CYBORG COP II - O PIOR PESADELO (1994)
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CYBORG COP II - O PIOR PESADELO (1994)



No caso de uma iminente invasão de andróides/cyborgs malignos, algumas pessoas certamente apelariam para Sarah Connor, de "O Exterminador do Futuro" 1 e 2, esquecendo que ela não sobreviveria nem 20 segundos a estes filmes caso não tivesse contado com a ajuda de Kyle Reese no primeiro e do T-800 bonzinho no segundo. Outros apelariam para Rick Deckard, de "Blade Runner", também esquecendo que a performance dele como "Caçador de Andróides" foi bem ruinzinha (matou dois de quatro e quase foi morto pelos inimigos umas 20 vezes!).

E é por isso, amiguinhos, que no caso de uma iminente invasão de andróides/cyborgs malignos eu apelaria primeiro para Jack Ryan. Não o Jack Ryan famosão dos livros de Tom Clancy e de filmes como "Caçada ao Outubro Vermelho" e "Perigo Real e Imediato", mas sim o Jack Ryan classe C interpretado por David Bradley na série "Cyborg Cop". Aquele que decapitou um robô malvado usando uma motocicleta em "Cyborg Cop - A Guerra do Narcotráfico", e que agora retorna com sua indestrutível pochete de couro em CYBORG COP II - O PIOR PESADELO!


Pois eis que algum tempo depois da sua aventura original, em que enfrentou o cientista louco e traficante Kessel e seus dois cyborgs (um deles construído com o corpo do seu próprio irmão, Phillip!), o "nosso" Jack Ryan volta para um segundo round. E dessa vez é obrigado a encarar não um, nem dois, mas um autêntico exército de cyborgs, produzidos não por um cientista louco e traficante, mas pelo próprio Governo dos Estados Unidos!

Trata-se, obviamente, de mais uma produção de baixíssimo orçamento, feita direto para o lançamento em videolocadoras, da Nu Image, que então buscava o título de "nova Cannon Pictures". A sequência saiu já no ano seguinte a "Cyborg Cop 1", em 1994, comprovando a visão de mercado que o pessoal da produtora tinha. E o melhor: como em time que está ganhando não se mexe, os produtores trouxeram de volta a dobradinha Sam Firstenberg na direção e David Bradley como herói, os mesmos nomes que encabeçavam a aventura original.


Fora isso, a pobreza continua a de sempre, com um roteiro ainda mais absurdo que o do original e risíveis "roupas" de cyborg e efeitos especiais, mas com explosões e tiroteios a rodo para disfarçar a falta de dinheiro (e criatividade) em outros departamentos.

Inclusive é tanta explosão (depois de um tempo até desisti de contar) que CYBORG COP II não faria feio perto de uma superprodução dirigida pelo Michael Bay - e ainda sai ganhando pelas suas explosões serem "reais", e não produzidas por computação gráfica, e pelo filme todo ter custado o equivalente a cinco minutos de um do Michael Bay!


CYBORG COP II já começa a 200 por hora, com um bandidão sádico e careca chamado Jesse Starkraven (Morgan Hunter, uma espécie de Arnold Vosloo dos pobres) invadindo uma refinaria de drogas de um traficante rival e tocando o terror, matando incontáveis figurantes e explodindo incontáveis pedaços de cenografia. O engraçado é a maneira como acontece o "ataque": Starkraven simplesmente coloca meia dúzia de capangas, até menos, na traseira de uma caminhonete e acelera pelo interior do depósito, passando fogo em dezenas de bandidos armados até os dentes. E nenhum desses consegue revidar e atingir algum dos invasores pelo menos de raspão - afinal, eles estão desprotegidos na traseira de uma caminhonete! -, ou sequer atingir um único tirinho no próprio veículo, que termina a batalha novinho em folha, como se nunca tivesse participado de um tiroteio infernal!


O engraçado é que quando parece que a batalha terminou, chegam agentes do D.E.A. (a Divisão de Narcóticos do Governo norte-americano) e o tiroteio infernal recomeça, dessa vez com Starkraven e seus capangas contra os homens da lei!

É quando entra em cena o grande herói Jack Ryan, montado em sua Harley Davidson, usando jaqueta de couro e óculos escuros. Ele aparentemente é um dos melhores homens do D.E.A., embora tenha sido expulso da agência em "Cyborg Cop 1" - tá, é bem possível que tenha sido readmitido depois de acabar com Kessel na aventura original, mas poderiam ter pelo menos incluído uma linha de diálogo explicando isso.


