FAR CRY (2008)
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FAR CRY (2008)



O diretor alemão Uwe Boll entrou para a história do cinema ruim pelas suas péssimas adaptações de jogos de videogame para a telona, como "House of the Dead" e "Alone in the Dark". E não aprendeu a lição, já que continuou fazendo filmes baseados em games ("Bloodrayne", "Dungeon Siege/Em Nome do Rei", "Postal") cujos roteiros têm pouco ou nada a ver com os jogos em questão. Isso rendeu até uma "piada interna" em "Postal", que mostra Uwe Boll, como ele mesmo, declarando que odeia videogames, pouco depois de ser atacado pelo próprio criador do jogo "Postal", furioso com o cineasta pelo que foi feito com sua obra!

Mas justiça seja feita: tenho 30 anos na cara e não consigo lembrar de uma adaptação cinematográfica de jogo de videogame que possa ser considerada interessante ou pelo menos fiel ao material em que se inspira, de "Resident Evil" a "Super Mario", de "Max Payne" a... argh!, "Street Fighter - A Última Ameaça". Talvez só o "Terror em Silent Hill", de Christopher Gans, tenha ficado acima da média, mas tem pouquíssimo a ver com o jogo, e seus pontos positivos são mais méritos do cineasta do que do game.


Voltemos a Boll: embora ele tenha se saído bem melhor com suas obras não-baseadas em games, como "Tunnel Rats" e "Heart of America", continua desovando filmes ligeiramente inspirados em jogos todo ano, até porque considera economicamente viável para um produtor independente explorar títulos conhecidos, como estes dos games, conforme ele explicou no ótimo documentário "Visiting Uwe".

E isso nos leva a FAR CRY, que por enquanto é a mais recente obra baseada em videogames dirigida por Boll. Como todos os outros "filmes de videogame" do cineasta alemão, este também toma muitas liberdades poéticas em relação à fonte, mas mesmo assim é o mais parecido com o jogo que o diretor já conseguiu fazer.

"Far Cry", o jogo, saiu em 2004 e fez relativo sucesso. É um daqueles games de tiro em primeira pessoa, cujo herói é um ex-militar chamado Jack Carver. Depois de levar uma jornalista investigativa até uma ilha tropical na Micronesia, Carver é atacado, tem seu barco explodido e precisa investigar por conta própria o que está acontecendo no lugar. À medida que o jogo avança, descobre que um cientista maluco, o dr. Krieger, criou um raça de mutantes para agirem como super-soldados.


No filme, alguns elementos se mantêm, embora bastante modificados: a ilha não é mais tropical, os super-soldados não são monstros mutantes, e sim "super-homens" com força amplificada e resistentes a tiros, e a jornalista vai à ilha não atrás de um furo de reportagem, mas para investigar o paradeiro do seu irmão, uma das cobaias utilizadas pelo cientista.

Além disso, se no jogo em primeira pessoa era você, como jogador, comandando o personagem principal, sozinhos contra todo o resto, no filme o herói já conta com a ajuda da tal jornalista, Valerie Cardinal (Emmanuelle Vaugier, de "House of the Dead 2"), e do tradicional alívio cômico, um gordo sem graça chamado Emilio (Chris Coppola, de "Shadow"), que consegue ser um parceiro pior e mais chato que Joe Pesci nos "Máquina Mortífera" ou do que o abominável Rob Schneider em "O Juiz" e "Golpe Fulminante".


Já Jack Carver é interpretado pelo ator alemão Til Schweiger, que está na ativa desde 2001 (apareceu até no segundo "Tomb Raider", outra bomba baseada em videogame), mas só conseguiu destaque este ano ao interpretar o sargento Hugo Stiglitz de maneira brilhante em "Bastardos Inglórios". E como faz diferença um bom diretor: em FAR CRY, dirigido sem muita noção por Boll, Schweiger está tão mau como herói de ação (e com um sotaque atroz) que eu jamais imaginaria ver o sujeito quase roubando a cena apenas um ano depois no filme de guerra do Tarantino.

