Os filmes que eu vi no Fantaspoa - Parte 1
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Os filmes que eu vi no Fantaspoa - Parte 1


INATO (Inbred, 2011, Reino Unido. Dir: Alex Chandon)
Uma das grandes surpresas do Fantaspoa 2012, e que eu ia deixar passar se não fosse a recomendação do Cristian Verardi. Para ir direto ao assunto, este aqui é o grande filme sobre caipiras psicopatas que o Rob Zombie tentou fazer duas vezes (com "A Casa dos Mil Corpos" e "Rejeitados Pelo Diabo"), mas cagou fora da panela. Já o diretor inglês Alex Chandon dá uma aula de conhecimento do tema e do gênero, citando uma infinidade de filmes dos anos 70-80 ao contar a história de quatro jovens problemáticos levados por seus tutores até uma cidadezinha da região rural da Inglaterra. Era para ser um final de semana de diversão, mas no momento em que o pessoal da cidade grande cruza com os caipiras, começa um banho de sangue que remete a clássicos como "Amargo Pesadelo", "O Massacre da Serra Elétrica" e "2.000 Maniacs". A exemplo dos clássicos citados, a história tem um desenvolvimento lento na primeira parte, descambando para o horror explícito apenas da metade para o final. E tome sangue, mutilações e tripas em cenas gráficas e exageradas (a câmera nunca desvia do alvo), produzidas ora com efeitos práticos (aleluia!), ora com uma ajudinha de retoques digitais. E é um caso raro em que a computação gráfica ajuda ao invés de comprometer: a lenta decapitação de um sujeito a golpes de cutelo é digna de figurar entre os melhores momentos do gênero desta década! Felizmente, "Inato" não é sério e pesado como as produções que reverencia, e Chandon prefere entregar um humor negro crudelíssimo, inclusive com uma asquerosa "homenagem" ao modismo do cinema 3-D. No fim, essa pérola é mais uma prova de que os estúdios não entendem porra nenhuma, pois funcionaria muito melhor como refilmagem de "2.000 Maniacs" do que aquele lamentável remake oficial feito pelo Tim Sullivan em 2005. Também demonstra a notável evolução do diretor Chandon num período de dez anos, considerando que ele foi o sujeito responsável pelo péssimo "Nascido do Inferno" (2001), aquele terror podreira estrelado pelo roqueiro poser Dani Filth. É uma evolução praticamente da água para o vinho, e eu espero MESMO que Chandon continue fazendo filmes de horror tão divertidos, descerebrados e sanguinolentos quanto este. E vê se aprende uma ou duas coisas com "Inato" antes de fazer um novo filme sobre caipiras psicopatas, Rob Zombie!


