DJANGO, O BASTARDO (1969)
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DJANGO, O BASTARDO (1969)



(Este filme foi o único "Sotto-Django" que já havia sido resenhado aqui no FILMES PARA DOIDOS antes da MARATONA VIVA DJANGO!, no longínquo 16 de fevereiro de 2009! Para os novos leitores, que não acompanham o blog desde o começo, e para não deixar incompleta esta ambiciosa Maratona, resolvi republicar a resenha, agora em versão revisada e ampliada.)

"Eu vou te matar, Murdok. Lentamente... Vou fazer você morrer mil mortes, como os seus homens", ameaça Django, no clímax de DJANGO, O BASTARDO, uma daquelas ótimas surpresas para quem acha que já viu tudo em matéria de western spaghetti. Sem nenhuma relação com o "Django" de Sergio Corbucci além do nome do personagem, o filme difere de outras aventuras não-oficias do personagem porque foge do lugar-comum ao apresentar uma curiosa mistura de faroeste e horror, dando a Django uma certa aura sobrenatural.

Produzido em 1969 (apenas três anos depois do original), DJANGO, O BASTARDO tem outro destaque além do toque fantasmagórico: a presença, no papel principal, de Anthony Steffen, pseudônimo "americanizado" do italiano filho de brasileiros Antonio Luiz de Teffé. (O quê? Você ainda não leu o livro que Daniel Camargo, Fábio Vellozo e Rodrigo Pereira escreveram sobre o ator? Então saia JÁ da internet e vá em busca deste livro obrigatório!!!).


Já a direção é de Sergio Garrone, que dirigiu vários westerns, mas hoje é mais conhecido no "underground" pelas suas lamentáveis contribuições ao ciclo "nazisploitation" italiano, como "SS Experiment Camp" (1976) e "SS Camp 5: Women's Hell" (1977). Garrone já havia dirigido dois faroestes cujo personagem principal foi rebatizado como "Django" em alguns países ("Atirar para Viver", de 1968, e "Uma Longa Fila de Cruzes", em 1969, este último também estrelado por Steffen).

DJANGO, O BASTARDO é a primeira produção de Garrone realmente pensada e produzida para ser uma aventura não-oficial de Django (e não algum outro western qualquer que ganhou novo título com o nome do personagem). O roteiro foi escrito em parceria entre o diretor e seu astro, marcando também a estreia de Steffen como co-roteirista (função que ele exerceria em outras três produções). Em entrevistas, Garrone diria que este era o seu filme preferido entre os diversos que dirigiu; Steffen também tinha um carinho muito grande por ele.


Nossa aventura começa com vários takes mostrando um personagem misterioso caminhando, mas sempre sem mostrar o rosto do sujeito. Sua caminhada, que parece durar uma eternidade, acaba na frente de uma bela cabana, onde o misterioso homem finca no chão uma cruz com o nome "Sam Hawkins" e a data daquele dia. Os capangas de Sam ficam apavorados com aquela aparição e saem da cabana para confrontar o desconhecido.

Neste momento, a câmera acompanha o homem enquanto ele levanta o rosto, revelando finalmente os olhos frios e o rosto desprovido de emoção. Trata-se de Django, nosso protagonista, e antes que os seus antagonistas possam sequer trocar algumas palavras, ele atira rapidamente, eliminando todos em cena; Hawkins, claro, cai perto da cruz de madeira com seu nome.


Corta para uma luxuosa mansão onde encontramos os dois outros personagens centrais da trama: o banqueiro Ross Howard (Jean Louis) e o vilão, um poderoso fazendeiro chamado Rod Murdok (Paolo Gozlino), que vive ali com o irmão psicótico, Luke (Luciano Rossi, vilão habitual dos westerns e policiais da época, aqui creditado como "Lu Kamonte" e numa perfeita interpretação de desequilibrado, à la Klaus Kinski!!!).

