ROBOT HOLOCAUST (1986)
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ROBOT HOLOCAUST (1986)



- Ok Larry, nosso primeiro filme, "Ligadas pelo Desejo", foi um sucesso e um grande estúdio quer produzir o próximo. Você tem alguma ideia?
- Na verdade não, Andy. Gastei toda a minha criatividade escrevendo "Ligadas pelo Desejo" e agora só consigo pensar na minha cirurgia de mudança de sexo.
- Então por que nós não reaproveitamos a trama de algum filme toscão que ninguém viu e vendemos ao mundo como algo visionário?
- Genial, cara! Lembra de um lixo chamado "Robot Holocaust", cuja fita eu comprei numa promoção da Blockbuster? Pois eu acho que podemos tirar algo interessante desse negócio...


Dificilmente a gênese de "Matrix" (1999) foi assim, e talvez os irmãos Andy e Larry (atualmente Lana, pós-mudança de sexo) Wachowski nunca tenham assistido ROBOT HOLOCAUST em suas vidas.


Mas é muito engraçado rever hoje esse lixo atômico da Era "Direct-to-Video" e perceber "coincidências" muito suspeitas entre os dois filmes - sem contar, é claro, que um custou 63 milhões de dólares, e o outro parece ter sido produzido com menos de um salário mínimo.

ROBOT HOLOCAUST é tão ruim, mas tão ruim, que tem um charme todo especial - um "Filme para Doidos" em sua mais pura essência. Chegou a ser exibido na TV brasileira, no extinto Cine Trash, com um título enganoso ("Mutantes Carnívoros"!!!), por causa de uma única cena. Mas nunca chegou a ganhar lançamento oficial em VHS ou DVD, nem passou pelos cinemas brasileiros na época (e olha que em 1986 passava cada porqueira nos cinemas brasileiros...).


A origem dessa tralha é muito divertida: em 1986 (portanto 13 anos ANTES de "Matrix"), aquelas aventuras pós-apocalípticas baratas realizadas pelos italianos, como "1990 - Os Guerreiros do Bronx" e "O Guerreiro do Mundo Perdido", estavam fazendo muito sucesso nos cinemas de bairro dos Estados Unidos. Assim, o produtor norte-americano Charles Band, que não era bobo nem nada, resolveu fazer o caminho inverso: produzir uma aventura pós-apocalíptica barata 100% ianque para depois exportá-la para a Itália, onde o subgênero fazia muito sucesso!

(Ou, em outras palavras, dar aos italianos a chance de provar o gostinho do próprio remédio; nesse caso, uma aventura pós-apocalíptica tosca como as que os estúdios da Itália mandavam para os Estados Unidos!)


Não existem fontes para relatar se a estratégia deu certo, mas ROBOT HOLOCAUST chegou a ser exibido nos cinemas italianos (com o título "I Robot Conquistano il Mondo"), embora tenha sido lançado direto em vídeo no resto do mundo, inclusive no país em que foi produzido.

E com justiça, já que o filme é um trashão dos mais constrangedores - mas, ao mesmo tempo, bastante divertido em todas as suas falhas. Até o próprio Ed Wood teria vergonha de assinar esse negócio (e talvez isso explique porque Band tirou seu nome dos créditos)!


ROBOT HOLOCAUST começa com uma colagem de cenas do "fim da civilização" (na verdade, uns prédios semi-demolidos na periferia de Nova York e um único esqueleto atirado no chão). Sobre essas cenas, uma narração pessimista anuncia: "A última cidade permanece de pé. Foi só o que restou da civilização de New Terra (!!!). A sociedade foi destruída durante a Rebelião dos Robôs de 2033, quando bilhões de robôs se voltaram contra seus mestres. O caos resultou num vazamento radioativo, muito mais mortal que qualquer explosão atômica. E o mundo caiu de joelhos diante do... HOLOCAUSTO DOS ROBÔS!".

(Ainda aqui? Então vamos em frente!)


Pois nesse mundo pós-apocalíptico pobretão rebatizado New Terra, os poucos seres humanos sobreviventes são dominados por robôs e governados por uma entidade maligna chamada "The Dark One". O vilão controla a humanidade porque tem poder sobre o oxigênio contaminado do planeta: enquanto as pessoas lhe obedecem, ele mantém o ar purificado; ao menor sinal de revolta, desliga os filtros e todo mundo começa a sufocar com o ar contaminado!

