Entrevista com Julius Belvedere
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Entrevista com Julius Belvedere



(Transcrição de entrevista feita por mim, na cidade de Mairiporã, em 25/09/2004).

Julius Belvedere, pseudônimo do professor de Língua Portuguesa Russel de Silva Ribeiro, natural de Atibaia (SP), notabilizou-se na Boca do Lixo paulistana, no final dos anos 1970, como roteirista.

Entre seus trabalhos, destacaram-se os roteiros para os filmes NÓS, OS AMANTES (1978) e LIBERDADE SEXUAL (1979), ambos dirigidos por Wilson Rodrigues, e CASAIS PROIBIDOS (1981), dirigido por Ubiratan Gonçalves, e escrito em parceria com o produtor Dourival Coutinho.

Mas o roteirista ficaria mais conhecido por um filme de horror escrito e dirigido por ele em 1982: O CASTELO DAS TARAS, grande sucesso de público nos cinemas de todo o Brasil.

Primeiro, vamos à sua história pessoal. Como um professor de língua portuguesa foi parar na Boca do Lixo como roteirista?
Em 1975, fui procurado pelos pais de duas alunas minhas do colegial. Eles estavam preocupados porque as meninas queriam participar de um teste para atuar em um filme da Boca, e me pediram para ir com elas. As meninas me deixaram ir sem saber que os pais haviam pedido! Mas eles tinham seus motivos: era realmente perigoso ir à Boca do Lixo. Não tanto quanto hoje, mas já era complicado.

Aquela região era mais segura nos anos 1970?
São Paulo de maneira geral era mais segura, mas a Boca, naquele tempo, fervilhava de gente. Atrizes como Marília Pêra e Fernanda Montenegro podiam freqüentar aqueles bares, o que hoje seria impossível, mesmo com muitas produtoras instaladas nos mesmos prédios. As pessoas se reuniam naquela região, às vezes sem motivo específico, porque sempre podia pintar serviço com o Massaini, o Galante, o Mansur.

Voltando ao teste das meninas...
Fui com elas a uma pequena produtora chamada Planeta Filmes, do Ary Santiago. Vi o pessoal, os testes, e observei que não havia perigo algum para elas. Mas, depois que o teste terminou, as moças comentaram com o produtor que eu era o professor de Português delas. Então, ele me perguntou: “o senhor escreve?”. Eu respondi que sim. “O senhor é capaz de escrever uma história?”. Eu respondi que sim. “O senhor pode vir aqui amanhã à tarde?”. Acabei voltando lá no dia seguinte, e ele me levou ao laboratório Líder para ver o copião de um filme. Assisti ao copião, e ele me perguntou: “O senhor entendeu o que está acontecendo? Nosso problema é o seguinte: filmamos a história até aqui, mas essa atriz morreu. Com isso, não temos como filmar o resto do roteiro, mas precisamos continuar isso aí, pois já coloquei muito dinheiro nisso.” Respondi que, do jeito que estava, não dava pra continuar, até porque a história estava meio ruinzinha. Mas prometi bolar uma história e inserir o material já filmado como flashback. O cara aceitou, e isso daria origem a NÓS, OS AMANTES.

Esse era o nome original do filme no roteiro?
Não! Eles quase sempre mudavam nossos títulos. O nome que eu havia dado para esse era O ÚLTIMO CREPÚSCULO. Mas, segundo consta, quando começou a chegar o material de divulgação no circuito Havaí, alguém perguntou: “o que é crepúsculo”, e isso levou os produtores a trocar o nome.

Que nem ficou ruim.
Pois é, houve piores. O CASTELO DAS TARAS, por exemplo, se chamava simplesmente O CASTELO. Mas os produtores e distribuidores sempre preferiam títulos com apelo erótico mais evidente, pois isso atraía mais o público.

NÓS, OS AMANTES foi bem sucedido nas bilheterias
Sim, muito. Ele me pagou o roteiro e eu já me interessei e pude ver a filmagem. E ele tinha lá uma biblioteca de livros sobre cinema, e eu fui me interessando. Aí ele me disse: tá vendo esses livros aí? Tá tudo escrito em inglês. Era uma biblografia boa sobre posição de câmera, medidas de enquadramentos. Que hoje isso mudou porque a TV tem visor, mas naquele tempo o diretor imaginava tudo, explicava para o fotógrafo e só dava para saber como tinha ficado depois da revelação. Você ia ver o que você fez três dias depois. E se alguam coisa desse errdao, ia ter que fazer novamente. No CASTELO DAS TARAS, por exemplo, estávamos fazendo uma filmagem perfeita, lá em Bauru, e quando chegou no copião, estava muito bonito. Mas a gente bateu o olho, ninguém viu, mas tinha um teço-teco voando no fiundo. Se o filme se passava numa época de castelos, como podia ter um teço-teco voando? Perdemos a tomada.

