OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA (1982)
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OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA (1982)



Em 1982, inspirado pelo sucesso de "Os Caçadores da Arca Perdida", de Steven Spielberg, o italiano Antonio Margheritti (1930-2002) resolveu fazer suas própria versão das aventuras de Indiana Jones - que, por sua vez, eram inspiradas nos exóticos seriados de aventura exibidas nas matinês dos cinemas norte-americanos durante as décadas de 40 e 50. Num período relativamente curto, entre 82 e 84, Margheritti rodou nada mais, nada menos do que três (!!!) aventuras baratas nas Filipinas, todas elas envolvendo caçadas a tesouros repletas de perigos e aventuras que fariam o próprio Spielberg ficar orgulhoso.

Dos três filmes - todos assinados com o pseudônimo do diretor, Anthony M. Dawson -, apenas o primeiro, OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA (1982), foi lançado no Brasil (no saudoso formato VHS, pela Look Vídeo); os demais são "Ark of the Sun God" (1983) e "Jungle Raiders/La Leggenda del Rubino Malese" (1984), e o leitor pode observar que até os títulos dos dois primeiros são, digamos, "inspirados" no sucesso dirigido por Spielberg. Isso sem mencionar o fato de Margheritti tentar criar uma ligação entre OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA e "Os Caçadores da Arca Perdida" através da mentirosa frase no pôster italiano de cinema, que dizia: "A grande aventura continua...". É, esses caras não tinham vergonha na cara!


Descontando o fato óbvio de que nenhuma das três aventuras chega aos pés de qualquer um dos filmes verdadeiros de Indiana Jones, ainda assim estas investidas de Margheritti nos filmes de "caça ao tesouro" são bastante divertidas, comprovando que tanto o diretor quanto seus roteiristas fizeram bem a lição de casa, copiando com maestria os lances de mistério, suspense e perigo das histórias do arqueólogo interpretado por Harrison Ford. Principalmente este primeiro filme, que, não satisfeito em "buscar inspiração" no sucesso de "Os Caçadores da Arca Perdida", ainda copia pelo menos três cenas na íntegra do filme de Spielberg!

O roteiro escrito por Tito Carpi (autor da maioria das amalucadas aventuras italianas daquela época) começa, como não poderia deixar de ser, durante a Segunda Guerra Mundial - afinal, o filme de Spielberg também se passa nesta época -, no ano de 1944, nas Filipinas. Dois colegas aliados, o soldado norte-americano Bob Jackson (interpretado por David Warbeck) e o oficial da Inteligência Britânica David Franks (John Steiner), se preparam para uma missão arriscadíssima: invadir uma base japonesa e eliminar um agente duplo traidor, Yamato.


Após uma série de tiros e explosões, eles descobrem que Yamato fugiu de avião levando consigo um misterioso baú. E, claro, roubam um segundo avião dos japas para perseguir seu alvo. Corta para cenas filmadas com miniaturas, bem ao gosto do diretor Margheritti (que também era um especialista em efeitos especiais), e o avião onde está Yamato acaba caindo bem no meio da selva. Como não há lugar para pousar, Jackson é obrigado a saltar de pára-quedas para perseguir o agente duplo, mas não consegue pôr as mãos no dito cujo: ele acaba morto, crivado por inúmeras setas venenosas disparados pelos agressivos índios da região (na primeira cena copiada de "Os Caçadores da Arca Perdida"), e o conteúdo misterioso do baú finalmente é revelado: trata-se da estatueta de uma serpente em ouro maciço.

Entretanto, Jackson não tem tempo para recuperar o artefato, pois ele também é atingido por um dos dardos dos índios e cai no rio, sobre um monte de galhos secos, sendo salvo da execução sumária por uma garota branca que vive entre os índios!

Um ano depois, nosso herói vive como soldado desertor e tenta esquecer aquela experiência de quase morte na selva. Mas é procurado pelo colega Jackson, que não revia desde a operação fracassada, e este lhe informa que ambos receberão uma bolada do governo inglês caso retornem para o local da queda do avião de Yamato e recuperem a serpente dourada, atualmente em poder da tal tribo - os Amoks. Os oficiais até explicam a necessidade de o artefato ser recuperado (para supostamente apaziguar os ânimos de outras tribos do país), mas a justificativa não convence e parece mais uma desculpa para que a dupla de heróis possa iniciar a tradicional caça ao tesouro.


E como complicação pouca é bobagem, também entram na trama um arqueólogo norte-americano, Greenwater (Luciano Pigozzi, creditado com o pseudônimo Alan Collins), que está em busca de um tesouro supostamente guardado pelos Amoks, e uma bela garota (Almanta Suska) procurando pela sua irmã gêmea, que desapareceu justamente naquela parte da selva - e, sim, é a tal garota branca que salvou Jackson da morte no início do filme!

