48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE (1986)
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48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE (1986)



Embora tenha ficado imortalizado com o seu personagem Zé do Caixão, nas produções de horror que realizou em meio século de carreira, o brasileiro José Mojica Marins foi obrigado a dirigir alguns filmes pornográficos durante uma época de vacas magras nos anos 80. Ironicamente, estes quatro filmes explícitos - "A Quinta Dimensão do Sexo" (1984), "24 Horas de Sexo Explícito" (1984-85), "Dr. Frank na Clínica das Taras" (1986) e 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE (1986) - são de longe as obras mais assustadoras da sua carreira!

Muitos podem, hoje, condenar Mojica por ter dirigido estas produções paupérrimas, alegando que elas representam uma espécie de suicídio para a carreira de qualquer cineasta sério. O que estes moralistas-de-cuecas esquecem é que o mercado cinematográfico brasileiro dos anos 80 tinha se rendido à sacanagem, e qualquer diretor mais ou menos sério estava investindo na putaria, e até as produções mais classudas da época, se não traziam as cenas explícitas dos pornôs da Boca do Lixo, pelo menos tiravam a roupa de suas estrelas sem nenhum pudor. Bons tempos aqueles em que o sujeito ia ao cinema para ver Sônia Braga, Christiane Torloni, Vera Fisher e Cláudia Ohana peladas...


Além disso, a carreira de Mojica já parecia morta e enterrada. Ele realizava filmes por encomenda desde os anos 70 (inclusive algumas paupérrimas pornochanchadas que, envergonhado, assinou com o pseudônimo "J. Marreco"), e sua última produção realmente autoral foi "Perversão", de 1978. Sem grana para filmar o tão sonhado "Encarnação do Demônio" (que só foi sair em 2007!) e sem incentivos fiscais do governo, como outros cineastas bem mais medíocres do período, o pobre Mojica viu-se perdido no universo do sexo explícito graças ao amigo-da-onça e produtor Mário Lima.

48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE é a seqüência do trabalho pornográfico mais famoso da dupla Mojica/Lima: "24 Horas de Sexo Explícito", um dos grandes fenômenos de bilheteria de 1985 (ficou mais de 20 semanas em cartaz em pleno centrão de São Paulo!). E isso que Mojica tentou fazer o pornô mais sujo e tosco de todos os tempos, com um elenco de jaburus de dar dó e até a primeira cena explícita de zoofilia do cinema nacional, entre o pastor-alemão Jack e a veterana do pornô Vânia Bournier. Esta cena não tem nada a ver com a "trama" principal, e só está no filme porque o diretor sabia que, com aqueles bagulhos que tinha no elenco, só mesmo um cachorro transando para atrair público.


Apesar dos protestos de Mojica (ele chegou a dizer que fez o filme tão tosco porque queria que o sujeito saísse do cinema e nunca mais quisesse fazer sexo na vida!), o sucesso comercial de "24 Horas de Sexo Explícito" encheu os bolsos de Mário Lima, e o produtor convenceu o amigo a rodar uma continuação. Assim surgiu 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE, que é bem mais interessante do que o anterior por trazer um argumento metalingüístico (já explico), e também porque os bagulhos do filme anterior foram substituídos pela nata do pornô da Boca do Lixo (com dinheiro na mão é outra coisa, não é?).

Com argumento e roteiro do próprio Mário, o filme começa mostrando as filas nos cinemas paulistas que exibem "24 Horas de Sexo Explícito". Em seguida, vemos o próprio Mojica (vestido de terno e gravata, posando de grande magnata do cinema) e o próprio Mário Lima (com uma berrante jaqueta vermelha, e dublado com uma cômica voz de galã) sendo levados para um encontro com uma famosa psiquiatra num casarão chique. Detalhe é que ambos são conduzidos por um motorista numa velha perua caindo aos pedaços, já que não havia limusine à disposição da produção!


