O TESOURO DO OVNI (1988)
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O TESOURO DO OVNI (1988)



Em 1987, o diretor-roteirista Nello Rossati (aka "Ted Archer") uniu-se a Franco Nero para fazer o descartável western "Django, A Volta do Vingador", única seqüência oficial do "Django" de Sergio Corbucci, e ironicamente muito pior que todas as imitações picaretas e continuações não-oficiais.

Mas isso não vem ao caso.

O que importa é que o resultado frustrante do "Django 2 - A Missão" acabou ofuscando a parceria posterior entre Rossati e Nero, um filmeco chamado O TESOURO DO OVNI, que é tão ruim quanto a volta de Django, mas infinitamente mais engraçado e absurdo.


Trata-se de mais um autêntico FILME PARA DOIDOS: mesmo sem dinheiro para fazer qualquer coisa decente, Rossati juntou, num mesmo filme, alienígenas, cyborgs à la "O Exterminador do Futuro", conspirações universais, um tesouro asteca, o Triângulo das Bermudas, uma caravela espanhola, um disco voador, vilões nazistas, índios, soldados, assassinos e mulheres fatais!!! Tudo com um climão meio Indiana Jones, meio "Tudo por uma Esmeralda" - copiando até a locação deste último em Cartagena, na Colômbia.

Claro que o resultado de uma mistura tão indigesta só poderia ser um trashão daqueles para rir do começo ao fim. Neste caso, entretanto, as risadas se concentram da metade para o final, quando o filme vai ficando progressivamente mais maluco; a primeira parte, que tenta ser "aventura séria", é quase intragável, e exige um pouco de paciência do espectador fã de podreira cinematográfica.


Apesar do pôster que mostra Franco Nero como um aventureiro estilo Indiana Jones, e do título nacional - que parece vender uma história de caça ao tesouro -, o filme começa quase como um suspense. Franco Nero interpreta Ted Angelo, um repórter-escritor alcoólatra que está na Colômbia preparando material para seu novo livro. Isso na teoria, porque na prática ele apareça o tempo inteiro mamado de cachaça e/ou transando com a bonita camareira do hotel de quinta categoria em que está hospedado.

Logo a tal camareira, Juanita (Shirley Hernandez), surge com umas relíquias astecas encontradas pelo namorado pescador, e Angelo se surpreende com a raridade e o estado de conservação das peças. Entre elas, há um diário que relata a viagem de uma caravela espanhola desaparecida há séculos.


Mas o herói cai na burrada de mostrar o material para Heinrich Holzmann, um velho carniceiro nazista colecionador de antigüidades (interpretado por George Kennedy!!!), e a partir de então passa a ser caçado por assassinos, enquanto todos os seus amigos e conhecidos são exterminados sem dó nem piedade.

Angelo descobre que a tal caravela desaparecida está escondida numa caverna no alto de uma montanha, e que foi um disco voador que levou a embarcação até ali (?!?). Começa a elaborar uma mirabolante teoria sobre seqüestros alienígenas de navios e aviões desaparecidos (lembra do Triângulo das Bermudas?), mas não consegue tornar a história pública porque seus perseguidores estão infiltrados em toda parte.


Na verdade, como descobriremos mais tarde, os alienígenas vivem escondidos entre os humanos desde a aurora dos tempos (lembrando "Eles Vivem", que é do mesmo ano), ocupando postos de destaque e influenciando a humanidade para que não acredite na existência de vida fora da Terra.

Como o disco voador encontrado pelo herói é a peça que falta para provar o contrário, os conspiradores resolvem sumir com ele - ao invés de explodir a montanha e o OVNI para deixá-lo sem nenhuma prova...


Como escrevi antes, a primeira metade de O TESOURO DO OVNI não passa de uma aventurazinha de quinta categoria, quando o protagonista é perseguido por tudo e todos por ter descoberto o "segredo" dos aliens. Como num episódio de "Arquivo X", ou como os Homens de Preto do gibi "Martin Mystère", TODOS os personagens secundários do filme parecem fazer parte da tal conspiração e começam a correr atrás do herói para matá-lo, gerando uma série de perseguições chinfrins seguidas de tiroteios idem.

