SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO (1986)
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SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO (1986)



Nos anos 80, tentando combater a invasão dos filmes pornográficos made in USA, muitos diretores "populares" do cinema nacional acabaram enveredando para o X-Rated, com resultados que vão do lamentável ao muito engraçado (mas quase nunca propriamente excitantes). Alguns enfrentavam tanta dificuldade (e falta de grana) para produzir que encontraram um "jeitinho brasileiro" para faturar uns trocos: relançar seus filmes "normais" com cenas de sexo explícito enxertadas na edição!

Era rápido, fácil e, principalmente, barato, e o público que se dane!

Não foram poucos os que adotaram esta tática picareta: J. Marreco relançou "A Mulher, A Serpente e a Flor" (1983), um drama sério, adicionando cenas de sexo explícito que ele gravou (direto da frente da tela da TV!!!) de um filme pornô americano; Levi Salgado transformou seu "Punks - Os Filhos da Noite" (1982) em "Sexo Selvagem dos Filhos da Noite" (1987), fazendo com que atores "sérios", como Danton Jardim e Lady Francisco, ficassem lado a lado com meia-noves e trepadas diversas; o mesmo fez Nilton Nascimento em "Perdido em Sodoma" (1982), que, após os enxertos, transformou-se num filme pornô... estrelado por José Lewgoy!!!


Foi também nesta época, em 1986, que o paulista Rubens da Silva Prado, um dos grandes nomes do chamado "feijoada-western" (apelido carinhoso dos filmes de bangue-bangue produzidos no Brasil), maculou uma de suas obras, transformando o que era um sangrento faroeste rural num festival de pornografia explícita. Estamos falando do "clássico" da Boca do Lixo SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO - e não me pergunte que diabos querem dizer com "Sexo Erótico"!

Tudo que Prado fez foi reaproveitar os velhos e desgastados negativos do seu filme de 1981 "A Febre do Sexo" (que, apesar do título pornográfico, é um western com muita ação e nenhum sexo explícito) e filmar uns 10 minutos, no máximo, de cenas de fodas explícitas, com atores "pau pra toda obra" (literalmente) da Boca do Lixo e umas barangas abaixo da crítica. O resultado ficou tão trash que SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO acabou se transformando num bizarro e sangrento western-pornô meio sem pé nem cabeça. Ou seja, um programa obrigatório para qualquer fã de cinema nacional, digamos, alternativo... E, claro, mais um autêntico FILME PARA DOIDOS!

Os créditos iniciais se desenrolam sobre fotos recortadas (e desbotadas) de revistas de sacanagem. Em seguida, surgem as cenas originais de "A Febre do Sexo": o lenhador e dublê de pistoleiro Gregório (interpretado pelo próprio Rubens Prado, com o pseudônimo "Alex Prado") está derrubando uma árvore a machadadas quando surge Ana (Thiana Perkins), uma garota da vila, com as roupas em farrapos e à beira da morte. Ela avisa o herói que um grupo de bandoleiros invadiu o povoado, matou todos os homens e crianças, e seqüestrou as mulheres, entre elas Maria (Helena Volpi), a esposa de Gregório.


Não dá 10 segundos para que o lenhador deixe o cadáver desfalecido de Anita para trás e, armado de uma espingarda e um facão, passe o restante do filme desbravando uma bonita paisagem rural, enfrentando pistoleiros em sangrentos duelos e resgatando moças seminuas que, eventualmente, acabam morrendo em novos confrontos. Logo, Gregório descobre que por trás de tudo está um fanático religioso chamado Gavião (Paul Morrison), que usa as moças peladas em seu garimpo clandestino! Até enfrentar o vilão e salvar Maria, nosso herói mata, direta ou indiretamente, umas 30 pessoas!

Mas onde entra o "sexo erótico" nessa história? Aí é que está, amiguinhos: a trama e as cenas acima são todas de "A Febre do Sexo". Para transformar o antigo western em pornô, Prado gravou umas cinco novas cenas de trepadas, praticamente seis anos depois do original, com atores que nem ao menos participavam do outro filme, como Claudette Joubert, Oásis Minitti, Oswaldo Cirillo e Sílvio Júnior. Pior: o próprio Rubens Prado aparece em algumas delas, seis anos depois, com uma camisa diferente, com o rosto diferente, mais gordo e carregando um outro modelo de espingarda! Até a dublagem do personagem é diferente!!!