A psiquiatra é a dra. Margareth, interpretada pela veterana do pornô nacional Andréa Pucci (de "O Delicioso Sabor do Sexo" e "Hospital da Corrupção e dos Prazeres"). Ela explica à dupla que viu "24 Horas de Sexo Explícito" várias vezes (!!!), e acredita que ambos seriam as pessoas mais qualificadas (hahaha) para dirigir um novo filme pornográfico sob encomenda, desta vez com "fins científicos", já que a psiquiatra é uma pesquisadora do comportamento sexual humano (esqueça isso, porque não faz a menor diferença).

Em seguida, vemos Mojica e Mário em plena pré-produção do próprio 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE, quando o roteiro tenta nos convencer de que ambos são tão organizados ao planejar os mínimos detalhes da película, mas, como sabe qualquer um que conhece um mínimo da carreira do diretor, ele não tinha nada de organizado! A dupla constrói um cenário luxuoso, contrata os grandes astros da Boca, submete todos a rigorosos exames médicos (hahahaha) e em seguida propõe uma grande maratona sexual para escolher o novo campeão do sexo.



Quem viu "24 Horas de Sexo Explícito" lembra que a história era mais ou menos a mesma, com a diferença de que lá a maratona era de apenas um dia, e não dois (dãããã...). E dois atores deste primeiro filme, Sílvio Júnior (de "Sexo Erótico na Ilha do Gavião") e Antônio Rody ("Sexo dos Anormais"), inclusive voltam para a maratona. Além deles, participam nomes famosos dos pornôs da Boca, como Walter e Eliane Gabarron, Oswaldo Cirillo e Priscila Muller, entre outros.

O vencedor, claro, será o homem que gozar mais vezes (as ejaculações são somadas num computador!!!), e a competição é controlada por garotas vestidas como bandeirinhas de futebol (uma delas na verdade é um traveco que, lá pelas tantas, participa da ação) e pelo mesmo juiz gay de "24 Horas de Sexo Explícito", aqui vestido de imperador romano e assessorado por um papagaio boca-suja que também apareceu no pornô anterior de Mojica - e que fica fazendo piadinhas sem graça entre todas as cenas de sexo!

Perto do final, a dra. Margareth finalmente revela a Mojica e Lima seu trauma: ela é frustrada sexualmente porque sua grande fantasia é fazer sexo com um touro (!!!). Para realizar o desejo da pesquisadora, Mojica manda construir uma vaca mecânica (!!!) e, no final antológico, coloca a garota nua no interior do bicho, tentando atrair algum touro safado para fazer o serviço. Felizmente, apesar de várias cenas de touros trepando com vacas e de cavalos com éguas enxertadas na edição, nenhum animal verdadeiro se assanha para cima da vaca falsa, e a solução é mandar um cara vestido de Bumba-meu-Boi para realizar a missão! A cena é simplesmente surreal, e parece saída do universo bizarro de David Lynch! (Clique na colagem abaixo para vê-la ampliada.)


Como todos os pornôs dirigidos por Mojica, 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE é uma porquice: desafio qualquer pessoa normal a ficar excitada diante dos closes feios e toscos de pintos moles e pererecas peludas. As cenas de sexo explícito, quem diria, são o pior deste que é um FILME PORNOGRÁFICO! Confesso que me diverti bem mais com Mojica e Mário bancando os "bambambans" do cinema nacional e com as cenas que mostram os bastidores da filmagem de uma produção pornográfica do que com as trepadas, que afinal são a razão do filme existir.

Mojica, definitivamente, não nasceu para a pornografia. Como muito bem observou Ruy Gardnier no livro "José Mojica Marins - 50 Anos de Carreira", "as cenas de carnes batendo uma contra a outra não cumprem função nem de erotismo, nem de excitação sexual. Os filmes de sexo [de Mojica] não têm muita coisa de sexual". Assim, as trepadas são apenas uma seqüência de closes, que não permitem identificar quem está comendo e quem está dando - seguidas por takes im-pa-gá-veis dos sujeitos fazendo exageradas caras de prazer!!!


