As últimas resenhas curtinhas para analfabetos funcionais de 2010
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As últimas resenhas curtinhas para analfabetos funcionais de 2010


FOUR LIONS (2010, Inglaterra. Dir: Christopher Morris)
Os críticos medíocres que zombaram do italiano Roberto Benigni por ele "ter feito piada com o Holocausto" (no excelente "A Vida é Bela") provavelmente vão ter uma úlcera ao ver essa brilhante comédia inglesa - presença obrigatória em qualquer lista dos melhores de 2010. Mais ousado que Benigni, o diretor-roteirista estreante (em longas) Christopher Morris não tem medo de brincar com o fanatismo religioso. Esta comédia escrachada acompanha cinco jovens muçulmanos que têm, como grande projeto de vida, virar homens-bomba e dar sua contribuição na infinita guerra santa contra os "infiéis". O roteiro acompanha desde as trapalhadas de dois deles num campo de treinamento de terroristas no Paquistão até a preparação de um mirabolante plano para se explodirem durante a maratona de Londres. Mas é claro que tudo dá errado para os atrapalhados terroristas, em cenas que fazem o espectador rir de nervoso - porque na verdade tudo aquilo é terrivelmente trágico, ainda mais quando lembramos que homens-bomba são uma realidade no nosso mundo contemporâneo. Muitas das piadas ficam no campo da estupidez pura e simples, estilo "Debi & Lóide", graças ao personagem Waj (Kayvan Novak), um completo idiota que é facilmente manipulado pelo melhor amigo, mas não tem certeza sobre os benefícios de ir para os ares em nome de Alá. Só que o roteiro de Morris também enfatiza o humor negro e a crítica social, principalmente ao mostrar como os jovens homens-bomba estão dispostos a morrer por uma "causa" que nem compreendem direito, em nome de uma guerra estúpida que começou milhares de anos antes de eles nascerem. Quem paga o pato, além dos próprios "terroristas" que dão a vida de forma estúpida, são os inocentes explodidos apenas por serem "infiéis" - como demonstra a trágica conclusão do filme. Resumindo, "Four Lions" é uma obra que faz rir mas ao mesmo tempo faz pensar, e que tem coragem de abordar de maneira diferente uma realidade muito triste (algo no estilo "É rir para não chorar"). Altamente recomendado: não deixem 2010 terminar sem ter visto essa pérola. Ah, a piada com Bin Laden, no final, é a cereja do bolo!


CISNE NEGRO (Black Swan, 2010, EUA. Dir: Darren Aronofsky)
Se fosse para eleger um herdeiro do "estilo Stanley Kubrick de filmar" entre os cineastas contemporâneos, eu indicaria dois nomes: Paul Thomas Anderson e Darren Aronofsky. Os filmes de ambos são detalhistas, perfeccionistas, pensados em seus mínimos detalhes - e, na obra de ambos, um filme é completamente diferente do anterior. Sendo assim, "Cisne Negro" é o "O Iluminado" de Aronofsky. Menos uma história de terror convencional - embora tenha seus momentos tétricos e assustadores -, e mais uma análise sobre o comportamento humano. Quanto menos se souber sobre a história, melhor. Assista apenas sabendo que é uma trama ambientada durante os ensaios de uma adaptação do ballet "O Cisne Negro", e que a dançarina escolhida para o papel-título começa a sofrer alucinações como se estivesse vivendo uma "versão real" do espetáculo. O fato de a história ser ambientada no mundo da dança levou muitos críticos "profissionais" a compararem "Cisne Negro" com "Suspiria", de Dario Argento, mas os dois filmes não têm absolutamente nada em comum além das sapatilhas das dançarinas. Aronofsky dirige seu filme como se estivesse dirigindo um ballet: ele é detalhista como o diretor do espetáculo (vivido pelo excelente Vincent Cassel), compondo quadros belíssimos; a própria evolução da história (e a "transformação" da protagonista) parecem seguir a estrutura de um espetáculo musical, embaladas pela belíssima trilha sonora de Clint Mansell. O diretor também arranca interpretações iluminadas de todo seu elenco - mesmo da protagonista Natalie Portman, para quem eu geralmente torço o nariz. E embora "Cisne Negro" não seja o meu filme preferido do diretor, é uma daquelas obras que custam a sair da cabeça, e em cujas cenas você fica pensando por dias a fio. Já está bom demais, nesses tempos de cinema pasteurizado (ou "Avatarizado").


