SOL VERMELHO (1971)
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SOL VERMELHO (1971)



Quantos argumentos você precisa para largar essa resenha agora mesmo e sair da frente do computador para ver ou rever SOL VERMELHO?

Um só? Bem, este é o único western da história em que Toshiro Mifune, um dos "Sete Samurais", faz parceria com Charles Bronson, um dos "Sete Homens e um Destino"!

Dois? O filme é dirigido pelo Terence Young, o cara que começou a série James Bond e dirigiu algumas das suas melhores aventuras, e o vilão é interpretado pelo galã francês Alain Delon!

Ah, quer três argumentos? Então saiba que a linda musa suíça Ursula Andress não apenas faz parte do elenco, mas ainda aparece PELADA lá pelas tantas!
 
(Como depois desses três argumentos não deve ter ficado mais ninguém por aqui para ler, vou continuar minha explanação para ninguém, mas feliz por saber que esse filmaço chamado SOL VERMELHO estará recebendo a devida atenção dos distintos leitores do FILMES PARA DOIDOS!)


Se existe algo que pode ser chamado de "produção internacional", este algo é SOL VERMELHO. Dá só uma sacada: é um legítimo western spaghetti (ou pelo menos segue de perto as "regras" da coisa), mas foi produzido por americanos. O elenco tem um ianque (Bronson), um chinês que ficou famoso no cinema japonês (Mifune), um francês e uma francesa (Delon e a musa Capucine), uma suíça (Ursula) e mais uns atores italianos conhecidos (Luc Merenda, Guido Lollobrigida...). Foi dirigido por um inglês (Young) nascido na China, e filmado em Andalucía, na Espanha!

O resultado dessa reunião de nacionalidades e talentos não é apenas eficiente, mas imperdível - uma daquelas pérolas que, sabe-se lá porque, acabou caindo na obscuridade sem merecer.


O roteiro foi escrito a seis mãos por Denne Bart Petitclerc, William Roberts e Lawrence Roman, baseados num livro de Laird Koenig que, supostamente, narra uma história verdadeira ocorrida nos Estados Unidos do final do século 19.

Bronson interpreta Link Stuart, líder de um grupo de assaltantes de banco. Seu braço direito é o francês bon-vivant Gauche (Delon). Quando o filme começa, o bando de Link e Gauche ataca um trem para roubar uma fortuna levada no vagão de carga. 

Por coincidência, o mesmo trem está transportando o embaixador japonês em sua primeira visita aos Estados Unidos, para um encontro com o presidente Ulysses S. Grant. E como o ilustre visitante leva uma espada samurai folheada em ouro para dar de presente a Grant, dois samurais o acompanham para garantir sua segurança e a do tesouro.


Rudes foras-da-lei do empoirado Velho Oeste, Link e Gauche não entendem nada da cultura oriental, mas sabem que balas de revólver são mais eficientes que espadas. Portanto, o francês mata um dos samurais e rouba a espada de ouro. Depois, tenta se livrar do parceiro Link com uma banana de dinamite, fugindo com todo o produto do roubo e o que restou da quadrilha.

Quem já viu um filme de faroeste sabe que pistoleiro traído não deixa passar barato. E é claro que Link sobrevive ao atentado e resolve sair atrás de Gauche e da fortuna roubada. Mas terá que fazê-lo com um parceiro inesperado: o segundo samurai, Kuroda Jubie (Mifune), que pretende vingar a morte do companheiro e recuperar a espada roubada.

E, como todo bom samurai, ele tem um prazo apertado para cumprir as duas missões; se não conseguir, deverá praticar harakiri - aquele suicídio em que o sujeito rasga o próprio bucho com a própria espada!


Aí começa aquela típica história de parceiros que não se bicam, que são completamente diferentes, que brigam e discutem o tempo todo, mas que, ao longo de sua jornada, descobrem ser mais parecidos do que imaginavam.

A parceria forçada entre Link, o fora-da-lei ocidental, e Kuroda, o guerreiro oriental, rende alguns belíssimos momentos. O pistoleiro quer livrar-se do samurai com truques sujos porque sabe que ele matará Gauche antes que este revele onde escondeu a fortuna roubada; já o samurai age movido pela honra e tenta entender as motivações do "companheiro". Eles irão aprender muito sobre suas diferenças, e dessa união nascerá uma grande amizade.


Já as belas Ursula Andress e Capucine aparecem como prostitutas de um bordel onde a dupla acaba parando, já que Cristina (Ursula) é a amada de Gauche e ele terá que passar pelo local para buscá-la. Em pelo menos duas cenas, a linda loira suíça mostra tudo que não pôde mostrar para James Bond no clássico "007 Contra o Satânico Dr. No", como você pode ver nas fotos abaixo.

