É a típica historinha policial de sempre: uma dupla de homens da lei (um deles veterano e estressado, o outro jovem e inexperiente) topa acidentalmente com uma daquelas poderosas conspirações envolvendo altos escalões do governo e do exército, sendo perseguidos pelos caras maus, que querem impedi-los de divulgar as provas do complô.
A grande diferença de TROVÃO AZUL, dirigido em 1983 por John Badham, para outros filmes que contam esta mesma historinha policial de sempre é que aqui heróis e vilões usam modernos helicópteros armados até os dentes, e as perseguições são pelos céus de Los Angeles, e não em carros velozes pelas ruas, como é comum.
TROVÃO AZUL também é um dos meus "filmes da infância", que eu adorava quando guri, e foi ótimo revê-lo agora, num DVD-Rip, para descobrir que ele continua tão bom e interessante quando da primeira vez que o vi, numa das incontáveis reprises pelo SBT (que por sinal nunca mais exibiu estes filmes antigos do seu acervo).
Lembro que, quando era criança, também havia um seriado de TV com o mesmo nome, certamente surgido após o filme, mas nunca assisti e por isso não posso julgar (acabo de conferir no IMDB que um dos protagonistas da série era ninguém menos que Dana Carvey, o Garth de "Wayne's World"!!!). Curiosamente, o mesmo IMDB diz que TROVÃO AZUL foi um inesperado fracasso de bilheteria na época do seu lançamento.
Quem também é desta época deve lembrar que houve um pequeno ciclo de "filmes aéreos", principalmente sobre pilotos de caças, provavelmente por causa do sucesso do intragável "Top Gun - Ases Indomáveis", aquele estrelado por um jovem Tom Cruise. Eu nunca gostei desses filmes, mas meu irmão do meio adorava aviões, caças, helicópteros e o escambau (coisa de criança, já que ele nunca virou piloto nem nada disso). E foi meio por causa dele que vi TROVÃO AZUL: ele gravou o filme do SBT e assistia um milhão de vezes por semana.
A diferença desta para outras produções "aéreas" é que aqui existe uma história interessante como pano de fundo para as cenas de ação, e estas também são boas e bem filmadas. A maioria dos filmes com caças dos anos 80 só se preocupavam em mostrar os aviões voando e jogando mísseis, e olhe lá.
Já este filme de John Badham, escrito por Dan O'Bannon (diretor de "A Volta dos Mortos-vivos"), Don Jakoby (roteirista do clássico "Desejo de Matar 3") e Dean Riesner (roteirista de "Perseguidor Implacável"), mostra o dia-a-dia da divisão aérea da polícia de Los Angeles, que vigia os céus da metrópole com helicópteros na tentativa de impedir crimes em andamento e auxiliar no trabalho dos policiais terrestres.
Na verdade, é um trabalho bem bundão: os pilotos ficam sobrevoando a cidade, avisando a delegacia por rádio quando avistam ações ou veículos suspeitos, e iluminando com holofote os bandidos em fuga, para facilitar sua perseguição pelos policiais em terra. Um pé no saco para quem pensava que os pilotos tinham permissão de voar metralhando ou disparando mísseis na bandidada, né?
Para compensar, pelo menos, eles podem utilizar os helicópteros policiais para atitudes bem menos nobres que "manter a lei e a ordem", como espiar uma bela garota que pratica yoga completamente nua em sua casa!
O principal policial-piloto da divisão é o oficial Frank Murphy (o saudoso Roy Scheider), veterano do Vietnã que está estressado e à beira de um ataque de nervos. As coisas não melhoram nada quando ele recebe um novo parceiro, Richard Lymangood (um jovem Daniel Stern), e nem com a pressão do seu chefe, o capitão Jack Braddock (último filme de Warren Oates, que morreu após as filmagens).
Certo dia, Braddock convida Murphy para acompanhar a demonstração de um novo brinquedinho do exército, o Trovão Azul. Trata-se de um helicóptero modificado e dotado da mais alta tecnologia: além de metralhadoras movidas por um sensor no capacete do piloto ("Elas atiram para onde você está olhando", explica um dos personagens) e mísseis, o helicóptero tem visor infra-vermelho, computador de bordo conectado com os arquivos da polícia e até câmera e microfone de alta potência, além, claro, de um visual estiloso. Tudo para supostamente deter possíveis atentados terroristas.
