REMO - DESARMADO E PERIGOSO (1985)
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REMO - DESARMADO E PERIGOSO (1985)



No estranho mundo do cinema, é comum que filmes que não foram originalmente pensados para ganhar continuações se transformem em séries intermináveis ("Sexta-feira 13", "Jogos Mortais", "A Colheita Maldita", "Rambo", "Rocky", "Duro de Matar", "Tubarão", "Psicose", "Grito de Horror"...), graças ao sucesso de bilheteria do original. Por outro lado, isso raramente acontece com aquelas produções geradas desde o princípio para se tornarem extensas franquias - com exceções óbvias, como as séries do James Bond e do Harry Potter.

Alguns exemplos: o pavoroso "A Reconquista" (2000) devia dar origem a uma série de adaptações dos livros de L. Ron Hubbard, assim como "Duna" (1984), de David Lynch, era para ter virado uma franquia inspirada na obra de Frank Herbert, mas o fracasso comercial das duas milionárias produções acabou cancelando os planos.


O mesmo aconteceu mais recentemente com as adaptações literárias "A Bússola de Ouro" (2007), baseado na obra de Philip Pullman, e "Eragon" (2006), baseado nos livros de Christopher Paolini. Embora ambos terminem com ganchos escancarados para seqüências (já que a história continua nas aventuras seguintes dos livros), estes novos filmes provavelmente jamais serão produzidas - e quem quiser saber como termina vai ter que ler os livros!

E há um outro exemplo famoso que pouca gente lembra de citar: em 1985, o produtor Larry Spiegel adquiriu os direitos de um famoso título de livros "pulp" de aventura - a série "The Destroyer", criada por Warren Murphy e Richard Sapir -, e achou que o material poderia render uma ótima série de filmes de ação.

Por isso, não economizou na publicidade e nem na produção, chamou Guy Hamilton (que dirigiu vários filmes do 007) para a direção e torrou 40 milhões de dólares (uma fortuna para a época) construindo cenários grandiosos, como uma réplica da Estátua da Liberdade. Nascia "Remo Williams - The Adventure Begins", no Brasil rebatizado REMO - DESARMADO E PERIGOSO.


O que ninguém poderia prever é que o filme iria bombar violentamente nas bilheterias. Nos EUA, por exemplo, arrecadou míseros 17 milhões de dólares (menos da metade do que custou!), abortando os planos de Spiegel de fazer uma longa série de filmes (e assim o subtítulo original, "A Aventura Começa", tornou-se até irônico, já que a aventura começou e nunca continuou!).

"The Destroyer", a série de livros, conta a história de um super-agente do governo, Remo Williams, que pertence a uma organização secreta chamada CURE. Nos seus mais de 140 livros publicados lá nos EUA, Remo enfrentou tenebrosas conspirações, planos maléficos e poderosos inimigos humanos e super-humanos.

No cinema, entretanto, a única aventura de Remo Williams é fraquinha, fraquinha, sem vilões memoráveis, cenas de ação interessantes ou fôlego para manter-se por outras cento e tantas histórias, como aconteceu na literatura.


O roteiro de Christopher Wood começa contando a origem do nosso herói, que ocupa praticamente os primeiros 50 minutos do filme! Mostra-se didaticamente como um policial durão de Nova York, Samuel Edward Makin (interpretado por Fred Ward, fisicamente parecido com Robert DeNiro), foi selecionado pela CURE para tornar-se agente secreto, devido à sua experiência no Vietnã.

A organização simula a morte do policial e realiza uma série de operações plásticas para mudar seu rosto (a bem da verdade, só o que fazem é cortar seu bigode e aparar o cabelo!), e nasce o "novo" Remo Williams. O próximo passo é treiná-lo numa arte marcial milenar (e fictícia) chamada Sinanju, cujos benefícios incluem matar com um simples toque dos dedos e desviar-se magicamente de tiros disparados à queima-roupa (simplesmente escutando o som do dedo pressionando o gatilho, ou algo do gênero).


Remo precisa encarar um duro e rigoroso treinamento à la Pai Mei com o mestre Chiun (o ator norte-americano Joel Grey, com uma fantástica maquiagem de velhinho oriental), até finalmente estar apto para a ação.

E é aí que reside o principal problema de REMO - DESARMADO E PERIGOSO: a primeira parte do filme, com o treinamento e o bem-humorado relacionamento de amor e ódio entre Remo e Chiun, é ótima; porém, quando o herói finalmente parte para a sua primeira missão (relacionada, veja só que emocionante, ao desvio de verbas governamentais e à venda de armas defeituosas para o Exército americano), o filme naufraga graças a uma trama bisonha que não tem nem ao menos vilões interessantes (eles são políticos e empresários corruptos, ora bolas!).

