Ainda mais resenhas curtinhas para analfabetos funcionais
Filmes Legais

Ainda mais resenhas curtinhas para analfabetos funcionais


RAMPAGE (2009, Canadá/Alemanha. Dir: Uwe Boll)
Já faz algum tempo que o alemão Uwe Boll escapou do estigma de "pior cineasta moderno". Primeiro porque tem gente bem pior que ele por aí (e com as benesses dos grandes estúdios); e segundo porque Boll tem feito alguns filmes muito interessantes, como "Tunnel Rats". Quem ainda torce o nariz para o diretor-chucrute vai ter que "destorcê-lo", pois sua nova obra é digna de elogios e de recomendação. "Rampage" reaproveita elementos de três filmes bem conhecidos: "Clube da Luta", "Targets" e "Um Dia de Fúria". Há um pouco de cada um deles na história do rapaz sem perspectivas que, prestes a ser expulso de casa pelos pais, resolve vestir uma armadura indestrutível para espalhar o caos pela sua cidade, saindo numa "rampage" que inclui o extermínio de várias vidas inocentes - principalmente balconistas abusados que o trataram mal na véspera. A situação não é exatamente nova (tinha um sujeito com armadura parecida no início de "Máquina Mortífera 4"!), mas Boll filmou a coisa toda com certo estilo, mostrando que aprendeu alguma coisa dos pavorosos "House of the Dead" e "Seed" pra cá. E mesmo com defeitos óbvios (o filme fica um tanto repetitivo depois que o massacre começa, principalmente porque vários "inserts" dele foram exibidos no início), "Rampage" nunca perde o interesse ou cai de nível. Até porque, nestes tempos politicamente corretos, Uwe Boll é um caso digno de estudo. O sujeito já fez até piada com o 11 de setembro (em "Postal"), e aqui passa uma "mensagem" (sobre "limpar o mundo") ainda mais perigosa, principalmente num país em que os jovens já têm naturalmente o hábito de pegar fuzis para exterminar pessoas inocentes nas suas escolas ou bairros. Para piorar (na questão do "politicamente correto"), o filme não faz nenhum julgamento moral na conclusão. Por isso, e pela historinha bem contada, surpreende. É o melhor trabalho de Boll - o que também não quer dizer muita coisa...


O ESCRITOR FANTASMA (The Ghost Writer, 2010, França/Alemanha/Reino Unido. Dir: Roman Polanski)
Nestes tempos malditos em que Paul Greengrass é o maior exemplo de "suspense" no cinema, Zack Snyder e Rob Zombie são "visionários" e Brian DePalma há tempos não acerta uma, ainda bem que sobrou o Polanski para ensinar para a molecada como se faz um filme de suspense decente e à moda antiga. "O Escritor Fantasma" deve ser o suspense mais "hitchcockiano" das últimas décadas, e é o melhor trabalho do polonês no gênero desde "Busca Frenética" (e lá se vão mais de 20 anos). Quanto menos se souber da trama, melhor. Dizem que é fácil matar a charada, mas eu confesso que o final me pegou direitinho. E isso que os diversos diálogos aparentemente inofensivos entre os personagens ao longo da trama realmente levam àquela revelação... Polanski, como que rindo da cara desses farsantes contemporâneos, dá uma aula de como criar suspense e tensão sem correria nem sangue, e sem tremer a câmera, preferindo longos planos-seqüência onde mal se percebe o movimento da câmera. O suspense e a tensão surgem naturalmente pela angústia do que virá (e não pela barulheira ou tremedeira), graças ao roteiro bem amarrado que vai soltando as pistas devagarzinho, criando várias possibilidades e teorias conspiratórias. Há ecos de outros Polanskis, especialmente de "O Inquilino" (o protagonista assumindo o lugar e a vida de um falecido) e "O Último Portal" (o livro misterioso que traz um segredo mortal). O próprio personagem de Pierce Brosnan parece um alter-ego do polêmico diretor (como Polanski, ele também é acusado de um crime e não pode voltar ao seu país temendo ser preso). Mas o filme tem vida própria, e não pode ficar de fora de nenhuma lista de melhores de 2010. Como bônus, além do fantástico elenco principal, temos pontas de gente como James Belushi (em "momento Lex Luthor", segundo Leandro Caraça), Eli Wallach e um irreconhecível Timothy Hutton. Imperdível!


