LUNAR COP - O VINGADOR (1995)
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LUNAR COP - O VINGADOR (1995)



(Esta é a terceira resenha de aventura pós-apocalíptica em sequência, depois dos textos sobre "Cyborg - O Dragão do Futuro" e "Condição de Defesa". Será que o medo do 2012 está se manifestando inconscientemente aqui no FILMES PARA DOIDOS?)

Bastante popular na década de 80, o ciclo de aventuras pós-apocalípticas copiando "Mad Max 2" teve uma sobrevida nos anos 1990, quando várias pequenas distribuidoras/produtoras, como Nu Image e PM Entertainment Group, desovaram inúmeras produções desse naipe nas locadoras, no finzinho da Era de Ouro do VHS. Eram títulos como "Fronteira de Aço" (1995, com Joe Lara) e "Cold Harvest - No Limite da Vingança" (1999, com Gary Daniels), entre outros produzidos a toque de caixa.


No meio de muita coisa divertida e de muita coisa ruim, a Nu Image saiu-se com uma pequena preciosidade chamada LUNAR COP. Cá entre nós: quem em sã consciência não ficaria doido para ver uma aventura classe C direct-to-video com o nome de "Policial Lunar"? (Descontando, é claro, aqueles cinéfilos chatos que só querem saber dos novos filmes de Woody Allen, Almodovar e Lars Von Trier.)

Mas calma que não fica só no título fantástico: para dar a todos vocês ainda mais tesão de ver o filme, ele é estrelado pelo decadente Michael Paré, aquele "quase-astro" dos anos 80 (de "Ruas de Fogo" e "Projeto Filadélfia") que jogou sua carreira fora e passou a estrelar essas produções mambembes - além de, mais recentemente, virar coadjuvante de luxo em quase todos os filmes do alemão Uwe Boll!


Epa, mas calma aí que eu ainda não terminei: se Paré é o astro, o "Policial Lunar" do título original, adivinha quem é o grande vilão? Uma dica: nove em cada dez aventuras baratas dos anos 90 traziam o cara como bandidão, e não é o Danny Trejo nem o Richard Lynch. Acertou quem respondeu Billy Drago, em performance doidona como "bad guy" (e eu realmente queria um pouco daquilo que o ator tomou antes de gravar suas cenas nesse filme, porque ele parece completamente maluco!).

E quando você acha que já está bom demais, e morrendo de vontade de assistir LUNAR COP, eis que vem o golpe de misericórdia: o diretor dessa balbúrdia é ninguém menos que Boaz Davidson, um dos sócios da Nu Image, mas também diretor de comédias adolescentes clássicas ("Lemon Popsicle" e sua refilmagem, "O Último Americano Virgem")!


Com toda essa "gente boa" envolvida, mais o fato de ser uma aventura pós-apocalíptica rodada com alguns trocados (orçamento de US$ 4 milhões, segundo o IMDB), LUNAR COP é simplesmente obrigatório para admiradores desse cinema tosco e sem-noção que era produzido para consumo rápido e descartável em nossas locadoras, gerando filmes que hoje são bem mais divertidos do que muito blockbuster bilionário.

Escrito por Terrence Paré (que provavelmente é irmão do astro Michael), o filme começa, claro, na Lua. E por Lua entenda uma paisagem desértica qualquer que foi filmada em preto-e-branco para parecer a paisagem lunar. Alguma vegetação "vaza" volta-e-meia no cenário lunar, mas e daí? Certamente é muito mais barato do que filmar na própria Lua!


Estamos no ano de 2050, e a câmera de Davidson mostra a estação lunar onde vivem os seres humanos que sobreviveram a um desastre ambiental na Terra. A tal estação, claro, é uma maquete das mais fuleiras filmada sobre uma mesa coberta de areia e com uma foto do espaço no fundo.

Dentro da base lunar (pffff...), um personagem não perde tempo em explicar toda a trama, através de um daqueles discursos que começam com um "Como todos sabem...", e então passa a um diálogo expositivo para situar o espectador.

Descobrimos, então, que passaram-se 27 anos desde o "Big Burn" - a destruição da Terra pelo Sol depois do desaparecimento da camada de ozônio. O pessoal da elite conseguiu sobreviver à tragédia indo para a tal base lunar, enquanto os pobres coitados que ficaram na Terra passaram a viver de maneira bárbara num mundo desértico, à la "Mad Max 2".


Descobrimos, também, que os ricaços que vivem na Lua criaram uma fórmula secreta chamada Amaranth, para provocar uma reação química nas nuvens e fazer com que volte a chover. Eles pretendem usar esse negócio para forçar a superfície terrestre a "renascer". Mas membros de um grupo terrorista atacam a base e roubam a fórmula, levando-a para a Terra.