Nesta primeira metade, o pobre Franco Nero passa o tempo todo correndo, inclusive descalço sobre cactos (!!!). É somente na última meia hora que a coisa começa a ficar divertida, quando Angelo une-se a uma bibliotecária bonitinha, June (a inglesa Deborah Moore, que é filha de Roger Moore!!!), para tentar tornar pública a existência do disco voador e salvar o próprio pescoço.


Nesse momento, um cyborg de origem aligenígena cai praticamente de pára-quedas no filme, imitando Schwarzenegger em "O Exterminador do Futuro" e perseguindo nossos heróis com parte do rosto biônico aparecendo por baixo da pele rasgada (os efeitos de maquiagem até que são razoáveis).

A partir daí, o filme de Rossati segue cada vez mais maluco e involuntariamente engraçado. Afinal, nossos heróis usam um touro (!!!) para destruir o cyborg, que convenientemente usava uma camisa vermelha para atrair a fúria do quadrúpede.


Porém o auge da trasheira do filme é a revelação de que a ex-mulher de Angelo (Mary Stavin, que interpretava a vizinha gostosa em "A Casa do Espanto") é uma das alienígenas infiltradas no planeta! Sim, meus caros, nosso herói passou boa parte da sua vida transando com uma (ou um!) extraterrestre!

Para tornar a cena toda ainda mais hilária, o pobre Franco Nero capricha na expressão de "Ai meu Deus do céu, agora fodeu! Minha ex-mulher é um alien!!!", diante da insólita revelação! Um momento lindo que merece até "slide show":


Aliás, méritos para os efeitos da mutação da humana em alien, cheia de melecas e trucagens mecânicas pré-CGI. Parece inspirada em filmes como "A Mosca" (a gosma e os pedaços do corpo caindo) e "Um Lobisomem Americano em Londres" (o rosto "alargando"). Curiosamente, o ET é a cara das criaturas mostradas no posterior "Abismo do Medo".

Por tudo isso, O TESOURO DO OVNI se transforma em uma aventura bagaceira e razoavelmente divertida, bem diferente do que prometia o início insosso. Só é uma pena que os elementos mais interessantes do roteiro, como o disco voador e o navio escondidos no interior da montanha, sejam usados beeeeeeeem brevemente, talvez por contenção de recursos.


A mistureba promovida pelo roteiro também não permite que o diretor Rossati possa desenvolver satisfatoriamente as diversas idéias utilizadas. O cyborg alienígena, por exemplo, surge no filme saído do nada, quando poderia estar perseguindo os heróis desde o início; já o nazista interpretado pelo veterano Kennedy some de cena ainda na primeira parte do filme, numa participação pequena e frustrante para quem esperava ser ele o grande vilão da história.

Também contribui para o fator trash da película a direção patética de Rossati, principalmente nas cenas de ação, que nunca empolgam, e ainda trazem grosseiros erros de continuidade. No maior deles, o herói está de carona na carroceria de uma caminhonete e é visto pelo motorista de um jipe que vem atrás; porém, na cena posterior, vemos que a carroceria da caminhonete estava cheia de gaiolas com galinhas, e o protagonista estava sentado atrás delas, portanto nunca poderia ter sido avistado pelo motorista do jipe!


Felizmente, toda essa incompetência técnica é compensada com as cenas do touro contra o cyborg e da ex-mulher alienígena, que sozinhas já valem uma espiada em O TESOURO DO OVNI. Nem que seja para constatar que os italianos já haviam feito uma aventura à la Indiana Jones com ETs duas décadas ANTES de Spielberg fazer o mesmo "oficialmente" em "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal"!

PS 1: Outro ator veterano, o austríaco William Berger, também tem participação tão rápida e medíocre quanto a de George Kennedy (será que os caras recebiam o cachê por minuto?). Ele interpreta um professor que é amigo do personagem de Franco Nero e obviamente morre por causa disso!

PS 2: O filme foi lançado nos EUA com o título picareta "Alien Terminator", tentando criar alguma relação com o "Terminator" de James Cameron e a série "Alien".

Como destruir um cyborg usando um touro



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O Tesouro do Ovni (Top Line/
Alien Terminator, 1988, Itália)

Direção: Ted Archer (Nello Rossati)
Elenco: Franco Nero, Deborah Moore, Mary Stavin,
William Berger, George Kennedy, Rodrigo Obregón,
Shirley Hernandez e Larry Dolgin.



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