Outro ponto positivo de FAR CRY, o filme, é o intérprete do cientista louco: ninguém menos que o alemão Udo Kier, que parece estar se divertindo muito ao adicionar mais um vilão para a sua carreira de cinema B. E já que estamos falando em "cinema B", o elenco traz ainda pequenas participações de Michael Paré e Ralf Moeller, atores-fetiche de Boll.


O grande problema é que FAR CRY é um produto deslocado de sua época, uma aventura classe B com todos (e digo todos MESMO) clichês do gênero, do herói ex-Forças Especiais transformado em alcoólatra ranzinza à mocinha que é jornalista abelhuda, passando pelo cientista louco (alemão, lógico) estilo dr. Moreau, e sem faltar nem mesmo o parceiro engraçadinho do herói para servir como alívio cômico.

"Deslocado de sua época" porque, embora seja produção de 2008, tem cara daqueles filmecos produzidos pela Cannon nos anos 80 e pela Nu Image nos anos 90, direto para o mercado das videolocadoras, e trazendo como astros aqueles galãs nem de segunda, mas de terceira linha. Se FAR CRY fosse feito 20 anos atrás, por exemplo, certamente teria Frank Zagarino ou Joe Lara no papel principal, e Martin Kove ou Richard Lynch no lugar do vilão.


No geral, este novo trabalho do alemão psicopata não foge do convencional; até já consigo visualizá-lo sendo exibido no Domingo Maior daqui uns anos. Boll segue fielmente a cartilha dos filmes de ação com pouca grana, sem inventar muito, e entrega tudo aquilo que o espectador espera ver: lutas, tiros, explosões, herói e vilão sem nenhuma profundidade, trama descomplicada e até uma pitadinha (bem inofensiva) de sexo.

E mulher bonita, claro: além de Emmanuelle, temos a gracinha polonesa Natalia Avelon interpretando uma malvada mercenária russa a serviço do vilão. As duas moças são um colírio para os olhos e compensam os muitos tempos-mortos do filme.


E embora seja rotineiro, FAR CRY pelo menos diverte, trazendo inclusive aquelas bobagens típicas do cinema do alemão maluco, como o fato de a mocinha não saber o que é uma granada (e nem para o quê serve ou como funciona).

Por outro lado, também tem algumas boas cenas que comprovam que Boll está melhorando como diretor (ou pelo menos parece longe das suas cagadas tipo "House of the Dead").

O início, em que uma equipe de soldados é atacada pelos super-soldados de Krieger, é muito bem filmado, com direito a uma cena de gore estilo "Cubo", em que a cabeça de uma vítima é praticamente atravessada numa cerca; o "miolo" do filme é meia-boca, mas o final compensa com farta quantidade de lutas, tiros e explosões, quando os super-soldados escapam de suas celas e começam um massacre na ilha, com direito a mais gore, incluindo um sujeito sendo partido ao meio por uma enorme serra circular.


Assim, posso recomendá-lo sem medo para os fãs de cinema de ação barato ou de filmes descerebrados movidos a tiros e explosões. Não é nenhuma maravilha e desaparece da memória em dois dias, mas em compensação não é uma atrocidade impossível de assistir, como outras adaptações de videogame, dirigidas por Uwe Boll ou não. Inclusive se tivesse sido dirigido na Itália nos anos 80, muita gente iria considerar um clássico nos dias de hoje.

Agora é esperar para ver "Bloodrayne 3" e "Zombie Massacre", novas adaptações cinematográficas de jogos de videogame que o famigerado cineasta alemão está prometendo para 2010 - no caso de "Zombie Massacre", ele já comentou que será uma mistura de Snake Plissken, personagem de Kurt Russell em "Fuga de Nova York", com zumbis.

Será que ele continuará "melhorando", ou vai voltar aos maus tempos de "House of the Dead" e "Alone in the Dark"? Bem, resta o consolo de que pior do que estes não tem como ficar. Ou será que tem?

Trailer de FAR CRY


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Far Cry (2008, Alemanha/Canadá)
Direção: Uwe Boll
Elenco: Til Schweiger, Emmanuelle Vaugier,
Udo Kier, Ralf Moeller, Michael Paré,
Chris Coppola e Natalia Avelon.



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