(Pausa: engraçado que, em pleno ano 2050, os sujeitos ainda utilizem armas de fogo de grosso calibre e granadas, mesmo numa estação lunar. Aliás, eu me cagaria de medo de dar tiros e explodir granadas num lugar com atmosfera pressurizada, onde um único buraquinho na parede pode ser necessário para matar todo mundo!)


Preocupados com o destino do tal Amaranth, os governantes da Lua (pffff...) resolvem mandar seu melhor homem para a Terra em busca da fórmula. E o designado para a missão é o policial lunar Joe Brody (Paré, claro!). Esquecem eles, talvez, que a Terra tem uma superfície de 510 mihões de quilômetros quadrados (não faço ideia de quanto isso representa, mas é grande pra caramba!!!), e que um único policial lunar pode demorar séculos para encontrar algo ali - a verdadeira agulha no palheiro.

Bem, talvez houvesse um rastreador no recipiente do Amaranth ou algo do gênero, mas o que importa é que Brody pousa na Terra no exato local para onde os terroristas levaram a fórmula. E, sem qualquer explicação lógica, na cena seguinte à sua saída da Lua, o herói já aparece na Terra dirigindo uma motocicleta (que não se sabe de onde saiu) pelo mundo devastado e desértico!


E é justo no momento em que Paré chega à Terra que LUNAR COP transforma-se numa aventura "mad-maxiana" genérica, com nosso herói esquecendo a missão de reaver o Amaranth para defender uma aldeia de honestos fazendeiros sobreviventes do apocalipse, que vem sofrendo ataques dos bandidos comandados por Kay (Billy Drago, é claro!).

Resumindo: é uma espécie de "Mad Max 2" misturado com "Sete Homens e um Destino" (nesse caso, "Um Único Homem e um Destino") ou "Os Brutos Também Amam" (e pelo menos Joe Brody mata muito mais gente do que o Shane!).


Uma mistura que nem ao menos é criativa, pois além de já existirem inúmeros filmes com trama semelhante, o próprio Paré interpretou O MESMO PERSONAGEM e com A MESMA MOTIVAÇÃO em outra aventura pós-apocalíptica bem mais divertida feita anos antes, "Era da Destruição" (1988).

E por falar em brutos que amam, é claro que o herói logo irá se apaixonar por uma das terrestres, Thora (a linda Walker Brandt, vista mais tarde no ótimo slasher "Malevolence").


O confronto de Brody e seus amigos fazendeiros com os punks malvados de Kay é o ponto alto de LUNAR COP: o herói ensina a galera a se defender (novamente, como em "Sete Homens e um Destino", mas com seis homens a menos), e eles criam armadilhas hilárias como melancias explosivas repletas de pregos (!!!), que, infelizmente, são usadas numa única ceninha.

Quando você acha que a conclusão está próxima, eis que LUNAR COP reserva ainda um terceiro ato que é simplesmente hilário: a elite lunar fica putinha pelo fato de seu melhor policial apoiar os "bárbaros" da Terra devastada e manda um cyborg para eliminá-lo. Aí, o "Mad Max 2" + "Sete Homens e um Destino" ganha uma terceira influência: "O Exterminador do Futuro". É quando Brody e Thora são implacavelmente perseguidos por um fortão com metade do rosto "normal" e metade cibernético (à la Schwarzenegger em "Terminator").


O detalhe é que a maquiagem é tão ruim que parece que o pobre ator está com a cara cheia de merda (no estilo dos zumbis do hilário "Nightmare City", do Umberto Lenzi). Mais tarde, seu rosto todo ficará "deformado", menos a região ao redor dos olhos e o seu pescoço, que pelo visto os maquaidores esqueceram de retocar!!!

LUNAR COP é impossível de levar a sério, e hilário da primeira à última cena - se não pelo seu roteiro frouxo e cheio de furos, ao menos pela sua pobreza e tosquice. Cenários e figurinos são de chorar de rir (Thora, por exemplo, veste-se como se fosse uma princesa da Idade Média!), e é interessante como os bárbaros da Terra devastada não parecem lutar por água ou gasolina, como em "Mad Max 2" e suas cópias; pelo contrário, água e gasolina são usados à vontade durante todo o filme, o que me leva a crer que os vilões são apenas uns xaropes sem nada para fazer além de atacar pobres fazendeiros!


