O LIMITE DA TRAIÇÃO (1987)
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O LIMITE DA TRAIÇÃO (1987)




Poucos cineastas levaram tão a sério a proposta "filme pra macho" quanto Walter Hill, o homem por trás de sucessos como "48 Horas" e "Warriors - Os Selvagens da Noite". Num mundo injusto como esse nosso, Hill anda sumido das telas já há um tempinho, talvez se recuperando do fracasso da bomba "Supernova", com James Spader.

E enquanto ele não volta em grande estilo, nada melhor do que fazer uma retrospectiva de sua obra. O LIMITE DA TRAIÇÃO, de 1987, é um dos seus filmes menos comentados, mas um dos melhores de um carreira cheia de filmaços. Uma imagem diz mais que mil palavras, não é verdade? Pois que tal cinco imagens:


Em primeiro lugar, O LIMITE DA TRAIÇÃO é interessante por ser um western contemporâneo, uma tendência de muitas produções dos anos 80 (veja também o clássico do SBT "McQuade, O Lobo Solitário", com Chuck Norris).

A ambientação na árida e empoeirada fronteira do Texas com o México é puro western, o personagem principal (um ranger durão e de poucas palavras) é puro western, há um duelo final entre herói e vilão que é puro western... Enfim, o filme é um western dos anos 80, em que o "xerife" usa uma pistola automática e os bandidos, metralhadoras.

Em segundo lugar, esta obra menos conhecida de Hill tem um dos maiores elencos "cult" já reunidos fora de um filme do Tarantino, com os durões Nick Nolte, Powers Boothe, Michael Ironside, Rip Torn, Clancy Brown, William Forsythe e Tommy "Tiny" Lister Júnior e UMA ÚNICA MULHER, a "vai ser caliente assim lá em casa" Maria Conchito Alonso. Enfim, é tanta cara de mau, barba por fazer e testosterona que transforma filmes tipo "Comando para Matar" e "Stallone Cobra" em comédia romântica!


A partir de uma história de John "Amanhecer Violento" Milius e Fred Rexer, o roteiro de Deric Washburn e Harry Kleiner começa apresentando um grupo de soldados ligados por um misterioso detalhe: todos foram considerados mortos em combate, apesar de estarem vivinhos da silva.

Liderados pelo major Paul Hackett (Ironside, caprichando na cara de malvado), os "soldados-zumbis" são interpretados por malucões tipo Clancy Brown, William Forsythe, Matt Mulhern, Larry B. Scott (o frutinha de "A Vingança dos Nerds", aqui em papel de machão) e Dan Tullis Jr. À medida que eles aparecem em cena, um letreiro informa o nome de cada um e a data e local da suposta "morte".


O destino do esquadrão secreto é a fronteira do Texas, onde quem dita as leis é o texas ranger Jack Benteen (Nolte), auxiliado pelo veterano xerife Hank Pearson (Rip Torn). A dupla já tem seus próprios problemas com o tráfico da cocaína vinda do méxico, responsabilidade de um poderoso traficante chamado Cash Bailey (Powers Boothe, um dos atores mais fodas da sua geração).

O detalhe é que o herói Jack e o vilão Cash são velhos amigos de infância que dividiram praticamente tudo na vida, da primeira vez na adolescência ao atual amor de ambos, a cantora Sarita (Maria Conchita), que antes foi mulher do traficante, mas agora está num relacionamento "chove não molha" com o ranger. Se Jack e Cash não querem bater de frente, mesmo de lados opostos da lei, será a única mulher da trama, Sarita, quem colocará fogo no barril de pólvora.


Finalmente, quando os soldados que deveriam ter morrido em combate chegam à cidadezinha, Jack descobre que eles têm um objetivo em comum: botar as mãos em Cash Bailey. Mas a trama, que parece simples, logo se revela um pouquinho mais complicada, e até o final fica difícil descobrir quem está do lado de quem e quem está traindo quem.

Poucos cineastas conseguiram seguir tão bem os passos do falecido Sam Peckinpah quanto Walter Hill, e O LIMITE DA TRAIÇÃO prova porquê: além da quantidade gigantesca de testosterona por metro quadrado, da violência sempre presente (e sempre brutal) e da trama sobre honra e amizade que remete aos "velhos tempos", este filme de Hill termina com um sangrento massacre em câmera lenta numa vila mexicana comandada por Cash, onde os personagens trocam tiros mesmo quando já estão repletos de buracos de balas, e tentam enfrentar sozinhos uma luta perdida contra um exército com dezenas de inimigos.


O roteiro nada redondinho é bastante confuso quando a gente vê o filme pela primeira vez. Afinal, duas subtramas são apresentadas separadamente (a ação dos soldados "mortos em combate" e o duelo entre os ex-amigos de infância agora em lados diferentes da lei), e lá pela metade ambas acabam se cruzando, mas sempre revelando a conta-gotas as reais motivações dos personagens. É somente no desfecho que as coisas realmente começam a fazer sentido, e por isso as sucessivas revisões do filme acabam tornando-o ainda melhor.