Mas e por que Dark One não mata logo todos os humanos de uma vez, desligando seu maravilhoso purificador de oxigênio? Ahá: é que aqui, como em "Matrix", os robôs usam as pessoas para gerar a energia necessária para manter sua fortaleza, uma usina de força que, na verdade, não passa de uma fábrica antiga e abandonada.

Não bastasse tudo isso, Dark One também promove lutas de gladiadores entre os sobreviventes (!!!), fazendo com que se matem entre si. Belo mundo para se viver, não?


Felizmente, o reinado das máquinas está perto do fim. Eis que surge na última cidade humana um guerreiro errante chamado Neo (!!!), "interpretado" por Norris Culf no primeiro dos três trabalhos da sua "filmografia".

Neo tem poderes telepáticos e é imune ao gás venenoso da atmosfera, logo não pode ser escravizado pelos robôs. Ele pretende destruir Dark One e seu séquito de autômatos, e para isso se une a uma trupe de esfarrapados de fazer inveja ao Branceleone: tem Klyton, robô chato que copia C3PO (J. Buzz Von Ornsteiner); Deeja (Nadine Hartstein), filha de um cientista raptado por Dark One; e dois sobreviventes do fim do mundo que não viverão mais muito tempo, portanto é inútil querer lembrar seus nomes.


No início de sua jornada até a fortaleza das máquinas, nossa Aliança Rebelde (pffff!) passa por uma floresta (???) e tem um encontro nada amistoso com uma tribo de Amazonas (???). Sua rainha, Nyla (Jennifer Delora), aprisiona homens para fins reprodutivos e arranca suas línguas para que não possam ficar de lero-lero (e eu que sempre pensei que as mulheres fossem a "parte falante" do casal).

Após rápida batalha, Nyla é vencida e junta-se ao incrível exército de Brancaleo... ops... Neo. Com eles também parte Kai (Andrew Howarth), o último homem preso e abusado pelas Amazonas, e que certamente deve ter ficado bem contente de abandonar a rotina de escravo sexual de belas garotas para juntar-se a um grupo de heróis fuleiros!


A jornada da trupe até os domínios de Dark One será repleta de perigos, incluindo o ataque de mutantes e a visita a uma caverna onde vivem gigantescos vermes que saem das paredes - na verdade fantoches de braço inteiro, mas ainda assim essa é a MELHOR PARTE DO FILME!

Mais adiante, já na usina de força, enfrentarão uma terrível aranha gigante (por causa do orçamento reduzido, foi possível mostrar apenas uma única pata da bicha!!!) e, finalmente, os robôs malvados, entre eles Torque (Rick Gianasi, o "Sgt. Kabukiman N.Y.P.D." da Troma!) e a gata Valaria (Angelika Jager, primeiro e último filme), robô que inexplicavelmente tem a forma de uma loira vagaba! Além, é claro, do próprio Dark One.

"Não temos dinheiro para uma aranha gigante inteira!



ROBOT HOLOCAUST foi escrito e dirigido por Tim Kincaid (nome de batismo: Tim Gambiani). Pela pobreza e pelo estilo, o que parece é que estamos vendo as cenas "entre trepadas" de algum daqueles antigos filmes pornôs com historinha. Até atores e atrizes têm jeitão de hardcore - a única diferença é que eles nunca trepam!

A explicação para isso pode estar na filmografia pregressa de Kincaid: entre 1976 e 1985, ele realmente dirigiu X-Rated - no caso, pornôs gays! -, usando os pseudônimos Joe Gage e Mac Larson. Entre os títulos, "Oil Rig" e "Closed Set" 1 e 2.


A partir de 1986, com o WIP "Bad Girls Dormitory" e este ROBOT HOLOCAUST, Kincaid ganhou certa notoriedade como diretor de produções extremamente baratas e ruins - num nível muito abaixo de outros caras do terceiro escalão da época, como Fred Olen Ray e Jim Wynorski.

Outros "clássicos" assinados por ele, e lançados em vídeo no Brasil pela extinta Top Tape, são "Mutant Hunt - O Exterminador de Humanóides" e "Breeders - A Ameaça de Destruição". Quem já viu qualquer um deles, sabe bem o que esperar de ROBOT HOLOCAUST...

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que a pobreza da produção é tão grande que o diretor chega ao cúmulo de usar desenhos para representar o exterior da fortaleza do vilão (sem nem ao menos tentar disfarçar). E para um mundo que foi dominado por "bilhões de robôs", segundo a narração do início, é até engraçado o fato de os heróis enfrentarem todo tipo de ameaça (Amazonas, mutantes, vermes carnívoros, aranhas gigantes...), MENOS robôs!!!