O resultado destes enxertos é simplesmente hilariante: casais aparecem transando do nada e desaparecem repentinamente sem chegar a fazer parte da trama principal. Em um momento, o Gregório de "A Febre do Sexo" entra na floresta com a camisa manchada de sangue de um ferimento e, no take seguinte, vemos o "Gregório enxertado" caminhando com a camisa limpinha pelo que parece ser o quintal da casa de alguém, apenas para participar - como testemunha ocular - de uma cena de trepada!


O pior é que se "A Febre do Sexo" era um western sério e violento, os enxertos transformam SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO numa engraçadíssima comédia involuntária. Numa das cenas pornôs, por exemplo, Osvaldo Cirillo (que é a cara do Freddy Mercury!) entra pela "porta de trás" de uma moça que lavava roupa, apenas para mais tarde descobrir que se trata de um travecão (Patrícia Petri, de "Alucinações Sexuais de um Macaco"); mas não se faz de rogado e cai de boca no traveco!

Em outra cena enxertada, um negro magrela pula de uma árvore e começa a "estuprar" uma megera, que protesta apenas por alguns segundos e logo entra no clima da brincadeira. Até que aparece Gregório (versão enxerto) e enfia o cano da espingarda no fiofó do estuprador, que ainda protesta: "Ô meu, deixa pelo menos eu dar uma gozadinha!".


A coisa é tão apelativa que tem até "enxerto no enxerto": numa cena de sexo grupal envolvendo uma das musas do pornô nacional, Claudette Joubert, e Heitor Gaiotti e Sílvio Júnior, percebe-se claramente que a dupla penetração foi retirada de algum outro filme, e que os dois atores estão apenas se esfregando na moça - até que surge novamente o estraga-prazeres Gregório (versão enxerto) e mata ambos com tiros de espingarda!

Antes de fazer picaretagens como esta, Rubens Prado foi um dos principais incentivadores do western brasileiro, tendo dirigido filmes sérios dentro desta proposta, como "Sangue em Santa Maria" (1971), "Gregório Volta Para Matar" (1974) e "A Vingança de Chico Mineiro" (1979). Este SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO já é um canto de cisne do cineasta, que, como muitos outros diretores brasileiros, viu-se obrigado a investir na pornografia para conseguir sobreviver.

Fica claro, neste seu western versão pornô, que o diretor atira para todos os lados (literalmente), tentando atrair o povão pelo sensacionalismo. Isso explica a quantidade de mulher pelada, estupros e até homossexualismo nas novas cenas explícitas editadas.


Para quem não é muito chegado nestas sacanagens da Boca do Lixo, ainda assim SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO vale como resgate de toda a ação e violência de "A Febre do Sexo", que nunca foi comercialmente lançado nas videolocadoras (enquanto SEXO ERÓTICO... foi). Estas cenas antigas trazem alguns momentos bem legais, como um sangrento tiroteio num rio, com direito a balaços na cabeça e no pescoço! O final, em que Gregório distribuiu faconaços a rodo enquanto invade o navio do Gavião, também é um festival de violência gratuita.


Mas prevalece mesmo o "clima trash", principalmente no visual de Gregório, que é uma atração à parte: ele passa o tempo todo usando um daqueles chapeuzinhos de pele com cauda atrás, estilo Escoteiros Mirins! E os diálogos rebuscados ("Tenho o corpo todo marcado pelas batalhas travadas pelo caminho") não ajudam em nada; pelo contrário, são hilariantes!

Vale, então, conferir de qualquer jeito, nem que seja avançando as cenas de sexo explícito com o controle remoto. Ah, se os filmes nacionais "sérios" de hoje fossem tão divertidos quanto estas preciosidades da Boca do Lixo...

PS: Deixo aqui um agradecimento especial ao Matheus Trunk, da revista virtual Zingu, e ao Rodrigo Pereira, do blog Filmes que Só Eu Vi, que me deram preciosas informações sobre "A Febre do Sexo" e me ajudaram a identificar os enxertos nesta versão pornô.

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Sexo Erótico na Ilha do Gavião (1986, Brasil)
Direção: Rubens da Silva Prado
Elenco: Alex Prado (Rubens Prado), Claudette
Joubert, Oásis Minitti, Sílvio Júnior,
Helena Volpi e Paul Morrison.



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