CELL COUNT (2012, EUA. Dir: Todd E. Freeman)
Em um lugar e em uma época não-identificados, um marido desesperado aceita submeter sua esposa acometida por doença terminal a um misterioso tratamento revolucionário que promete a cura instantânea. Mas, como estamos numa história confessadamente inspirada na obra do canadense David Cronenberg, é claro que a tal cura logo vai se revelar bem mais perigosa do que a doença... "Cell Count" foi o filme de encerramento do Fantaspoa 2012, e teve sua estréia mundial no festival gaúcho, o que criou um ar de forte expectativa pela obra do diretor-roteirista Todd E. Freeman (um sujeito muito simpático que participou do festival desde o primeiro dia). Apesar das referências explícitas a Cronenberg e a "O Enigma do Outro Mundo", o horror médico-científico orquestrado pelo jovem cineasta lembrou-me muito mais o filme australiano "Corrosão - Ameaça em Seu Corpo", de Philip Brophy, com o qual tem em comum a narrativa fragmentada que vai empilhando efeitos repulsivos de mutações dos personagens - todos submetidos à "cura" e mantidos em quarentena num laboratório de segurança máxima. Algumas cenas são visualmente impactantes, como a do sujeito que tem a cabeça toda coberta por uma segunda pele e vira uma criatura asquerosa (em destaque na arte do pôster). Freeman também acerta em fugir dos clichês, e mantém o espectador entre interessado e incomodado ao não explicar direito o que está acontecendo. Infelizmente, "Cell Count" tem uma conclusão de certa forma decepcionante, anunciando que a história continuará em uma futura Parte 2. Como nada é resolvido e não há sequer algo parecido com um desfecho - pelo contrário, a ação é interrompida literalmente no meio! -, não deixa de ser injusto com a audiência, a exemplo do que já havia feito, anos atrás, o filme espanhol "O Legado Valdemar" (que também parava na melhor parte e obrigava o espectador a esperar pela Parte 2). É algo tão brochante quanto coito interrompido. Mas, entre erros e acertos, o negócio agora é esperar (à força) pela conclusão da trama, já que Freeman promete que "Cell Count 2" será completamente diferente do primeiro e uma mistura de "Aliens - O Resgate" e "Mad Max 2". E, conversando com o sujeito, percebe-se claramente que ele usou este primeiro filme para apresentar as ideias que pretende desenvolver de maneira mais ambiciosa no próximo filme. Certamente estarei no cinema quando estrear.


A ESCALA DA AGRESSÃO (The Aggression Scale, 2012, EUA. Dir: Steven C. Miller)
Se "Esqueceram de Mim" tivesse sido dirigido por Wes Craven, o resultado seria algo bem próximo desse "A Escala da Agressão" - outra das boas surpresas do Festival. A trama é simples e vai direto ao assunto sem enrolação: Ray Wise (em participação minúscula) é um chefão do crime que manda um grupo de capangas truculentos atrás de um traidor que roubou seu dinheiro. Vários inocentes são mortos brutalmente, até que os bandidos chegam ao verdadeiro responsável. Só que eles também encontram um obstáculo inesperado: um garotinho problemático que começa a combater os sádicos criminosos de igual para igual, com muita esperteza e armadilhas cada vez mais tenebrosas. A "versão malvada" de Macaulay Culkin é Owen (Ryan Hartwig), um pequeno diabinho que faria a órfã do filme homônimo mijar nas fraldas de medo. E, felizmente, o roteiro de Ben Powell não tenta inflar o "heroísmo" do garoto e nem esconder o fato de que, na verdade, ele é um verdadeiro psicopata mirim, mais ou menos como se o Michael Myers moleque deixasse a série "Halloween" para invadir um outro filme. O diretor Miller não poupa na violência e na brutalidade (em cenas com participação direta da criança, sem frescura), de maneira que não fica absurdo quando os experientes bandidões (incluindo o gigante Derek Mears, o Jason do remake de "Sexta-feira 13") começam a ficar com medo do moleque. Uma curiosidade (e também uma bela surpresa) é a participação de um envelhecido Dana Ashbrook, ator medíocre que, aqui, está muito bem como Lloyd, o líder dos capangas, e quem mais sofre nas mãos do garoto. Temos, assim, dois atores do seriado "Twin Peaks" no mesmo filme: o pai (Wise) e o namorado (Ashbrook) de Laura Palmer. Despretensioso, sem lero-lero, rápido e rasteiro, "A Escala da Agressão" é um belo argumento para ficar de olho no trabalho de Steven C. Miller, que já havia chamado a atenção com o independente "Automaton Transfusion" e está terminando de filmar o remake de "Natal Sangrento" (com Malcolm McDowell no elenco!).