Ryan tem uma velha rixa com Starkraven (prendeu o irmão dele no passado, ou coisa que o velha), e o bandidão obviamente não vai deixar barato: depois de apanhar feio, o careca executa o parceiro do herói a sangue frio, com um tiro na cabeça, apenas para apanhar mais um pouco e quase ser morto por Ryan, que precisa ser contido pelos demais colegas. Mas a justiça triunfa e Starkraven é preso e condenado à morte dentro das leis. Final feliz, certo?

Errado! Ocorre que, por mais absurdo que possa parecer, o bandidão acaba sendo escolhido como cobaia para um programa de criação de cyborgs de uma agência secreta do governo, a ATG (Anti-Terrorist Group).

E se digo absurdo é porque não consigo encontrar nenhuma explicação lógica para os sujeitos usarem criminosos psicopatas e extremamente violentos como matéria-prima para a criação de cyborgs que deveriam lutar contra criminosos psicopatas e extremamente violentos como eles! Lembra daquela lógica estúpida do filme original, que mostrava um vilão transformando um policial bonzinho em cyborg para ser seu capanga e fazer maldades, sem imaginar que a "parte boa" dele prevaleceria no final? Pois é, a mesma lógica estúpida reaparece aqui, só que com os componentes trocados!


Enfim... Não demora para Jack Ryan (hehehe) descobrir que Starkraven sumiu da penitenciária onde deveria pagar pena antes da execução. Ele começa a investigar o paradeiro do arqui-inimigo, e, nesse ínterim, o agora robótico Starkraven "desperta" e inicia uma rebelião dos seus outros colegas mecânicos (pelo menos uma dúzia!) contra os cientistas responsáveis pelo projeto.

Livres dos frágeis humanos que os controlavam, os cyborgs assumem o controle de uma usina e se preparam para ameaçar o mundo com sua maldade cibernética... a não ser, claro, que o grande "caçador de cyborgs" Ryan os enfrente com armas de grosso calibre no esperado duelo final, que reserva mais uma rodada de incontáveis explosões e tiroteios!


Embora aparentemente tenha custado o mesmo que a aventura anterior, CYBORG COP II fica o tempo todo buscando um tom épico e grandiloquente, seja na quantidade de cyborgs malvados (em comparação ao único enfrentado pelo herói na primeira parte), seja na quantidade de lutas e explosões, sempre acompanhadas por uma trilha sonora exageradíssima que parece ter sido composta para outro filme (ou para um jogo de videogame).

Além disso, a sequência foi produzida numa época em que os filmes de John Woo eram bem populares, e seu estilo passou a ser copiado ad nauseam por todo mundo. Graças à "febre Woo", toda e qualquer cena de ação de CYBORG COP II, de pessoas alvejadas caindo de grandes alturas a carros capotando, acontecem em câmera lentíssima (rendendo momentos constrangedores, como esse aqui). Não faltam nem adversários apontando a arma um para a cara do outro, ou o herói disparando com duas pistolas, uma em cada mão (acho que só faltaram mesmo as pombas voando em câmera lenta, outra "Woozice" clássica).


E justamente por isso tudo, é irônico que esta sequência não seja tão boa quanto o original. Enquanto em "Cyborg Cop 1" ficava evidente que Firstenberg e cia. não estavam ligando muito para as limitações técnicas e orçamentárias, buscando apenas fazer um filme divertido, aqui já se percebe um tantinho mais de pretensão; inclusive o filme se leva muito mais a sério do que deveria, como se Firstenberg acreditasse ser Roland Emmerich dirigindo "Soldado Universal".

Enquanto "Cyborg Cop 1" era basicamente uma mistura de "Robocop" com "O Exterminador do Futuro", aqui o roteirista Jon Stevens adiciona outros dois filmes ao coquetel: "Robocop 2", na figura do vilão psicopata que é transformado em robô com consequências desastrosas, e o já citado "Soldado Universal", no qual parece ter se inspirado o tal programa do governo que transforma criminosos em cyborgs para combate ao terrorismo (inclusive um título alternativo do filme é "Cyborg Soldier", muito mais adequado).


Mas as referências não param por aí: a versão cibernética de Starkraven é rebatizada "Spartacus" e ele se torna o cabeça da rebelião de cyborgs, como o Spartacus mais famoso fez com os escravos/gladiadores; e os uniformes usados pelos robôs lembram muito o figurino dos alienígenas do clássico seriado "V", embora aqui na cor verde-militar, e não vermelho.

