FORÇA INVASORA (1990)
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FORÇA INVASORA (1990)



Depois de passar minha adolescência inteira vendo as produções horrendas perpetradas por David A. Prior e sua trupe (e sempre exibidas nas tardes do SBT, no velho Cinema em Casa), eu nunca imaginei que algum dia poderia encontrar um filme com o nome deste cidadão e, ainda assim, ao final, dizer: "Puxa, mas este REALMENTE é um bom filme". Digo "bom" mesmo, não as tralhas habituais dirigidas por Prior, que de tão ruim se tornam ao menos engraçadas.

Pois o dia chegou, amiguinhos: FORÇA INVASORA foi escrito e dirigido por David A. Prior, traz todas as caras conhecidas dos seus filmes (com exceção do irmão-galã Ted Prior, que provavelmente estava resfriado na época das filmagens), e mesmo assim consegue ser bem divertido - como filme "normal", e não como diversão trash. Sim, acredite!!!


Nesse filme quase desconhecido do "mestre", o roteiro (do próprio Prior, claro) é uma interessante brincadeira metalingüística (pode???), que mistura dois ótimos filmes dos anos 80: "F/X - Assassinato Sem Morte", de Robert Mandel, e "Amanhecer Violento", do John Millius.

A história começa como se fosse um típico filme do diretor: um clone de quinta categoria do Rambo, sem camisa, com faixa amarrada na testa e segurando duas metrancas, invade um acampamento inimigo e fuzila todo mundo. Resta um último vilão, que ameaça sua namorada com uma faca na garganta, pedindo um valioso diamante em troca da vida da moça. Feita a troca, o vilão descobre, da pior forma possível, que no lugar do diamante recebeu uma bomba, e voa pelos ares em pedacinhos. Enquanto isso, o grande herói e sua namorada preparam-se para um último e romântico beijo, quando...



...a moça pisa no pé do herói, e um diretor fora do enquadramento grita "Corta!". Isso mesmo: tudo que vimos até então era um filme de ação classe Z produzido pela American International Pictures (AIP, por sinal a mesma produtora do próprio FORÇA INVASORA!).

As filmagens estão sendo realizadas numa montanha isolada do Alabama, por uma equipe de quinta categoria que parece um reflexo da própria equipe de David Prior. O "herói" à la Rambo é apenas um ator famoso chamado Troy (interpretado por David "Shark" Fralick), e a mocinha desajeitada é a atriz iniciante Joni (Renée Cline, de "A Batalha Final", figurinha carimbada dos filmes de Prior). A moça é tão má atriz que só conseguiu o papel por ser namorada do produtor Jack (David Marriott, de "Operation Warzone", outro da patota de Prior).


A partir de então, o espectador descobre que aquela produção furreca está com orçamento e cronograma estourados, e o produtor exige que o diretor da película, Ben Adams (interpretado por Walter Cox), termine as filmagens de qualquer jeito no dia seguinte, nem que para isso tenha que pular cenas e páginas inteiras do roteiro. São apresentadas ainda outras figurinhas carimbadas dos bastidores, como o técnico em efeitos especiais, o responsável pelas explosões e o diretor de fotografia. Ironicamente, outros dois parceiros habiturais de Prior, Douglas Harter e Charles Stedman, aparecem interpretando eles mesmos!!!

E como se o pobre Ben já não tivesse problemas demais nas mãos, eis que uma tropa de mercenários de um país da América Central, comandados pelo general Juarez (Angie Synodis) e liderados pelo coronel das Forças Especiais norte-americanas Michael Cooper (Richard Lynch!!!), inventa de armar seu acampamento bem ali naquela região. No dia seguinte, o dia em que Ben e sua equipe precisam terminar as filmagens de qualquer jeito, os soldados inimigos irão invadir uma grande cidade próxima e explodir pontes e aeroportos para poder fazer reféns e chantagear o governo. Só que os vilões não esperavam encontrar uma equipe de cinema bem ali...

A primeira reação dos invasores inimigos é matar os coitados, para eliminar toda e qualquer testemunha; depois, eles bloqueiam todas as estradas para impedir que o pessoal escape e alerte as autoridades. Até que a equipe se reúne e, liderada pela estrelinha Joni (que de repente se revela uma valentona de primeira linha e até uma atiradora das boas!), decide lutar contra os soldados, usando para isso apenas sua esperteza e a magia do cinema - incluindo maquiagem, balas de festim e explosões falsas!


