LADO A LADO COM O INIMIGO (2005)
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LADO A LADO COM O INIMIGO (2005)



Só para constar nos autos, essa resenha também foi resgatada do meu antigo Multiply, onde foi publicada em 2008. Republico, agora, na MARATONA STEVEN SEAGAL, com as devidas correções e atualizações.

Quem conhece o mínimo dos filmes que Steven Seagal fez direto para o mercado de vídeo já deve ter consciência que a maior parte é porcaria ou pura rotina, quando não demonstrações incontestes da falta de talento de todos os envolvidos (inclusive do ex-astro).

Tendo isso em mente, e sabendo que não podia esperar grande coisa, confesso que me impressionei com LADO A LADO COM O INIMIGO, uma aventura modesta de 15 milhões de dólares que Seagal estrelou para a produtora Nu Image (especializada em bagaceira) logo depois do terrível "Operação Sol Nascente".


E considerando a ruindade de muita coisa que ele fez logo antes ("Determinado a Matar", "Desafio Final") e logo depois ("Hoje Você Morre", provavelmente o seu pior filme), esse aqui até parece material para Oscar.

Impressionante como tudo no filme é exagerado, quase caricatural, mas cumprindo exatamente o que promete: ação desenfreada e imbecil movida por um roteiro acéfalo. Enfim, exatamente o que qualquer pessoa normal procura ao locar uma produção "direct to DVD" estrelada por Steven Seagal!


Um dos detalhes que faz a diferença no resultado final é a direção inspirada do inglês Anthony Hickox. Outrora uma das boas revelações do cinema de horror-pipoca (fez o divertidíssimo "A Passagem" e sua continuação, além dos sangrentos "Warlock 2" e "Hellraiser 3"), Hickox não conseguiu mostrar a que veio e caiu no inferno do "direto para videolocadoras".

Na última década, infelizmente, ele só conseguiu emprego longe do horror, dirigindo aventuras baratas como essa e algumas do Dolph Lundgren. Mas pelo menos tenta imprimir seu toque pessoal às obras, por mais fuleiras que sejam.


É esse o diferencial de LADO A LADO COM O INIMIGO, um filme esquisito que já traz algumas excentricidades antes de o ex-astro cair no "vale-tudo" com obras como "Escuridão Mortal" e "Machete".

O passado de Hickox como diretor de horror pode ser percebido na abertura e no final do filme. Os créditos iniciais se desenrolam sobre uma seqüência de imagens arrepiantes (lembrando a febre dos horrores orientais; eu até pensei que tivesse alugado o filme errado!). E a conclusão pessimista é algo bem distante do final feliz tradicional que o espectador poderia esperar.


Não por acaso, o cineasta também assina o roteiro ao lado de Paul de Souza. O resultado é um coquetel de ideias e referências a vários filmes, mas principalmente de "Laranja Mecânica" e "O Telefone" (aquele suspense com Charles Bronson) a "Os Doze Condenados". Apesar da mistura parecer indigesta, o coquetel não é de todo desprezível - e chapa o coco!

LADO A LADO COM O INIMIGO começa no Uruguai (!!!), esse nosso pequeno e inocente país vizinho, onde um cientista louco chamado Adrian Lehder (Nick Brimble) alia-se a um terrorista latino (!!!), o coronel Jorge Hilan (Nikolai Sotirov), para criar um programa de controle mental (!!!).


A proposta é simples: pessoas comuns são aprisionadas e passam por um processo semelhante à lavagem cerebral sofrida por Alex em "Laranja Mecânica", inclusive com aqueles clipes metálicos para impedir que fechem os olhos.

Após o processo, transformam-se em "zumbis" programados para matar ao comando de um código numérico digitado pelo cientista em seu celular (uma modernização do plot de "O Telefone").

Lehder testa sua invenção fazendo com que os seguranças da embaixada norte-americana no Uruguai assassinem a embaixadora e depois matem friamente um ao outro, como se fossem fantoches!


