transferido para patrulhar a fronteira dos Estados Unidos com o México, e justamente numa das regiões mais violentas, onde o número de homicídios é altíssimo.


Enquanto todos os policiais da área são naturalmente corruptos e/ou cagões, Robideaux tem uma verdadeira fixação por correr atrás da encrenca, seja espancando arruaceiros num bar (arruaceiros que não têm nada a ver com a trama principal, bem entendido), seja enchendo os traficantes de tiros de pistola ou fuzil. Ou voadoras.

O problema é que surge por ali uma nova quadrilha de traficantes, formada por ex-soldados norte-americanos que lutaram na Guerra do Iraque e têm armamento moderno, aliado a técnicas de combate e guerrilha.


O grupo é chefiado pelo cruel Benjamin Meyers (Stephen Lord, que não mete medo nem em bebê, e já tinha apanhado de Van Damme no superior "Até a Morte"), que tomou o controle da região à força, matando os outros traficantes.

Quando os "negócios" começam a ser prejudicados pelo novo oficial da fronteira, os bandidos primeiramente tentam comprar Robideaux. Mas com a recusa do herói em corromper-se, resta a opção mais difícil: matá-lo. Não precisa ser muito inteligente para perceber como esta história vai terminar, correto? Acertou quem respondeu "mais clichês", incluindo a tortura do herói na fortaleza mexicana e impenetrável dos vilões e a posterior fuga do mocinho para acertar as contas com eles.


O mais curioso de OPERAÇÃO FRONTEIRA é que ele ora tenta ser sério, ora é absurdamente exagerado, ora investe num tom jocoso e bem humorado. Em suma, é aquele tipo de aventura impossível de engolir, para ver com seu pai no Domingo Maior e sem maiores pretensões.

Afinal, como levar a sério um filme em que o herói Robideaux, com toda aquela pinta de valentão, leva para todo lado o seu mascote, um coelho chamado Jack?

Outro toque de humor é o fato de o protagonista nunca conseguir vestir seu uniforme de oficial da fronteira, pois toda vez que sai do vestiário alguém acaba derramando café nele acidentalmente!


Enfim, OPERAÇÃO FRONTEIRA é meio esquisito porque saiu num momento "diferente" da carreira do belga, bem entre os seus papéis mais "dramáticos" e realistas nos ótimos "Até a Morte" e "JCVD".

Ora, pois aqui ele não demonstra nada de dramático ou realista: é o típico herói fanfarrão e de poucas palavras do cinema de ação oitentista, e esse deve ser um dos motivos pelo qual o belga ficou insatisfeito com a obra.

O que parece é que o diretor Florentine queria uma aventura casca-grossa à moda antiga, com Van Damme arregaçando geral, enquanto o belga buscava uma interpretação mais "intimista". Nas palavras do próprio, retiradas de uma entrevista: "Eu não fiquei feliz com esse filme. Tivemos que filmar as lutas de vários ângulos para que eu parecesse melhor, chutando mais alto, e eu não quero mais fazer esse tipo de coisa. Eu inclusive pedi que cortassem algumas cenas para que o filme ficasse mais realista".


Apesar dessa frescura, OPERAÇÃO FRONTEIRA ainda tem algumas cenas de luta muito interessantes, quando o astro demonstra uma disposição excelente considerando seus 48 anos de idade - sem contar que ele mesmo faz as acrobacias e golpes, ao contrário de Steven Seagal, geralmente substituído por dublês.

Duas cenas de pancadaria já valem o preço da locação ou o download: o confronto com valentões num bar logo no início, quando cadeiras chutadas pelo herói têm o mesmo efeito de balas de canhão, e o violento duelo final com um dos capangas do chefão, o mestre de kickboxing Scott Adkins (que já atuou ao lado de Jet Li e Jackie Chan, e é considerado um dos melhores astros de ação do segundo escalão hoje).


Adkins já havia exibido seus conhecimentos em artes marciais ao longo do filme, detonando desafetos de maneira bem dolorida, e parece divertir-se muito no arranca-rabo com Van Damme, numa cena em que os atores até parecem estar se surrando de verdade.

Infelizmente, essa foi uma das sequências que sofreu a interferência do astro belga. Tanto Florentine quanto o próprio Adkins falaram, em diversas entrevistas, que o duelo entre herói e vilão foi concebido como uma cena literalmente épica, com quase dez minutos de duração e uma infinidade de golpes e malabarismos.


O especialista J.J. Perry chegou a coreografar a longa luta, mas o baixinho não quis se cansar e exigiu uma cena mais simples e mais rápida. Portanto, no filme, o confronto Van Damme-Adkins mal chega a três minutos, e isso com um montão de câmera lenta.

(O episódio lembra uma frescura semelhante de Steven Seagal durante as filmagens de "Lado a Lado com o Inimigo", quando o ex-astro gorducho vetou uma luta igualmente longa e emocionante com Gary Daniels e exigiu que a cena fosse rápida e favorável ao seu personagem!)

Van Damme versus Scott Adkins!