A ESTRADA (The Road, 2009, EUA. Dir: John Hillcoat)
Poucos filmes dos últimos anos me provocaram sentimentos tão diferentes quanto este "A Estrada", adaptação de um livro de Cormac McCarthy que, confesso, não li. Lado a lado, há esperança e desesperança; ternura e tragédia; horror e sobrevivência; humanidade e monstruosidade. Uma linha tênue divide heroísmo e vilania, e o próprio protagonista anônimo (Viggo Mortensen) não é flor que se cheire, fazendo de tudo - e tudo mesmo - para salvar seu filho num tenebroso mundo pós-apocalíptico em que a maior parte dos sobreviventes rendeu-se ao caos e ao canibalismo. É o típico filme que, desde o começo, você já imagina como vai terminar, mas mesmo assim passa os minutos angustiado torcendo pelos seus personagens. A desesperança é total, mas o pai e seu filho sabem que precisam seguir em frente ou parar e morrer. É o extremo oposto da maioria dos filmes pós-apocalípticos, como "Mad Max" ou o recente "O Livro de Eli", que trazem um herói bem-definido como símbolo da esperança da reconstrução de uma sociedade justa. Não há muita violência ou cenas gráficas, mas algumas imagens escabrosas - como o porão repleto de humanos aprisionados como gado para virar refeição de uma família - chocam e não saem da cabeça por vários dias. Enfim, "A Estrada" é um pesadelo dramático e ao mesmo tempo uma história de coragem e amor. E tirando Charlize Theron, que aparece bonita mesmo sem maquiagem e destoa do resto do elenco, os atores estão praticamente irreconhecíveis. Tanto que eu só descobri que Robert Duvall e Guy Pearce estavam no filme ao ver os créditos finais! Nestes tempos de "sobreviventes pós-apocalípticos de butique", que parecem ter acabado de sair do cabeleireiro, é outro ponto positivo. Também vai direto para a lista dos melhores do ano.


THE HUMAN CENTIPEDE - FIRST SEQUENCE (2009, Holanda. Dir: Tom Six)
A internet ao alcance da mão e uma idéia absurda na cabeça. Foi mais ou menos assim que o projeto "The Human Centipede" ganhou corpo e também uma legião de fãs apaixonados antes mesmo de começar a ser filmado, num fenômeno internético semelhante ao de "Serpentes a Bordo" e "Atividade Paranormal", para citar dois exemplos recentes. A verdade é que a idéia do cientista louco que resolve ligar três pessoas pelo seu aparelho digestivo, para criar uma "centopéia humana", é tão insana que cada pessoa acabou imaginando o seu próprio filme antes de ver o que o diretor-roteirista Tom Six realmente filmou. Para muitos foi até uma decepção, já que "The Human Centipede" não pega tão pesado no sangue nem na nojeira, embora tenha algumas cenas de lascar (só imagine como é a "alimentação" das partes posteriores da centopéia). Confesso que gostei justamente pelo resultado ser menos hardcore do que eu esperava. Se tivesse sido feito por um daqueles cineastas malucos do Japão, por exemplo, sai da frente - imagine Takashi Miike com o mesmo roteiro nas mãos! Porém Six, mais sutil, dá uma de Cronenberg em tempos de "Calafrios" e "Enraivecida na Fúria do Sexo", preferindo chocar mais com os detalhes sórdidos do que mostrando escancaradamente a nojeira. O resultado é "palatável" (não acredito que escrevi isso sobre ESSE filme), embora caia nas armadilhas de toda obra que gera grande expectativa. Por exemplo, demora uns bons 40 minutos para que aconteça algo realmente interessante, e os personagens são estupidamente estereotipados. Entretanto, cumpre o que promete (o título NÃO é propaganda enganosa) e garante uns bons (?) pesadelos. Só não gosto da idéia de uma continuação, já em pré-produção. Vai parecer piada contada pela segunda vez. Para quem quiser ver na tela grande, "The Human Centipede" é uma das atrações do Fantaspoa - Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, em julho.