Sem conhecer ao certo a natureza das pesquisas do maléfico cientista, os ianques resolvem contra-atacar, enviando uma tropa de marines para detonar o laboratório do sujeito (que fica escondido numa represa uruguaia).

A missão de ataque é liderada pelo coronel Sharpe (Gary Daniels!!!). O problema é que, sem que ninguém saiba, Sharpe também passou pela experiência de controle mental de Lehder, e, ao comando do vilão, trai o próprio pelotão.

Todos são aprisionados e submetidos ao mesmo processo de lavagem cerebral, transformando-se em novos "zumbis" sob o controle do diabólico Lehder!


Fala sério: não parece um filme de horror ou sci-fi bagaceiro dos anos 50 até agora? Mas e onde entra Steven Seagal nessa história, afinal?

Calma lá!

Acontece que, com o fracasso da missão, o governo norte-americano resolve tirar da cadeia "o melhor mercenário do mundo", Chris Cody (Seagal, claro), com a promessa de liberdade se ele conseguir resgatar os prisioneiros e destruir o laboratório de Lehder - algo estilo Snake Plissken em "Fuga de Nova York".


O herói aceita a missão, mas com uma condição: recrutar como parceiros todos os seus ex-comandados, que também estão na cadeia. Um deles, chamado Henry "Alligator", é interpretado pelo engraçado Vinnie Jones. Tem também especialistas em explosivos, em medicina, etc etc.

Uma cientista que conhece o trabalho de Lehder, a dra. Susan Chappell (a bonita Christine Adams), também acompanha o grupo, que é traído por um agente duplo, Fletcher (William Hope), já na chegada ao Uruguai.


Após livrar-se deste pequeno contratempo, Cody e seus homens invadem as instalações, libertam os prisioneiros, roubam um submarino e enfrentam com a maior facilidade um pelotão de soldados malvados e até um tanque!

Só que o maléfico Lehder escapa a tempo e se refugia em Montevideo (a capital uruguaia), onde pretende utilizar seu equipamento de controle mental para matar o presidente do país.

A bordo do submarino, Cody e seus homens tentam retornar para a base e encerrar a missão. Mas eles nem imaginam que os prisioneiros que resgataram sofreram lavagem cerebral. E, a um simples comando do vilão, os "zumbis" tentam tomar o controle do submarino e afundá-lo.


Além de enfrentar esta ameaça, Cody e seus homens ainda terão que dar um fim em Lehder e salvar o presidente uruguaio da morte certa. Tudo isso num filme com 96 minutos de duração!

Picotado e frenético, LADO A LADO COM O INIMIGO tem um roteiro extremamente fragmentado que vai empilhando situações e personagens, saltando de uma cena de ação para outra sem muito critério, como se fossem fases de um jogo de videogame.


Mas confesso que o que mais atraiu no filme foi justamente o seu fator trash. Afinal, a trama toda se passa no Uruguai, um dos países mais pacíficos do mundo, mas que no filme é mostrado como um reduto de terroristas e cientistas loucos!

Pior: numa cena, Cody e seus homens vão parar nas ruínas de um templo maia, quando na verdade nunca houve maias no Uruguai (eles viveram "um pouquinho" mais para cima, entre o México, o Peru e a Bolívia). Também esqueceram de avisar os produtores que a bandeira do Uruguai não é igual à da Argentina, e que espanhol e italiano são duas línguas completamente diferentes (os comandos do submarino uruguaio estão todos em italiano, mas são compreendidos facilmente por um dos homens de Cody que conhece... espanhol!).


Curioso, fui pesquisar no Internet Movie Data Base e descobri que o filme nem ao menos foi rodado em Montevideo; na verdade, o Uruguai foi "recriado" na Bulgária, onde esta aventura foi filmada a toque de caixa. Quem olhar no IMDB vai encontrar centenas de comentários de uruguaios revoltados com a forma como seu país foi retratado na película.