FORÇA INVASORA é pobre até a medula - seu principal defeito. Esse é o tipo de roteiro que eu adoraria ver produzido por alguém como mais grana, para poder bancar muitos tiros, explosões e figurantes para morrer de todas as formas possíveis e imagináveis. Infelizmente, temos aqui a tradicional produção furreca comandada por Prior e sua trupe, o que significa pobreza e improviso.

Uma das cenas mais miseráveis é a chegada dos soldados inimigos à região das filmagens: sem dinheiro para filmar os vilões pulando de um avião e depois abrindo seus pára-quedas, Prior corta direto para meia dúzia de figurantes rolando no chão e recolhendo os pára-quedas já abertos, como se tivessem acabado de saltar de um avião!!! (E o resultado é de rolar de rir, de tão mal-feito!)

Pior: os "batalhões" de soldados inimigos geralmente são compostos por seis ou sete figurantes, e percebe-se que há no máximo uns 12 figurantes, no total, para interpretar um suposto exército com centenas de soldados. Assim, todo mundo tem que se revezar para aparecer e morrer várias vezes ao longo do filme. Uma cena que mostra direitinho a pobreza da coisa é aquela em que o coronel interpretado por Richard Lynch explica seu plano, supostamente a um batalhão inteiro de soldados, mas aparecem apenas três cabecinhas em primeiro plano!!!


Também há todas aquelas bobagens à la David A. Prior (parece que o homem não consegue se segurar!), como a atriz que se revela uma agente disfarçada da CIA (sem que esta revelação faça a menor importância no roteiro além de explicar a intimidade da garota com armas de fogo). Ou a "técnica Danton de camuflagem", que parece saída do clássico "Deadly Prey", quando Joni fica "escondida" sobre um galho de árvore a 10 centímetros da fuça dos vilões, e mesmo assim ninguém a enxerga. Ou, ainda, a cena em que Ben se engalfinha com um soldado para que Joni possa fugir correndo, sendo que a moça tinha uma metralhadora nas mãos e podia simplesmente atirar no inimigo enquanto Ben o segurava!

Mas nem estes "pequenos detalhes" conseguem estragar FORÇA INVASORA, que se revela um filme de ação classe Z acima da média - e principalmente acima da média das obras de Prior. Com apenas 83 minutos, o filme é curto demais para chatear. Já o roteiro até é interessante e tem algumas boas sacadas, como a conclusão que remete ao "falso filme" que estava sendo rodado no início. Ou o fato de o último take mostrar o próprio David Prior, em pessoa, aparecendo para gritar "Corta!" e cumprimentar os atores e toda a equipe dos bastidores de FORÇA INVASORA pelo seu trabalho - um final bastante inspirado.

Méritos, ainda, para Richard Lynch como vilão. Normalmente, os filmes de Prior trazem atores conhecidos em participações de dois ou três minutos. Mas aqui Lynch realmente participa ativamente do projeto, e inclusive tenta atuar (o que apenas comprova como todos os outros atores e atrizes são péssimos).


A cena em que ele tortura um dos heróis, esmurrando o braço onde o sujeito acabara de tomar um tiro, é muito boa, e às vezes ele parece estar reprisando seu papel de vilão em "Invasão USA", onde também liderava um ataque secreto, só que de soldados russos, e não da América Central. Já a protagonista Renée é péssima atriz e feinha de rosto, mas em compensação tem um corpão e aparece o filme todo de shortinho (nham...).

Infelizmente, o SBT parou de reprisar os filmes do diretor há muitos anos, e encontrar FORÇA INVASORA nas locadoras (a fita era de uma distribuidora pobrezinha chamada New Action) é uma tarefa que provavelmente nem o lendário Mike Danton, de "Deadly Prey", conseguiria cumprir.

Infelizmente, também, o resultado final é exatamente como eu escrevi alguns parágrafos acima: embora até engane os fãs de tralhas, como os distintos visitantes aqui do FILMES PARA DOIDOS, a pobreza da produção está estampada em cada frame da película, especialmente no número reduzido de figurantes e nos efeitos pouco convincentes dos tiroteios.

Com algumas óbvias modificações no roteiro (PRINCIPALMENTE na reviravolta da "agente da CIA disfarçada") e gente boa envolvida na produção, creio que um blockbuster bastante divertido poderia ser produzido a partir deste filme. Alguém aí tem o telefone do Joel Silver?


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Invasion Force (1990, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Renée Cline, Walter Cox, Richard
Lynch, Douglas Harter, Charles Stedman
e David "Shark" Fralick.



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