RUAS SELVAGENS (1984)
Filmes Legais

RUAS SELVAGENS (1984)



Existem duas formas de assistir RUAS SELVAGENS...

A primeira é levando a sério e tentando analisar o filme pela sua mensagem sócio-cultural, ou pelos seus méritos enquanto "produto cinematográfico". Se você cair na burrada de fazer isso, prepare-se para sofrer graves danos cerebrais provocados pelo roteiro estúpido, pelas péssimas interpretações, pelos diálogos incrivelmente toscos e pelo excesso de apelação - incluindo nudez gratuita e violência explícita.

A outra forma é justamente desligando o cérebro e curtindo tudo isso que, para cinéfilos "sérios", não presta. Azar o deles, pois o meu ideal de diversão é exatamente ver Linda Blair com os melões de fora num filme sobre estupro, vingança e gangues de delinquentes juvenis. E, nesse contexto, RUAS SELVAGENS dá um brilhante "Filme para Doidos", com tudo aquilo que os assíduos frequentadores do blog tanto gostam, e muito mais!


O velho Guia de Filmes Nova Cultural até dava a dica: "Prato cheio para quem gosta de sadismo, mulheres nuas, sexismo, piadas chulas, palavrões e vingança pelas próprias mãos". Bem, aí eu pergunto: e quem não gosta de tudo isso? Se o crítico que escreveu isso queria que as pessoas ficassem longe do filme, definitivamente escolheu as palavras erradas!

E vamos combinar que a única forma de ver uma tralha como essa é não levá-la a sério. Afinal, você está diante de um dos quatro filmes dirigidos por Danny Steinman, que já foi saudado como um dos piores cineastas de todos os tempos – e, dos outros três filmes que ele dirigiu, um é pornô X-Rated e o outro é "Sexta-feira 13 Parte 5 - Um Novo Começo", que quase enterrou a lucrativa série do nosso amigo Jason.


Na verdade, Steinman entrou na produção como tapa-buraco. RUAS SELVAGENS seria inicialmente dirigido por Tom DeSimone, um nome conhecido para fãs de produções exploitation dos anos 1970-80 (era especialista em pornôs gays e filmes de mulheres na prisão, os populares WIP).

DeSimone começou a dirigir, mas desligou-se do projeto após uma semana de filmagens, e Steinman - que era co-roteirista - entrou no seu lugar alguns meses depois. Por causa disso, diversos integrantes do elenco também desistiram e foram procurar outros projetos, como a linda morena Debra Blee (de "Hamburger - O Filme"), cuja personagem simplesmente desaparece da narrativa ainda na metade do filme!


O roteiro de Steinman e Norman Yonemoto parece prestar homenagem àquelas hilárias produções das décadas de 60 e 70 sobre gangues formadas por garotas, como "As Diabólicas Sobre Rodas" (1968), de Herschell Gordon Lewis, e "Faca na Garganta" (1975), de Jack Hill.

Temos, assim, uma gangue de belas jovens que é liderada por Brenda (Linda Blair!!!), e inclui sua irmã surda-muda Heather (a musa trash Linnea Quigley!!!), e suas amigas Maria (Luisa Leschin), Stella (Ina Romeo) e Francine (Lisa Freeman). Essa última está grávida e irá casar com o namorado dentro de alguns dias.


Todas supostamente são adolescentes ainda estudando no colegial, mas "interpretadas" por atrizes que, à época, já eram bem velhinhas para passar por meninas em idade escolar. A própria Linda Blair estava longe dos seus tempos de menina de "O Exorcista", com 25 anos e um respeitável par de peitões!

Seja como for, as meninas vivem se estranhando com os "Scars", uma gangue rival, só de meninos, formada por Fargo (Sal Landi), Red (Scott Mayer) e Vince (Johnny Venocur), e liderada pelo psicótico Jake (Robert Dryer, fantástico de tão exagerado).


Na cena inicial, o conversível em que estão os Scars quase atropela Heather enquanto ela atravessa a rua. Brenda, assumindo o papel de irmã super-protetora, se vinga em alto estilo: ela e sua gangue de meninas roubam o carro dos garotos e o abandonam a alguns quarteirões, depois de enchê-lo de lixo!

Jake resolve dar o troco de forma violenta. Primeiro, ele e os parceiros atacam Heather no ginásio da escola, e a garota nem pode gritar por ajuda. Violentada e brutalmente agredida, ela acaba em coma no hospital. Depois, Jake mata Francine no dia em que ela tinha ido buscar seu vestido-de-noiva. É a gota d'água, e Brenda sai às "ruas selvagens" sedenta de vingança - armada com arco, flechas e armadilhas para ursos!


