LA VENGANZA DE LOS PUNKS (1991)
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LA VENGANZA DE LOS PUNKS (1991)



Punks não são uma raça fácil de lidar. Que o digam Mad Max e todos os personagens que levaram escarrada do Bob Cuspe na extinta revista Chiclete com Banana. Ou, ainda, policiais de filmes mexicanos. Esses útimos costumam comer o pão que o diabo amassou nas mãos dos punks (ou "pónks", como pronunciam com seu sotaque carregado), em aventuras rasteiras e absurdas ao estilo de "Intrepidos Punks", de Francisco Guerrero.

Eu resenhei "Intrepidos Punks" aqui no FILMES PARA DOIDOS em maio de 2010. E, na época, manifestei minha surpresa com a existência de uma sequência feita 11 anos depois do original (!!!), em 1991. Ironicamente, comentei naquela resenha: "O que será que os 'pónks' mexicanos aprontaram depois de 11 anos? E será que alguém realmente quer saber?". Pois bem: ironias à parte, aqui estão os punks mexicanos de volta ao blog!


LA VENGANZA DE LOS PUNKS só trocou o diretor. No lugar de Guerrero, quem comanda o show é o débil mental Damián Acosta Esparza, o mesmo doido varrido que dirigiu "El Violador Infernal".

De resto, volta praticamente a mesma turma de "Intrepidos Punks", do herói (Juan Valentín) ao grande vilão, interpretado pelo lutador mascarado de luta livre El Fantasma! Até mesmo personagens bem secundários estão de volta, revelando que os "pónks" cinematográficos mexicanos são mesmo uma grande família unida!


Só não aparecem nesta segunda aventura o ator que interpretava Javier, parceiro do herói no original (não sei o nome do ator, mas ao que parece ele não quis pagar mico dobrado), e a gostosíssima Princesa Lea, que fazia Fiera, a amante do vilão lá em 1980 (mas ela nem podia retornar, visto que levou um tiro na cabeça na conclusão daquele filme).

LA VENGANZA DE LOS PUNKS começa sem perder tempo: temos um plano geral do prédio de uma cadeia e, cinco segundos depois, uma das paredes vai pelos ares e todos os "intrépidos pónks", que haviam sido presos no final do primeiro filme, fogem para a liberdade após 11 anos mofando atrás das grandes.


A responsável pela explosão é a gordinha, peituda e bunduda Olga Rios. Ela tinha aparecido no original como uma personagem secundária sem nome, mas agora foi promovida a "Pantera", nova amante do chefão do bando, Tarzan (El Fantasma), depois que a namorada anterior tomou um tiro na cabeça no filme anterior.

(Só para constar: embora apareça pelada o tempo todo e tenha uma buzanfa gigantesca, Olga Rios não serve nem para lamber o salto do sapato da musa do FILMES PARA DOIDOS Princesa Lea. E isso que tenta imitá-la no cabelão armado, no figurino e até no apetite sexual!)


Novamente sem perder tempo, os "pónks" vão concretizar a vingança descrita no título. Eles invadem a festa de 15 anos da filha de Marco (Juan Valentín), o policial que os prendeu, e transformam a comemoração num inferno: estupram a menina e a esposa diante dos olhos do sujeito, estupram as outras mulheres da festa e depois metralham todo mundo. Só Marco escapa com vida, porque Tarzan estupidamente quer que ele viva com a dor da morte de toda a sua família.

É uma pena que o pobre Tarzan nunca tenha visto nenhum filme da série "Desejo de Matar", pois aí ficaria óbvio que era melhor ter matado o pobre Marco também. Afinal, depois de testemunhar estupro e matança da filha, da esposa e de seus familiares e amigos, o sujeito fica meio maluco, pede demissão da polícia e dedica-se ao extermínio sistemático e cruel de todos os "pónks", lentamente e um por um.


Bem, se você gostou daquela divertida tosqueira chamada "Intrepidos Punks", talvez fique feliz de saber que essa sequência tardia é muito, mas muito MELHOR que o original. Dessa vez, tudo vem numa escala maior: há mais violência, mais sacanagem e muito mais bobagens e cenas hilárias para apreciadores desse tipo de tranqueira cinematográfica!