MONSTROS MARINHOS (Mega Shark vs Giant Octopus, 2009, EUA. Dir: Jack Perez)
É fácil fazer um filme ruim, mas muito difícil fazer um "bom filme ruim". Essa bomba da produtora The Asylum é a prova disso. Tudo bem, não dá para esperar nada de um filme cujo título original é "Mega Tubarão contra Polvo Gigante". Mas, como fã de trash movies, no mínimo eu esperava me divertir com tamanha estupidez. Não foi o que aconteceu: os animais do título aparecem dois ou três minutos o filme inteiro (se chega a isso), e o combate anunciado dura uns 20 segundos. Tudo com aquela péssima qualidade de computação gráfica que já é a marca registrada da produtora picareta (responsável por cópias bagaceiras de blockbusters de Hollywood, como "Transmorphers"). Podia ser divertido? Podia. Mas não é. As raras cenas engraçadas - como o tubarão gigante "voando" para abocanhar um avião - são rápidas e separadas por 20 minutos de blablabla e asneiras diversas. E como os monstros gigantes quase não aparecem, o filme fica ancorado em seus protagonistas humanos, que não têm cenas suficientemente divertidas para manter o interesse (que saudade da ruindade inocente dos filmes do Ed Wood!). E por mais que seja engraçado ver os protagonistas Deborah Gibson e Lorenzo Lamas com cara de "O que eu estou fazendo aqui? Preciso demitir meu agente", eles nem ao menos são famosos o suficiente para valer a piada (diferente, por exemplo, de Bruce Davison, que apareceu em outra bomba da The Asylum, "Titanic 2"). Às vezes até parece que os caras estão levando o filme mais a sério do que deveriam, ao invés de avacalhar geral. Por isso, acredito que "Monstros Marinhos" ficaria muito melhor como um curta bagaceiro, ou trailer falso estilo "Grindhouse", do que como o longa chato que é. O que não impediu os produtores de fazer uma espécie de continuação, "Mega Shark vs Crocosaurus" (!!!), dirigido pelo filho do Fred Olen Ray (!!!), e que promete ser tão pavoroso quanto o original - dessa vez com um crocodilo gigante no lugar do polvo gigante.


TRON - O LEGADO (Tron Legacy, 2010, EUA. Dir: Joseph Kosinski)
No começo de "Tron Legacy", quando a megacorporação Encom está prestes a lançar seu novo software, o executivo Alan Bradley (interpretado por Bruce Boxleitner) pergunta o que a nova edição do programa tem de diferente para justificar o preço tão caro, e o CEO da empresa responde simplesmente: "O número na caixa". É exatamente isso que "Tron Legacy" tem de diferente do "Tron" de 1982: uma palavra a mais no título. De resto, é a mesma coisa maquiada com efeitos especiais de ponta, mas ainda assim a mesma coisa (a mesma corrida de "lightcycles", as mesmas lutas com discos, o mesmo visual "neon"...). O que mais desanima é o fato de que o original, com todos os seus defeitos, era um filme visionário, antecipando várias coisas que viriam depois (inclusive a própria escalada do CGI no cinema). Inúmeras mudanças tecnológicas aconteceram nesses 30 anos que separam o antigo do novo, e mesmo assim esse segundo filme parece não ter nenhum assunto novo para abordar, preferindo fazer um repeteco do primeiro com mais dinheiro e tecnologia. É uma pena, porque essa continuação começa muito bem, e com carinhosa fidelidade ao original (aparece até um jovem filho de Dillinger, o vilão interpretado por David Warner no filme de 1982). Eu até estava achando o máximo ANTES do protagonista entrar no mundo digital. Aí é que o filme vai para as cucuias: se "Tron" era um Windows 3.1, "Tron Legacy" é um Windows 7, visualmente mais bonito e bem-feito, mas na essência a mesma coisa enfeitada. Eu nem esperava uma história fabulosa, coisa que o primeiro filme também não tinha, mas pelo menos algo de NOVO. Não há, e "Tron Legacy" ainda se torna extremamente cansativo da metade para o final. Sem falar que destrói de maneira criminosa dois ícones do original, o herói Tron e o protagonista vivido por Jeff Bridges. Tudo bem, é curioso ver uma sequência feita 30 anos depois do original. Mas, no caso de "Tron Legacy", também frustrante, considerando que tinham três décadas para escrever algo novo e no fim apenas modernizaram o filme antigo!


