Bonecas Diabólicas
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Não, o blog não foi abandonado! Só tive que dar um tempo porque este segundo semestre não está fácil...

Enfim, aproveito aqui, com a devida autorização, o texto de Leandro Caraça (veja o blog) sobre BONECAS DIABÓLICAS (1975), raro filme brasileiro que desejo ver há muito tempo, mas não pude comparecer à sessão única da semana passada.

"Na opinião do pesquisador Carlos Primati, quando um filme é difícil de se achar ou considerado perdido, existe um bom motivo para isso. Na maioria dos casos, o item procurado se revela uma decepção, não valendo o esforço da busca. Mas, se isso causa frustração, por outro lado, pode resultar numa sessão regada a muitas risadas. Este é o caso de BONECAS DIABÓLICAS (1975), outra produção da Boca do Lixo muito falada e pouco vista. Não sei o que levou a Cinemateca Brasileira a programá-la na 34ª Mostra de Cinema de São Paulo, mas agradeço a empreitada.

Dirigida por Flávio Ribeiro Nogueira, um industrial que se meteu fazer cinema nos anos 1970, esta pode ser considerada uma das produções trash mais divertidas feitas no Brasil. Somos apresentados ao Professor Sindrome, um velho inventor que, após um trauma sexual ainda na infância, cria um exército de mulheres andróides para substituir as fêmeas humanas. O bem intencionado professor distribui então as bonecas a vários maridos insatisfeitos com suas patroas. Não irá tardar muito e essas andróides irão adquirir vontade própria, decididas a tomar o planeta para si.

Com um ponto de partida interessante, o filme não consegue desenvolver suas idéias por causa do roteiro sem pé nem cabeça. Os diálogos pseudo-científicos declamados pelos personagens fariam José Mojica Marins corar. A pobreza da produção também é embaraçosa. Os fundos de uma oficina mecânica se transformam num laboratório, e a champanhe é servida em copos de requeijão (outro momento que é puro Mojica). A comédia é sem graça – com direito a uma sequência que parece ter saído de um filme d'Os Trapalhões – e a nudez se resume a um topless de Arlete Moreira, grande musa da Boca.

Mesmo com toda essa ruindade, nada pode preparar o espectador para quando uma das andróides é possuída pelo tinhoso, depois de pedaços de cérebro humano serem colocados em seus circuitos de memória. Sim, amigos, o negócio não faz o menor sentido. Mais tarde, o coisa ruim assume o controle das coisas e precisará ser combatido pelo assistente do Professor Síndrome. Para se defender do poder mental do cramulhão, o herói coloca um capacete de motoqueiro enfeitado com um cone de alumínio (antecipando o filme SINAIS em duas décadas) e com uma alicate, improvisa uma cruz. E assim, ao invocar Jesus Cristo Todo Poderoso, o mal finalmente é derrotado.

Como podem perceber, o negócio não é fácil. E acrescente-se a isso a ruindade do elenco, a dublagem várias vezes fora de sincronia e uma trilha sonora tão alta que chega a doer os tímpanos em algumas passagens.

BONECAS DIABÓLICAS tem potencial para se transformar em obra de culto, tamanha é sua falta de virtudes, sua incompetência cinematográfica. Numa certa altura, a líder das andróides decide acabar com os humanos usando o Plano ZY3. Com certeza, Flávio Ribeiro Nogueira nunca assistiu PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL. Se tivesse, acharia em Edward Wood Jr. sua alma gêmea. Agora fico na vontade de ver os outros dois filmes que o Nogueira fez
. "
Texto de Leandro Caraça, publicado originalmente no blog VIVER E MORRER NO CINEMA

Leia mais:
Ficha técnica completa da Cinemateca Brasileira do filme BONECAS DIABÓLICAS (Flávio Nogueira, São Paulo, 1975)



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