TRIANGLE (2009, Reino Unido/Austrália. Dir: Christopher Smith)
Venho acompanhando atentamente os trabalhos do inglês Christopher Smith desde "Plataforma do Medo", e até agora o homem não me decepcionou. Depois de "Severance/Mutilados", um slasher divertidíssimo e sangrento, seu novo trabalho, "Triangle", é bem mais sério - um verdadeiro pesadelo que começa meio "Navio Fantasma", meio "O Iluminado", mas logo envereda para uma criativa e intrincada trama envolvendo universos paralelos. Dizem que tal trama seria plágio do filme espanhol "Los Cronocrímenes" (cujo DVD está na minha cada vez mais numerosa pilha de "filmes para ver"). Entretanto, o próprio diretor deste, Nacho Vigalondo, abafou o caso, dizendo que se trata apenas de um raro caso de idéias bastante parecidos desenvolvidas ao mesmo tempo. E "Triangle" também é outro exemplo de filme que você precisa ver sabendo o mínimo possível sobre a história. O que posso dizer, sem estragar surpresas, é que o argumento tem alguns assustadores toques Lynchinianos (dos tempos em que David Lynch ainda fazia algum sentido...), e imagens tétricas como a da moça arrastando-se para a morte e encontrando dezenas de clones na mesma situação - versões dela saídas de realidades paralelas! Essa história de múltiplas versões dos personagens lembra o péssimo "Cubo 2 - Hipercubo", mas aqui a situação é muito melhor aproveitada, com um enredo circular que "fecha o ciclo" no final arrepiante, explicando as pontas soltas. Original e bastante criativo, "Triangle" é aquele filme que, infelizmente, os fãs de horror acabam deixando passar em meio à quantidade absurda de remakes ruins. E será que alguém sabe me explicar por que Christopher Smith ainda não ganhou o merecido respeito por parte dos fãs de horror, enquanto fanfarrões como Rob Zombie e Alexandre Aja colhem os louros de "mestres" contemporâneos?


A HORA DO PESADELO (A Nightmare on Elm Street, 2010, EUA. Dir (?): Samuel Bayer)
Falando em remakes ruins, não dá pra deixar passar umas linhas sobre a pior refilmagem dos últimos tempos - e olha que de remakes ruins o inferno, os cinemas e as videolocadoras estão cheios de uns tempos pra cá. Pensa comigo: você tem um filme de 1984 para refilmar em 2010, nestes tempos de tecnologia assombrosa, e esse filme é sobre um assassino que ataca nos sonhos, o que permite mil-e-uma possibilidades para usar tal tecnologia ao seu alcance. Pois o que o estreante "diretor" Samuel Bayer fez? Estragou toda e qualquer cena feita no improviso lá atrás em 1984, mesmo contando com mais recursos e muito mais dinheiro para refazê-las direitinho ou até melhor. A verdade é que direção ruim somada com roteiro ruim e elenco ruim e sem carisma ninguém conserta, e "A Hora do Pesadelo" é um desastre completo. O casal central parece clone do casalzinho da série "Crepúsculo", o que só aumenta a náusea de quem cresceu vendo o filme de Wes Craven. Já Freddy Krueger deixou de ser assassino de crianças para virar pedófilo (mas, estranhamente, não é padre!), e também ganhou uma maquiagem tosca sobre o rosto do indicado ao Oscar Jackie Earle Haley (que, neste momento, deveria estar demitindo os agentes que lhe convenceram a encarar essa bomba). Quando parece que não pode ficar pior, o "diretor" Bayer torra a paciência do espectador jogando um pesadelo na tela a cada cinco minutos e um susto movido pelo aumento da trilha sonora a cada dois minutos; mas tudo tão falso e artificial que dá vontade de dormir e sonhar com o Freddy "de verdade". Destaque, ainda, para as "sonecas" que os personagens tiram a qualquer momento, mesmo quando estão caminhando ou até nadando (!!!), e para a tonelada de furos de roteiro (como o sujeito que filma a própria morte e o vídeo é misteriosamente "uplodeado" em seu blog). Pelo menos o título nacional não é enganoso: é uma hora e lá vai pedrada de um verdadeiro pesadelo! E o que mais assusta é perceber que a molecada está curtindo, mesmo que essa bomba tenha tornado o original ainda melhor em sua simplicidade...