Vai ver que as roupas de robôs eram muito caras para a mixaria que o filme deve ter custado. Seja como for, tudo o que vemos de "robótico" num filme chamado ROBOT HOLOCAUST são Klyton e Torque, e ambos não passam de atores usando máscaras inexpressivas que não mexem nem os olhos; há ainda dois robozinhos secundários que surgem numa ceninha de cinco minutos, e Valaria, em forma humana durante a maior parte do filme, até ficar com metade do rosto cibernético exposto à la "O Exterminador do Futuro"!

Os cenários, então, são de chorar. Se na introdução Kincaid usou umas casas demolidas e/ou em construção para simular o apocalipse, o restante da aventura se passa num único lugar, a tal fábrica abandonada que é o covil de Dark One e seu reduzidíssimo exército robótico (fico me perguntando onde estarão os bilhões de outros robôs que se revoltaram contra a humanidade...).


E em algumas poucas cenas, quando vemos os heróis caminhando pela "paisagem desolada" do futuro pós-apocalíptico, os atores estão simplesmente zanzando por um parque, sem a menor vergonha na cara, enquanto a câmera fica na altura do chão para esconder o movimento de pessoas e o tráfego de automóveis nas redondezas - só não consegue esconder os edifícios intactos no horizonte, mas aí já é outro problema!

Dê só uma sacada nesse still de divulgação abaixo para ter uma ideia de como é a coisa, embora a fotografia faça o filme parecer bem melhor do que realmente é...


Num filme chamado ROBOT HOLOCAUST, também seria correto esperar por emocionantes duelos entre humanos e robôs, certo? Errado! Como já disse, temos míseros quatro robôs em cena (cinco, contando com a "quase humana" Valaria), e apenas dois deles fazem uso de armas laser (!!!). Assim, na maior parte do tempo, o que vemos são heróis e vilões robóticos lutando com... ESPADAS!!!

Exato: estamos no futuro, os vilões são robôs tecnologicamente evoluídos (em teoria), mas todo mundo usa espadas para lutar, como se fossem bárbaros saídos de alguma cópia barata de "Conan"! E vamos combinar que é bem questionável a eficácia do uso de armas brancas contra adversários mecânicos e metálicos...


(Vale ressaltar que Klyton, o chatíssimo robô "do bem", tem uma arma laser, mas raramente a utiliza. Afinal, se o fizesse, o restante do grupo não precisaria utilizar suas espadas contra mutantes, vermes e outros robôs, e aí o filme ficaria ainda mais curto do que os seus parcos setenta e poucos minutos.)

Já o roteiro do próprio Kincaid tem mais furos que a fachada de uma residência iraquiana. No começo do filme, o herói Neo usa telepatia para conversar com Klyton, e sabe-se lá como é que poderes mentais atuam num cérebro eletrônico. O mesmo Klyton mais tarde aparece dormindo - não desativado nem desligado, mas deitado e dormindo mesmo, só faltou roncar! Ah, também tem uma cena em que Neo sufoca um robô usando uma corrente. Opa, peraí: como você pode sufocar um negócio que nem respira? Bem, considerando que eles também dormem...


Mais: nunca é explicado o motivo para Dark One, uma máquina que liderou uma rebelião de robôs, ter como braço direito um andróide em forma de mulher (e vestida com roupitchas de perua!). E o que dizer de um cérebro eletrônico inteligente e desenvolvido o suficiente para dominar o mundo, mas que cria um aparato de auto-destruição na sua própria fortaleza que é acionado por... uma manivela?!? Assim ele não tem como desativá-lo por conta própria, e seu esconderijo só não vai para os ares porque um outro personagem esbarra acidentalmente na tal manivela (!!!) e cancela a auto-destruição quando restam apenas 10 segundos antes da explosão!

Também há muitos outros motivos para rir e fazer piada em ROBOT HOLOCAUST, como os diálogos expositivos criados apenas para tentar corrigir furos de roteiro ("Vocês também aprenderam a suportar o ar contaminado, certo?"), ou o narrador que permanece fazendo comentários redundantes até o final. Ou ainda o dispositivo que Deeja usa para respirar, que fica atrás da sua orelha (deve ser facílimo respirar com aquele cabelão por cima do aparato, não é?).


Ou seja, o filme é tão ruim que acabou ganhando certo culto ainda nos tempos do VHS, e este culto se intensificou - claro! - com a internet. Hoje você encontra sites com análises gigantescas dessa tralha (mais gigantescas do que essa minha, inclusive), e até homenagens à péssima atriz que interpreta Valaria, Angelika Jager, que sumiu do mapa depois desse negócio (ela tem um sotaque estranho, alemão ou francês).