Quando conhecemos os malvadões, eles estão assistindo a um bizarro jogo onde dois homens atiram, um para o outro, uma banana de dinamite com o pavio em chamas - numa ideia bastante inspirada, que rende uma cena tensa que Garrone estica até deixar o espectador na maior agonia, esperando pela iminente explosão da bomba!


Descobrimos que Murdok e Ross têm negócios fraudulentos em comum, e também parecem ligados por um segredo do passado. Logo, chega à cidade o misterioso Django, que vai procurar um marceneiro e lhe pede para construir uma cruz de madeira. Segue-se um diálogo impagável:

- É apenas um dólar. Que nome e data quer que eu grave?
- O nome é Ross Howard. E a data é de hoje.
- Ross Howard? Então pode guardar o seu dólar! É de graça!



Naquela noite, Django visita Howard em sua casa. O banqueiro é atraído pelo pistoleiro até um velho cemitério. Durante o trajeto, Howard só sabe repetir: "Eu não tive culpa, Django! Eu não tive culpa!". Mas é inútil. Levado até uma sepultura aberta, onde está a cruz de madeira com seu nome e a data daquele dia, Howard é impiedosamente baleado por Django. Ah, antes que você pense que estou indo longe demais na descrição da trama, isso tudo acontece nos primeiros 20 minutos do filme!

É quando o diretor freia o ritmo. Ficamos sabendo mais sobre os irmãos Murdok - Rod e Luke. Assustado com a possibilidade de ser a próxima vítima, já que uma cruz de madeira com seu nome apareceu do lado de fora do rancho, Rod contrata dezenas de pistoleiros mercenários para protegerem sua pele. Eles inclusive expulsam todos os moradores da cidadezinha para que possam ter controle total da situação (uma desculpa para justificar a falta de dinheiro para contratar figurantes, claro...).

Só que, numa noite escura, o fantasmagórico Django aparecerá para acertar as contas com Murdok e todo o seu exército de mercenários, ajudado/atrapalhado pela própria esposa do vilão, a ambiciosa Alida (Rada Rassimov, irmã de outro Django não-oficial, Ivan Rassimov, e que já havia aparecido em "Django Não Espera... Mata")


O grande acerto de DJANGO, O BASTARDO é apresentar o personagem-título como um carrasco misterioso e impiedoso, e circulando na tênue linha entre uma ameaça humana e real e uma invencível aparição sobrenatural. Por meio de um flashback, descobrimos que o herói era um soldado durante a Guerra Civil - e, ironicamente, um soldado confederado, enquanto o Django de Corbucci lutava pela União! Certo dia, todo o seu batalhão foi traído pelos seus superiores, Hawkins, Howard e Murdok, e exterminados sem piedade (incluindo outro ator com sangue brasileiro, o paulista Celso Faria, figurinha carimbada nos "Sotto-Djangos").

Vemos, ainda no flashback, Django caindo após ser alvejado pelas costas. Mas terá morrido e virado um fantasma vingador, ou sobrevivido ao atentado para dar o troco? Boa pergunta. Até os 15 minutos finais, o espectador não tem nenhuma dúvida de que Django é um fantasma vindo do passado para vingar-se dos homens que o mataram. Mas aí o "fantasma" é ferido e sangra no confronto final com seus inimigos, desmistificando aquela aura de assombração que o acompanhara até então. Real ou sobrenatural? No livro "Dizionario del Western All'Italiana", de Marco Giusti, o diretor Garrone não dá nenhuma explicação conclusiva: "Ao final você não sabe se Django é real ou não, se é um sonho ou um fantasma", disse.


Para reforçar o "toque sobrenatural" da trama, Garrone usa diferentes artifícios cênicos, alguns bem simples, mas ainda eficientes. Por exemplo: poucas vezes, ao longo do filme, vemos o rosto de Django, que aparece quase sempre envolto pela escuridão. Em algumas cenas, apenas um pequeno facho de luz ilumina seus olhos! Tem também um inspirado momento em que um oponente de Django é "engolido" pela enorme sombra do herói projetada em uma parede. Por essas e outras, entre todas as obras de Garrone que vi, esta é a mais e bem filmada e visualmente criativa.