(Um outro ator de "Dr. No", o inglês Anthony Dawson, também aparece no filme como um dos homens de Gauche, demonstrando que o diretor Terence Young gostava de trabalhar várias vezes com o mesmo time.)


SOL VERMELHO é um western definitivamente diferente, pois não é todo dia que você vê Charles Bronson e Toshiro Mifune combatendo bandidos com tiros e espadadas, em cenas muito bem filmadas por Young e belissimamente sublinhadas pela música de Maurice Jarre. E também não é todo dia que você vê Alain Delon como vilão filho da puta e Ursula Andress pelada.

O terceiro ato traz uma bem-vinda reviravolta, pois quando parece que teremos um duelo triplo à la "Três Homens em Conflito" (lançado cinco anos antes), Link, Kuroda e Gauche precisam unir suas forças (e revólveres) contra uma ameaça maior: o ataque de índios renegados em busca de escalpos.


Contempla-se, assim, quase todos os elementos característicos de um faroeste tipicamente norte-americano (os heróis rechaçando um ataque de índios) e de um western spaghetti (o fora-da-lei gente boa em busca do parceiro traíra), com a bem-vinda adição do elemento oriental (o samurai).

Por isso, SOL VERMELHO não funciona apenas como uma aventura acima da média, mas também como uma homenagem às três vertentes básicas do faroeste moderno. Afinal, vários clássicos do western europeu e norte-americano beberam da fonte do cinema oriental: "Por um Punhado de Dólares" foi inspirado em "Yojimbo"; "Sete Homens e um Destino" é remake de "Os Sete Samurais", e "Quatro Confissões" tem estrutura bem semelhante a "Rashomon". SOL VERMELHO talvez seja o primeiro filme que busca uma ponte com o cinema oriental (através de um de seus personagens mais característicos, o samurai) ao invés de simplesmente refilmar a história com elementos ocidentais, como aconteceu nas produções já citadas.


Isso dá um tom épico ao filme: é o encontro de três mundos (EUA, Europa e Japão) e três culturas, mas não num pretensioso dramalhão de época, e sim numa aventura divertida, barulhenta e violenta, repleta de tiroteios e sangrentos golpes de espada desferidos pelo samurai.

Infelizmente, hoje é difícil encontrar uma versão decente de SOL VERMELHO para que o filme possa ser devidamente apreciado. O formato original de tela é widescreen, mas quase todos os DVDs existentes pelo mundo trazem uma copiagem porca ampliada para tela cheia, com as laterais da imagem criminosamente cortadas. 

Uma verdadeiro crime para com uma obra de relevante importância cultural, ALÉM de ser um western bem decente. E poderia muito bem sucitar pesquisas e discussões sobre este aspecto que eu citei por cima, do amálgama das três referências do faroeste moderno.



Não obtive informações confiáveis para saber se SOL VERMELHO foi sucesso ou fracasso de bilheteria na época do seu lançamento. Seja como for, abriu as portas para vários outros westerns na linha "Ocidente encontra Oriente", como "Ouro Sangrento" (1974), do italiano Antonio Margheritti, com Lee Van Cleef e Lo Lieh, ou o recente "Bater ou Correr" (2000), de Tom Day, com Owen Wilson e Jackie Chan.

Também recentemente, tivemos alguns casos de "SOL VERMELHO às avessas", com cineastas orientais prestando homenagens abertas e apaixonadas ao faroeste (seja ianque ou europeu).

Um deles é "Era Uma Vez na China e na América" (1997), de Sammo Hung, que coloca Jet Li para lutar com pistoleiros do Velho Oeste, explorando o episódio verídico dos imigrantes chineses que foram trabalhar na construção das rodovias nos Estados Unidos no final do século 19. 


Outro caso é uma brincadeira feita pelo diretor japonês e doidão-mor Takashi Miike, que em 2007 filmou um legítimo western spaghetti só que no Japão e com japoneses no elenco - o divertido "Sukiyaki Western Django".

Uma prova de que ainda há muito a explorar, e muitas histórias a contar, nesse filão do "Ocidente encontra Oriente no Velho Oeste". Mais um motivo para (re)descobrir SOL VERMELHO.

PS: O italiano Alberto De Rossi assina a maquiagem das cenas de violência. Adivinha só: ele era pai do Giannetto De Rossi, o mestre responsável pela sangueira nos filmes do Lucio Fulci e de tantos outros diretores do cinema fantástico italiano!


Trailer de SOL VERMELHO


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Soleil Rouge / Red Sun 
(1971, Itália/França/Espanha)
Direção: Terence Young
Elenco: Charles Bronson, Toshiro Mifune, Alain Delon,
Ursula Andress, Capucine, Anthony Dawson, Barta Barri,
Guido Lollobrigida, Luc Merenda e Mónica Randall.



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