BUSCA SANGRENTA (Red Hill, 2010, Austrália. Dir: Patrick Hughes)
Surpreendente esse faroeste contemporâneo com ecos de John Carpenter - e que me deixou imaginando como "Jonah Hex" ficaria um filmaço nas mãos desse diretor australiano. O filme começa meio "Assalto à 13ª DP", com um jovem policial sendo transferido para uma pequenina delegacia de uma cidade do interior australiano - daquele tipo onde não acontece nada e a ocorrência mais violenta é a morte de um boi. Para seu azar, entretanto, o rapaz encara, já no primeiro dia de trabalho, a ameaça de um perigosíssimo fugitivo da cadeia que segue rumo à cidadezinha, onde tem contas a acertar com o xerife que o prendeu. A maneira como o filme apresenta e trabalha o "vilão", chamado Jimmy Conway, é fantástica: o tempo inteiro ele é temido pelos homens da cidadezinha como se fosse o verdadeiro mal encarnado ("Halloween"?), e seu ataque é silencioso e preciso, matando um por um os inúmeros homens armados deixados pelo xerife para vigiar a entrada da cidade. Para deixar a coisa ainda mais no terreno do cinema de horror, o vilão também tem o rosto parcialmente deformado (Jonah Hex?). Aos poucos, a coisa se encaminha para um confronto entre o policial novato e o implacável assassino, mas há uma reviravolta no último ato que muda completamente o papel dos personagens. Diretor estreante, Patrick Hughes demonstra total controle sobre seu filme, principalmente na criação de suspense e tensão quando a ameaça de Jimmy Conway se aproxima da cidade - o espectador fica tão apreensivo quanto os personagens. O pique cai um pouco na metade, com a insistência do vilão em não matar o jovem policial quando tem chance (algo que fica explicado no final), mas a conclusão é eletrizante. Méritos, ainda, para a trilha sonora "de bangue-bangue" e para a fantástica fotografia do interior da Austrália, remetendo aos antigos filmes de Russell Mulcahy e George Miller. Uma bela surpresa que consegue tirar água de pedra (neste caso, de uma trama já um tanto desgastada).