Mesmo que a tal "luta épica" não tenha saído do papel, a troca de carinhos entre Van Damme e Adkins é indiscutivalmente o ponto alto de OPERAÇÃO FRONTEIRA.

E não sei se foi intencional, mas o herói leva um golpe muito parecido com o "facão" de Guile no jogo "Street Fighter 2" - o que é curioso, considerando que Van Damme interpretou Guile no horrendo "Street Fighter - A Última Batalha", quando deu ele mesmo um "facão" em Raul Julia!

Esses momentos comprovam porque o diretor Florentine caiu nas graças dos fãs de filmes de ação: todas as cenas de luta são muito bem filmadas, sem cortes de milésimo de segundo e nem os exageros daqueles "vôos" com cabos metálicos.


Você consegue entender tudo que está acontecendo, e percebe que o mérito é do diretor, dos atores e do coreógrafo de lutas, e não do editor que picotou toda a cena na pós-produção!

Nesses tempos de "cinema-videoclipe", impossível de acompanhar sem ficar com dor de cabeça, Isaac Florentine é um dos poucos caras que sabe o que faz. É uma pena, portanto, que ele e Van Damme não tenham se entendido durante as filmagens, pois OPERAÇÃO FRONTEIRA poderia ter alavancado a carreira do diretor para o primeiro time.


Infelizmente, tirando estas cenas de luta mais trabalhadas, o filme é bem convencional no quesito ação, pois os tiroteios e explosões não têm a mesma técnica das lutas e repetem-se sem emoção ou coreografias elaboradas, no estilo "Van Damme atira, figurantes anônimos caem como moscas".

Outro grande problema de OPERAÇÃO FRONTEIRA, que deve ser resultado das "diferenças criativas" entre diretor e astro, é a narrativa truncada. A impressão que fica é que o diretor foi arrancando páginas do roteiro aleatoriamente, pois muita informação fica ao léu, inclusive detalhes importantes para o desenvolvimento da história.


Por exemplo: a cena inicial mostra os vilões numa de suas operações como soldados no Afeganistão. Eles procuram insistentemente por alguém (cuja importância na trama morre por aí), e tentam forçar um grupo de civis a abrir o bico na base da porrada. Entretanto, uma das afegãs tem um cinturão de bombas amarrado ao peito e se explode em pedacinhos. Neste momento, simplesmente aparece a legenda "Dois anos depois...", e o roteiro não se preocupa em explicar o que aconteceu após a explosão, nem se os vilões encontraram quem estavam procurando (parece apenas uma desculpa furada para justificar o fato de os bandidos usarem homens-bomba mais tarde).

Outro furo é o fato de um personagem aparentemente importante (um espião que trabalha para a delegada) aparecer apenas no final, e apenas para morrer. Após seu falecimento, o fulano é citado diversas vezes pelos personagens, como se tivesse aparecido com destaque antes, mas isso jamais aconteceu! Suas cenas anteriores provavelmente ficaram no chão da sala de edição. Se é que foram filmadas.


(Vale lembrar que Florentine não teve direito ao corte final e foi impedido por Van Damme de acompanhar o processo de edição do filme. Logo, a culpa pela montagem caótica não é dele.)

Mas esses defeitos não comprometem o resultado final: como diversão escapista, OPERAÇÃO FRONTEIRA é nota 10. Passa rápido como um trem-bala, não é longo o suficiente para pedir o uso da tecla FF e tem até uma generosa contagem de cadáveres, em cenas sem-noção como a do ônibus blindado cheio de traficantes disfarçados como padres (!!!).

E as boas cenas de pancadaria (boas e bem filmadas) valem o programa, especialmente no final, quando a trilha sonora com tom mexicano parece lembrar um western spaghetti contemporâneo. Sem contar que, nesses malditos tempos politicamente corretos de heróis certinhos e afrescalhados, sempre é bom ver uma cena forte como a do protagonista espancando um vilão até a morte!


Se o filme não funcionou tão bem como deveria, e não subiu Isaac Florentine para o primeiro time, pelo menos o diretor se recuperou bem da "traumática" experiência: no ano seguinte (2009), dirigiu o ótimo "Ninja", estrelado por Scott Adkins, novamente lembrando aquelas produções malucas e divertidíssimas da Cannon Films (podia até ser lançado como "Ninja 4").

Atualmente, ele continua comandando produções B de ação e pancadaria, e talvez seja melhor assim. Vai que o homem perde a mão caso ganhe uns milhões a mais e tenha que obedecer esses produtores que não entendem porra nenhuma de porra nenhuma?

Mas, como sonhar é de graça, confesso que fico imaginando o bem que Florentine faria a uma superprodução como "Os Mercenários", que naufragou justamente pela falta de um diretor decente para as cenas de ação...

Trailer de OPERAÇÃO FRONTEIRA



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The Shepperd (2008, EUA)
Direção: Isaac Florentine
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Stephen Lord,
Natalie J. Robb, Gary McDonald, Daniel Perrone,
Scott Adkins, Andrée Bernard e Dan Davies.



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