RUAS SELVAGENS é um daqueles filmes que exalam um brilhantismo "às avessas". Em outras palavras, funcionam justamente pelos motivos errados: você se diverte com as interpretações ruins e/ou exageradas do elenco todo, ao invés de ficar entretido com boas atuações; você ri com as forçadas de barra da narrativa - como o assassinato de Francine, cometido em plena luz do dia, numa avenida movimentada, sem que nenhum dos envolvidos tenha qualquer receio em relação a possíveis testemunhas ou à chegada da polícia -; mas, principalmente, você fica surpreso com a quantidade de apelação dos realizadores, que entregam desde uma longa e detalhada sequência de estupro de uma garota com deficiência até as tradicionais cenas de nudez frontal das garotas tomando banho de chuveiro no banheiro da escola.


Mais do que isso, é impossível ficar sério diante da quantidade de diálogos exageradamente desbocados, que parecem ter sido escritos por garotos da 7ª série - aqueles que adoram mostrar para os amiguinhos que aprenderam palavrões novos e mais cabeludos.

Numa cena, Brenda se refere a um garoto bunda-mole que é apaixonado por ela: "I wouldn't fuck him if he had the last dick on Earth!" (necessita de tradução?). Em outra, a gangue de Jake encara o diretor da escola, que, claro, é interpretado por John Vernon (o grande arquiinimigo dos adolescentes cinematográficos desde "Clube dos Cafajestes"). Lá pelas tantas, um dos garotos dispara algo como "I'm hot, baby", e o diretor valentão responde na lata: "Go fuck an iceberg!". Impossível não rir.


Como RUAS SELVAGENS é aquele típico filme de uma ideia só, e seus realizadores não conseguiriam esticá-la durante 1h30min (o estupro de Heather acontece ainda no primeiro ato), a solução é enrolar o máximo possível com subtramas que nada acrescentam à narrativa, mas que são tão ou mais divertidas do que a situação principal.

Uma dessas subtramas envolve o tal garoto bunda-mole anteriormente citado (aquele para quem Linda Blair não daria nem se fosse o último pinto da Terra) e sua paixão nunca explicada por Brenda. Acontece que o cara já é comprometido, e namora uma loira cheerleader muito mais gatinha que a Linda Blair, Cindy (Rebecca Perle). Como a mocinha acha que é Brenda que está tentando roubar seu namorado, as duas vivem se pegando durante o filme, rendendo as tradicionais cenas de "cat-fight" no chuveiro e no meio da sala de aula, e sempre com direito a muitos peitos de fora.


Outra forma encontrada para matar tempo é mostrar as aulas da meninada rebelde. Uma das cenas mais hilárias do filme é a aula de literatura, quando uma professora gente boa (Judy Walton) tenta ensinar os alunos na marra, nem que seja analisando os poemas cheios de palavrões que eles escrevem.

Claro que tudo isso fica em segundo plano quando Brenda resolve finalmente arregaçar as mangas e partir para o "olho por olho, dente por dente", vingando-se brutalmente dos rapazes que estupraram sua irmã e mataram sua amiga. Aí é aquela típica guerra dos sexos na marra, com uma garota valentona enfrentando caras de igual para igual, fugindo daquele estereótipo de "menininha indefesa" que o cinema adora exibir (hoje menos do que antigamente).


E todo mundo, mas todo mundo MESMO, super-representa, rendendo algumas "interpretações" hilárias. Linda Blair nunca foi reconhecida por ser uma excelente atriz, mas suas caras de zangada são de rolar de rir. E o cara que interpreta Jake, o mais violento dos punks, parece ter saído diretamente da figuração de "The Toxic Avenger" ou algum outro filme da Troma, exagerando nas expressões de insanidade e risadas maléficas à la Dr. Evil, da série "Austin Powers" - é um vilão impossível de levar a sério.

(Não por acaso, em 1986 Linda Blair ganhou o Framboesa de Ouro, aquele prêmio para os piores do mundo do cinema, pela sua péssima interpretação em três filmes da época: este e mais "Prisioneiras da Ilha Selvagem" e "Patrulha Noturna". E olha que o páreo era duro: Linda concorreu com Brigitte Nielsen em "Guerreiros de Fogo" e Tanya Roberts em "007 Na Mira dos Assassinos"!!!)