Não bastasse a trama fantasiosa, que prende a atenção do espectador (bem melhor que os clichês do tipo "vingar o parceiro assassinado ou a morte da família"), LADO A LADO COM O INIMIGO ainda reserva algumas boas surpresas.


Uma delas é o confronto (rápido, infelizmente) entre Seagal e Gary Daniels. Este último, para quem não sabe, é um astro de ação de terceiro escalão, no nível de Jeff Wincott e Joe Lara, e a troca de catiripapos com Seagal até então foi o ponto alto da sua carreira - cinco anos antes de apanhar de Jet Li E Jason Statham ao mesmo tempo em "Os Mercenários".

Pena que a luta entre Seagal e Daniels termine logo. Mas, segundo Gary, foi uma exigência do próprio galã. Ao que parece, o coreógrafo das cenas de luta, Steve Griffin, concebeu um duelo dramático e sangrento entre os dois, mas no dia da filmagem Seagal chegou no set de cu azedo e coreografou ele mesmo uma luta rápida e injusta (para o rival, claro). Confira a pauleira no vídeo abaixo:

Steven Seagal vs. Gary Daniels


Outra surpresa é a participação de Vinnie Jones, que rouba o filme com seu forte sotaque inglês e sua tradicional cara de mal. A cena em que ele atira um bandido contra um armário só para arrebentá-lo a socos e chutes é tão realista que temi pela saúde do pobre ator.

E o fato de Seagal ser praticamente um coadjuvante em seu próprio filme, passando a maior parte do tempo liderando seus homens sem botar a mão na massa, confere um pouco mais de interesse à história, já que, como se sabe, o ex-astro está tão fora de forma que não convence carregando um filme todo nas costas.


Embora comece no piloto automático, LADO A LADO COM O INIMIGO esquenta da metade para o final, quando a trama se desloca para Montevideo e traz tudo que o espectador espera de um filme de ação descerebrado: carros e cenários destruídos, pancadaria, sangrentos tiroteios e um herói implacável que não hesita em quebrar braços e atirar nos adversários desarmados.

No auge do seu "anti-heroísmo", Cody enfrenta um negro gigantesco e, sem muita paciência, prefere encerrar logo a luta dando-lhe um covarde balaço na cabeça.


Vale destacar, também, que o diretor-roteirista Hickox não é fru-fru como muitos por aí: os "zumbis" comandados por Lehder nunca voltarão ao normal, e por isso os heróis precisam matá-los para detê-los - sejam eles inocentes garçons ou soldados americanos com família esperando em casa!

Aposto que, se essa fosse uma produção "hollywoodiana", certamente iriam inventar uma cura milagrosa para todos os autômatos comandados pelo vilão, tirando assim metade da graça e do "politicamente incorreto" da coisa.


LADO A LADO COM O INIMIGO não vai mudar a vida de ninguém. É esquecível e nem de longe faz justiça aos bons filmes de Seagal, como "Fúria Mortal". Mas funciona como entretenimento, é rápido e rasteiro e não enrola muito (embora tenha um excesso de personagens e reviravoltas na parte final).

Além de tudo, é uma rara oportunidade de ver nossos vizinhos uruguaios (!!!) como terroristas e vilões sanguinários. Durmo mais tranquilo sabendo que Steven Seagal um dia esteve na América do Sul, defendendo-nos - e ao resto do mundo - dos terríveis hermanos do Uruguai!

Trailer de LADO A LADO COM O INIMIGO



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Lado a Lado com o Inimigo (Submerged,
2005, Inglaterra/Bulgária)

Direção: Anthony Hickox
Elenco: Steven Seagal, William Hope, Christine
Adams, Nick Brimble, Vinnie Jones, Alison King,
Gary Daniels e P.H. Moriarty.



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