Na verdade, O LIMITE DA TRAIÇÃO poderia muito bem dar origem a dois filmaços. O primeiro deles, claro, seria sobre o confronto entre Jack e Cash, que cresceram juntos e foram separados pelos lados opostos da lei. Já o segundo filme seria sobre a unidade especial secreta e sua operação impecavelmente organizada para chegar até o traficante.

Com duas tramas tão complexas se entrelaçando, infelizmente sobraram algumas pontas soltas. O personagem de Powers Boothe não aparece nem é tão desenvolvido quanto poderia ser. Ainda mais por ser um vilão "de responsa", sempre vestido de terninho branco e cheirando cocaína à la Tony Montana.

A apresentação do vilão é simplesmente brilhante: Cash pega um escorpião (de verdade!) com os dedos e fica brincando com ele antes de esmagá-lo com a própria mão - diz a lenda que um bichinho real foi esmagado pelo próprio Boothe!!!


A verdade é que os personagens e situações são tão interessantes que o filme parece até curto demais. Eu adoraria ver mais aventuras com o ranger Jack Benteen, interpretado por um fantástico Nick Nolte.

O herói é tão casca-grossa que não dá um único sorriso durante o filme inteiro, disparando frases feitas como "Eu não entrego minha arma sem que alguém se machuque", ou "Se você cruzar a fronteira, seu rabo é meu!". Perto dele, o McQuade de Chuck Norris não passa de um "aspira".

E eu também gostaria de ver mais do "esquadrão-zumbi" liderado por Ironside, tão organizado que faz com que dois de seus integrantes sejam presos apenas para descobrir a quantidade de telefones e de armas na delegacia da cidade! Como eu expliquei lá em cima, as motivações dos soldados não ficam bem claras até o final, mas achei muito interessante a idéia de militares simularem a própria morte para compor uma unidade secreta de combatentes. E os seus integrantes também fazem aquele tipo durão casca-grossa.


Como frase antológica pouca é bobagem, O LIMITE DA TRAIÇÃO ainda tem mais uma invejável coleção de pérolas, que deveria fazer os roteiristas de hoje terem um pouco de vergonha na cara. Entre elas, "A única coisa pior que um político é um pedófilo", ou "Música! E que seja boa, senão eu fuzilo a banda inteira!", ou "Estamos na Era Espacial e fomos presos por um cowboy da Idade da Pedra!". Ou o belíssimo "chega-pra-lá" que Nolte dá em Ironside:

- Eu espero alguma cooperação...
- E eu espero que você saia do meu caminho!


A única coisa inexplicável é o título nacional: afinal, qual é O LIMITE DA TRAIÇÃO numa história em que praticamente todo mundo fica se traindo? Mais interessante é o título original, "Extreme Prejudice", tirado da missão da unidade liderada pelo major Hackett: "Terminate [Cash Bailey] with extreme prejudice".

Com todas essas qualidades, e mais os sangrentos tiroteios que praticamente chacinam o elenco inteiro até a conclusão (lembre-se que estamos nos exagerados anos 80, e não no "politicamente xaropento" século 21), O LIMITE DA TRAIÇÃO é um daqueles Filmaços com F maiúsculo, um tesouro perdido nas nossas videolocadoras (só saiu em VHS pela Transvídeo, cuja capinha traz um resumo da trama repleto de erros, comprovando que nem a própria distribuidora entendeu a história).


Alguém deveria relançar o filme urgentemente em DVD, e principalmente em widescreen, que valoriza ainda mais a belíssima fotografia em cores quentes (lembrando, mais uma vez, os westerns). E como talento pouco é bobagem, a trilha sonora é assinada por ninguém menos que Jerry Goldsmith.

Assim, se o que você procura é uma aventura que tenha a frase "filme para meninos" estampada em cada fotograma, O LIMITE DA TRAIÇÃO é a melhor escolha, uma reunião de sujeitos durões que não faz feio em comparação a, por exemplo, "Sete Homens e um Destino" (que tinha Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen, Robert Vaughn, James Coburn E Charles Bronson) ou "Os Doze Condenados" (com Lee Marvin, Ernest Borgnine, Jim Brown, John Cassavettes, George Kennedy, Telly Savallas, Donald Shuterland E Charles Bronson de novo!).

E vale conhecer o filme agora até como uma preparação para "o grande filme de macho" dos últimos tempos, que estréia em 2010: "Os Mercenários", dirigido por Sylvester Stallone, que trará a explosiva combinação, num mesmo filme, de Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Eric Roberts, Mickey Rourke, Bruce Willis, Gary Daniels E Arnold Schwarzenegger!!! Ainda bem que testosterona não é uma substância ilegal (e só faltou mesmo Chuck Norris e Van Damme para completar a festa!).

Trailer de O LIMITE DA TRAIÇÃO



Teaser trailer de O LIMITE DA TRAIÇÃO


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Extreme Prejudice (1987, EUA)
Direção: Walter Hill
Elenco: Nick Nolte, Powers Boothe,
Maria Conchita Alonso, Michael
Ironside e Clancy Brown.



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