Filmes Legais
INTREPIDOS PUNKS (1980)
Se você achava que este blog já tinha descido aos mais baixos níveis de ruindade cinematográfica ao resenhar "Força Cruel" e "Deadly Prey - Extermínio de Mercenários", seja bem-vindo de volta ao território pútrido do lixão fílmico, com mais uma daquelas "obra-primas" que fazem você se perguntar a cada cinco minutos:
"Mas afinal, por que é mesmo que eu estou vendo ISSO?".O título da bagaça não poderia ser mais sedutor:
INTREPIDOS PUNKS. E apesar de parecer um título escrito em bom português (falta apenas um singelo acento agudo), não se trata de um filme brasileiro: estamos diante de uma obscura produção MEXICANA dirigida por Francisco Guerrero, mas que até lembra, e muito, aquelas produções bagaceiras da Boca do Lixo - com as quais divide a pobreza e a quantidade de sexo e mulheres peladas.
Sem mais rodeios, já que ando sendo acusado de escrever demais sobre filmes que não merecem tanto,
INTREPIDOS PUNKS é a singela história de uma quadrilha de motociclistas punks (não me diga!!!!) caracterizados como aqueles vilões pós-apocalípticos de filme B italiano (ou seja, roupitchas de couro e coloridos cabelos ao estilo moicano).
Apesar disso, os punks vivem numa cidadezinha do interior do México (!!!), em sua própria comunidade no deserto (peraí, são punks ou hippies?), de onde volta-e-meia saem para assaltar bancos e postos de gasolina, além de matar e estuprar inocentes, não necessariamente nesta ordem.
O mais incrível da história toda é que o filme, visualmente pelo menos, parece uma cópia bagaceira dos dois últimos episódios da série "Mad Max" - a clássica Parte 2 e o "Além da Cúpula do Trovão". Inclusive os punks são liderados por uma loiraça sensual chamada Fiera (interpretada por... não ria... "Princesa Lea"!!!), e a moça usa figurino e penteado parecidíssimos com Tina Turner no terceiro "Mad Max".
Porém, quando fui pesquisar (e é aqui que entra o "mais incrível da história toda" do parágrafo anterior), levei um choque:
INTREPIDOS PUNKS é de 1980, logo ANTERIOR ao próprio "Mad Max 2" (que é de 1981) e à sua estética "punk-chique" que tornou-se clichê do cinema pós-apocalíptico. Por essa eu não esperava: os mexicanos já tinham seus vilões punks espalhafatosos antes dos australianos!
Ainda assim, a aventura mexicana não esconde duas influências óbvias: "The Warriors - Os Selvagens da Noite" (que também já trazia gangues de marginais usando figurinos excêntricos) e "Mad Max 1" (igualmente com suas gangues de motoqueiros violentos).
Hilariante de tão ruim,
INTREPIDOS PUNKS não tem um roteiro muito coerente, com uma trama que se desenrola apenas catalogando os crimes "selvagens" cometidos pelos punks.
Na primeira cena, as moças do grupo assaltam um banco vestidas como freiras, só para dar uma idéia do nível da coisa. Depois há surubas, estupros coletivos, um rapaz incendiado vivo num posto de gasolina e um ousado plano para libertar da cadeia o amante de Fiera e verdadeiro líder da quadrilha, Tarzan (!!!), interpretado por um daqueles lutadores mexicanos mascarados, conhecido apenas por El Fantasma - e sim, o sujeito usa máscara o filme inteiro, e quando não usa a câmera não enquadra seu rosto!
(E se Fiera e Tarzan não parecem "nomes punks" bons o suficiente para você, caro leitor, saiba que outros membros do grupo têm apelidos tão singelos quanto Calígula e Pirata!!!)
Mas é claro que não temos apenas punks espalhafatosos em cena: não demora muito para entrar em cena a dupla de "heróis" da coisa. Agora tente segurar o riso: são dois quarentões bigodudos e ostentando respeitáveis barriguinhas de cerveja, além de vestirem aquele figurino hilário do fim dos anos 70/início da década de 80, incluindo "discretíssimos" ternos em tons vermelho-berrante (!!!).
Seus nomes são Marco e Javier (atores não creditados, e não sei porque isso não me surpreende...), dois agentes federais bons de briga e de mira, daquele tipo cinematográfico que prefere matar os bandidos a prendê-los.
Porém, como roteiro ruim é pouco neste caso, Marco e Javier só vão tratar da ameaça dos punks nos 25 minutos finais de
INTREPIDOS PUNKS! Antes, eles estão muito ocupados resolvendo "missões secundárias" que não têm absolutamente nada a ver com os moicanos e moicanas: desbaratar uma quadrilha de contrabandistas e um cartel de traficantes de drogas - é provável que o filme tenha ficado muito curto e o diretor rodou essas cenas "nada a ver" apenas para completar a duração.
