Entrevista histórica 2: Walter Gabarron
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Entrevista histórica 2: Walter Gabarron


Mondo Cane publica hoje a segunda parte da entrevista com o ator Walter Gabarron, um dos mais atuantes da fase explícita do cinema da Boca do Lixo de São Paulo. Na foto ao lado, Gabarron aparece entre as atrizes Paula Sanches (à esquerda) e Cláudia Wonder, no filme "Sexo dos Anormais", dirigido em 1984 por Alfredo Sternheim.

Como sua família reagiu quando você começou a fazer filmes pornô? Teve algum problema?
Da família exatamente não. Porque eu sou órfão de pai e mãe. Então eu considero família pai e mãe. Fui criado separado dos meus irmãos. Mas quando saiu em 84 uma matéria sobre mim no jornal, acho que foi a primeira colorida do NP (Notícias Populares): "Marido e esposa ganham a vida fazendo sexo". Eu atuava com minha mulher (no cinema). E a matéria saiu bem grande. Foi um choque. Meus tios ficaram furiosos. No dia que saiu a matéria, eu fui para o interior, onde eles (tios) moram. Cheguei lá, tinha uma festa. Cheguei e eu não sabia se entrava ou se voltava pra rodoviária, porque a recepção foi péssima. Eu tenho uma tia que é freira. Ela foi quem quebrou o gelo, "vamos entrando", tal. Entrei e então entendi a situação. Este jornal estava bem na mesinha. Aí deles eles foram entendendo. Passaram a entender que era um trabalho artístico, que era uma coisa profissional.

Onde você nasceu?
São Paulo.

Mas a família é do interior?
Interior de Jaú. Eu fui criado lá. Fui criado em Jaú até os 12 anos. Depois que eu vim para São Paulo para morar com meu pai, pois a minha avó, que me criava, morreu. Quando fiz 14 anos, meu pai morreu. Aí eu caí no mundo, fiquei sozinho. Nunca dei muita importância pro lado de família não.

Trabalhar com teatro (infantil) foi seu primeiro emprego?
Não. Antes disso fiz um curso no Senai, me formei em eletricidade. Fui secretário, um monte de coisa.

Mas chegou a exercer a profissão?
Não sei nem instalar uma lâmpada hoje.

Ficou só no curso mesmo.
Só no curso. Não gostava, eu fiz exatamente por causa deste negócio de família: "não, tem que ter uma profissão". Aí eu fui e fiz. Me formei, só que o diploma está enfiado em uma gaveta não sei onde.

As pessoas que trabalham pela primeira vez numa peça pornô chegam com algum bloqueio pra desenvolver o papel? Como é que você faz para quebrar esse bloqueio deles? (Nota de Mondo Cane: na época, Walter Gabarron coordenava as apresentações no Teatro Orion)
Bem, a inibição pra teatro... Principalmente para fazer uma cena de sexo no teatro ao vivo, o cara leva, se ele nunca fez nada, uma semana (pra perder a inibição). E mesmo assim, às vezes não consegue, desiste.

Aí você vai fazendo ensaios com ele até botar ao vivo...
O ensaio é feito em cena mesmo, com o público, porque não tem como (ser o contrário). De repente o cara consegue (fazer sexo) sem ninguém (olhando), mas quando ele vê 10 pessoas na platéia não consegue.

No teatro, para a mulher o trabalho é mais fácil, sendo que o homem tem a obrigatoriedade de ter uma ereção...
O homem é o seguinte: ou sobe ou não sobe.

Se não subir, como é que faz na hora? Como que improvisa?
Neste caso eu tenho bastante experiência. Então eu tinha (para escolher) todas as posições na época que eu fazia (peças pornôs). São 20, 30 posições. Dentre elas eu escolho aquela que não mostra (o órgão penetrando). Eu faço um simulado muito bem feito e às vezes o pessoal não percebe. Agora quem não tem a manha é vaiado, é brocha daqui, brocha dali. E acontece, porque tem hora que você tá com dor de cabeça, não tá legal, você não está bem, o pau não sobe mesmo. Quanto mais a menina chupa, mais ele cai, entendeu? Aí o cara é vaiado mesmo.

(Continua)
Veja a primeira parte aqui.



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