Filmes Legais
Entrevista histórica: Walter Gabarron
Walter Gabarron foi um dos atores mais atuantes da fase explícita do cinema da Boca do Lixo de São Paulo. Ele atuou em quase 100 filmes, a maioria deles ao lado da ex-mulher Eliane Gabarron. O casal se conheceu em uma companhia de teatro infantil em 1975 e nos dois anos seguintes fez pontas nas novelas "Éramos Seis" e "Tchan: A Grande Sacada", ambas na TV Tupi. O casal também fez uma pequena participação no filme "Perversão - Estupro" (1978), de José Mojica Marins. Com a chegada do cinema de sexo explícito na Boca no início dos anos 80, Walter e a mulher resolveram abraçar o gênero, trabalhando com vários diretores. Pouco antes da extinção das produções da Boca, Eliane largou a carreira ao se converter em testemunha de Jeová, mas Walter continuou trabalhando como "expliciteiro" em peças de teatro. Walter não chegou aos 50 anos de idade. Um câncer raro (Linfoma de Hodgkin) tirou a vida dele em 2005, aos 47 anos.
Mondo Cane presta um tributo ao ator com essa entrevista que encontrei perdida em um baú de casa. Eu e um amigo estávamos passando em frente ao Teatro Orion, na Rua Aurora, República, região central de São Paulo, no começo de 1997, quando reconheci Walter parado na porta do estabelecimento. Eu estava no segundo ano de faculdade e perguntei se poderia entrevistá-lo. A entrevista será publicada em várias partes, uma vez por semana, pois o material é extenso. A foto ao lado foi tirada do filme "A Menina do Sexo Diabólico" (1987), dirigido por Mário Lima.
Quando você começou sua carreira?No meio artístico estou desde 1975. Comecei fazendo teatro infantil, de 75 a 77. Aí eu parei. Voltei em 1983 e já estava na época do filme erótico. Fui convidado, pensei bem e resolvi fazer o primeiro: "O Delicioso Sabor do Sexo" (1984). Foi feito com o nome de "Mulher... Sexo... Veneno (1984), só que aí não foi possível (a minha cena entrar no filme) e eles (diretor e produtor) guardaram a filmagem. O que foi filmado (comigo), depois jogaram no outro filme, "O Delicioso Sabor do Sexo". Aí o pessoal descobriu e toquei adiante.
O que ocasionou a interrupção de 1977 a 1983?De repente eu casei, tive uma filha e viver de teatro (na época eu fazia mais teatro, o cinema mesmo comecei a fazer em 1983), principalmente infantil, é impossível. Aí eu larguei (a carreira de ator) e fui trabalhar normalmente.
No tempo que você trabalhava com teatro infantil era de forma independente?Era uma companhia. Companhia Teatro Infantil Paulistano. Era uma companhia profissional, nós levávamos peças ao Teatro Ruth Escobar, Teatro Aquarius, que existia na época. Então a gente tinha uma temporada, viajava pra Santos, pro Interior, fazendo peças como A Gata Borralheira.
O trabalho teatral começou por influência de alguém ou...Eu entrei no teatro através de uma agência de empregos. Fui procurar emprego, na época do Exército não conseguia emprego. Fui em uma agência de serviços temporários e me indicaram a Companhia Teatro Infantil Paulistano pra fazer uma temporada de festa junina no Playcenter. Pra dançar quadrilha, esse negócio todo, casamento caipira, tal. Então como estava sem fazer nada e o cachezinho era bom, eu fui. Aí me interessei pela coisa, a dona da companhia gostou de mim, conheci minha mulher (Eliane Gabarron) lá. Entrei através de uma agência de emprego, quando eu nem pensava em mexer com esse tipo de coisa.
E quanto tempo você trabalhou com teatro e cinema pornô? Primeiro foi o cinema, não?Primeiro foi o cinema, de 83 a 89. Foi quando o cinema funcionava, era um filme atrás do outro, uma produção atrás da outra. Aí em 89 parou completamente.
Plano Collor?Não sei o que foi. Os produtores disseram que o exibidor queria uma porcentagem muito alta da renda, então para eles não compensava. Compensava mais pegar um filme de fora e aumentar um pouquinho, porque o filme de fora é menor, é curto, e colocavam um enxertozinho qualquer para lançar aqui. Para eles (produtores e exibidores) é mais negócio pegar um filme de fora do que produzir aqui.
Fale um pouco sobre o mercado de vídeos nacionais, comparando com o externo hoje. O vídeo nacional está prejudicado ou está ganhando espaço? Como é agora em relação há 10 anos?Hoje em dia os filmes nacionais estão um porcaria. Estão pegando um elenco de péssima qualidade, pessoas que de repente só sabem fazer sexo, e mal. Então não consegue crescer nunca.
Quando atuava, você obteve algum tipo de reconhecimento? Como foi a repercussão dos filmes?Foi bom, tanto que ando nas ruas e o pessoal reconhece. Em termos de grana, é aquela coisa, nós estamos no Brasil. Então você ganha para fazer um filme, acabou o filme você tem que fazer outro, senão você não ganha. Você não tem bilheteria, não tem porcentagem nenhuma, o sindicato não faz porcaria nenhuma pelos atores. Sou sindicalizado, tenho DRT, sou profissional, mas não há apoio nenhum.
Um dos principais problemas, hoje, do vídeo pornô brasileiro é a qualidade dos atores...Com certeza.
Além disso, qual seria outro grande problema?É o preconceito muito grande que se tem do produto brasileiro. Ninguém gosta. Prefere o de fora. Você tem uma mulher bonita aqui fazendo (pornô), eles (consumidores brasileiros) preferem uma magra peituda lá de fora. Não tem jeito. Eles (os gringos) alugam um iate, filmam no iate. Aqui não, alugam um (apartamento) quitinete vagabundo e vão fazer o filme. São duas ou três posições. Aquela coisa maçante, sabe, não é mais como no início do cinema. Porque na minha época, eles faziam o filme para o cinema. Depois de pronto para o cinema, eles passavam para o VHS. Depois tentaram filmar diretamente para o vídeo. Ficou uma porcaria. Fiz uns 4, 5 filmes. Uma merda.
E quantos filmes você fez ao longo da carreira?Mais de 100. (Foram) 115, 120, por aí.
E todos saíram em vídeo no Brasil?Todos foram feitos para o cinema e depois passados para vídeo.
(
Continua)
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