E se no "Cyborg Cop" original o título já era enganoso, pois o "policial-cyborg" mal aparecia (e nem era policial, mas sim um "agente do D.E.A.-cyborg"), aqui a coisa torna-se ainda mais ridícula, pois o que temos é um exército de criminosos cibernéticos e nenhum policial nessa condição. A não ser, claro, que o título tenha outro sentido, como se o próprio Jack Ryan fosse um "cyborg cop" (nesse caso, "policial de cyborgs", e não "policial-cyborg").


Eu só senti falta de mais referências ao original, já que CYBORG COP II tenta dar um mínimo de continuidade à trama ao trazer de volta não apenas o personagem de Bradley, mas também o garotinho Frank (Steven Leader), que no original era filho adotivo do seu finado irmão Phillip, e aqui reaparece sob a guarda do próprio herói - como um conveniente refém para os vilões, óbvio.

De resto, o roteiro não se preocupa em explicar como Ryan foi readmitido no D.E.A., nem coloca o herói para dizer alguma frase do tipo "Eu já lidei com esses bastardos cibernéticos antes!". E bem que algum dos cientistas do Governo poderia soltar que o projeto de "robotização" foi baseado nas experiências de Kessel, o vilão do primeiro filme. Daria um pouquinho mais de coerência e linearidade à continuação.


Um avanço em relação ao original é que, além de mais cyborgs, CYBORG COP II também traz modelos bem mais evoluídos do que o pobre Quincy de "Cyborg Cop 1". Enquanto aquele tinha umas faquinhas mixurucas que saíam da ponta dos dedos, num bizarro cruzamento de Freddy Krueger com T-800, os modelos atuais podem "trocar" uma das suas mãos por diferentes armas acopladas na altura do pulso, tipo metralhadoras, lança-chamas e até lança-foguetes. Assim, o poder de fogo dos vilões cibernéticos é muito maior e mais devastador.

O problema é que o filme parece não saber como aproveitar vilões tão poderosos. Depois que fogem do laboratório e tomam a usina, os robôs não fazem muita coisa além de invadir um posto de gasolina vagabundo e matar seus funcionários (?!?).


E embora o roteiro apresente os cyborgs como criaturas aparentemente indestrutíveis, capazes de aniquilar um batalhão de militares e policiais, eles são destruídos facilmente com explosivos no confronto final, quando Ryan une forças com a chefona da ATG (a ruivinha Jill Pierce) para dar um jeito na ameaça mecânica.

Pior: se no primeiro filme o ponto fraco do cyborg era a eletricidade, aqui os robôs têm um sistema de visão bem fuleiro que pode ser "embaralhado" com luzes muito fortes, tipo aquela gerada por simples sinalizadores (flares)! Mas peraí: qual é a vantagem de você gastar bilhões de dólares para construir cyborgs para enfrentar grupos terroristas se os tais terroristas podem acender uma tocha e embaralhar a visão das criaturas? Algo me diz que não deviam ter poupado verba justamente no departamento de visão eletrônica...


Outro grande defeito de CYBORG COP II é o fato de que o pobre herói Jack Ryan não encosta num único robô até os 50 minutos de tempo corrido, embora já tenha certa experiência em combater cyborgs. Até então, tudo que ele faz é investigar o paradeiro do seu arqui-inimigo Starkraven, e lutando apenas contra agentes do governo que mal oferecem resistência aos seus socos e voadoras.

Somente nos 35 minutos finais Ryan começa a enfrentar os cyborgs rebelados, e, como já mencionei, ele os liquida sem muita dificuldade, apesar de o roteiro inicialmente tratá-los como monstros praticamente indestrutíveis. Inclusive o herói poderia ter facilmente explodido o próprio Starkraven/Spartacus caso o vilão não tivesse o pequeno Frankie como refém. Pense numa conveniência de roteiro...


E como conveniência de roteiro nunca é demais, acho interessante destacar que os criminosos-cyborgs teoricamente são controlados pelos cientistas que os construíram graças a um pequeno terminal que levam no pulso como bracelete. E a revolução só começa no momento em que um dos humanos idiotas tira o tal bracelete do seu pulso para transar com uma garota NO PRÓPRIO LABORATÓRIO, permitindo que os cyborgs possam subjugá-lo!