Por falar em cenários, o filme se passa quase totalmente ao ar livre quando o herói chega na Terra (as filmagens foram no Deserto da Namíbia), e as poucas cenas internas reaproveitam cenários e figurinos de uma aventura anterior também dirigida por Boaz Davidson, "American Cyborg - O Exterminador de Aço" (1993) - que, por coincidência, também tem um cyborg indestrutível perseguindo o herói Joe Lara!!!

O mais divertido de LUNAR COP é como ele surpreende mais e mais o espectador: você acha que o pior já passou, mas aí o diretor Boaz Davidson avacalha com uma bobagem ainda maior e mais divertida.


No meio da luta entre bonzinhos e vilões, por exemplo, um moleque da aldeia encarna Macaulay Culkin e dá um couro num dos bandidos como se estivesse em "Esqueceram de Mim Parte 12" - com direito ao movimento da mão seguido de "Yes!" que o Culkin sempre fazia!

Já as cenas envolvendo o cyborg conseguem ser ainda piores do que as "Shocking Dark", do italiano rei da picaretagem Bruno Mattei. Espere só para ver a cena em que o inimigo metálico misteriosamente enterra-se na areia COM MOTO E TUDO (!!!), apenas para sair de repente de debaixo da terra e dar um susto no herói! Tipo, é algo tão sem lógica que você fica se questionando o porquê de terem filmado isso - e deixado no corte final.


Mas não posso ser injusto com Billy Drago: seu vilão histérico também é muito legal, principalmente quando, durante o ataque à aldeia, pinta seu rosto com tinta colorida como se fosse, sei lá, um índio apache ou um figurante de "Coração Valente". Drago sai na porrada com Paré numa luta até bem coreografada, e o IMDB informa que o pobre Billy machucou-se de verdade no quebra-pau.

No fim, o roteiro do outro Paré reserva uma revelação-surpresa que é simplesmente o fim da picada - e uma cópia barata de "Blade Runner", adicionando ainda mais um filme conhecido à mistura bizarra feita pelo roteirista. Não sei se era para ser um desfecho dramático, mas eu sinceramente me peguei rindo alto e sozinho no sofá!


Se você é fã daquelas cópias toscas de "Mad Max 2" feitas nos anos 80 (como "Stryker - O Sobrevivente", do filipino Cirio H. Santiago), não deixe de dar uma chance a LUNAR COP. Principalmente porque o filme não é só trasheira e também se segura pela ação, incluindo uma contagem de cadáveres que chega às raias dos 100 mortos - muito mais do que Paré matou no fracassado "Execução Sumária", por exemplo.

Aliás, Michael Paré pode ser um dos piores atores do universo (não consegui perceber uma simples mudança de expressão nele durante o filme todo), mas mesmo assim está foda demais como o "policial lunar" Joe Brody, sempre vestido de preto, sempre pilotando velozmente a sua moto e sempre metendo chumbo nos bandidos com uma espingarda enorme. Ele não faz feio como clone de Mad Max, e também não é difícil acreditar que seu herói conseguiria sobreviver num mundo pós-apocalíptico.


No Brasil, LUNAR COP foi lançado em vídeo bem na fase de transição entre VHS e DVD. Mas a distribuidora nacional não foi esperta o suficiente para perceber que um dos grandes charmes dessa aventura trash era o título, e preferiu adotar um título genérico, "O Vingador", embora o herói não se vingue de ninguém durante o filme.

Para piorar, já existiam vários "O Vingador" nas prateleiras das locadoras, como "Raven" (1996) e "Murphy's Law" (1986), este com Charles Bronson.


E embora essa seja apenas uma obra de ficção (mal-)escrita por um parente do Michael Paré, anote aí a data de 2023 como possível ano para o tal "Big Burn". Considerando que a camada de ozônio realmente está mais esburacada que o roteiro desse filme, vai que Davidson e o outro Paré foram visionários e previram nosso futuro?

Bem, se for o caso, fica a dica: melhor continuar na Terra desértica com os "bárbaros", mas ao mesmo tempo acompanhado de gatinhas tipo a Walker Brandt, do que numa estação espacial tosca na Lua, onde todo mundo se veste como se estivesse num episódio da série clássica de "Jornada nas Estrelas" e as únicas mulheres são umas cyborgs bem vadias reservadas apenas ao pessoal mais endinheirado...

Trailer de LUNAR COP
 


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Lunar Cop / Solar Force (1995, EUA) 
Direção: Boaz Davidson Elenco: Michael Paré, Billy Drago, 
Walker Brandt, Robin Smith, Gavin Van Der Berg, Wilson Dunster, 
Ron Smerczak, Greg Latter e David Sherwood.



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