Lost in translation - Parte 1
Filmes Legais

Lost in translation - Parte 1


"Não acredito que você assistiu a três filmes que estão para estrear por aqui. Por que não foi ver coisas que nem em sonho passariam nos cinemas brasileiros ? :("

Vou aproveitar esta primeira parte de meu relato sobre minha experiência cinematográfica européia para responder à pergunta que o Leandro Caraça me fez dois posts abaixo. Afinal, por que eu não vi "coisas que nem em sonho passariam nos cinemas brasileiros"? Três justificativas: falta de sorte, decisão equivocada e, principalmente, problemas de comunicação.


Madri, Espanha


Quando me meti a fazer esta viagem pela Europa, ir ao cinema era algo que nem estava em cogitação. Meu grande plano, isso sim, era trazer o maior número de filmes em DVDs e livros que jamais encontraria no Brasil. Mas eis que as noites se revelaram mais longas do que pareciam, e o fato do meu irmão Goti ser praticamente um padre, pouco afeito a noitadas e bebedeiras, me deixou subitamente sozinho no momento em que o sol descia no horizonte e a noite cobria as metrópoles européias. Surgiu, então, a opção de conhecer o cinema europeu.

E que cinema! Nas grandes cidades que visitei, eles têm, como no Brasil, cinemas de shopping. Mas também existem muitas, e enormes, salas de cinema de rua, como havia no Brasil (só que por aqui hoje são raras). Estes cinemas de rua, ao contrário do que acontece no nosso país, são luxuosíssimos, com aquelas enormes propagandas de filmes nas fachadas, ambiente confortável, distribuição de material informativo e revistas apresentando as estréias e futuros lançamentos, e por aí vai.

Para melhorar: ao contrário do Brasil, por lá você dificilmente vê hordas de garotos mal-educados tomando as salas de cinema. Pelo contrário: os filmes que eu vi foram ao lado de bem apessoados casais vestidos com roupas chiques de noite - em Paris, principalmente, cheguei a pensar que tinha entrado na sala errada e iria ver uma apresentação de ópera ao invés de um filme.

Mas minhas três incursões cinematográficas européias foram, ironicamente, de produções norte-americanas: vi o "The Spirit" do Frank Miller num cinema de Madri, na Espanha; "Slumdog Milionaire" (no Brasil, "Quem Quer Ser Um Milionário?"), do Danny Boyle, em Paris, França; e "Milk", do Gus Van Sant, num cinema na famosa Via del Corso, em Roma, Itália.

O que me consola é que nenhum dos três filmes estreou no Brasil ainda, assim pelo menos minhas escolhas não parecem tão imbecis...

Entendam o seguinte: embora eu tivesse muita curiosidade em conhecer um filme de cada país, o problema de comunicação foi uma grande dificuldade. Aqui no Brasil, costumamos reclamar quando filmes são exibidos dublados em português nos cinemas. Pior: dizemos que é coisa de burro, de analfabeto, e por aí vai.

Mas, vejam vocês, nos países da Europa que visitei, eles fazem questão de DUBLAR os filmes na sua própria língua. Nada de legenda: é dublagem, e isso vale até para os trailers exibidos na TV (ver Hugh Jackman e Nicole Kidman pessimamente dublados em espanhol no trailer de "Austrália" na TV me deixou com menos vontade ainda de ver o filme...).

Não sei se é ultranacionalismo, se é preguiça de ler as legendas ou o quê, mas é fato: a não ser que você queira ver Sean Penn falando italiano, os indianos do Danny Boyle falando francês e o Spirit brigando com o Samuel L. Jackson em espanhol, o negócio é procurar pelas (poucas) salas que exibem filmes "V.O.", ou seja, Versão Original (sem dublagem, com legendas no idioma falado em cada país). E, acredite ou não, estas salas são raras: o povo lá gosta de filme dublado, vão pra PQP!!!

Explicado isso, vamos para a segunda parte da justificativa: se os caras já dublam os filmes estrangeiros, não seria muita ingenuidade esperar ver um filme francês num cinema francês com legendas em inglês?

Claro, isso não seria problema em Portugal e na Espanha, que têm idiomas mais acessíveis. E eu realmente procurei por filmes de produção própria nestes países. Aí o que aconteceu foi puro azar.

O pior foi no caso de Portugal! Quem diria, o país dos patrícios está com uma invejável produção cinematográfica: só em janeiro, estrearam seis filmes portugueses, daquele tipo que a gente nunca ouve falar por aqui e nunca chega aos cinemas brasileiros (a não ser, claro, que algum deles concorra ao Oscar de Melhor Filmes Estrangeiro).