CALIBRE 9 (2011, França. Dir: Jean-Christian Tassy)
A estréia cinematográfica do diretor-roteirista francês Jean-Christian Tassy é uma aventura tão absurda e tão estúpida que, em vários momentos da projeção, eu realmente comecei a me questionar porque diabos estava assistindo aquilo. É necessário desligar o cérebro para poder engolir melhor a história de um burocrata do governo, Yann (Laurent Collombert), transformado da noite para o dia em super-assassino invencível quando encontra uma pistola possuída pela alma de uma prostituta assassinada!!! Não, você não leu errado: o cara encontra uma arma que contém a alma de uma mulher, e ela não apenas conversa o tempo inteiro com o herói (!!!), mas também pode obrigá-lo a fazer coisas, no estilo daquela velha comédia "Um Espírito Baixou em Mim". Esse "pequeno detalhe" fantasioso serviria para transformar "Calibre 9" em uma absurda comédia de humor negro, caso seus realizadores não levassem a piada muito a sério durante a maior parte do filme. E as cenas de ação são bem convencionais, resumindo-se ao mira-atira-faz sangue jorrar. Tudo embalado com uma irritante embalagem "moderninha" de cortes ultra-rápidos, câmera sacolejante, filtros coloridos e efeitos visuais de todos os tipos e tamanhos, remetendo a um videoclipe grosseiro de alguma banda do momento. Mas quem conseguir abstrair tudo isso encontrará um filminho razoavelmente divertido para tardes chuvosas, e que começa a ficar melhor na metade final, quando o diretor perde completamente a vergonha na cara e vai deixando a coisa cada vez mais exagerada - com direito a um tiroteio em que o vilão metralha, sem dó nem piedade, dezenas de vítimas inocentes, incluindo garotinhos que brincam num parque infantil! E o herói interpretado por Collombert até que funciona, lembrando muitas vezes uma cópia pobretona de Jason Statham na série "Carga Explosiva", com a mesma careca e o mesmo terninho sujo de sangue. Para públicos específicos, que não se importem com a imbecilidade da proposta (arma falante? pfffff...).


PEQUENOS MONSTROS (Little Monsters, 2012, EUA. Dir: David Schmoeller)
O retorno de David Schmoeller depois de 14 anos sem fazer um filme para cinema é uma bela surpresa. Para quem não lembra, o sujeito tem um passado repleto de preciosidades do horror barato feitas para as produtoras Empire e Full Moon, de Charles Band (entre elas, "Armadilha Para Turistas", "Bonecos da Morte" e "Catacumbas"). Em seu retorno às telas, ele preferiu explorar a maldade humana em uma produção mais séria e dramática a fazer outro horror barato e sanguinolento. A história de dois garotos de 10 anos que matam um menino de 3 anos sem motivo algum é inspirada num chocante episódio real, o assassinato do menino James Bulger, acontecido em Londres no começo dos anos 90. Schmoeller pula os detalhes macabros do crime e muda a localização da história para os EUA, dando assim a sua própria versão do que teria acontecido aos dois pequenos assassinos quando eles atingiram a maioridade e foram libertados da prisão com identidades falsas e novas famílias adotivas. A reintegração à sociedade não é tão simples, e um dos rapazes decide procurar pelo ex-colega de crime para "acertar as contas". Paralelamente, o roteiro critica o circo da mídia sensacionalista, na pele de dois repórteres de tablóide que recebem a missão de descobrir e revelar as novas identidades dos "pequenos monstros". A produção é barata até para os padrões de Schmoeller, que revelou não ter pagado nenhum dos atores - a maioria em seu primeiro filme. O diretor também não escapa de alguns clichês, como o garoto malvado que aparece sempre fumando e que exagera nos trejeitos de psicopata. E não dá a devida atenção a um personagem interessante: o homem que caça os dois rapazes com a intenção de matá-los para "tranquilizar" a opinião pública. Descontando esses defeitos, "Pequenos Monstros" é uma mistura eficiente de suspense e drama, curiosa também por resgatar um episódio trágico que estava quase esquecido, e com uma conclusão irônica que não faz nenhum julgamento. Pode até não ser o filme que se esperava do mesmo David Schmoeller que dirigiu "Armadilha Para Turistas" e "Bonecos da Morte", mas é um retorno bem decente ao cinema depois de mais de uma década de curtas e produções para a TV.