Até tentaram criar um capanga excêntrico com um diamante no dente, provavelmente para tentar imitar aquele climão bizarro dos vilões da série James Bond, mas sem melhores resultados, e nem mesmo a presença do sinistro Michael Pataki, vilão de inúmeros filmes B, ajuda.


Assim, é o extremo oposto, por exemplo, da aventura de estréia do agente 007, "O Satânico Dr. No", que já conseguia deixar o público ávido por novos filmes com o personagem. No caso de REMO - DESARMADO E PERIGOSO, se a idéia também era criar uma grande série, o primeiro filme mostrou-se um péssimo aperitivo para o que viria pela frente, motivo pelo qual a franquia foi abortada antes mesmo de começar!

Os problemas também passam pelo elenco, já que Fred Ward tem uma carranca que combina melhor com papéis de vilão do que de herói. Ele certamente não foi a melhor escolha para viver um super-agente como Remo Williams, nem convence nas (fraquinhas) cenas de ação ou luta. E como a grande especialidade do herói é desviar-se de balas (à la Neo em "Matrix", mas sem efeito bullet time), o truque logo acaba sendo repetido em demasia. Afinal, qual é a graça de você ter um herói treinado para paralisar e matar com um simples toque dos dedos, e até caminhar sobre a água (Jesus Cristo style!), se ele raramente usa estas habilidades contra os vilões?

Não vou ser injusto, até há alguns bons momentos aqui e ali, como a luta de Remo contra uns capangas em plena Estátua da Liberade - que, na época, estava rodeada de andaimes, durante um processo de restauração do monumento.


Ver o herói saltando de um lado para o outro no topo da gigantesca estátua até dá alguma esperança (até porque usam dublês em cenas perigosíssimas, não CGI, como hoje), mas o filme segue ladeira abaixo e o restante é pura rotina, incluindo deslocados momentos nonsense como o cão de guarda "inteligente" que persegue o herói equilibrando-se até sobre um fio de eletricidade!

Para mim, a única coisa boa de REMO - DESARMADO E PERIGOSO é o treinamento do nosso herói, com a "amigável" e engraçadíssima troca de insultos entre Remo e Chiun, um sábio oriental apaixonado pelas novelas americanas (!!!), e as bizarras estratégias utilizadas pelo mestre para treinar seu discípulo (uma das tarefas do aprendiz é encarar uma voltinha de roda-gigante PELO LADO DE FORA do brinquedo!).


E se a produção tem algum mérito, este certamente é a maquiagem de Carl Fullerton, que conseguiu transformar o ator ocidental que fez "Cabaret" em velhinho oriental. A perfeição do trabalho rendeu ao filme indicações para o Oscar de Melhor Maquiagem (a estatueta ficou com "Marcas do Destino") e para o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, que Joel Grey perdeu para Klaus Maria Brandauer em "Entre Dois Amores". Mas cá entre nós, vai entender porque colocaram um branquelo no papel de Chiun ao invés de contratar um veterano ator oriental para o papel...

Quando o filme naufragou nas bilheterias, o teimoso produtor Spiegel não desistiu e tentou levar seu herói para outro formato, a TV. Assim, em 1988, foi exibido o piloto do seriado "Remo Williams", que teria o desconhecido Jeffrey Meek como Remo e Roddy McDowall como Chiun. Novamente, o resultado foi um fiasco, e nenhum novo episódio foi filmado, encerrando de vez a carreira "fílmica" do agente da CURE. Você pode ver a abertura do fracasso seriado no vídeo abaixo:

REMO, o seriado de TV


É realmente uma pena que tenha faltado competência para concretizar o projeto de uma série de filmes, já que até há algumas coisas boas em REMO - DESARMADO E PERIGOSO, e a própria proposta da série (agente invencível que é uma "arma humana") poderia ser melhorada em futuras seqüências.

Bem-humorados, os autores da série "The Destroyer", Murphy e Sapir, chegaram a ironizar o péssimo resultado do filme em suas aventuras literárias!

Falou-se, há algum tempo, em um remake de REMO - DESARMADO E PERIGOSO, que retomaria a trajetória cinematográfica de Remo Williams do zero, com maior fidelidade ao teor dos livros; em outra palavras, criando aventuras amalucadas e exageradas à la James Bond, agora que o próprio Bond ganhou um tom mais realista e menos fantasioso.

Entretanto, como não saíram novas notícias sobre o projeto desde então, Remo continua desarmado, perigoso e morto no cinema - e a "aventura" que "começou" lá em 1985 parece bem longe de ter continuidade.

Trailer de REMO - DESARMADO E PERIGOSO


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Remo - Desarmado e Perigoso (Remo
Williams: The Adventure Begins, 1985, EUA)

Direção: Guy Hamilton
Elenco: Fred Ward, Joel Grey, Wilford
Brimley, J.A. Preston, George Coe,
Kate Mulgrew e Michael Pataki.



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