DEZ MINUTOS PARA MORRER (1983)
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DEZ MINUTOS PARA MORRER (1983)



"Não deixe seus sentimentos interferirem no seu trabalho", diz o veterano policial interpretado por Charles Bronson ao seu novato parceiro no início de DEZ MINUTOS PARA MORRER. Alguns momentos mais tarde, ironicamente, o próprio Bronson estará esquecendo o seu conselho ao descobrir que uma menina da vizinhança, que viu crescer, foi retalhada por um assassino psicopata, e sua filha é o próximo alvo do criminoso.

Lançado em 1983, DEZ MINUTOS PARA MORRER ("Dez para a meia-noite", no original, mas o título não tem nenhuma relação com a história nem em português e nem em inglês!) é um filme sui generis na "filmografia oitentista" de Bronson - que, a essa altura, já tinha 61 anos.


Sui generis porque é a primeira aventura do ator produzida pela infame Cannon Films, mas ainda assim mantém uma certa qualidade narrativa sem exageros. O extremo oposto, portanto, de quase tudo que Bronson faria a partir de então com a Cannon, quando encarnou uma espécie de Rambo geriátrico em produções cada vez mais absurdas, como "Desejo de Matar 3" e "Assassinato nos Estados Unidos" - e mesmo que esses filmes tenham ganhado certo "ar cult" com o tempo, é inegável que representam o ponto mais baixo da carreira do ator, ainda mais depois de obras inspiradíssimas como "Mr. Majestyk", "Desejo de Matar" e "Era uma Vez no Oeste"...

DEZ MINUTOS PARA MORRER simplesmente não parece aquele típico filme rasteiro de Charles Bronson com o qual o público acabou se acostumando nos anos 80. Pelo contrário, é uma história policial séria e levada a sério, onde cenas de investigação e sangrentos assassinatos - quase como um slasher movie para adultos - ocupam o espaço geralmente reservado para os tiros, socos e frases de efeito do herói grisalho.


Tanto que quem assistir esperando ação, ou ver Bronson arregaçando geral, pode até se decepcionar: mais que um policial, DEZ MINUTOS PARA MORRER é um autêntico filme de suspense, cujo roteiro (de WIlliam Roberts) é inspirado na "carreira" de dois famosos serial killers reais: Richard Speck e Ted Bundy.

O velho Charlie interpreta um policial veterano (claro) chamado Leo Kessler (Kessler, Kersey... esses roteiristas não têm criatividade?). Outrora um oficial correto, que seguia tudo estritamente dentro da lei, Kessler viu tanta injustiça e barbaridade em sua carreira que resolveu agir diferente, fazendo tudo, mas tudo mesmo para que a justiça se cumpra da forma que for necessário.


"Antigamente as leis protegiam a nós, agora protegem aos criminosos", diz o herói, em determinado momento do filme. Amargurado e violento, quase sempre vestido de preto e mantendo um relacionamento distante com a filha enfermeira Laurie (Lisa Eilbacher, de "Um Tira da Pesada"), Kessler é aquele tipo de policial prestes a mandar tudo à puta que pariu e explodir.

O estopim para que a fúria do herói se concretize é um psicopata chamado Warren Stacy (Gene Davis). Jovem e perturbado por não conseguir manter relações sexuais, Warren diverte-se perseguindo e matando as garotas que desdenham dele - ou seja, metade da cidade.

O diferencial é que o sujeito é espertíssimo: antes de agir, ele sempre consegue um álibi para não se complicar com a polícia - como incomodar algumas garotas dentro do cinema, para ter certeza de ser reconhecido, antes de sair pela janela do banheiro para matar uma vítima.


Outro detalhe que caracteriza a ação do psicopata, e que talvez seja a coisa mais criativa do filme, é o fato de ele cometer seus crimes completamente nu, para não sujar as roupas de sangue, eliminando qualquer possibilidade de levar para casa a mínima evidência dos assassinatos que comete!

Só que uma das vítimas de Warren era uma antiga vizinha de Kessler e amiga da filha do policial. Por isso, ele acaba levando a coisa para o lado pessoal e dá prioridade ao caso. É ajudado por um policial almofadinha que está dando seus primeiros passos na profissão, Paul McAnn (o futuro galã de filmes classe B Andrew Stevens). Todo certinho e dedicado a seguir fielmente a lei, McAnn é o completo oposto de Kessler, e logo a personalidade diferente dos dois colegas vai bater de frente.


Quando o diário da tal vítima incrimina Warren (a moça tinha muito medo das ameaças dele e registrou tudo para o caso de ser morta), Kessler faz de tudo para prender o maníaco pelas vias legais - principalmente quando o sujeito começa a crescer o olho para cima da sua filha. Mas Warren tem álibis, e nenhuma prova contra ele.

Kessler sabe que, se quiser salvar a pele da filha - e de outras garotas inocentes -, terá que apelar. Assim, ele forja provas que fazem com que Warren seja preso. Mas o certinho McAnn descobre a mutreta e joga areia no plano do colega. Resultado: Warren é libertado e Kessler demitido da polícia.