SHIVER (2011, EUA. Dir: Julian Richards)
Indiscutivelmente um dos piores filmes do Fantaspoa 2012, "Shiver" é uma produção extremamente convencional que narra, pela enésima vez, a história de um terrível assassino obcecado por uma jovem vítima, e que passa o restante do tempo de projeção enganando a polícia e perseguindo a pobre coitada. Ou seja, uma trama trivial mais apropriada para o Supercine do que para as salas de cinema. Só que o resultado consegue ser ainda pior graças ao roteiro do produtor Robert D. Weinbach (baseado num livro de Brian Harper), praticamente uma coletânea de todos os clichês mais batidos do gênero - do assassino que se disfarça de policial até o cobertor colocado nas costas da vítima que escapou de um ataque (e eu realmente queria saber se, na vida real, a polícia norte-americana distribui cobertores para as vítimas de crimes!). Parece que não pode piorar, mas a coisa só vai ladeira abaixo: o serial killer, auto-intitulado "The Griffon", é interpretado pelo australiano John Jarratt (o vilão de "Wolf Creek"), mas não tem como acreditar que um velhinho como ele possa fazer tanto estrago, com direito a uma cena final parecida com o ataque de Schwarzenegger à delegacia em "O Exterminador do Futuro". Isso sem contar que o vilão é tão chato que poderia matar suas vítimas de tédio. Já a mocinha em perigo é interpretada por Danielle Harris, que enfrentou Michael Myers quatro vezes (duas na série original e duas nos remakes de Rob Zombie), mas pelo visto não aprendeu nada, pois tem 200 chances de fugir e/ou matar o vilão, mas sempre as desperdiça. E, para arrematar, temos a presença de dois veteranos do cinema classe B, Casper Van Dien e Rae Dawn Chong (!!!), mas eles passam pelo filme como mero enfeite, sem fazer absolutamente nada que justifique suas presenças. "Shiver" é, portanto, um filme constrangedor, e a presença do próprio produtor e roteirista Weinbach no Fantaspoa tornou tudo mais surreal, pois ele falava do filme como se fosse a oitava maravilha do mundo! A direção do inglês Julian Richards ("The Last Horror Movie") é convencional, e algumas poucas cenas bastante violentas (como a vítima que tem o pescoço brutalmente cortado pelo vilão com um garrote) não salvam o projeto do fiasco. Não consegue nem mesmo ser divertido de tão ruim: é apenas ruim, e totalmente deslocado no tempo, já que talvez conseguisse atrair alguma atenção se fosse feito vinte anos atrás, na época de "O Silêncio dos Inocentes", e não hoje, depois de dezenas (quiçá centenas) de filmes idênticos sobre serial killers à solta...


A MEMÓRIA DO MORTO (La Memoria del Muerto, 2012, Argentina. Dir: Valentín Javier Diment)
Já virou clichê dizer que o cinema argentino está dando uma surra no cinema brasileiro. Quando o assunto é cinema fantástico, então, a surra passa a ser um autêntico linchamento: infelizmente ainda vai demorar um bom tempo para que o Brasil consiga produzir algo no nível de "A Memória do Morto", esta surpreendente fábula de horror dos hermanos, que cita desde o cinema europeu (no uso das cores em cenários e figurinos) até "Evil Dead" (nos frenéticos movimentos de câmera). O roteiro conta a história de uma viúva que reúne um grupo de amigos para honrar a memória do seu recentemente falecido marido, num casarão perdido no meio do nada. Quando a noite cai, ela confessa que tudo faz parte de um diabólico plano para trazê-lo de volta à vida. A partir de então, os convivas não podem mais sair da casa, pois serão atacados pela força diabólica que cerca o local, mas tampouco estão seguros lá dentro, onde começam a ser brutalmente assassinados um a um. A melhor coisa do filme é que ele escapa de ser apenas mais um slasher ao mergulhar personagens e espectadores num clima opressivo de pesadelo, fazendo uso de uma direção de arte fascinante que lembra muito os filmes de Guillermo del Toro. Numa das melhores cenas, aparece até uma pequena fantasminha sem olhos que é bem parecida com aquele famoso monstrengo de "O Labirinto do Fauno". E os hermanos não economizam na violência, promovendo um banho de sangue que inclui até cabeça decepada com serra elétrica! Para completar, a conclusão fecha o filme com chave-de-ouro, num final que não apenas é surpreendente, mas também tragicamente irônico. Resumindo: uma obra a ser conhecida - e lembrada com pesar toda vez que um novo "filme de horror brasileiro" chegar aos cinemas ou ao circuito alternativo. Dá até uma tristeza lembrar que ainda vai demorar bastante para atingirmos o nível de excelência demonstrado pelo diretor Diment e sua trupe aqui em "A Memória do Morto"...