Mas a verdade é que RUAS SELVAGENS é um daqueles filmes sobre os quais não adianta falar muito. Saia já do FILMES PARA DOIDOS e procure essa preciosidade para ver por conta própria, pois as imagens falam mais do que mil palavras.

É diversão garantida, e duvido que você terá alguma outra sessão de cinema mais engraçada do que esta com qualquer filme lançado em 2012. Com direito a cenas em que você não sabe se ri ou se chora, como esses 15 segundo aqui embaixo:

"Somos apenas bons amigos"



Nesses tempos politicamente corretos até encher o saco, em que uma simples piadinha com as "minorias" provoca a Terceira Guerra Mundial, um filme como RUAS SELVAGENS deixaria muito defensor da moral e dos bons costumes de cabelos em pé.

Afinal, ele prega que o "cool" é ser rebelde, arruaceiro, não levar desaforo pra casa e usar palavrões o tempo inteiro. As "mocinhas" da gangue de Brenda são umas verdadeiras vagabas que só falam em sacanagem o tempo todo, e os estudantes "comportados" e estudiosos da escola são mostrados como bundões e vítimas em potencial, não como exemplos a ser seguidos.


Além disso, todos os adultos - especialmente figuras de autoridade, como professores e o diretor da escola - devem ser combatidos, desrespeitados e humilhados, segundo a "mensagem" passada pelo filme!

E quer saber? É justamente por isso, e pelas apelações inerentes a todo bom filme exploitation, que RUAS SELVAGENS é tão legal. Porque os filmes de hoje estão tão certinhos, tão limpinhos e tão bobos que é impossível não ficar maravilhado vendo Linda Blair disparando uma flechada certeira na garganta de um punk numa produção de quinta categoria como esta.


O relativo sucesso do filme abriu as portas para que o diretor Danny Steinman fosse comandar uma produção maior, o quinto "Sexta-feira 13" - que, como já comentei, é lembrado como um dos piores da longa franquia. Consta que, na época das filmagens de "Sexta-feira 13 Parte 5", ele até já havia assinado um contrato para dirigir outras cinco produções, incluindo, acredite se quiser, um nunca filmado "Last House on the Left 2"!!!

Mas Steinman se desentendeu com os produtores durante as gravações de "Sexta-feira 13 Parte 5" e acabou queimado no meio cinematográfico. Esta aventura bastarda do Jason (ou não-Jason, como sabem os que já viram o filme) acabou sendo também a sua despedida dos sets de filmagem, pois logo depois Danny sofreu um grave acidente de trânsito e nunca mais trabalhou com cinema. Para a sorte dos espectadores, talvez.


Seja como for, RUAS SELVAGENS é o grande filme de Danny Steinman - embora com o devido bom humor e muito álcool na cabeça eu até me divirta com o "Sexta-feira 13 Parte 5". Claro que isso não quer dizer absolutamente nada, e apenas espectadores com um (mau) gosto muito peculiar irão curtir.

Por isso... tente! E se não gostar, e quiser amaldiçoar o FILMES PARA DOIDOS pela sugestão e pelo tempo perdido, bem, só tenho uma coisa para dizer: "Go fuck an iceberg!".


PS 1: O filme saiu em VHS no Brasil em tempos imemoriáveis pela Mundial Filmes. Lá fora, ganhou uma edição simplesmente sensacional em dois discos, uma daquelas coisas que jamais vai sair por aqui e que dá até gosto de comprar para incentivar o lançamento de outras pérolas com a mesma qualidade. Portanto, se você baixar RUAS SELVAGENS, curtir e tiver uns trocos sobrando, não deixe de comprar essa edição especial imperdível para a sua coleção.

PS 2: Duas pessoas já me cobraram sobre a falta de comentários a respeito da trilha sonora, que é muito boa. Não sou especialista em música e confesso que nunca tinha reparado muito nos rockzinhos anos 80 que tocam no filme, ocupado que estava prestando atenção na overdose de peitos de fora. Mas vale fazer uma busca por "Savage Streets Soundtrack" no YouTube, pois realmente tem umas pérolas na trilha sonora - especialmente "Justice for One" e "Quiet Ones You Gotta Watch", ambas de John Farnham. Perdoem a nossa falha!

Trailer de RUAS SELVAGENS



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Savage Streets (1984, EUA)
Direção: Danny Steinman
Elenco: Linda Blair, Linnea Quigley, Robert Dryer,
John Vernon, Johnny Venocur, Lisa Freeman, Luisa
Leschin, Bob DeSimone e Sal Landi.



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