OS TIRAS DE LOS ANGELES (L.A. Takedown, 1989, EUA. Dir: Michael Mann)
Esse filme, feito originalmente para a TV, é uma espécie de treino para "Fogo Contra Fogo", clássico moderno que o próprio Michael Mann dirigiria cinco anos depois com um elenco de primeira linha (Al Pacino, Robert DeNiro, Val Kilmer...) e uma produção muito melhor. É o tipo de experiência rara que eu adoro: testemunhar um diretor contando a mesma história duas vezes e de maneiras diferentes (algo tipo Hitchcock refazendo seu "O Homem que Sabia Demais" com mais recursos). A história é praticamente a mesma: um policial violento persegue obsessivamente uma quadrilha de assaltantes de carro-forte, liderada por um bandido inteligente e organizadíssimo. Com quase 45 minutos a menos em comparação a "Fogo Contra Fogo", essa versão original perde a riqueza da construção de personagens e algumas situações secundárias. Por outro lado, a narrativa fica mais enxuta e eletrizante. Em outras palavras, vai direto ao assunto, sem muita enrolação, o que pode ser atraente para quem achou o "remake" muito lento. Também é interessante ver a mesma história sem aqueles astros todos nos papéis principais. Os quase desconhecidos Alex McArthur (no papel que depois ficou com Robert DeNiro) e Scott Plank (no papel depois assumido por Al Pacino) dão conta do recado e não fazem feio em comparação aos astros que os sucederam. Plank não demonstra aquele histerismo habitual de Pacino (que às vezes é até irritante), e McArthur é um excelente ator que infelizmente nunca ganhou o devido reconhecimento. Outras caras conhecidas aparecem em pequenas participações: Michael Rooker, Vincent Guastaferro, Xander Berkeley, Daniel Baldwin e Cary-Hiroyuki Tagawa. Para quem gostou de "Fogo Contra Fogo", ver essa versão inicial é obrigatório. Já para quem nunca viu "Fogo Contra Fogo", pode ser uma boa idéia começar por esse e só depois ver o "remake". Até porque o final dos dois filmes é bem diferente. Seja como for, Michael Mann demonstra, nas duas versões, porque é um dos melhores cineastas contemporâneos. Inclusive "L.A. Takedown" merecia um relançamento caprichado em DVD.


I SAW THE DEVIL (Akmareul Boattda, 2010, Coréia do Sul. Dir: Ji-woon Kim)
Uma coisa que você aprende vendo filme coreanos (como a trilogia "Mr. Vingança", "Oldboy" e "Lady Vingança", de Chan-wook Park) é que é melhor não mexer com esses malucos da Coréia do Sul. Afinal, a vingança deles pode ser terrível. E quem duvida disso não pode perder "I Saw the Devil", o novo filme de um diretor que já tinha feito uma fábula moderna sobre o prazer de vingar-se ("O Gosto da Vingança", filmaço). Aqui, Ji-woon Kim reúne dois monstros do cinema coreano: Byung-hun Lee (de "O Gosto da Vingança") e Min-sik Choi (de "Oldboy"). A história é simples, mas não óbvia. Lee interpreta um agente especial cuja esposa, grávida, é assassinada por um serial killer (Choi). Ele começa a investigar paralelamente à polícia e, depois de torturar alguns dos suspeitos, chega ao verdadeiro culpado. Ao invés de matá-lo, coloca um rastreador no sujeito e transforma sua vida num inferno, perseguindo-o para atacá-lo e agredi-lo quando ele menos esperar. Mas o vilão logo vira a mesa, e a caça vira caçador. Como já havia feito em "O Gosto da Vingança", o diretor parece basear-se naquele velho ditado do Chapolim - "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". Pois o protagonista tem noção de que nunca vai superar sua perda, mesmo que passe a vida surrando e torturando o homem que matou sua mulher, e ainda assim segue seu plano de destruir a vida do vilão, invariavelmente deixando uma nova trilha de cadáveres pelo caminho. E se o vilão é um monstro, que aparece arrebentando cabeças a pauladas ou marteladas com a maior naturalidade, o "herói" acaba descendo ao nível dele para vingar-se, transformando-se num monstro tão odioso quanto aquele que "combate". O filme é um pouco longo demais, e a conclusão do duelo entre os dois personagens fica aquém do potencial. Mas nada que tire os méritos de "I Saw the Devil", um dos grandes filmes de suspense de 2010, e repleto de cenas violentas de arrepiar até quem pensa que já viu de tudo (como o bisturi no calcanhar).


