MERCENÁRIO (2006)
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MERCENÁRIO (2006)



MERCENÁRIO marca o fim de um contrato que Steven Seagal tinha com a Millenium Films para estrelar três produções baratas "direct-to-video". Já virou lenda o quebra-pau que o ex-astro teve com Avi Lerner, um dos cabeças da Millenium, que o deixou emputecido a tal ponto de simplesmente não aparecer em alguns dias de filmagem.

Sendo assim, depois dos horríveis "Determinado a Matar" e "Hoje Você Morre" (as outras duas obras do contrato com a produtora), MERCENÁRIO fecha com chave de ouro - ou, nesse caso, chave de merda - a parceria entre Seagal e a Millenium.


E o filme é ruim?

Não.

É péssimo!

Mas sejamos justos: é bem melhor que os dois anteriores, especialmente o péssimo "Hoje Você Morre", e um pouco melhor filmado também, embora tenha o mesmo diretor no comando (Don E. FauntLeRoy). Pelo menos dessa vez não usaram a picaretagem das cenas chupadas de outros filmes incluídas na edição.


Originalmente, o título em inglês seria apenas "Mercenary", tal e qual a tradução nacional. Parece que também nesse caso Seagal bateu o pé e exigiu a troca para "Mercenary for Justice", ou "Mercenário pela Justiça", porque não queria interpretar um personagem anti-heróico. Aham...

Antes de ver o filme, eu tinha lido tantas críticas negativas que já fui preparado para o pior. Mas confesso que fiquei realmente boquiaberto com os primeiros 20 minutos, que trazem Steven "Balofo" Seagal liderando um batalhão de mercenários numa ação suicida durante uma violenta guerra civil na África.

A bem da verdade, o ex-astro só aparece em cena depois de uns 13 minutos. Antes, parte do seu pelotão de mercenários participa de uma ousada ação numa embaixada na África, de onde sequestram o embaixador e sua família. Tem até uma loira gostosa tocando o terror, aniquilando uns soldados como se fossem escoteiros!


Aí Seagal, "interpretando" o mercenário John Seeger (Seeger - Seagal... captou?), aparece bem no meio de um violentíssimo fogo cruzado, numa cena de batalha bem filmada e bem editada, repleta de tiros, explosões, pessoas voando, outras rodopiando crivadas de balas, e por aí vai. Em suma, um momento belíssimo!

Assim, por alguns instantes (mais especificamente uns 20 minutos), pensei que estava diante da volta por cima de Steven Seagal depois das duas bombas que fez com a Millenium - uma espécie de "Rambo 4" do quebrador de braços.


Mas aí o conflito termina e o filme realmente "começa", com história e clima totalmente diferentes. E é aí, meu amigo, que MERCENÁRIO afunda, fazendo jus a todas aquelas críticas negativas. É como se você tivesse trocado de canal e colocado num telefilme bagaceiro do Supercine. A ação frenética e violenta ficou só naqueles 20 minutos iniciais mesmo...

(Em tempo: o trailer do filme, daquele tipo totalmente enganador, foi montado APENAS com essas cenas boas do início!)

A real trama, se é que isso importa, mostra Seeger voltando aos Estados Unidos para cuidar da família de um dos seus homens, morto no conflito na África.


Ele tenta honrar a memória do falecido cuidando da sua esposa e filho, mas seus antigos empregadores têm uma nova missão: resgatar o filho de um dos maiores traficantes sul-africanos de um presídio de segurança máxima.

Sabendo que Seeger não vai aceitar o serviço, os caras sequestram a família do amigo morto para forçá-lo a aceitar a missão. Mexeram com o gordinho errado, como sempre acontece nos filmes de Steven Seagal.

Lendo assim, até parece um belo ponto de partida para um festival de tiros e pancadaria, não é mesmo? Com certeza. Funciona em MERCENÁRIO? Não, não funciona.


Depois de ver vários dos novos filmes do "ator" em sequência (você está acompanhando a MARATONA STEVEN SEAGAL, não está?), juro que não entendo o que os caras que fazem essas bagaças têm na cabeça...

Pense comigo: você acabou de contratar um ex-astro decadente, mas que ainda possui um bom número de fãs; ao mesmo tempo, você sabe que existe um grande público ávido por filmes de ação violentos e descerebrados, desse tipo "direct-to-DVD" mesmo.