Realmente divertidas, portanto, são cenas absurdas como a do sujeito que, em meio à maratona, tem um princípio de infarto e cai estatelado no chão - e Mojica incentiva os outros atores a continuarem transando, dizendo que aquilo é "um acidente normal de trabalho", enquanto médicos retiram o pobre coitado de cena! Ou a "pausa para o lanche" da maratona, com o pessoal pelado comendo aperitivos que, muito provavelmente, acabaram cobertos de pentelhos (hahahaha).

Ou, ainda, uma cena nada a ver com sexo em que Mojica, Mário, a dra. Margareth e seu futuro noivo vão jantar numa churrascaria (!!!), e somos brindados com uma nada erótica "participação especial" do cantor Carlos Lombardi, cantando o tango "El Dia que Me Quieras", de Gardel, coisa que combina 100% com um filme pornô (e tenho certeza que o próprio Lombardi "adorou" ser incluído como participação especial numa produção X-Rated!).

E se as cenas de sexo são genéricas, sem-graça e bem nojentas, com uma trilha sonora de pomposas músicas românticas que só piora tudo, em alguns momentos a coisa é tão tosca que também se torna divertida. Como quando Sílvio Júnior, na véspera de encerrar as 48 horas da maratona, não consegue gozar mesmo sufocado de mulheres nuas, e então afasta todas e diz: "Vou ter que usar minha arma secreta!". Põe-se, então, a descascar a banana enquanto faz uma expressão concentradíssima de monge budista, um momento tão constrangedor quanto engraçado.



O roteiro escrito por Lima também reserva alguns diálogos simplesmente brilhantes, como "Pra ganhar esse campeonato eu meto em qualquer buraco" ou a poética frase "Eu vou é comer o cu desse filha da puta, ele vai é se foder!". E num momento em que Mojica e Mário discutem no filme, é impossível não lembrar de o quanto os dois brigavam na vida real: "Mas você foi se comprometer com esse tipo de coisa? Eu acho que você quer é arruinar a nossa vida! Você endoideceu, Mário!".

E graças a esta curiosa brincadeira de metalinguagem (a dupla produzindo uma continuação de seu sucesso; Mojica "dirigindo" as cenas de sexo), e à bizarra fantasia sexual envolvendo a vaca mecânica, 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE é um daqueles raros filmes pornográficos que valem mais pela "história", se é que dá para chamar assim, do que propriamente pelo "sexo alucinante", que está mais para sexo BROXANTE do que para qualquer outra coisa.


Infelizmente, a seqüência não teve o mesmo impacto do original. Enquanto em "24 Horas de Sexo Explícito" a novidade era a cena de zoofilia, quando a continuação saiu, apenas um ano depois, já estava ultrapassada (!!!), pois todos os produtores da Boca do Lixo abriram as portas do zoológico para faturar em cima da nova febre - "Mulheres Taradas por Animais", que Ody Fraga dirigiu em 1985, trazia cenas com bode, anta, cavalo e até um leão, que felizmente só assistia.

Resultado: a bilheteria foi bem abaixo do esperado e não sobrou grana para Mojica filmar seu tão sonhado "Encarnação do Demônio" (Mário Lima tinha prometido investir o lucro que tivessem num novo filme do Zé do Caixão).

48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE fica, então, como um impagável registro de uma era que não volta mais, reunindo algumas das caras (e genitais) mais conhecidas da Boca do Lixo, e alguns momentos entre o genial e o bizarro que só podiam ter saído da cabeça de José Mojica Marins, aqui visivelmente mais preocupado em contar uma história sobre as dificuldades de fazer cinema (mesmo pornô) no Brasil do que em mostrar penetrações e gozadas (estas aparecem como "brinde", e não como atração principal).


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48 Horas de Sexo Alucinante (1986, Brasil)
Direção: José Mojica Marins
Elenco: Mojica, Mário Lima, Andrea Pucci
Oswaldo Cirilo, Sílvio Júnior, Antônio Rody,
Walter Gabarron e Eliane Gabarron.



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