MERCADORES DA MORTE (Fatal Beauty, 1987, EUA. Dir: Tom Holland)
É um verdadeiro milagre que os realizadores desse improvável filme policial estrelado por Whoopi Goldberg (!!!) não tenham sido processados pelos produtores de "Um Tira da Pesada", tais as semelhanças entre as duas obras. Podiam até trocar o nome para "A Irmã do Tira da Pesada", já que a personagem de Whoopi é uma Axel Foley de saia: uma policial durona que vive fazendo gracinhas e piadinhas, mas ao mesmo tempo criva bandidos de balas sempre que necessário. A atriz ficou marcada como "humorista" em seus filmes posteriores (especialmente "Ghost" e "Mudança de Hábito"), mas esse aqui, apesar do humor eventual, ainda é um policial sério, bastante pesado e violento, com balas atravessando corpos como se estes fossem feitos de manteiga, e uma generosa contagem de cadáveres no sangrento tiroteio final. A própria trama não tem nada de comédia, com a heroína investigando os responsáveis por uma droga assassina que está sendo vendida nas ruas - uma mistura letal de cocaína apelidada "Beleza Fatal". Várias caras conhecidas desfilam pelo filme, de Sam Elliott (como improvável par romântico da protagonista!) a Brad Dourif, Rubén Blades e Cheech Marin. A direção de Tom Holland ("A Hora do Espanto", "Brinquedo Assassino") é eficiente, e também não é sempre que se vê Whoopi Goldberg matando bandidos a tiros de revólver e escopeta. Mas, infelizmente, sempre fica aquele clima de imitação de "Um Tira da Pesada", como se esse fosse um roteiro recusado para uma continuação oficial da franquia estrelada por Eddie Murphy. Talvez se houvesse menos semelhanças entre os dois filmes (até o cartaz de ambos, com o protagonista encostado num carrão, é idêntico!!!), "Mercadores da Morte" funcionaria melhor e seria mais lembrado como o interessante filme policial que é.


DARFUR (2009, Canadá/Alemanha/África do Sul. Dir: Uwe Boll)
Enquanto assistia "Darfur", eu ficava imaginando aqueles cineastas cultzinhos e metidos a polêmicos, como Gaspar Noé e Lars Von Trier, fechando os olhos de medo diante dessa nova loucura perpetrada pelo insano Uwe Boll. Afinal, não é sempre que você vê um bebê recém-nascido ser fatiado a machetadas por soldados inimigos diante dos olhos da mãe. Ou uma criança sendo executada a sangue-frio com um tiro na cabeça. "Darfur" é, até agora, o filme mais bem-feitinho daquele que é considerado um dos piores cineastas em atividade. Mas para quem fez "House of the Dead", o que vier é lucro! Aqui, Boll conta a história de repórteres estrangeiros que cobrem uma sangrenta guerra civil no Sudão e se dividem entre defender ou não uma pequena aldeia do ataque iminente de uma violenta milícia. A narrativa pode ser dividida em duas partes distintas: a primeira parece um Globo Repórter sobre as tribos africanas e é muito enfadonha, documentando os hábitos e paisagens de uma vila com interesse fotográfico, mas abordagem nada interessante; finalmente, a segunda metade é uma aventura violenta estilo Cannon Pictures. No meio das duas partes, Boll tortura o espectador ao mostrar, com detalhes, o brutal massacre de mulheres e crianças da vila, perpetrado por milicianos. É uma cena gráfica e terrivelmente violenta, quase insuportável, que aproxima "Darfur" de "Rambo 4". Mas a comparação é inglória: Boll termina o filme quando parece que a história vai começar (!!!), e nem ao menos dá ao espectador o alívio de uma vingança por aquelas atrocidades mostradas. E os atores conhecidos do elenco (Billy Zane, Kristanna Loken, Matt Frewer, Edward Furlong) nem participam da trama principal, já que seus personagens arregam e fogem na hora do "pega pra capar". Mesmo com os defeitos evidentes, o filme tem atuações interessantes e até um tanto de tensão e suspense na metade final. Boll, quem diria, está aprendendo!