Sei não, mas se um maldito bracelete é tudo que me protege de cyborgs assassinos e praticamente indestrutíveis, acho que seria uma ótima ideia NÃO TIRÁ-LO DO PULSO EM MOMENTO ALGUM, ainda mais na presença dos tais cyborgs assassinos e praticamente indestrutíveis!


Para completar, os efeitos são paupérrimos. Todos os cyborgs têm uma "placa peitoral mecânica" que mais parece a fachada de um Chevette, e aqueles explodidos por Ryan e sua parceria no ataque final à usina são manequins mais do que visíveis. Os realizadores nem se preocuparam em colocar manequins do mesmo tamanho ou na mesma posição que os "atores" substituídos de um take para o outro. Já a explosão da usina é encenada por meio de simpáticas miniaturas  Risadas garantidas!

(A propósito, agora que caiu a ficha aqui: por que diabos o exército simplesmente não bombardeou a usina de uma vez, destruindo automaticamente todos os cyborgs, e eliminando a necessidade de a dupla de heróis ir até lá para destruir um por um, arriscando a própria vida no processo? "Por causa do garoto feito refém", você pode até argumentar, mas NINGUÉM SABIA DISSO até os heróis chegarem na usina!)


A "trashice" se estende ao departamento de figurino. Não basta Jack Ryan reaparecer com a mesma pochete de couro preta que havia usado no original, e que já havia sido motivo de piada lá: eis que a viúva do parceiro do herói também surge com uma pochete idêntica (!!!), num detalhe completamente injustificável e que só pode ser algum tipo de piada interna.

Por sinal, Ryan só abandona a sua inseparável pochete preta no confronto final, mas confesso que fiquei na dúvida se ele realmente tinha tirado a dita cuja, ou se ela apenas ficou por baixo do cinturão com explosivos que o herói passou a usar. Até porque duvido que ele tenha abandonado sua amada e fiel pochete justamente naquele momento crucial!


Vale destacar também que o roteiro tenta transformar Jack Ryan num personagem muito mais malandrão e engraçadinho que o do original. Ele até fala "Freeze!" ao atingir um rival com o conteúdo de um extintor de incêndio. Mas, infelizmente, aqui o herói não tem oportunidade de demonstrar suas habilidades de Sexta Sexy como fez no primeiro filme, e a diretora da ATG é um interesse romântico bem apagado perto da jornalista bonitinha do original. E não aparece pelada.

Para tentar compensar (sem conseguir), Firstenberg mostra algumas garotas de topless trabalhando na refinaria de cocaína do início - supostamente para não "desviarem" parte da produção nas roupas, lembrando cena parecida do original e também de "A Fúria do Protetor".


O que importa é que, pela segunda vez, Jack Ryan dá conta do recado e controla a ameaça cibernética com eficiência. É uma pena que não tenha voltado na aventura seguinte, "Cyborg Cop III - Resgate Espetacular", de 1995, onde foi substituído por não um, mas dois heróis (interpretados por outros astros da ação classe C, Frank Zagarino e Bryan Genesse). Os motivos são desconhecidos, mas é possível que David Bradley não quisesse ficar com sua carreira marcada por Jack Ryan, como Sean Connery com James Bond e Harrison Ford com Indiana Jones (e sim, eu estou sendo irônico).

Outra falta mais do que sentida no terceiro filme é a de Sam Firstenberg. Ele deixou a direção para o fraquinho Yossi Wein, que foi diretor de fotografia das duas primeiras aventuras.


Embora mais fraco que o original no quesito diversão (mas alguns pontos acima no quesito ação e explosões, que aqui aparecem em número triplicado ou até quadruplicado), CYBORG COP II não é de todo desprezível e vale a espiada, especialmente para quem tem saudade desse tipo de ação old school, com tiroteios em câmera lenta e dublês sendo catapultados para longe por explosões. Eu certamente recomendo uma sessão dupla com o primeiro no lugar do remake de "Robocop" do José Padilha.

E mais: se nos anos vindouros realmente aparecerem os cyborgs produzidos pela Skynet, ou mesmo os Replicantes de "Blade Runner", Jack Ryan é o cara que eu quero ter no meu grupo de resistência para enfrentá-los!


Trailer de CYBORG COP II



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Cyborg Cop II - O Pior Pesadelo (1994, EUA)
Direção: Sam Firstenberg
Elenco: David Bradley, Morgan Hunter, Jill Pierce,
Victor Melleney, Douglas Bristow, Adrian Waldron,
Dale Cutts e Kimberleigh Stark.



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