Ora, mas uma coisa puxa a outra: Seagal sempre foi conhecido como herói violento e impiedoso ("quebra-braço" é um dos seus apelidos populares), e não precisa ser muito inteligente para fazer um filme de ação sem firulas, que seja apenas divertido e descartável, tipo aquelas velhas produções que Chuck Norris, Charles Bronson e Michael Dudikoff faziam para a Cannon Films.


Mas parece que os realizadores desses últimos filmes de Steven Seagal não pensam assim. Para cada obra divertida e descerebrada, como "Resgate Sem Limites" e "Lado a Lado com o Inimigo", temos cinco ou dez baboseiras tipo MERCENÁRIO.

O ponto de partida é bom, o ex-astro nem está tão mal (mais fácil acreditar nele como mercenário do que como o arqueólogo de "Determinado a Matar"), as cenas de ação são razoáveis, o início é ótimo... Tinha tudo para chegar lá, mas em menos de meia hora o filme todo vira uma completa baboseira.


O primeiro problema é que há um excesso de traições e "re-traições" no roteiro que são desnecessárias para o tipo de história que se pretende contar. Dois personagens vilanescos passam a história toda enganando-se mutuamente, e perto do final você nem sabe mais quem é vilão e quem é aliado.

Supostamente tentando criar uma "reviravolta" na trama, o roteirista também inventa um assalto a um banco super-seguro (?!?) que acaba substituindo o ataque à penitenciária prometido pelo roteiro (e também pelo resumo na capinha do DVD).

Não sei se peguei no sono ou se não prestei atenção, mas o motivo para Seagal e sua equipe assaltarem o tal banco até agora foge à minha compreensão...


Finalmente, no terceiro e último ato, o herói parte com o que restou da sua equipe para resgatar a família do falecido amigo das garras dos vilões. Segue-se mais um pequeno massacre de figurantes malvados, mas nada no mesmo nível daquela excelente cena inicial.

Inclusive parece que outros realizadores assumiram a produção DEPOIS daquela cena de guerra no início. Porque os 20 minutos iniciais são bem filmados, bem editados e até empolgantes, tensos.


O resto do filme, em contrapartida, é levado no piloto automático, com alguns poucos bons momentos para manter o espectador acordado - só para constar, tirei duas sonecas a partir da metade, e tive que ficar voltando o filme apenas para constatar que não perdi nada. Parece até que gastaram toda a grana da produção no início e depois tiveram que improvisar.

Talvez a narrativa bagunçada se explique pelo clima de tensão e caos entre Seagal e os produtores. Afinal, o roteiro original de Steve Collins foi alterado até ficar irreconhecível, o que explica a trama picotada que nunca se decide entre o rumo a seguir - segundo o IMDB, Joe Halpin, Danny Lerner, Les Weldon e o próprio Seagal deram "contribuições" não-creditadas ao roteiro.


Talvez a pauleira entre astro e produtores explique, também, o porquê do protagonista do filme aparecer tão pouco no filme que deveria estrelar! Existem tantos personagens e subtramas que, no fim, Seagal aparece no máximo 35 ou 40 minutos em MERCENÁRIO. E raras vezes lutando ou matando alguém. Alguns personagens principais do filme nem contracenam diretamente com o ator!

Uma das poucas qualidades numa produção tão equivocada é a bela morena boa de tiro que atua do lado dos heróis, interpretada por Jacqueline Lord (que tem um ar de Catherine Zeta Jones quando novinha).

No final, fica aquela sensação de tempo perdido e de excesso de pretensão dos realizadores, que podiam fazer um filme muito mais simples e divertido seguindo a cartilha padrão da ação barata.


Fica, também, a certeza de que Steven Seagal precisa, urgentemente, de um roteiro melhorzinho. Ou quem sabe de outro agente, que selecione umas produções mais interessantes para ele estrelar.

O "ator" faria ainda um outro filme com o diretor FauntLeRoy (o gordinho não aprende), "Justiça Urbana", nossa próxima atualização aqui na MARATONA STEVEN SEAGAL.

Mas esse, surpreendentemente, é bom, ainda mais comparado a tralhas como "Hoje Você Morre" e MERCENÁRIO, os outros dois trabalhos anteriores da dupla.

Trailer de MERCENÁRIO



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Mercenário (Mercenary for Justice,
2006, EUA/África do Sul)

Direção: Don E. FauntLeRoy
Elenco: Steven Seagal, Jacqueline Lord, Luke
Goss, Roger Guenveur Smith, Michael K. Williams,
Adrian Galley e Langley Kirkwood.



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