Claro que nosso herói não pretende dar o arrego para o assassino, e pelo resto do filme, sem a responsabilidade de um distintivo, Kessler transformará a vida do rapaz num inferno, até um sangrento e eletrizante ato final de deixar o espectador roendo as unhas.


DEZ MINUTOS PARA MORRER valeria apenas por esta fantástica meia hora final, que recria o violento caso verídico em que Richard Speck invadiu um dormitório de jovens enfermeiras para estuprar e matar várias delas. Não bastasse isso, temos uma daquelas cenas inesquecíveis de tão bizarras: o vilão perseguindo sua vítima pelas ruas da cidade COMPLETAMENTE PELADO!!!

(Aliás, o filme tem tanta nudez masculina e feminina que, segundo o IMDB, foram gravadas cenas alternativas para que ele pudesse ser exibido na televisão sem que fosse preciso cortar mais da metade. Nestas cenas mais brandas, Warren ataca usando cueca, e não completamente nu, como na versão "oficial".)


DEZ MINUTOS PARA MORRER marca a quarta colaboração de Charles Bronson com o diretor inglês J. Lee Thompson. Depois desse, eles fariam outros cinco filmes juntos, mas nada no mesmo nível - embora a aventura "Justiça Selvagem", de 1984, seja especialmente charmosa pela quantidade de brutalidade e exageros.

E como Bronson está bem no filme! Os cinéfilos de botequim que ridicularizam o ator por suas participações pífias de fim de carreira deveriam morder a língua e baixar a cabeça diante de cenas tensas como a do interrogatório de Warren por Kessler. O herói sabe que está com o assassino diante dele, mas ainda precisa jogar "conforme as regras". A cena, entretanto, é levada num crescendo de tensão e ódio entre os antagonistas. Primeiro, Kessler bombardeia Warren com perguntas vexatórias, tentando fazer com que se descontrole; depois, mostra um vibrador em formato de vagina que foi encontrado no banheiro da casa do "suspeito". Por fim, atira as fotos das vítimas mutiladas sobre a mesa e depois força a cabeça de Warren sobre elas, gritando "Olhe para estas malditas fotos!", antes de ser contido pelos parceiros.


O filme inclusive pode ser visto como uma espécie de releitura de "Perseguidor Implacável", de Don Siegel, a primeira aventura do policial durão Dirty Harry, em que o herói também persegue um serial killer e precisa jogar sujo para escapar das "amarras burocráticas" que permitem que o vilão mate livremente.

A diferença é que, em "Perseguidor Implacável", o policial interpretado por Clint Eastwood já é mostrado como um rebelde que faz justiça à bala desde o início do filme, enquanto em DEZ MINUTOS PARA MORRER a transformação de Kessler de policial que segue a lei em justiceiro acontece de forma gradual (e natural). Aliás, é impossível imaginar outro desfecho para o filme.


Desfecho que, por sinal, assinala outra magnífica interpretação de Bronson (para aqueles cinéfilos de botequim anteriormente citados voltarem a morder a língua). *SPOILER* Diante do vilão completamente nu, e apontando o revólver para a sua cabeça, Kessler começa um discurso amargurado, com fúria e tristeza incontidas nos olhos: "Eu tentei prender você, tirá-lo das ruas, fazer com que parasse de matar... Mas não consegui. E agora você matou mais três garotas. Oh, aquelas pobres garotas... Seu doente filho da puta!". Quando Warren alega que é doente e pede para ser preso, Kessler responde com um tiro na cabeça do rapaz! *FIM DO SPOILER*.


DEZ MINUTOS PARA MORRER também é interessante pelas várias caras conhecidas no elenco secundário: além de Andrew Stevens, aparecem Wilford Brimley como superior do herói, Geoffrey Lewis como advogado filho da puta (daqueles que dá vontade de esmurrar) e a gracinha Kelly Preston em papel bem pequeno de vítima, ainda no começo da carreira.

Não bastasse tantas qualidades, este suspense de primeira ainda tem uma curiosidade quase inacreditável: apesar de ter sido produzido nos exagerados anos 80, Charles Bronson interpreta um policial que dispara UM ÚNICO TIRO durante o filme inteiro! Algo que é ainda mais inacreditável quando lembramos que, nas suas produções posteriores com a Cannon, ele matou gente com todo tipo de arsenal, de metralhadores de grosso calibre a bazucas!

PS: Resenha sugerida pela leitora habitual Daniela Monteiro, que disse ser este o seu filme preferido do Charles Bronson.

Trailer de DEZ MINUTOS PARA MORRER



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Dez Minutos para Morrer (10 to Midnight,
1983, EUA)

Direção: J. Lee Thompson
Elenco: Charles Bronson, Lisa Eilbacher,
Andrew Stevens, Gene Davis, Geoffrey Lewis,
Wilford Brimley e Kelly Preston.



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