Se o original tinha uma narrativa fragmentada, sem um fio condutor, basicamente apenas mostrando os crimes dos "pónks" até um rápido enfrentamento com a dupla de heróis no final (já que os heróis estavam ocupados resolvendo outros casos sem relação ao longo do resto do filme), em LA VENGANZA DE LOS PUNKS os bandidos multicoloridos passam a ser personagens secundários, já que a trama acompanha a sangrenta vingança de Marco, encarnando um anti-herói tão cruel que daria medo até no próprio Charles Bronson.


Desde as primeiras cenas, o diretor Acosta Esparza não poupa o espectador de doses cavalares de violência: LA VENGANZA DE LOS PUNKS é um filme sujo e sádico, que já começa com o estupro e extermínio da família do herói, e só vai ficando mais pesado à medida que Marco usa as formas mais cruéis para vingar-se dos criminosos.

A narrativa torna-se até meio repetitiva, já que, após os 10 ou 15 primeiros minutos, o filme se transforma numa longa sequência de torturas e assassinatos, com o anti-herói aprisionando algum inimigo e submetendo-o a uma violenta sessão de espancamento antes de finalmente matá-lo.

Menos mal que os diálogos estúpidos e cenas nonsense entre uma tortura e outra garantem a diversão. Até porque as pancadas são convincentes e o sofrimento dos atores também (a cena do cara sendo queimado vivo é perigosamente realista, e duvido que o sujeito não tenha sofrido pelo menos umas queimaduras leves).


Em relação às mortes, tem de tudo um pouco, mas só coisa da pesada: um sujeito é empalado, outro é queimado vivo, e uma garota (é, nem elas ganham colher-de-chá) é lentamente corroída com ácido (!!!). À la Zé do Caixão, cobras e aranhas REAIS também são usadas para matar os inimigos. Progressivamente, Marco vai se transformando num personagem tão sádico e odioso quanto os "pónks" que caça, e vai perdendo a razão.

Numa das muitas bobagens hilárias de LA VENGANZA DE LOS PUNKS, o herói sempre consegue entrar e sair facilmente do esconderijo dos "pónks", sempre levando consigo algum dos vilões para poder torturar e matar lentamente longe dali, e sempre sem que ninguém perceba nada.

E os vilões são tão estúpidos que, mesmo depois do décimo desaparecimento, continuam se separando toda hora e zanzando sozinhos pelo acampamento sem se preocupar com nada!


Outro besteirol é que os "pónks" agora não são apenas arruaceiros assassinos e estupradores viciados em drogas, como no filme original, mas também... satanistas!!! Isso mesmo: em seu novo esconderijo, eles têm até uma gigantesca estátua do Capeta cujos olhos vermelhos ficam piscando (!!!), provavelmente retirada de algum antigo carro alegórico do Carnaval carioca.

Lá pelas tantas, Tarzan realiza uma missa negra (!!!) para agradecer a Satã por terem escapado da cadeia, sacrificando uma ovelha e fazendo seus comandados beberem o sangue do animal! Bela e fidelíssima visão da cultura punk, não é mesmo?

(Vale destacar que a ovelha "sacrificada" provavelmente é de verdade, mas pelo menos já está morta quando é esquartejada pelo vilão sobre o "altar"...)


Ah, o traje utilizado por Tarzan para comandar a missa negra é literalmente de se mijar de rir, com direito a uma grande máscara colorida em formato de cone que lembra uma versão "Parada Gay" do capuz pontudo usado pelos integrantes da Ku Klux Klan!

Por sinal, Tarzan dessa vez não se contenta em usar uma única máscara. Lembre-se que, na vida real, El Fantasma é um "luchador", e portanto não pode mostrar o rosto em público. Pois, durante o filme, dependendo da ocasião, o vilão aparece com três ou quatro máscaras diferentes, inclusive uma muito parecida com a máscara de hóckey do Jason - citação, talvez, ao Humungus de "Mad Max 2", que usava máscara semelhante.


E o festival de bobagens segue adiante: o roteiro apresenta uma dupla de policiais, colegas de Marco na delegacia, apenas para descartá-los logo depois num tiroteio com assaltantes de uma videolocadora (que não têm nada a ver com os punks, são apenas bandidos aleatórios). Sabe-se lá qual o motivo para introduzir esses policiais no roteiro (além de esticar o tempo de duração do filme), mas eles somem de cena tão rápido quanto entraram!