BALAS DE SANGUE (Bullets, Blood & A Fistful of Cash, 2006, EUA. Dir: Sam Akina)
Quando li no IMDB que "Balas de Sangue" era tão violento que fazia Quentin Tarantino parecer um pacifista, corri para conhecer esse filme independente de poucas referências. O diretor-roteirista Sam Akina não esconde nem por um segundo suas principais influências narrativas e estilísticas/visuais: Quentin Tarantino, Guy Ritchie e Robert Rodriguez. Quase tudo que caracteriza os supra-citados está nesse filme: os incontáveis bandidos engraçadinhos e/ou excêntricos, apresentados com legendas nominais; as idas e vindas no tempo; as frescuras narrativas (split-screen, color/PB); os tiroteios estilizados e sangrentos... A história acompanha a busca de vingança de um brutamontes traído pela sua organização num assalto realizado anos antes. É tiro e sangue para todo lado. Pena que Akina não demonstre um pingo da criatividade de Tarantino, Ritchie e Rodriguez: seu filme é interminável, arrastado, amadorístico, e as poucas coisas boas (como as legendas "traduzindo" os códigos usados durante uma negociação de drogas) ficam perdidas num todo medíocre. O filme é tão insuportável que, a partir dos 20 minutos, comecei a passar pra frente no FF, sem conseguir suportar tamanha ruindade e falta de talento generalizado (do diretor, da direção de arte, da edição, dos atores...). A conclusão tem um gigantesco tiroteio onde quase todo mundo morre, mas a essas alturas você nem se importa mais com o que está acontecendo - mesmo que o desfecho da vingança do protagonista seja pelo menos interessante. Uma total perda de tempo.


RED - APOSENTADOS E PERIGOSOS (Red, 2010, EUA. Dir: Robert Schwentke)
Cinema também é entretenimento, e para isso existem filmes como "Red": para você ver no cinema ou em DVD, divertir-se e esquecer meia hora depois. Mas é uma pena que "Red" comece tão bem, prometendo tanto (inclusive no quesito diversão), e logo se revele um filme esquemático, burocrático e bem sem-graça, como se da metade para o final um outro roteirista tivesse assumido a bagaça contra a vontade. O filme supostamente é baseado numa história em quadrinhos, mas não tem absolutamente nada em comum com sua fonte de "inspiração" (onde o melhor matador da CIA saía da aposentadoria para deixar centenas de corpos pelo caminho). Ao invés de um único aposentado, como na HQ, aqui temos um time deles obrigado a voltar à ativa quando seus antigos empregadores tentam matá-los para esconder nebulosos segredos do passado. John Malkovich rouba toda cena em que aparece, como o membro paranóico e violento do grupo (a melhor parte do filme é dele, a do "Old man, my ass!"). Bruce Willis interpreta o seu papel de sempre (careca durão com sorriso cínico no rosto), Morgan Freeman é completamente desperdiçado e Helen Mirren, como a charmosa assassina inglesa, é a única que parece ter percebido que estava fazendo uma comédia e não deveria levar as coisas tão a sério. No mais, como já escrevi, o filme perde completamente o pique da metade para o final, e desiste das absurdas cenas de ação (como o ataque à casa de Willis no começo) para levar-se a sério demais. E se a participação de Ernest Borgnine é digna e muito boa, as de Richard Dreyfuss e Brian Cox são constrangedoras. "Red" pode até cumprir seu papel de diversão descompromissada, mas também é fato que podia ser bem melhor - seu trailer é mais divertido que o filme inteiro.