Ate então você nunca tinha pensado em ser cineasta?
Não. Mas aí comecei a me interessar e fui procurar os diretores. Comecei pelo Carlão, disse que havia assistido a filmes dele, e ele me convidou para ver as filmagens. E eu comecei a dar de bicão para aprender. E, além disso, se eu não gostava que filmassem de um jeito diferente do que eu havia escrito, era melhor começar a dirigir. Aí eu ficava dando palpites e começaram a me dar cenas pra dirirgir. Acabei parando de dar aulas e fiquei trabalhando só no cinema, pois começavam a surgir outros trabalhos, e aquela era uma época em que dava pra viver disso.

O que era preciso para ser um bom roteirista na Boca?
Tinha que aprender a fazer roteiros baratos, e isso eu tinha aprendido. Num roteiro barato não pode ter carro pra explodir, o cara não pode pegar avião, de preferência a maior parte das tomadas são internas. Eu cheguei a escrever um roteiro chamado FÉRIAS DE VERÃO, cuja filmagem acabou sendo interrompoida, que tinha só cinco personagens fechados numa casa. Ainda quero filmar esse roteiro, que não é um texto encomendado.

Um dos aspectos que mais chama a atenção nos filmes da Boca é o estilo dos títulos. Como roteirista, foi você que criou os seus?
Não. Na maioria das vezes, os títulos dos filmes eram modificados pelos produtores para o lançamento. O CASTELO DAS TARAS, por exemplo, se chamava O CASTELO. Mas eles preferiam esses nomes horrorosos com apelo erótico evidente para atrair o público.

Já que entramos direto no tema mercadológico, conte-nos sobre o sucesso de público de O CASTELO DAS TARAS, um dos filmes mais assistidos no Brasil em 1982.
O filme entrou no circuito e atingiu três semanas no circuito, equando isso oscorria, por direiro de lei, ele contimraia em cartaz. Mas havia um filme americano para entrar, e eles deram dinheiro para a distribuidora para tirar O CASTELO. E não foi pouco que eles pagaram. Na época, a gente conhecia todo mundo, então era fácil de saber. Não posso te dizer com certeza, pois esses dados nem sempre eram confiáveis. Mas tanto esse filme quanto NÓS, OS AMANTES atingiram três semanas no circuito Havaí, o que era um feito em termos de audiência. E depois eles rodaram em todo o Brasil. O sucesso d'O CASTELO no Nordeste foi enome, acho que os nordestinos gostam muito de temas fantásticos.

Você tem idéia de quanto este filme rendeu em termos financeiros?
De acordo com o Dourival Coutinho, que era o produtor, não tinha como ter certeza da bilheteria, pois não havia qualquer controle, roubava-se muito. Mas, mesmo assim, ganhamos muito dinheiro. Até eu ganhei uma bolada. Quando o filme foi lançado no Cine Marabá, em frente ao Cine Ipiranga, a fila virava na Avenida São João. Tinha neguinho que ficava esperando a outra sessão por não conseguir entrar. Na época, foi um fenômeno.

E qual era o público que ia assistir ao este filme?
O mesmo público do cinema da Boca: o público masculino. O filme tinha muitas cenas de lesbianismo e de mulheres sendo mortas, o que também espantava as mulheres.

O final do filme faz uma citação da cena da escadaria de Vertigo, do Hitchcock, ou é coincidência?
Não é coincidência. Hitchcock é minha principal referência, já giostava dele muito antes de pensar em fazer filmes.

E há também umas imagens intrigantes de umas estátuas macabras no castelo, incluídas no filme como inserts...

Isso foi idéia do meu diretor de fotografia, Sérgio Mastrocola, que fora premiado nos EUA por ter feito um comercial de Marlboro. E ele não fotigrafava longa, e sim colmerciais. Mas eu tinha visto um comnercial dele muito bom e pedi para achareme el epro filme. E ele disse “meu maior ]sonho cvai se reaklizar, sempre sonjhei em fazer a fotografia de lonbga”. E ele trabalhou imagens recprtdata

E por que você decidiu fazer seu primeiro longa como um filme fantástico?
Esse gênero é a minha grande paixão. Mesmo nos outros roteiros eu tentei puxar por aí, mas os produtores resistiam mais, achavam aquilo meio esquisito, não entendiam. Mas eu acredito profundamente nesse gênero do trascedental, do mistério.

O Brasil não tem muita tradição desse gênero, mas na mesma época fase vários filmes de diferentes diretores/produtores da Boca buscaram o fantástico. Isso foi de propósito? Foi coincidência?
O que ocorreu na época é que começou a se criar um grupo (com caras como o Khouri, o Carlão e o Mojica) que tinham destaque, se reuniam etc. Era uma patota. E quando a patota se reunia, acho que esse assunto chegou a surgir.


Leia também:
O CASTELO DAS TARAS em imagens
Texto de Cesar Zamberlan sobre Julius Belvedere
Outra entrevista com Julius, por Matheus Trunk
O Castelo das Taras, por Matheus Trunk



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