A demonstração dos benefícios da aeronave é feita pelo arrogante coronel Cochrane (Malcolm McDowell, porra!!!), que tem uma longa rusga com Murphy, ainda dos tempos do Vietnã. E o próprio Murphy é escolhido para realizar alguns vôos experimentais com o Trovão Azul
É quando, por acidente, ele e Lymangood sobrevoam um edifício governamental e descobrem que agentes de alto escalão estão envolvidos no assassinato de uma importante defensora dos direitos humanos, e que o Trovão Azul será usado como arma - o coronel Cochrane, claro, é um dos conspiradores.
A dupla de policiais grava áudio e vídeo da reunião como evidência, e então são perseguidos pelos vilões. Quando Lymangood é brutalmente assassinado, Murphy rouba o Trovão Azul e dá início a uma longa e emocionante perseguição aérea, que corresponde à meia hora final do filme.
Eu vi um documentário há algum tempo falando sobre a dificuldade de utilizar helicópteros em filmes, e como são comuns as tragédias em sets de filmagens, inclusive matando atores (isso aconteceu, por exemplo, em "No Limite da Realidade", "Comando Delta 2" e "Keruak - O Exterminador de Aço", entre outros títulos). Por isso, não tem como não achar menos que incríveis as acrobacias realizadas pelas aeronaves na parte final de TROVÃO AZUL, sem a praga da computação gráfica que infesta a maioria das produções recentes.
O clímax mostra Murphy sendo perseguido no ar pelo seu desafeto Cochrane, pilotando outro moderno helicóptero de guerra, e ambos trocam rajadas de metralhadoras e mísseis sem se preocupar com a segurança das pessoas em edifícios próximos do "campo de batalha".
Aliás, o filme não mostra baixas civis, mas elas se tornam evidentes pela dimensão da destruição provocada durante a perseguição ao Trovão Azul: quando um caça é abatido por Murphy, por exemplo, o piloto consegue se ejetar, mas não tem como não pensar que a aeronave em chamas deve ter caído bem no meio de Los Angeles!!!
É interessante constatar que Frank Murphy não é um herói perfeitinho como é comum no gênero. Ele é apresentado desde o início como um homem literalmente à beira de um ataque de nervos, dominado por seus traumas dos tempos do Vietnã e obcecado por um velho relógio digital que conta os segundos na forma de um círculo que vai se apagando (outra coisa típica dos anos 80). Também vive entre tapas e beijos com a companheira Kate (Candy Clark).
Talvez tudo isso tenha a ver com a primeira versão do roteiro, que era mais puxada para o suspense: mostrava um piloto tendo um surto psicótico e roubando o Trovão Azul para aterrorizar Los Angeles, sendo então combatido pela polícia. Só que os produtores acharam o tom muito pessimista e mandaram reescrever tudo.
TROVÃO AZUL ainda traz uma boa química entre Scheider e Stern como parceiros de vôo - a cena dos dois bancando os voyeurs para espiar a peladona fazendo yoga é muito engraçada. Mas, claro, o melhor do filme é o duelo de nervos entre o herói e o vilão interpretado por McDowell, que na época ainda não havia afundado sua carreira como protagonista de produções classe Z, e aqui dá certo charme ao psicótico coronel Cochrane - impagável a cena em que Murphy debocha do tradicional sotaque inglês de seu desafeto.
Destaque também para a ótima trilha sonora de Arthur Rubinstein, a única coisa do filme de que eu me lembrava desde que o vi na infância!
E eu continuo não gostando dessas produções com aeronaves e duelos aéreos. Mas TROVÃO AZUL se mantém como uma ótima exceção no gênero, e hoje é um filme injustamente desconhecido e que merecia uma segunda chance. Até porque não é sempre que você vê uma chuva de frangos assados no centro de Los Angeles (!!!), provocada pela explosão de um restaurante pelo míssil disparado por um caça! E sem CGI!
Trailer de TROVÃO AZUL
**************************************************************** Blue Thunder (1983, EUA) Direção: John Badham Elenco: Roy Scheider, Malcolm McDowell, Candy Clark, Daniel Stern, Warren Oates, Paul Roebling e David Sheiner.
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