PRAGA ZUMBI: REVOLUÇÃO TÓXICA (Plaga Zombie: Revolución Tóxica, 2011, Argentina. Dir: Pablo Parés, Hernán Sáez e Paulo Soria)
E se as produções profissionais made in Argentina já nos dão um baile (vide acima), o que dizer dos filmes independentes? Esse "Praga Zumbi" teoricamente é uma brincadeira feita por amigos no fundo do quintal e com alguns poucos trocados, mas parece superprodução hollywoodiana perto da maioria dos "independentes" brazucas. Trata-se da terceira parte de uma série de filmes de baixíssimo orçamento que começaram a ser produzidos pela mesma turma de amigos lá no começo dos anos 90 (o primeiro ainda filmado em VHS!). A diferença é que agora a produção é um pouquinho mais profissional, embora mantenha as piadas infames e escatológicas no nível das obras da Troma. A história começa exatamente onde a segunda parte (feita em 2001!!!) terminou, com o trio de heróis Max Giggs, Bill Johnson e John West descobrindo que os zumbis que invadiram sua cidade são, na verdade, hospedeiros de criaturas alienígenas. Agora, eles precisam destruir a nave-mãe que sobrevoa o local e impedir que os aliens dominem o mundo, utilizando para isso um "zumbi de Tróia" (!!!) com o bucho cheio de pólvora. O fiapo de história é mera desculpa para um festival de trapalhadas e gore cômico à la "Fome Animal". As piadas nem sempre funcionam, mas divesas delas são hilárias, como o agente do FBI que passa o filme sendo atacado e perdendo partes do corpo, ou a relação afetiva de um dos heróis com o "zumbi de Tróia". Talvez o filme seja longo demais (e os ataques de zumbis começam a ficar repetitivos e arrastados na segunda metade), mas é impossível não se surpreender com a qualidade do que é, na essência, uma produção independente e amadora. Destaque também para a fabulosa sequência musical, quando os heróis e os zumbis param tudo para dançar e cantar (e a musiquinha é daquelas grudentas, que o espectador se pega assobiando semanas depois de ter visto o filme). Uma grande bobagem, mas divertida e bem produzida, além de realizada com visível paixão.