Apesar de ter um ritmo bastante irregular, DJANGO, O BASTARDO é um excelente bangue-bangue, que tenta - e consegue - escapar das armadilhas e clichês típicos do gênero. Embora os tiroteios não sejam tão inspirados, a forma como Django surge e elimina seus oponentes rende alguns bons momentos. Não raras vezes ele usa bonecos feitos com suas roupas para enganar os adversários e pegá-los pelas costas. E há ainda alguns toques bastante macabros, como três pistoleiros mortos pelo herói que voltam à cidade levados por seus cavalos, crucificados sobre as selas!


O grande ponto fraco do filme é a inexistência de um duelo final mais criativo entre Django e o grande vilão, Murdok, pois Garrone se limita ao batido e pouco emocionante "mano a mano" de quem saca mais rápido. É uma pena, porque em vários momentos constatamos que Murdok é um grande espadachim, e por um momento imaginei que ele fosse usar suas habilidades no manejo da espada contra o herói - coisa que nunca acontece.

Para terminar, vale lembrar que este é um raro caso de produção italiana "copiada" anos depois numa grande produção norte-americana, e não o contrário. Acontece que quatro anos depois, em 1973, Clint Eastwood dirigiu e estrelou "O Estranho Sem Nome", um faroeste com tom "sobrenatural" bastante parecido com o de DJANGO, O BASTARDO, e cujo roteiro (assinado por Ernest Tidyman) traz Eastwood como um xerife que supostamente volta da morte para se vingar dos seus algozes.


Graças ao sucesso do filme com Eastwood, o produtor norte-americano Herman Cohen comprou os direitos de exibição da obra de Garrone e remontou-a para sua estreia nos cinemas dos Estados Unidos, dando-lhe um título, "The Stranger's Gundown". A única diferença perceptível é que a cena em que os soldados confederados são exterminados foi jogada lá para o meio do filme, como flashback, enquanto na versão original italiana o massacre acontecia logo no começo, antes mesmo dos créditos iniciais (esta resenha foi baseada na montagem norte-americana).

Considerando que as aventuras não-oficiais baseadas no clássico de Sergio Corbucci raramente fugiam do lugar-comum, DJANGO, O BASTARDO foi um sopro de criatividade muito bem-vindo no universo dos "Sub-Djangos". Não só é um dos grandes trabalhos do diretor Garrone, como um dos melhores filmes com o personagem. Steffen voltaria a ele em "Um Homem Chamado Django" (1971), de Edoardo Mulargia, mas dessa vez sem nenhum toque sobrenatural.


E embora Garrone não tenha feito outro filme com um herói de nome Django, pelo menos mais um filme dele foi rebatizado para parecer aventura não-oficial do personagem: a co-produção Itália-Espanha "Tequila" (1971), que, mesmo com um herói chamado Johnny), foi distribuída na Itália, França e Estados Unidos com o enganoso título "Mate, Django... Mate Primeiro!".

PS: Este é um dos primeiros filmes do técnico em efeitos especiais Paolo Ricci, que depois comandaria as barbaridades e sangrentas mutilações de filmes como "A Montanha dos Canibais" e "A Ilha dos Homens-Peixe", de Sergio Martino, e "Paganini Horror", de Luigi Cozzi.


Cena inicial de DJANGO, O BASTARDO



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Django, Il Bastardo (1969, Itália)
Direção: Sergio Garrone
Elenco: Anthony Steffen, Rada Rassimov, Luciano Rossi, 

Paolo Gozlino, Furio Meniconi, Celso Faria, Teodoro 
Corrà, Jean Louis e Emy Rossi Scotti.



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