A exibição do filme “O profeta da fome”, promovida pelo Centro de Memória do Circo na Galeria Olido, no último dia 29, foi uma homenagem ao faquir brasileiro Silki, um artista popular que infelizmente não é conhecido pela grande maioria dos brasileiros.
O Centro de Memória do Circo convidou o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, para falar sobre sua atuação como o faquir Ali Khan no filme dirigido por Maurice Capovilla em 1969. O evento contou com a presença de Rose Lopes, nora de Silki.
Antes de reproduzir o bate-papo ocorrido após a exibição do filme na Galeria Olido, Mondo Cane vai (tentar) contar um pouco da história de Silki. Adelino João da Silva nasceu no Rio Grande do Sul em 1922. “Com 9 anos de idade, ele fugiu de casa para trabalhar no circo”, conta Rose.
No circo, Adelino fica fascinado com as proezas do faquir hindu Arnaldo Weiss, o Silki. O hindu vira mestre do menino, ensinando para ele todas as técnicas do faquirismo. Com a morte do hindu, Adelino adota o nome Silki e prossegue com o legado de seu mestre.
Silki vira um artista da fome, realizando o feito de jejuar por mais de três meses nos anos 50, 60 e 80. O faquir entrava em um receptáculo de vidro, onde ficava deitado sobre uma cama de pregos. Para tornar o espetáculo mais atraente, Silki ficava na companhia de duas serpentes.
As performances de Silki aconteciam nas imediações do Largo do Paissandu, na região central. Maurice Capovilla, quando era repórter do Última Hora, foi fazer uma matéria sobre as peripécias de Silk nos anos 60. Foi aí que Capovilla teve a inspiração para fazer “O profeta da fome”.
O faquir brasileiro morreu em 1998, aos 76 anos, de causas naturais. Segundo Rose, Silki foi tetracampeão mundial de faquirismo e já esteve no Guiness Book por conta de seu feito na cama de pregos. “O Silki tinha outros números. Ele já ficou 12 dias enterrado vivo”, lembra Rose.
A seguir trechos do bate-papo com José Mojica Marins após a exibição de "O profeta da fome" na Galeria Olido:
Um dos maiores faquires do mundo Eu fui muito amigo do Silki. Guardei com muito carinho a guilhotina que ele usava nas apresentações. A fita (O profeta da fome) foi feita para demonstrar quem realmente é o Silki. Ele foi um dos maiores faquires do mundo.
Laboratório para interpretar Ali Khan O artista tem que se acostumar a tudo. Fui fazer laboratório (para fazer o papel do Ali Khan), passando por vários circos pequenos para sentir os problemas. (A intenção) foi fazer uma homenagem legal para o Silki.
Um homem que desafiava a morte Silki fazia coisas de arrepiar. Numa fração de segundos, ele retirava a cabeça da guilhotina. O cabelo dele chegou a ser cortado. Ele era um homem realmente fantástico, supercorajoso, desafiador da morte e realmente um batalhador que a gente tem que sentir orgulho.
Uma salva de palmas Eu tive a felicidade realmente de ser amigo do Silki. Ele tinha vários trabalhos que realmente abalaram o Brasil. Onde quer que esteja a sua essência, eu quero uma salva de palmas para ele.
"Não desejaria isso para meu pior inimigo" (A urna do filme) foi inspirada na urna do Silki. Realmente não foi muito legal ficar na cama de pregos. Eu fiquei umas horas lá. O Silki ficou mais de 100 dias. Não era fácil (para mim), via prego de um lado e do outro. Não desejaria isso para meu pior inimigo.
A praga da semana No final do encontro, José Mojica Marins aproveitou para rogar a tradicional praga de Zé do Caixão. Para ver o vídeo, clique aqui.
Para saber mais sobre o filme "O profeta da fome", veja o dossiê feito pela revista Contracampo clicando aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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