THE ROAD (2011, Filipinas. Dir: Yam Laranas)
Um daqueles casos clássicos de "bonitinho, mas ordinário", esse curioso horror filipino conta uma história dividida em três partes interligadas. Começa na atualidade (no caso, em 2008), quando três jovens que roubam o carro dos pais de um deles se perdem numa estrada deserta e são assombrados por fantasmas. A partir daí, a trama começa a voltar no tempo para mostrar episódios acontecidos em 1998 e em 1988, e que explicam o porquê das assombrações da primeira parte, envolvendo um caso de desaparecimento nunca resolvido pela polícia. Segundo o diretor Laranas, que esteve no Fantaspoa, o roteiro foi baseado num crime real acontecido nas Filipinas e que também nunca foi resolvido pela polícia. O grande problema de "The Road" é que o filme é belissimamente fotografado (bonitinho), mas burocrático, sem surpresas e desprovido de emoção em seu desenvolvimento (ordinário). Além disso, nunca assusta ou surpreende o espectador, embora tente fazer isso várias vezes. A primeira história, principalmente, é tenebrosa no mau sentido, com uma quantidade absurda de clichês somada ao comportamente debilóide dos personagens. Já as outras duas eliminam um pouco o elemento sobrenatural para explicar os crimes que geraram a "maldição" e a própria infância e motivação do assassino, um dos pontos altos do filme, mas daí já é tarde demais para conseguir salvar o resultado final. A impressão que dá é que o diretor se perdeu nas curvas, podia ter enxugado o roteiro e enfocado a situação de uma outra maneira. Sem contar que o último episódio é tão melhor dirigido que os outros dois que até parece um outro cineasta comandando a câmera. No conjunto, um filme bem realizado tecnicamente, mas enfadonho e repetitivo (até tirei duas sonecas lá pela metade). E será particularmente irritante para quem já viu mais de um filme oriental sobre fantasminhas vingativos (tipo a franquia "Ju-On").


BAD ASS (2012, EUA. Dir: Craig Moss)
A grande piada de "Machete", de Robert Rodriguez, era colocar o feioso Danny Trejo, mais conhecido pelos seus papéis de vilão, como protagonista. Infelizmente, a brincadeira não passou disso e o resultado foi bem abaixo da média. Agora, "Bad Ass" repete o mesmo erro e também se demonstra um filme de uma piada só. Trejo interpreta Frank Vega, um veterano do Vietnã que, aos sessenta e poucos anos de idade, dá uma surra em dois neonazistas num ônibus e vira herói popular da noite para o dia graças ao YouTube. O mais bizarro é que o episódio foi baseado numa história verdadeira: em 2010, um coroa fortão de 67 anos chamado Thomas Bruso, usando uma impagável camiseta onde lia-se "I Am a Motherfucker", deu uma sova daquelas num rapaz negro que procurava confusão durante uma viagem de ônibus. O vídeo da surra, gravado com um celular, virou febre no YouTube (acompanhe toda a história do caso e da sua repercussão aqui). "Bad Ass" até é divertido e interessante em seus primeiros 20 minutos, quando enfoca o episódio real e a inacreditável transformação de Vega em herói do bairro. Sem contar que é curioso o fato de um filme basear-se num vídeo de sucesso do YouTube! Mas logo o diretor-roteirista Craig Moss perde a mão e transforma a história em mais um "Desejo de Matar" genérico e sem grandes ousadias ou reviravoltas. E nem dava para esperar coisa melhor de um cara que dirigiu duas comédias absurdamente ruins (uma delas é "A Saga Molusco: Anoitecer"!). As cenas de ação não empolgam, o roteiro é ridículo e cheio de furos (o que um velhote sem-teto faz com um pendrive contendo informações secretas envolvendo o prefeito da cidade?) e bons atores, como Ron Pearlman, fazem apenas participações especiais de poucos minutos. Tirando uma ou outra cena mais inspirada, como o sangrento interrogatório em que a mão do sujeito é colocada no triturador de lixo, o resultado é uma aventura burocrática que até diverte, mas some da memória tão logo os créditos finais começam a subir. Uma pena, considerando que, com um bom diretor e um bom roteiro, poderíamos ter uma curiosa variação de "Gran Torino" ou "Harry Brown", outras duas aventuras recentes com heróis geriátricos. Como não é o caso de bom diretor e de bom roteiro, até mesmo a idade avançada do herói é esquecida em poucos minutos! E se Trejo até se sai bem como protagonista, infelizmente "Bad Ass" cai nas mesmas armadilhas de "Machete" - e nosso herói novamente não aparece catando a mocinha bonita!



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