AVATAR (2009, EUA. Dir: James Cameron)
Demorei tanto para escrever essas mal-traçadas linhas sobre o filme do James Cameron porque o culto a ele é tão grande e chato quanto o "desculto": apaixonados por "Avatar" passaram o ano brigando com quem não gostou, e vice-versa - cada um defendendo seus argumentos com unhas e dentes. Mas como o filme está aparecendo até nas listas de melhores da década (!!!), resolvi expressar resumidamente os meus sentimentos. Vi no cinema e em 3D no começo do ano, e até confesso que não achei tão ruim quanto pensei que seria; ao mesmo tempo, não vi nada da "revolução" alardeada por críticos e adoradores do filme. Confesso, também, que torci para que "Avatar" não ganhasse nenhum dos Oscars na premiação deste ano. Porque, pessoalmente, acho que "Avatar" representa tudo de ruim para o cinema: orçamento inchado, diretor megalomaníaco, tecnologia sobrepujando criatividade, história reciclada, péssimas interpretações e mensagem dúbia. A própria indicação de "Avatar" para tantos Oscars me pareceu um disparate, e cheguei a vibrar quando um filme independente ("Guerra ao Terror") faturou a maioria dos prêmios. Tudo bem, não achei a obra do Cameron propriamente ruim, mas vamos combinar que o tal "sonho visionário" do megalomaníaco diretor não tem absolutamente nada de tão espetacular. Ele pode ter ficado 15 anos pensando na tecnologia para filmar, como falou nas entrevistas, mas o que parece é que ficou 15 minutos pensando na história. "Dança com Lobos"/"Um Homem Chamado Cavalo" no planeta do Noturno dos X-Men (ou dos Smurfs super-desenvolvidos)? E ainda precisa de 166 minutos para contar essa historinha patética? A verdade é que eu sofri para suportar até o fim. Não só pelo excesso de cenas desnecessárias (que só existem para exibir a tecnologia desenvolvida especialmente para o filme), não só pela interpretação patética do "galã" Sam Worthington (mais expressivo como Na'vi do que quando é "humano"), mas principalmente porque "Avatar" não tenta nem ao menos surpreender, narrativamente falando. Com 15 minutos de filme, você já adivinha o que vai acontecer e quem vai morrer. Personagens como o rival do herói pelo amor da mocinha ou o empresário inescrupuloso que quer explorar o planeta são tão clichês que chegam a dar raiva. E mesmo assim o filme segue num ritmo lento como se tivesse história para contar. Sinceramente, se tivesse acabado quando os milicos explodem a árvore dos Na'vi, para mim estaria ótimo (pois nesse momento já começava a achar o filme cansativo). Só que ainda tem mais 1h30min pela frente! Algumas ideias esparsas são muito boas (tipo a cauda dos Na'vi funcionando como um cabo USB para conexão com a natureza), outras são divertidas (como o milico linha-dura que continua lutando mesmo quando está prestes a morrer, e é o melhor personagem do filme). Mas 90% de "Avatar" eu já vi antes, e melhor. Muita gente embarcou nessa reciclagem de ideias, mas eu não consegui - nem mesmo o mundo alienígena criado por Cameron me seduziu. Enfim, "Avatar" é um filme que aguentei até o final por teimosia, mas com certa dificuldade, e que jamais verei uma segunda vez. Até li em algum lugar a opinião de alguém falando que o filme dos Smurfs gigantes é, para a nova geração, o mesmo que "Star Wars" foi para a minha. Olha, sinceramente, os velhos "Star Wars" também reciclavam ideias (cavaleiro salvando princesa?), mas não lembro de eles serem tão chatos, muito menos tão longos e enrolados. E eles se preocupavam em criar uma mitologia ALÉM dos efeitos especiais. Caso façam mais um ou dois "Avatar", que mitologia teremos? Quais personagens interessantes e inesquecíveis existem na obra de James Cameron à altura daqueles que George Lucas criou nos anos 70? Sem contar que essa nova geração já cultua bostas como Restart e "Crepúsculo", então podemos esperar de tudo deles. PS: Avaliando unicamente como "espetáculo 3D para ver em cinema Imax", achei "Resident Evil 4" infinitamente mais divertido (e bem mais curto).



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