Para piorar, os Amoks têm gente infiltrada por toda parte, e índios pouco pacíficos passam o filme inteiro atacando os heróis quando eles menos esperam - a cena mais absurdamente divertida é aquela em que um índio entupido de drogas alucinógenas ataca Jackson com um facão e resiste firme a uns 20 tiros, caindo morto apenas quando leva um balaço na cabeça, tipo zumbi do George Romero!


OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA atira para todos os lados na sua tentativa de imitar as aventuras fantásticas de Indiana Jones (até aquele momento, o personagem ainda não havia dado origem a uma série de filmes). Tem cenas de guerra, explosões e tiros; tem perseguições em aviões, veículos e até ônibus; tem caminhadas pela selva, ataques de animais venenosos (como cobras e tarântulas) e índios violentos; tem lanças, flechas e dardos envenenados; tem o clássico clichê de garota civilizada criada entre os índios e procurada pela família; tem traições a cada cinco minutos; tem sacrifícios humanos e rinha de galo (!!!), toques sobrenaturais e até uma caverna repleta de lava incandescente numa montanha que, na verdade, é um vulcão! Acho que, em matéria de clichês dos filmes de aventura, só faltou mesmo areia movediça e um lago infestado de jacarés (ou piranhas), pois o resto está tudo aí. Uma coisa é certa: como sofre um Indiana Jones italiano...

E nas outras duas cenas copiadas do filme do Spielberg, a mocinha é seqüestrada pelos Amoks bem no centro comercial da vila e levada enrolada dentro de um tapete, sendo seguida por Jackson (tipo aconteceu com Marion e Indiana Jones em "Os Caçadores da Arca Perdida"); finalmente, o herói e aprisionado e atirado, junto com a mocinha, dentro de um poço repleto de serpentes venenosas, que não fica nada a dever ao Poço das Almas do Spielberg (embora com bem menos cobras, já que o orçamento não permitia algo semelhante ao que fez Spielberg!).


Claro que OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA nunca tenta ser mais do que é: uma versão (ou seria cópia?) barata de "Os Caçadores da Arca Perdida", filmada em apenas quatro semanas e mais centralizada na ação e no improviso do que nos efeitos especiais milionários da produção norte-americana. A pobreza fica evidente principalmente nas cenas em que aviões e cenários são substituídos por miniaturas para serem explodidos. Num dos momentos mais constrangedores, um avião de carga que cai na selva é logo substituído pela carcaça de um velho teco-teco!!!

Na falta do dinheiro do filme de Spielberg, e da atuação imortal de Harrison Ford como Indiana Jones, sobram algumas ótimas cenas de ação e a química quase perfeita e bastante engraçada entre David Warbeck e John Steiner, como parceiros de aventura que vivem se cutucando - após salvar Warbeck de três nativos que estavam quase matando-o, Steiner resmunga, impaciente: "Mas não posso deixar você sozinho por cinco minutos?".

Pessoalmente, acho o neozelandês Warbeck (já falecido) um dos melhores "heróis de ação" do cinema italiano; ele é carismático e convence como clone de Indiana Jones, mesmo sem ser tão erudito quanto o dr. Henry Jones (já que aqui é um soldado metido a valentão, e não um arqueólogo aventureiro). Já Steiner, normalmente visto no papel de vilão, está bastante engraçado.


Embora o final deixe as portas escancaradas para novas aventuras arqueológicas de Bob Jackson e David Franks, é uma pena que o diretor Margheritti não os tenha trazido de volta numa outra aventura. Tanto David Warbeck quanto John Steiner voltariam, sob o comando do diretor, na segunda cópia de Indiana Jones, "Ark of the Sun God", feita no ano seguinte, mas infelizmente interpretando personagens diferentes e sem relação com os que caçaram a serpente dourada. Não que OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA tivesse potencial para virar franquia, mas seria divertido ver a dupla de heróis em mais aventuras.

E se a "relíquia arqueológica" da versão italiana é meio sem graça, chega a ser irônico o fato de "Indiana Jones e o Templo de Perdição", feito dois anos depois (1984), trazer várias semelhanças com a trama do filme de Margheritti: o arqueólogo norte-americano também procura uma relíquia bem sem graça (as pedras Sankara) junto a uma tribo de índios violentos (como os Amoks de Margheritti) que fazem sacrifícios humanos em lava incandescente (como no filme italiano).

Claro, as semelhanças param por aí. Mas dá uma bela idéia do que os pobres cineastas italianos, como Margheritti, poderiam fazer se tivessem um orçamento digno de Spielberg para filmar suas aventuras.

Trailer de OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA



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Il Cacciatori del Cobra d'Oro/The Hunters
of the Golden Cobra (1982, Itália)

Direção: Anthony M. Dawson (Antonio Margheritti)
Elenco: David Warbeck, John Steiner, Almanta
Suska, Alan Collins (Luciano Pigozzi), Protacio
Dee, Rene Abadeza e Domiziano Arcangeli.



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