Por que "invejável"? Porque os portugueses, ao contrário de nossos "geniais" cineastas brasileiros, fazem filmes em diversos gêneros, não apenas fábulas sobre as favelas cariocas ou sobre a miséria do Nordeste.

Três filmes portugueses que estreariam em janeiro inclusive me deixaram bastante interessado: "Second Life", de Alexandre Cebrian Valente, é um filme narrado por um homem assassinado em sua festa de aniversário, e que, através de flashbacks e tramas paralelas, explica como acabou comendo capim pela raiz; "Veneno Cura", de Raquel Freire, estreou no Brasil (no Festival de São Paulo de 2008) e é uma história de amor hardcore (a crítica de lá falava sobre "cenas bastante chocantes" e taxava o filme de "violento e amoral"); e, finalmente, "Contrato", de Nicolau Breyner, filme de ação português (!!!) onde Pedro Lima interpreta o assassino profissional Peter McShade, copiando o universo dos filmes de James Bond!!!

Resumindo: eu estava louco para ver qualquer um dos três, depois que comprei uma revista que falava sobre "o novo cinema português" elogiando as três produções - queria ver principalmente "Contrato", pois a idéia de um James Bond português, com tiroteios, explosões e mulher pelada, me fez lembrar dos bons tempos em que havia filmes de ação brasileiros. Mas, e eis o azar, os três filmes estreariam na metade do mês de janeiro, quando eu já tinha deixado Portugal.

Trailer de CONTRATO


Assim, a única produção "100% portuguesa" nas telas lusitanas era "Amália, O Filme", cinebiografia dirigida por Carlos Coelho da Silva sobre uma famosa cantora portuguesa (famosa lá, porque eu nunca ouvi falar). E foi justamente por falta de interesse pela história (que se arrastava por duas horas e lá vai paulada) que resolvi deixar a Amália cantar só para os portugueses mesmo...

Na Espanha o problema foi o mesmo: só se falava de blockbusters como "Austrália", "Valquíria" e "The Spirit", enquanto os filmes de produção espanhola foram empurrados para o final de janeiro, quando eu não estaria mais por ali.

Uma curiosidade: sabe-se lá por que cargas d'água, os cinemas espanhóis estavam exibindo, com grande estardalhaço inclusive, DOIS filmes do inglês Guy Ritchie: além de "Rock'n'Rolla", que passou também no Brasil, estava em cartaz "Revólver", que Ritchie dirigiu em 2005, e que ficou inédito por lá este tempo todo (inclusive no Brasil, onde saiu só em DVD). Não seria interessante fazer uma sessão dupla de Guy Ritchie no cinema?

De qualquer jeito, eu já tinha visto "Revólver" e não ia ver "Rock'n'Rolla", que estava passando no Brasil. As opções então eram poucas: o péssimo remake "Quarentena" (que os críticos espanhóis sentavam a lenha direto, endeusando o original espanhol "REC"), que eu também já tinha visto; o musical-bizarro "Repo! The Genetic Opera", de Darren Lynn Bousman (o diretor de estimação da série "Jogos Mortais"), e o "The Spirit".

Escolhi este último porque estava seco para ver, louco que sou por Will Eisner e pelo próprio Frank Miller. Mas agora me arrependo, devia ter ficado com o "Repo!", que provavelmente não vai chegar ao Brasil - e o filme do Miller é uma merda, como falarei num post futuro.

Entre as estréias "nacionais" do mês, "El Truco del Manco", de Santiago Zannou, drama sobre a criminalidade urbana que me lembrou o cinema brasileiro, e que estava sendo elogiado pelos críticos espanhóis, e "Los Muertos Van Deprisa", uma comédia de humor negro, cujo diretor Ángel de la Cruz era comparado a Buñuel e Alex de la Iglesia! Ambos estreariam no final de janeiro, e são dois filmes que ainda quero ver.

Trailer de LOS MUERTOS VAN DEPRISA


Outra coisa interessante é que os cinemas espanhóis ainda distribuem, na entrada, aqueles releases com informações sobre a história do filme, o elenco e notas de produção, tipo faziam no Brasil dos anos 80 para baixo. É ótimo você pegar estas folhas (impressas frente e verso, em preto-e-branco) para se familiarizar com os filmes que estão em cartaz, especialmente sobre aqueles que não conhece bem!

Continuo meu relato em 48 horas. Não queria cansá-los com tanta informação inútil!

(continua...)



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