Agora, curioso mesmo é analisar os créditos de ROBOT HOLOCAUST. Tudo bem que a maioria dos "atores" não foi muito longe, mas há exceções como J. Buzz Von Ornsteiner, que "atuou" escondido debaixo da roupa do robô Klyton. Pois após mais alguns filmes ruins, Von Ornsteiner abandonou o cinema e transformou-se numa autoridade em Psicologia (!!!), com direito a participação regular em programas de TV nos Estados Unidos.


E o que dizer do sujeito responsável pelos ridículos cenários pintados do filme, como o quartel-general do vilão? Acredite se quiser, mas trata-se de um tal de Andrew Kevin Walker - que anos depois abandonaria o cine-trash para virar roteirista de "Seven", "Oito Milímetros" e, mais recentemente, "O Lobisomem"!!!

O diretor-roteirista teve menos sorte: após mais alguns anos insistindo em filmes baratos de horror e ficção científica direct-to-video, em 2001 ele voltou ao mercado do pornô gay, onde continua firme (sem malícia!) até hoje, e ainda usando o pseudônimo Joe Gage.


Será que Tim Kincaid gostou de "Matrix" e enxergou as mesmas "coincidências" entre seu filme bagaceiro e aquela superprodução milionária? Boa pergunta, e acho que ninguém teve a boa vontade de entrevistá-lo sobre o caso ainda. Seria engraçado.

Mas além do herói com superpoderes chamado Neo, dos robôs que dominaram o mundo, da atmosfera contaminada, do uso de pessoas para criação de energia e da resistência na última cidade humana, ROBOT HOLOCAUST tem outros dois pontos em comum com a obra dos Irmãos Wachowski (agora Irmão e "Irmã").


O primeiro é a imagem de um ser humano usado como se fosse uma "bateria" por Dark One, preso num casulo bem parecido com aqueles em que os prisioneiros ficam em "Matrix".

O segundo, e mais interessante, é a "Câmara dos Prazeres" utilizada por Valaria em determinada cena do filme. Tá, a cena é gratuitíssima e mera desculpa para mostrar os peitos da atriz, mas o caso é que as máquinas têm essa câmara onde podem entrar para satisfazer seus "prazeres ocultos", entrando num universo de realidade virtual onde tudo é lindo e maravilhoso, bem diferente daquele mundo pós-apocalíptico em que vivem.

Ora, mas na essência não soa como uma versão pré-histórica da própria Matrix?


São muitos elementos em comum, mas as coincidências entre ROBOT HOLOCAUST e "Matrix" ficam só nesses elementos parecidos. Pois é óbvio que a aventura dos Wachowski é muito melhor em todos os sentidos (e aqui estou falando do "Matrix" original, pois as duas sequências são umas bombas atômicas!).

De qualquer forma, porcarias como essa do Tim Kincaid tem pelo menos uma qualidade além do fator trash e das gargalhadas que proporcionam: depois que você vê um longa-metragem pós-apocalíptico rodado por mixaria em pleno centro de Nova York, sem que sequer tenham sido produzidos cenários ou figurinos decentes, dá a maior vontade de fazer o seu próprio filme pós-apocalíptico caseiro!


E essa mágica "do it yourself" é algo que "Matrix", por exemplo, não tem. Porque você precisa de 100 milhões de dólares para fazer algo como "Matrix", mas definitivamente não precisa de mais do que mil reais para rodar algo semelhante a ROBOT HOLOCAUST.

Portanto, divirta-se com as aventuras de Neo e sua trupe de esfarrapados, com os robôs que vestem fantasias de carnaval, e aprenda com Kincaid como fazer um filme inteiro dentro de uma única fábrica em ruínas. Daí para bolar a sua própria aventura estrelada pelos amigos é só um pulinho!

PS: Não se espante se perceber uma qualidade absurda na trilha sonora do filme, qualidade esta que é inexistente em todos os outros departamentos da obra. Acontece que o produtor Charles Band "emprestou" para os realizadores músicas de um velho filme que produziu, "Laserblast - Alienígenas na Terra" (1978), compostas por Richard Band e Joel Goldsmith.

Monstros-fantoches + mutantes!



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Robot Holocaust (1986, EUA)
Direção: Tim Kincaid
Elenco: Norris Culf, Nadine Hartstein, J. Buzz Von
Ornsteiner, Jennifer Delora, Andrew Howarth,
Angelika Jager e Rick Gianasi.



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