Outra subtrama dispensável, e que não chega a lugar nenhum, envolve uma tentativa de rebelião dentro da própria quadrilha dos "pónks", quando alguns integrantes insatisfeitos com os mandos e desmandos de Tarzan mostram-se louquinhos para matá-lo e tomar seu lugar. Como Marco logo surge para matar contentes e descontentes, essa história nunca rende!


Por fim, há uma patética (e portanto hilária) tentativa de fazer crítica social, quando o delegado que investiga os crimes cometidos pela turma de Tarzan ensaia uma expressão de fúria diante dos cadáveres do massacre na casa de Marco, e começa a berrar, direto para a câmera (e portanto para o espectador): "Escória humana! Quando nós os prendemos, chamaram a nós, os policiais, de criminosos. Meus chefes, os políticos, os doutores... Toda a sociedade! Eu queria que eles estivessem aqui para ver isso, para ver como reagiriam. Todos somos responsáveis! Todos somos culpados! Todos somos cúmplices... Todos nós!".

Como já acontecia em "Intrepidos Punks", tudo que envolve os "pónks" é tão exagerado que é impossível levar a sério. E quem conseguiria engolir esses vilões com cabelos coloridos, cara pintada estilo Pablo, do "Qual é a Música?", e roupas espalhafatosas, que parecem saídos de algum baile de carnaval da periferia, mas jamais legítimos representantes da cultura punk?


Aqui a coisa é até mais exagerada, de forma que até parece paródia. Se no primeiro filme tínhamos punks chamados Calígula e Pirata, além do risível chefão chamado Tarzan (hahaha), aqui há novos membros vestidos como gladiadores da Roma Antiga, um sujeito com apenas metade da barba em um dos lados do rosto (!!!) e até um cara trajado de viking, com capa, chapéu de corninhos pontiagudos e espada!

Claro, todos eles vivem no meio do deserto e não tomam banho, já que passam os dias cometendo crimes, usando drogas e trepando. Mas, milagrosamente, suas fantasias estão sempre impecáveis, e as garotas sempre maquiadas e penteadas!!!


Se funciona como diversão trash, LA VENGANZA DE LOS PUNKS também não nega fogo como aventura violenta. Confesso que fiquei surpreso com o confronto final entre Marco e Tarzan. Eu esperava uma longa pancadaria, já que El Fantasma é "luchador" - e já havia mostrado seus dotes em diversas cenas de "Intrepidos Punks". Mas a resolução do conflito é diferente, para o azar do vilão!

(Vale ressaltar que talvez El Fantasma não lute nessa continuação porque, 11 anos depois do primeiro filme, aparece bem gordo em relação ao original, e visivelmente fora de forma.)


Para completar a longa lista de bobagens, LA VENGANZA DE LOS PUNKS ainda se encerra de maneira inacreditável: sabe aqueles finais cíclicos que os italianos adoravam colocar em filmes de horror?. Isso só torna o programa todo ainda mais charmoso e engraçado, principalmente se você assistir acompanhado (e devidamente alcoolizado).

Nesses tempos em que o politicamente correto vigora até no cinema de ação, é sempre um alívio assistir aventuras inconsequentes e sádicas como essa LA VENGANZA DE LOS PUNKS, onde vilões cometem atos de extrema brutalidade e recebem o troco na mesma moeda.

Inclusive o sadismo e a sede de sangue do anti-herói Marco fazem com que ele se transforme numa espécie de versão cucaracha do Justiceiro da Marvel - e sua vingança é muito mais eficiente que as adaptações oficiais do personagem para o cinema.


Mesmo que sejam obras bem diferentes na proposta e na realização, "Intrepidos Punks" e LA VENGANZA DE LOS PUNKS podem proporcionar uma maravilhosa e inesquecível sessão trasheira dupla para os apaixonados por FILMES PARA DOIDOS.

E é uma pena que a conclusão não tenha deixado nenhuma possibilidade para uma terceira aventura com os "pónks" mais engraçados do cinema - embora existam outras aventuras mexicanas igualmente hilárias que trazem punks sanguinários, como "Siete en la Mira 2 - La Furia de la Venganza", de Pedro Galindo III.

A inacreditável missa negra dos "pónks"



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La Venganza de los Punks (1991, México)
Direção: Damián Acosta Esparza
Elenco: Juan Valentín, El Fantasma, Olga Rios,
Arturo Mason, Bruno Rey, Fidel Abrego, Socorro
Albarrán, Anaís de Melo e Laura Tovar.



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