INTREPIDOS PUNKS é tão ruim, mas tão ruim, que você não consegue desgrudar os olhos da tela - e o espanhol falado pelos protagonistas só ajuda no fator diversão, já que a pronúncia de "punks" se transforma em "PÓNKS" com o carregadíssimo sotaque mexicano.
Há tantas cenas estúpidas que seria de questionar a sanidade de diretor e do seu elenco. Mas a mais absurda delas certamente é um estupro coletivo comandado por Fiera, que manda seus asseclas violentarem as esposas dos diretores do presídio onde Tarzan (quaquaqua) está trancafiado. Pois os estupros são intercalados com cenas de uma banda punk-rock tocando AO LADO DOS CASAIS TRANSANDO, como se os caras tivessem levado bateria, guitarras e caixas de som para ajudar na animação da orgia!
E por falar em música, a canção-tema do filme, chamada "Intrepidos Punks" (que criativo!), toca umas 80 vezes durante os 90 minutos de duração da película. Ao que parece, a produção era tão pobre que não havia dinheiro para comprar outras músicas, assim restou aos pobres mexicanos repetir sempre a mesma. Acredite, dá para decorar a letra até chegarem os créditos finais...
A verdade é que embora seja vendido como filme de aventura,
INTREPIDOS PUNKS é um exploitation com todas as letras: tem (muito) sexo, violência e consumo de drogas, além de uma abordagem ridiculamente sensacionalista de um fenômeno social em pleno auge na época, o movimento punk - aqui, claro, distorcido de forma preconceituosa e exagerada.
É até engraçado pensar numa quadrilha de punks que vive no meio do deserto fazendo orgias, mas todos estão sempre maquiados e com os cabelos armados em excêntricos penteados! Alguns deles, de tão espalhafotosos, parecem ter saído do filme "Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton, como este da foto abaixo:
Destaque absoluto para a tal Princesa Lea, a loiraça peituda que interpreta a grande vilã da trama. Ela aparece o tempo inteiro pelada ou quase, vestindo umas tirinhas de couro que mal cobrem os biquinhos dos seios (porque o resto fica todo de fora). E seu corpão é um verdadeiro atentado à moral e aos bons costumes (numa época pré-silicone e pré-lipoaspiração)!
Dei uma pesquisada no Google e descobri que Princesa Lea (quaquaqua) era uma espalhafatosa dançarina e cantora mexicana daquela época, conhecida por suas performances "sensuais" e por aparecer peladona em filmes - mais ou menos como a Gretchen ou a Rita Cadillac na mesma época aqui no Brasil, para comparar. A propósito: ela começou a usar o nome "Princesa Lea" em 1977, ano de "Star Wars", então dificilmente se trata de um caso de mera coincidência...
(A título de curiosidade, dá uma sacada nos títulos de outras obras em que a moça aparece: "Chile Picante", "Muñecas de Medianoche" e "El Violador Infernal"!!!)
Sem mais delongas,
INTREPIDOS PUNKS é um filme que precisa ser desenterrado e VISTO. É impossível quantificar a sua ruindade em tão poucos parágrafos, só mesmo testemunhando as atrocidades que chamam de roteiro e direção para entender do que estou falando. Com direito a cena de pancadaria coletiva estilo Os Trapalhões, quando Tarzan (ou El Fantasma, como você preferir) tem a chance de mostrar seus dotes de lutador de luta livre, e com direito também aos heróis vencendo o vilão numa luta "dois contra um" (e daí que é covardia?).
Ah, também pelo IMDB, descobri que essa pérola teve uma seqüência (!!!) em 1991, "La Venganza de los Punks", dirigida por Damián Acosta Esparza e com o retorno de alguns "astros" do original, como El Fantasma no papel de Tarzan! O que será que os "pónks" mexicanos aprontaram depois de 11 anos? E será que alguém realmente quer saber?
Para encerrar, sugiro uma sessão dupla imperdível para ser curtida com a ajuda de doses cavalares de álcool:
INTREPIDOS PUNKS para aquecer e o hilário filme nacional "Punk's - Os Filhos da Noite" (1982), de Levi Salgado, com Danton Jardim e Lady Francisco, para encerrar a noitada. Melhor ainda se você convidar alguns amigos punks "de verdade" para conferir. Garantia de uma noite inesquecível...
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Intrepidos Punks (1980, México)
Direção: Francisco Guerrero
Elenco: Princesa Lea, El Fantasma, Olga
Rios, Juan Gallardo, Rosita Bouchot,
Juan Valentín e Alfredo Gutiérrez.
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