HOMEM DE FERRO 2 (Iron Man 2, 2010, EUA. Dir: Jon Favreau)
Poucos adaptações de super-heróis dos quadrinhos para o cinema deram tão certo quanto o "Homem de Ferro" em 2008. Não vou entrar naquela velha discussão de "fidelidade entre as mídias", pois eu gosto do filme do Demolidor mesmo com as toneladas de alterações feitas (se bem que o herói merecia um "reload"). Já "Homem de Ferro" foi bem-sucedido mesmo com uma soma de elementos que tinham tudo para dar errado: um humorista com pouca ou nenhuma experiência na direção de blockbusters (Jon Favreau), um ator famoso com a carreira praticamente destruída por escândalos envolvendo uso de drogas (Robert Downey Jr.) e um super-herói menos popular que o Homem-Aranha ou os X-Men. A explicação para o sucesso está na mistura bem dosada de ação e efeitos especiais com uma boa história ("pequeno detalhe" geralmente esquecido em filmes do gênero), e também personagens carismáticos, além de um tom de humor muito bem-vindo. Pois estes mesmos ingredientes estão de volta na segunda parte, que ainda traz um vilão de respeito para encarar o herói: Mickey Rourke! Tudo bem, no original tínhamos o Jeff Bridges, mas ele estava dentro de um robô gigante à la Transformers, enquanto o Rourke encara o Homem de Ferro no peito e na coragem no melhor momento do filme, durante uma corrida em Mônaco! Seu vilão é a grande razão de ser deste filme e quase rouba o espetáculo (a exemplo do que acontece nas aventuras do Batman). Sorte que Downey Jr. volta a entregar uma performance cínica e simpática de Tony Stark/Homem de Ferro, lembrando todo mundo de quem é o astro do show. Para completar, um elenco de peso que traz de volta diversos personagens do original e ainda acrescenta novos, como a deliciosa Viúva Negra de Scarlett Johansson. Talvez o grande problema seja o roteiro fraco do incompetente Justin Theroux, que inclui todos os chavões do gênero e ainda desperdiça um belo arco de histórias do herói nos gibis ("O Demônio na Garrafa", sobre o alcoolismo de Tony Stark). Também não gostei do rumo dado ao personagem de Jim Rhodes (até o ator foi substituído), e em alguns momentos me pareceu estar diante de um remake disfarçado de "Robocop 2". Não foge à regra: o primeiro é melhor, mas este também é muito bom. Ah, se toda adaptação de super-heróis dos quadrinhos fosse divertida assim!


HELLBENT (2004, EUA. Dir: Paul Etheredge)
Eis algo que definitivamente não se vê todos os dias: um slasher movie gay! Homofóbicos, tremei: o filme acompanha quatro amigos homossexuais, com os hormônios em ebulição, durante uma animada festinha GLS de Halloween, quando um psicopata mascarado (vestido como diabo!) resolve matá-los para colecionar suas cabeças. Um belo título alternativo seria "Pânico em Brokeback Mountain". Piadas infames à parte, e descontando a opção sexual dos personagens, "Hellbent" tem muito mais em comum com o clássico "Halloween" de John Carpenter do que aquele pavoroso remake feito pelo Rob Zombie há alguns anos. Compare: temos aqui um assassino que escolhe aleatoriamente um pequeno grupo de vítimas (como Michael Myers lá em 1978) em pleno Dia das Bruxas (hehehe), e passa o restante do filme espreitando seus alvos antes de matá-los (e, ao contrário do açougueiro do remake do Zombie, não mata mais ninguém além daqueles que elegeu como vítimas). Passado o choque inicial de perceber que a única diferença para os slashers tradicionais é a falta de loiras peitudas peladas, "Hellbent" revela-se um horror interessante e bem divertido, com cenas bastante violentas e dois momentos arrepiantes envolvendo "violência ocular" (um deles estampado até no pôster). Claro, se você também for hetero, fica difícil não estranhar os vários amassos entre rapazes, ainda mais quando se está acostumado aos "slashers heteros". Mas não há nada de muito explícito, e tais cenas dificilmente chocarão alguém - mesmo os homofóbicos mais radicais. Valeria só pela curiosidade da idéia, mas também é um bom filme de horror - ainda mais considerando os slashers medíocres produzidos de 2004 pra cá!



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